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Convite a quem nos visita

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Comentário à Palavra de Domingo

04 Janeiro 2009
Domingo da Epifania do Senhor – Ano B
Todos recebem a mesma herança
Ef 3,2-3a.5-6
Entre todas as orientações que o Concílio Vaticano II encaminhou ou pôs em relevo, uma das mais importantes e significativas é indubitavelmente o apelo à unidade fundamental da família humana (cf, por ex., GS 24; 26; 27). Este é o sonho de Deus e que, por sinal, nós também tomamos como nosso, porque o apelo da unidade deve sempre aquecer o nosso coração como um sonho ou meta que queremos atingir um dia. A humanidade tende a um universalismo até agora nunca atingido e que produzirá um novo tipo de homem, cuja cultura não será mais limitado à da sua civilização e cujos meios técnicos serão património de todos. Este dinamismo impressionante é tão característico da esperança contemporânea, que os que manifestam exclusivismo racial, nacional ou cultural são considerados ultrapassados. Interessante como o Apóstolo Paulo, se refere ao mistério de Cristo, como uma realidade oferecida a todos. A salvação de Deus é para todos. Por isso, todo o exclusivismo, todo o narcisismo e toda a altivez perante os outros redundam num absurdo muito grande perante o acontecimento de Deus. Israel recebeu a missão de reunir todos os povos na descendência de Abraão e de realizar assim a promessa do universalismo. Israel acreditou, erroneamente, poder formar essa unidade com certo numero de práticas particulares: a lei, o sábado, a circuncisão. Só a fé de Abraão teria sido capaz de reunir todos os pagãos, e os judeus não souberam desligá-la das suas práticas legais. O anúncio de um novo povo de Deus, de dimensões universais, prefigurado e preparado no povo eleito, realiza-se plenamente em Jesus Cristo, para quem converge e que recapitula todo o plano de Deus (Ef 1,9-10). Nele, tudo o que estava dividido encontra de novo a unidade. Convocando os magos do Oriente, Jesus começa a reunir os povos, a dar unidade à grande família humana, que se realizará plenamente quando a fé em Jesus Cristo fizer cair as barreiras existentes entre os homens, e na unidade da fé todos se sentirão filhos de Deus, igualmente redimidos e irmãos. povo é a Igreja, comunidade dos que crêem; ela realiza e testemunha, através dos séculos, o chamado universal de todos os homens à salvação, pela obra unificadora de Cristo. É significativa a visão final do Novo Testamento (Ap 7,4-12; 15,34; 21,24-26): uma multidão de raças, povos e línguas, que saúdam a Deus, orei das nações, e que habitarão a nova Jerusalém, onde a família humana encontrará a unidade.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dia Mundial da Paz. O que é a Paz?

A paz é uma realidade interior e exterior que todos os homens procuram. Alguns autores separam uma paz da outra, mas outros, numa perspectiva mais conciliadora, entendem que uma não é sem a outra. A doutrina da Igreja sobre esta matéria, também entende claramente que a paz exterior é fruto da paz interior. Ou seja, uma não é sem a outra, estão ambas as dimensões da paz ligadas entre si. Santo Agostinho, no Livro 19 da «Cidade de Deus», deu-nos a primeira definição de Paz, que vai influenciar todas as definições posteriores: «A Paz de todas as coisas é a tranquilidade na ordem». Depois procurou exemplificar com nove casos, que vão desde «a paz da alma racional» à «paz dos cidadãos», passando pela «paz doméstica». Em tudo, há que fixar e lidar com dois elementos cruciais: a harmonia e a ordem. A primeira, é a tranquilidade desejada nesse estado de alma que todas as criaturas anseiam. E a ordem, como diz Santo Agostinho, é «a disposição que segundo as semelhanças e diferenças das coisas confere a cada uma o seu lugar». Assim sendo, definiremos, hoje, a paz interior como a tranquilidade do espírito individual, proveniente da ordenação das coisas do mundo e da vida. Sem deixar de mencionar que os aspectos da consciência em comunhão de amizade com Deus, com os homens e com o Universo, são elementos essenciais para esse pleno encontro com a harmonia interior da pessoa. A paz exterior (social) será a boa e tranquila convivência com todas as coisa para tal ordenadas. Porém, o entendimento sobre a paz nem sempre foi pensado desta forma. Se nos remetemos à antiguidade descobrimos em filósofos como Heraclito, «que a guerra é a mãe de todas as coisas», dá logo a ideia, entendida e defendida por muitos que a novidade só é possível com os conflitos e que a história humana não se faz sem as guerras, mesmo que a morte e a destruição sejam o preço que muitos tenham que pagar. No entanto, não foram menos incisivas as teorias de Maquiavel (séc. XV) com a sua «arte da guerra» e por Nietzsche (séc. XIX) as «guerras» que justificam o Super-homem, até a mais sofisticada, mas não menos violenta «luta de classes» de Marx e de Mao Tse Tung (séc. XX), sem nunca deixarem de ser perseguição de estratégias para unir os opostos. Como se percebe nem sempre a paz foi entendida do mesmo modo. A cultura Ocidental, também tem conceitos distintos para entender a paz e que muitas vezes dependem dos diversos entendimentos sobre a guerra e sobre os conflitos. Se na cultura ocidental, surgiram diversos modos de conceber a ideia sobre a paz deveu-se ao judaísmo, aos gregos, aos romanos e ao cristianismo. Os diversos termos da paz são os seguintes: 1º «Shalom», no meio de guerras e conflitos o povo de Israel desejou esta paz como benção. Shalom, significa plenitude, que é o conjunto de todos os bens. Mas nesta forma ideal de pensamento sobre o valor da paz inventou-se a «Guerra Santa». O termo grego para a paz é «Irene», o ideal do irenismo, seria alcançar o bem estar entre homens e cidades. Também diante deste patamar ideal sobre a paz, criou-se um contra-ponto, o da «Guerra Justa». Os gregos entendiam-se autorizados a combater os outros povos destinados à escravatura. Havia ainda um outro ideal para os gregos «Ataraxia», que significava não sofrer com nada, quase nada sentir, exactamente, o mesmo ideal do Nirvana oriental. O termo latino é o seguinte: «Pax». Este termo tem a mesmo raiz de «pactum». Estabelece-se um pacto, uma trégua, uma ordem que impõem «a pax romana». Esta paz durava pouco, pretendia estabelecer a paz para o imperador, mas estava de mão dada com os exércitos que dominavam e subjugavam a Roma as outras nações. A doutrina cristã também criou um significado para a paz, que radica na palavra de Jesus Cristo: «a minha paz...não a dou como o mundo a dá...». A definição do termo paz, para o cristianismo está contida na pessoa de Jesus: «a Paz de Cristo». Estamos perante uma realidade nova, fruto da justiça e dom do Espírito Santo, que inclui todas as outras definições de paz, mas acrescenta-lhes uma característica essencial: é uma relação de amor. Também tem ajudado a justificar guerras e opressões sempre que se esqueceu que era dom gratuito de Alguém e se convertia em prepotência e autoritarismo religioso chamado «clericalismo». A paz, é um dom que Deus concede a todos os corações humanos que se predispõem ao seu acolhimento. E por ser essa realidade, dom de Alguém, é sempre precária, isto é, está sujeita aos condicionalismos e interesses mundanos. Assim, não devemos esquecer, a paz é trabalho nosso e dom de Deus. É sempre tarefa e encontro. Por isso, devemos entender a paz como Missão e Graça. Ou ainda, como acolhimento e desejo de encontro com Alguém que deseja sempre e em todas as circunstâncias a salvação. Onde estão os pacíficos, os que promovem a paz. Segundo Jesus, pacífico é aquele que é «fazedor de paz». E as Bem-Aventuranças anunciam que bem-aventurados são os que constroem a paz, «porque serão chamados Filhos de Deus». Deste modo, promover a paz é ser «Filho de Deus», isto é, «ser amado», ser fruto da relação. E no amor está a Bem-aventurança, a Plenitude, o Shalom. Um ano de 2009 cheio de paz para todos!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

OS TEMPOS DA LAPINHA. LEMBRAM-SE?

Outro tempo e outra inocência que remetia para o saudável reconhecimento de Deus como Pai, Irmão e Amigo, estava bem patente no ambiente da Festa (o Natal). A memória recorda-me esse retracto de simplicidade e pobreza, como imagem da família toda. Por exemplo, a cerimónia da transformação do recanto do quarto onde se erguia a Lapinha, era simples, mas carregado de significado e de fé. O Oratório saía do seu local habitual e durante a quadra da Festa colocava-se as escadinhas, cheias de frutos variados e searinhas. No cimo, lá estava o Menino-Deus de braço em punho anunciando, os novos tempos da paz e do amor em todas as famílias do mundo e, naquela, em particular, onde o desejo de paz e compreensão familiar, bradava aos céus em todos os momentos de oração. O momento dos “brindeiros” - era assim que se chamava a sofisticada troca de presentes que temos hoje - revestia-se de uma expectativa muito grande. O Menino Jesus não tinha mãos a medir, abria os cordões à bolsa e a todos alegrava com lembranças simples mas densas de sentido. As frutas da Lapinha, eram do Menino Jesus, porém, se as nossas tias estivessem em horas de boa disposição, podíamos pedir a peça de fruta desejada e logo tínhamos a permissão do Menino. Não posso esquecer que as frutas do Menino Jesus eram sempre as melhores da árvore, eram escolhidas uma por uma para o efeito. Todos desejavam por demais aquelas laranjas, os pêros Domingos, as mais variadas maçãs, as castanhas secas… Estávamos perante um verdadeiro manancial de frutas belas e apetitosas. O Menino-Deus merecia o melhor das colheitas. Este encanto simplório, fez parte de um tempo, cuja inocência seria reflexa de uma fé antiga, que passava de geração em geração. Porém, era tudo saudavelmente natural e espontâneo. No nosso tempo, tudo se compra, mesmo até os artigos inúteis e vazios de conteúdo: os jogos de guerra para as crianças; as árvores de Natal de papel ou de plástico; os presépios artificiais com figuras tristes e deslocadas do imaginário e todas essas variedades incalculáveis que o mercado oferece. Tudo se reduz a plástico artificial sem magia e sem encanto. Usar e deitar fora, eis a regra deste tempo. A inocente pobreza do tempo dos meus avós acabou, para dar lugar à abundância das muitas e variadas coisas de Natal sem conteúdo, sem interioridade, sem tradição (sem memória), sem espírito e sem fé. O reino do plástico, que se compra, usa e deita para o lixo, está no meio de nós. Hoje, a nossa mentalidade descobre um mercantilista “Pai-Natal”, que está mais de acordo com esta sociedade do bem vestir e o bem falar, que são a regra número um da convivência social. A vaidade da aparência, da imagem artificial e hipócrita são os caminhos mais visíveis dos homens e mulheres do nosso tempo. Os “grandes” do mundo, são os orgulhosos, os que ostentam poder e fama que contrasta de forma desconcertante, com a simplicidade, a pobreza e a inocência do grupo de pastores que Deus escolhe para dar a boa notícia em primeira mão, sobre o nascimento do Deus-Menino. Deus deveria estar “louco” ou enganou-se redondamente, porque escolheu o pior que há na sociedade, um grupo de marginais andrajosos que não tinham onde cair mortos. Esta gente que Deus prefere não sabe vestir, são ladrões, mal cheirosos, incultos, com uma aparência pouco digna, nada atraentes pelo que se vê e, como não podia deixar de ser, são gente acima de tudo, de pouca fama na sociedade em geral. Então que Deus é este que transmite a notícia do nascimento do Redentor a este tipo de pessoas? - A nós, sem dúvida, longe de nos lembrar convidar essa gentalha para um acontecimento tão importante. Escolheríamos logo talvez os sacerdotes, os políticos e todos os que a sociedade considera senhores bem vestidos e perfumados. Que Deus nos perdoe, mas tínhamos melhor gosto, porque saberíamos escolher melhor e, sem dúvida, que se arranjaria gente mais bonita, mais bem vestida, mais bem falante e mais bem comportada do que pobres e simples pastores. E ainda, que nos perdoe Deus, mas também se arranjaria melhor lugar para o Menino-Deus nascer!... Uma clínica cheia de bons médicos, com muita luz, boa cama, roupa quente e cheirosa. No fim, depois de tudo correr bem reuniríamos numa sala majestosa de um qualquer palácio ou hotel de cinco estrelas, para fazermos uma festa com a melhor gente da sociedade, com boa música, danças de qualidade e a melhor ostentação da nossa praça. Então alguém com bom senso, pensaria em colocar um Menino-Deus na frieza de uma gruta envolto em palhas, respirando o bafo de animais sem tino, sujeito a sobressaltos constantes por causa dos berros desmedidos dos bem-aventurados animais. Mas afinal que Deus é este? - Um Deus radical e extremo que, quiçá, por teimosia ou birra infantil fez nascer o coitado do filho numa manjedoira. Ah!.. Se fossemos nós, não olharíamos a medidas. A festa melhor e a maior do ano seria a festa do Menino-Deus. Meu Deus, não deves estar admirado nem surpreso com a nossa vaidade, a nossa tendência para a luxuosidade e para as grandezas. Somos, provavelmente, numa perspectiva humana um caso perdido. Pelo teu lado, descobrimos que continuas, mesmo passados tantos anos, envolvido numa mesma causa, ora com alguns resultados positivos, ora com muitos resultados negativos, a preferir a simplicidade, a pobreza e a marcar encontro com todos os abandonados, porque não desistes de ser um Deus da vida para todos, sobretudo, para aqueles que diante dos olhos do mundo a perderam. A tua insistência impressiona e desconcerta-nos sempre. Por isso, perdoa-nos porque continuamos preferir a vaidade e fazemos sempre as melhores escolhas convencidos que com isso mudaremos o mundo. Para onde vamos? E Onde chegaremos, afinal, com esta mentalidade desenfreada assente no orgulho, na vaidade pelas coisas grandes e faustosas? - A simplicidade de Deus, que todos os anos faz nascer sempre nova, a luz da pobreza e da humildade, para nos relembrar que não faz sentido nenhum, estarmos minados pelo gosto do chique, a avidez das modas e a atenção constante nos bens materiais de último modelo. Até parece que tomámos gosto pela violência da vida e que o nosso coração se torna dia para dia cada vez mais sofisticado. A nossa recusa acentua-se na ausência de um coração simples, livre de preconceitos, sem medos absurdos sobre o futuro e sem nos inquietarmos sobre o que parece bem ou sobre o que parece mal. Para quando a riqueza de corações livres de manchas negras que aprisionam a criatividade? E para quando o assumir da humildade que nos conduz à entrega de serviços humanos que edifiquem aqui e agora o reino da fraternidade? - A resposta, lê-se no rosto alegre e confiante das figuras da Lapinha. Ainda assim, parece-me, ser o quadro mais apaixonante que embeleza a casa do nosso coração. BOM NATAL PARA TODOS OS MEUS LEITORES...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Porque é tempo de Natal….

Porque é tempo de Natal…. Tempo da família… A nossa família… E a família de Deus… A família. Como se faz? - A família, faz-se mediante um contrato social, jurídico, canónico ou religioso, entre um homem e uma mulher que desejam ser procriativos. A família tem uma base antropológica. É um homem e uma mulher, em ordem à procriação (atenção: a aqui a palavra procriação não tem só em vista a geração dos filhos, mas procriação no sentido de felicidade que o amor produz sempre), numa relação estável e segundo a óptica da Igreja, para toda a vida. A família. As ameaças? - O discurso sobre o respeito, a fidelidade e a castidade, é, hoje, muito complicado, porque facilmente se apelidam as pessoas que o defendem ou o vivam no seu dia a dia, de retrógradas e de tradicionalistas. Hoje, o que dá é ser o que o momento proporciona, porque não interessa a estabilidade emocional e a fidelidade aos valores. O que importa é viver a ocasião intensamente. A instituição, como valor perene e estável, sofre muito com esta forma de pensar e viver dos tempos actuais. A família. Importância e o futuro? - A família, continua a ser uma forma de crescimento humano e de educação fundamental para a pessoa humana. Todos reconhecemos que a família actual está a atravessar uma crise muito grave. É certo que assim seja, porque os problemas que advêm daí estão à vista de todos. Porém, requer-se uma acentuada intervenção na educação para que a família retome o seu lugar na sociedade. Mais reconhecemos que a família em crise arrasta consigo toda a sociedade. Cada vez mais, reconhecemos que se todos os pais e todas mães fossem verdadeiramente responsáveis pelos seus filhos a nossa sociedade estaria melhor e os problemas não seriam tão graves no que diz respeito à convivência social. A todos é pedido que se empenhem na educação para que a família continue a ser a principal escola de crescimento e de educação de todos os homens e mulheres, dentro dos parâmetros que a antropologia a definiu. Caso não exista esta consciência entraremos no caos e na perversão geral que tanto nos comove ou escandaliza. Mas, mesmo que estes considerandos sejam um pouco negativos no que diz respeito à família, gostaria de salientar que existe uma multidão de pais e mães muito responsáveis e preocupados que gostaria de homenagear e incentivar.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

O maior drama da humanidade

Pelo estado a que chegou o mundo, o maior drama da humanidade, é a sua incapacidade para se organizar equitativamente. Por um lado, este é um drama fruto da má governação do mundo, das péssimas opções da humanidade quanto ao desenvolvimento e da exploração desenfreada da natureza. Por outro, não creio que a diferença da humanidade seja um impecilho à justiça, pelo contrário, a sua diferença é uma mais valia, uma riqueza essencial. Porém, a humanidade não é capaz de conjugar essa diferença e mais facilmente se deixa contaminar pela divisão do que pelo entendimento.
O caminho da fé, na realidade sempre nova que celebramos no Natal, devia ser um caminho interessante para a humanidade resolver todos os seus problemas. Mas, que temos no que diz respeito ao caminho da fé a humanidade caiu numa confusão geral. São múltiplas as formas de ver Deus e todos os seus contornos. Os valores da fé quando levados à prática muitas vezes tornam-se contra valores. Quer isto dizer que a fé, no verdadeiro sentido da palavra, quando não é crença num Deus da vida, da paz e do amor, é uma forma de domínio para fazer guerra. A fé quando tomada com interesses mercantilistas e quando se mistura com o apetite do poder torna-se uma arma de fogo muito poderosa e destrutiva. E não são só os fundamentalistas do mundo islâmico, também a nossa Igreja Católica, de outro modo e com outras formas de combate, está impestada de fundamentalismos e terrorismos muito preocupantes.
O caminho da fé é um só, a sua expressão é que ganha muita diferença e muitos contornos essenciais para ser manifestação da riqueza de Deus. Mas, se se converte numa arma de combate ou numa manifestação do poder conduz a humanidade para a desgraça. Podíamos lembrar aqui muitos momentos e figuras da Igreja Católica, quando quiseram impôr uma fé que nada tinha que ver com o Deus do Evangelho, mas antes com o deus pessoal, o deus do poder deste mundo.
O desconserto do mundo actual, que ganha expressão maior na insegurança ou medo global, é consequência das muitas fezadas que alguma humanidade fabricou a partir de si mesma. Daí estarmos perante um mundo sem desgovernado, sem equilíbrios de ordem humana e ecológica, dizimado pelas doenças, a fome, a guerra, as divisões a todos os níveis que provocam uma mortandade generalizada, uma grande insegurança quanto ao futuro e muitos milhões de pobres sem lugar nem vez neste nosso mundo saturado de injustiça.
Seguindo este raciocínio, não são as muitas formas de «ateísmo» ou «recusa de Deus» que são as mais preocupantes, mas antes a mutiplicidade de fezadas e pensamentos aburdos àcerca de Deus que nos devem preocupar. As guerras mais destrutivas e os maiores conflitos não aparecem de gente que diga não crer em Deus, mas de gente e de momentos históricos ditos de muito próperos no que diz respeito à fé.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

«A revelação do mistério mantido em silêncio»

21 Dezembro 2008 Domingo IV do Tempo Advento – Ano B
Rom 16,25-27
A palavra grega «mysterion» (Mistério) é uma palavra significativa na teologia de Paulo, ocorre vinte e uma vezes ao longo dos seus escritos. Ela refere-se ao conhecimento que vai além da compreensão de pecadores, mas, que agora tem sido graciosamente revelado por meio do Evangelho. A ênfase do conceito está no facto que esta informação agora pode ser conhecida, que explica a sua associação em comum com palavras como apokalypsis, ‘revelação’ (Rom 16, 25; Ef 3, 3), apokalyptein, ‘revelar’ (1 Cor 2, 10; Ef 3, 5), gnorizo ‘dar a conhecer’ (Rom 16, 26; Ef 1, 9; 3, 3, 5; Col 1, 27), e phaneroo, ‘manifestar’ (Rom 16, 26; Col 1, 26) … Com a excepção de uma ocorrência do termo, o mysterion é o Evangelho (1Cor 14, 2 refere-se aos mistérios). A equação de Mistério com o Evangelho é algo implícito (1Cor 2, 1; 2, 7; 4, 1) e às vezes explícito (Rom 16, 25-26; Ef 6, 19; Col 1, 25-27). Às vezes mysterion refere-se a um aspecto específico do plano de redenção de Deus como o endurecimento dos judeus (Rom 11, 25), a inclusão dos gentios na igreja igualmente como os judeus (Ef 3, 3, 4, 9; Col 1, 26-27), a mudança a ser experimentada pelos crentes na parousia (o fim dos tempos) (1Cor 15, 51), a união de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 9), e o Mistério da iniquidade que será revelada na parousia (2Tess 2, 7-8). Este mistério que Paulo proclama é a revelação do plano de Deus, e no entanto, sem amor, este conhecimento de nada valerá (1Cor 13, 2). Não há dúvidas de que existem coisas encobertas e pontos difíceis a serem entendidos na Bíblia (Deut 29, 29; 2Ped 3, 16). Dependendo na maneira pela qual os pontos estão aplicados ou entendidos podem colaborar para o nosso aperfeiçoamento (Ef 4, 12; 2Tim 3, 16s) ou levar-nos à perdição (2Ped 2, 1; 3, 16). Deus não pode ser completamente entendido, pois Ele é um ser infinito e nós finitos (Is 55, 8,9; Rom 11, 33s). As Escrituras são revelações de Deus, todavia, para o nosso entendimento (Deut 29, 29). A Bíblia não deve ser deixada de lado por Ela tratar de assuntos divinos e sublimes. Devemos procurá-la para termos o ensino de Deus. Só assim teremos esperança (Rom 15:4) e gozo completo (Jer 15, 16; 1João 1, 4). Somente vivendo adequadamente a Palavra de Deus podemos ser encaminhados a realizar boas obras (2Tim 3, 16). Se não tivermos uma Bíblia ou se fizermos da Bíblia um objecto de ornamento não procurando o Seu ensino seremos «crianças inconstantes, levados para todo o lado pelo vento de qualquer doutrina» (Efés 4, 11-14). As verdades que conhecemos hoje, nem sempre foram reveladas. Há assuntos que entendemos hoje, que por anos, muitos profetas e reis desejaram entender (Luc 10, 24; I Ped 1, 10). Os segredos que não foram entendidos no Antigo Testamento mas agora explicados no Novo Testamento são os que a Bíblia chama «mistérios». A própria palavra traduzida «mistério» ou «mistérios» no Novo Testamento (e estas palavras só se encontram no Novo Testamento) significa «segredo». E diante do Mistério, resta-nos o silêncio e uma verdade elementar, é mais o que não sabemos sobre a essência de Deus, do que aquilo que sabemos. Por isso, deixemos o nosso olhar interior contemplar essa realidade e isso é suficiente, para que a nossa fé encontre todo o sentido para ser útil à vida.

O poder da oração

A oração está para a vida do cristão, como a respiração está para a existência biológica. A vida não é possível sem a respiração. A vida espiritual não é possível sem a oração.
Mas, afinal o que é a oração? - logo de imediato podemos dizer que rezar é viver. A oração é vida e a vida é oração. Muitas vezes somos tentados a compartimentar os momentos de oração, torná-los momentos estanques do viver. Mas está errado fazer isto. Os momentos ditos de oração, que são aquelas ocasiões de encontro íntimo com a realidade que se acredita, devem ser um ponto de chegada da vida e depois também um ponto de partida para a vida. A vida é oração e a oração é vida. Jesus Cristo é o modelo por excelência desta formulação sobre a oração.
Os tais momentos ditos de oração, não devem reduzir-se a um rol de petições ou a um monólogo, mas devem ser antes momentos de entrega apaixonada à verdade do Reino que Jesus nos propõe. Caso não seja essa entrega a Deus e ao seu projecto, então entramos no domínio da oração puramente mercantilista, o autor Saint-Exupéry chamou a atentção para essa tentação: «A grandeza da oração reside principalmente no facto de não ter resposta, do que resulta que essa troca não inclui qualquer espécie de comércio».
Face a esta realidade, muita da oração está contaminada logo à partida, porque se reduz a uma procura de interesses pessoais, egoístas. O Apóstolo São Paulo vai ser muito claro ao coloacar a oração no domínio do «exame», para que seja uma forma de discernimento espiritual sobre a vida, para que as verdadeiras escolhas sejam feitas com verdade: «Examinai tudo, guardai o que é bom» (1Ts 5, 17). Neste domínio e de acordo com esta ideia Friedrich Novalis dirá «Rezar é para a religião o mesmo que pensar para a filosofia. Rezar é criar religião».
Por fim, resta-nos o seguinte ensinamento sobre a oração: «Como o corpo se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura» (M. Gandhi). Mas, não haverá melhor mestre do que Jesus Cristo, Ele que na prática movimenta a oração e na oração movimenta a prática para Deus Seu Pai.
Tudo está no como cada um se encontra com Deus e consigo mesmo. A oração, os tais ditos momentos de intimidade, de silêncio e de diálogo interior, são uma forma sublime de se descobrir a si mesmo para logo depois se doar para a vida através do trabalho ou das tarefas do dia a dia. E «A melhor oração é a mais clandestina» (Edmund Rostand), exactamente como ensinou Jesus, a melhor oração seria aquela que se faria na «intimidade do quarto». E mais não ensinou sobre a oração senão o magnífico «Pai-Nosso», porque para a oração quis dar-nos a maior das liberdades. Boas orações para este mês da festa, onde cada um é chamado a desocbrir-se mais cheio de espiritualidade e menos de materilidade vã.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Jornalismo terrorista

Todos nós estamos de acordo que o mundo actual está pautado pelo mediatismo e quase nada tem existência se não passar pela comunicação social. Até aqui tudo bem e estamos falados quanto a este aspecto.
Porém, pede-se e desejamos que os agentes da comunicação social sejam honestos no anúncio das notícias.
De que falamos, quando falamos de «jornalismo terrorista»? - Falamos de um jornalismo resultado de um (sublinho um) telefonema de alguém descontente com qualquer situação, logo se aciona um jornalista e um fotógrafo, para entrevistar o descontente, mais duas ou três pessoas (se as encontrarem) e fotografar o que for para fotografar. Elabora-se a notícias como se fosse resultado de um vasto leque de entrevistas e como se de ambas as partes estivessem um batalhão de pessoas. A este jornalismo chamo de «jornalismo terrorista»
Esta forma de jornalismo só cria injustiças e muito sofrimento. Porque não apresenta a verdade e não é fiel aos factos tal como acontecem na realidade. Por causa desta forma de fazer jornalismo, os meios de comunicação social caiem num discrédito muito grande. A credibilidade das notícias está na rua da amargura. A seguir esta rede de descrédito contamina toda a sociedade, como se fosse uma bola de neve que enrola a política, a religião e a sociedade em geral.
Os assuntos tratados com esta ligeireza, ficam na mente das pessoas em geral só pela rama, porque são cada vez menos os que se preocupam com a seriedade e veracidade das coisas, basta que o jornal e a televisão tenham falado para ser verdade, não importa que tenha tomado o todo pela parte nem que tal inverdade tenha causado sofrimento e injustiça. As pessoas em qualquer forma de terrorismo pouco importam. O nosso tempo está cheio de exemplos quanto a este aspecto. Esta comunciação social não serve, não educa e não informa.
As notícias realacionadas com a Igreja são matéria incandescente, por isso, não são precisos muitos descontentes e muitos telefonemas para denunciar a coisa mais mínima, desde que meta padres ou algo com eles relacionado é suficiente para incendiar uma nação. Mas, é preciso mais seriedade e mais equilíbrio para que as coisas não se pareçam tanto com perseguição desenfreada nem muito menos com campanhas orquestradas para provocar a mais pura desordem e vitimar as pessoas tomadas no seu todo a partir de uma pequena e ínfima parte.
Penso que os jornalistas não precisam de ser tão pouco sérios e podiam fazer mais jus dos valores e princípios éticos que qualquer actividade profissional acarreta. A bem do nosso mundo e a bem do jornalismo, é preciso mais verdade e cabe aos jornalistas procurarem todas as formas para dignificarem a sua classe.
E, por fim, o jornalismo tem um papel importante na regulação da Democracia, porque deve ser denunciador verdadeiro de todos os abusos e atentados contra o sitema democrático e contra a pessoa humana. Se ao contrário for, lá teremos de concordar com os que dizem que muito do jornalismo actual é um «jornalismo de sarjeta».

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Comentário para a Missa de Domingo

30 Novembro 2008 Domingo I do Tempo Advento – Ano B
«Aguardais a revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo»
1Cor 1, 3-9
O Apóstolo Paulo escreveu esta Carta em Éfeso, durante a terceira viagem missionária, para remediar os abusos, nomeadamente as divisões e escândalos de que teve conhecimento por mensageiros vindos de Corinto (1,11), e para responder às questões que lhe foram postas por escrito (7,1). Estas circunstâncias explicam o carácter não sistemático da Carta, com a única preocupação de enfrentar as necessidades e resolver as dúvidas dos seus correspondentes. Ao longo destas páginas, desenha-se o retrato fiel de uma comunidade viva e fervorosa, mas com todos os problemas resultantes da inserção da mensagem cristã numa cultura diferente daquela em que tinha sido anunciada anteriormente. As questões abordadas derivam em grande parte do fenómeno da inculturação do Evangelho em ambiente helenista. Paulo procura esclarecer, mostrando-se firme ao condenar os comportamentos inconciliáveis, mas compreensivo quando a fé não corre perigo. Nesta passagem, que faz parte do início da carta aos cristãos de Corinto, Paulo faz referência à expectativa que deve estar no coração do cristão, «aguardar a revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo». Assim, as soluções propostas às dissensões que emergiram no interior da comunidade, estão marcadas pelos condicionalismos culturais de então e pelo concreto da vida, mas não se reduzem a mera casuística já ultrapassada, porque o génio de Paulo, mesmo quando desce a questões do dia-a-dia, sabe sempre elevar-se aos princípios fundamentais que lhes asseguram perenidade e oferece-nos uma teologia aplicada ao concreto da vida cristã. Daí a interessante expressão que destacamos para intitular esta reflexão, porque «não vos falta qualquer dom de graça», é preciso concentrar-se e viver na esperança da vinda de Jesus. Daqui o interesse e a actualidade desta Carta, através dela, sentimos ao vivo o pulsar de uma comunidade cristã muito rica, a forte personalidade de Paulo, muito consciente das suas responsabilidades, e a presença constante do Ressuscitado que anima a comunidade e a tudo dá sentido.Nós cristãos, ainda valorizamos a vida à nossa volta e cada problema é para nós o centro do mundo. Mas, devíamos saber passar adiante e ocupar o nosso coração com a expectativa da chegada de Jesus. O que é mais importante, não podem ser as divisões, as discussões banais, a fixação em ninharias que nada produzem, a corrupção, a vingança, a justiça de alguns em detrimento da condenação de uma grande parte, o poder pelo poder, a lógica das influências a todo o custo, a maldade feroz que mata e sangra cruelmente, a alienação, a inconsciência perante o mundo, a vaidade, a indignidade por alguns momentos de fama, a idolatria… Numa palavra, podemos dizer que o centro do universo não pode ser a nossa vidinha egoísta, mas antes uma esperança em Deus e de modo especial, nessa chegada do Senhor Jesus, que vem ao nosso encontro para nos fazer mais felizes e chamar-nos a uma realidade maior, que é a vida em Deus.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Comunidade ostracizada

Não faz sentido nenhum tudo o que se passou no ano de 1985 com a Paróquia da Ribeira Seca. Um absurdo dentro da nossa Igreja e uma injustiça grave diante de Deus. As autoridades religiosas e políticas em conluio organizaram uma invasão com um batalhão de polícias para encerrar um espaço de culto religioso. O povo pobre e humilde, com a força da fé e a convicção da dignidade, não permitiu e tudo fez para que tal propósito não levasse a melhor. A razão para tal invasão todos conhecem. Um padre dito comunista, porque defensor de um povo incomoda e deve por isso ser enchovalhado e banido do meio do povo.
Se antes ninguém compreende tal invasão e tamanha injustiça, hoje, muito menos se compreende que uma comunidade esteja votada ao ostracismo. Ali está uma parcela do povo de Deus, que merece respeito e deve até ser exaltada pela dignidade que sempre soube preservar. Um bem haja muito grande a este povo que sempre soube estar de pé perante as malfeitorias realizadas pelos poderes deste mundo.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

As palavras dos bispos e a Igreja hoje

Os pronunciamentos dos bispos são muito divertidos. Após o «puxão de orelhas» de Bento XVI, a quando da última visita Ad Limina, o ano passado, os bispos só agora se lembraram que a Igreja tem que mudar e encetar novos caminhos de evangelização.
O Arcebispo de Braga, actual Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, dirigiu uma importante comunicação aos seus pares sobre a necessidade da mudança e sobre os caminhos novos que a Igreja deve inventar para comunicar a sua mensagem ao mundo de hoje. O bispo Emérito de Aveiro escreveu um texto muito interessante na Agência Ecclesia, onde refere que os principais responsáveis pelo atraso da Igreja em Portugal são os bispos, que não têm coragem nenhuma e que continuam a alimentar-se de uma Igreja sob o regime de «cristandade». Todos falam da necessidade de preparar e formar leigos para se empenharem mais na vida da Igreja. Como se o centro da mudança estivesse exclusivamente aí!
Tudo isto é muito bonito e interessante, mas nem o Papa, nem os bispos reunidos em Fátima e nem o antigo bispo de Aveiro nos revelam o «como se faz» para que a Igreja mude. Todos sabem fazer o diagnóstico da doença, mas ninguém aponta as formas de tratamento da mesma.
O Papa está no centro das decisões, lê bem os acontecimentos, faz apelos e dá até «puxões de orelhas», mas depois o que nos ensina quanto aos métodos para mudar e quanto às coisas que são prioridade mudar agora? - Mantém-se irredutível e apresenta um pensamento fechado e até por vezes conservador e retrógrado.
O antigo bispo de Aveiro, esteve muitos anos à frente desta Diocese, em que se destaca a sua antiga Diocese? E braga? E Lisboa? E Funchal? E todas as Dioceses do nosso país? Apontar alguns problemas é fácil e fazer os diagnóticos das doenças também não me parece ser tarefa muito difícil. Porém, a prática é um desastre. Os bispos não têm coragem, rodeiam-se de figuras da Igreja conservadoras e pouco esclarecidas quanto aos assuntos da vida e do mundo. Os bispos não ousam afrontar o poder político em nada e se o fazem numas pequenas coisas, fazem-no com pezinhos de lã e logo depois sentam-se à mesa do poder político para se banquetearem com o festim dos subsídios e das benesses do poder do mundo.
Os bispos são muito bons a fazer considerandos e apelos, mas pouco agéis quanto à tomada de decisões, porque vivem do medo ou da falta de coragem. Porque não querem divisões nem gostam do confronto de ideias, procuram rodear-se só daqueles que lhes fazem vénias e afastam o mais que podem os que os confrontam e os que ousam contrariar alguma coisa.
A meu ver a Igreja precisa de mudanças, mas mudanças sérias e profundas. Nunca a Igreja mudará eficazmente enquanto os apelos à mudança se centrarem apenas na formação dos leigos, como se a culpa do atraso da Igreja estivesse apenas e exclusimente nisso. A Igreja precisa de mudar a sua estrutura clerical (deixar de vez o clericalismo absurdo e anacrónico), tem que deixar de ser um poder, religioso, mas poder. A Igreja precisa de mudar o pensamento e o seu ensinamento quanto a tudo o que diz respeito à vida, tem que valorizar a vida em todas as suas dimensões, tem que ter um discurso positivo quanto à sexualidade, isto é, a sexualidade não pode ser vista como um meio só e unicamente para gerar filhos. Daí a necessidade urgente de considerar os contraceptivos como meios para evitar doenças (o SIDA, por exemplo) e meios que ajudam a melhor viver a sexualidade como dom de Deus para o prazer e para a festa do amor. É esta mensagem positiva que a Igreja deve transmitir ao nosso mundo, porque é isto que os homens e mulheres esperam da Igreja. Óbviamente, que tudo isto requer responsabilidade e muita seriedade. Por isso, cabe à Igreja, às famílias, às escolas e todos os lugares de educação ensinarem estes valores às gerações mais novas.
A Igreja, tem que valorizar as opções de todas e de cada pessoa, não pode considerar que a fé verdadeira radica nos que estão dentro dela e os ditos de fora estão já no inferno ou são diabolizados. Não pode defender o celibato dos padres tal como existe há mais de mil anos, não pode recusar o sacramento da Ordem às mulheres, não pode ser Igreja-mãe para uns e madrasta para outros. A Igreja tem que ser mais transparente quanto aos seus bens móveis e imovéis, o que é de todos não é só de alguns, não pode querer os leigos só para as tarefas menores, têm que participar no governo das contas da Igreja, na escolha dos bispos e dos párocos, numa palavra têm que ser chamados à vida toda da Igreja e não apenas a «coisecas» que não fazem mossa nenhuma no poder absoluto da hierarquia. E a burocracia que consome a Igreja e que tanto mal faz aos cristãos, porque os coloca numa roda vida de padre para padre e algumas vezes são banidos da participação dos sacramentos e da vida da Igreja em geral? (...) A meu ver é disto que os bispos têm que começar a diálogar entre si e logo depois ousar com coragem mudar a Igreja para o bem de todas as pessoas e para o bem do futuro do mundo.
As mudanças de que se fala não podem ser só num sentido, têm que ter a ver com o interior da Igreja, porque se se fala de singelas maquilhagens aqui ou ali, então, estamos falados, nada disto não passa de propaganda para inglês ver. Oxalá me engane redondamente.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Uma vergonha de política

Um espectáculo triste e sem nome tudo o que se passa na «nossa» Assembleia Legislativa Regional. Todos devemos ter compaixão - para não dizer pena - destes «senhores» eleitos com os nossos votos e pagos com os nossos impostos.
Algumas questões: Para onde vamos? Que exemplo estão a dar os «nossos legítimos representantes» às gerações mais novas? Que democracia é esta que não respeita e que não se dá ao respeito? Que imagem de sociedade estamos a transmitir lá fora? Agora a chacota dita a ordem? A Assembleia Legislativa Regional ao invés de trabalhar a favor do povo que a elegeu, passa a vida a divertir-se, como se estivesse num circo onde a palhaçada, o desreipeito e a risada geral são a regra diária? Chega... Dizemos nós que amamos a democracia e fazemos do respeito um valor absoluto.
A nossa imagem está abaixo do desejado. Os «senhores» deputados da Região Autonoma da Madeira, não sabem ou não têm consciência que lá fora somos todos metidos no mesmo saco. Todos os madeirenses ficam lesados e fora da região são motivo de gozo e vistos como palhaços. Não merecemos isto. A Madeira não merece esta vergonha de política que em vez de nos ajudar e fazer da nossa terra um lugar de paz ou um espaço de verdadeira democracia, torna-se num circo constante pouco divertido. Alguns desta política, sujeitam-nos a um espectáculo triste, a uma vergonha incontronável.
Estes «senhores» que mancham a imagem de todos nós através de atitudes que roçam a infantilidade, não servem para representar ninguém, nem a eles próprios. São irresponsáveis, porque destroem a imagem da dignidade, seriedade e zelo no trabalho que os madeirenses gozam por todo o lado. Estes mesmos fazem abater a imagem sobre a Madeira construída com balúrdios de euros que o governo investe cá e além fronteiras para atrair mais turismo para a Madeira. Assim, lembre-se - dinheiro dos nossos impostos, que estes «senhores» aprovaram e legitimaram com a sua consequente aprovação.
Outro aspecto prende-se com o exemplo antidemocrático que estes «senhores» deixam passam para a praça pública. Não têm consciência que devem ser exemplo para as gerações mais novas? Não sabem que devem ser exímios cumpridores da prática do respeito em relação aos adversários? - Assim, nada se pode exigir aos alunos que nas escolas agridem os professores com palavras obsenas e com actos violentos que chegam algumas vezes a vias de facto.
Por fim, esperemos que o bom senso prevaleça e que a linguagem se modere. As palhaçadas devem acabar e todo o respeito deve ser bem assumido por todos, para que não tenhamos uma sociedade tão agressiva e tão desbocada quando fala ou critica. É tempo de nos tronarmos adultos respeitosos e democratas convíctos para que as gerações futuras se sintam agradecidas pelo belo exemplo que lhes deixamos no que diz respeito à boa convivência em sociedade.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Os crentes da reencarnação

São cada vez mais aqueles que acreditam na teoria da reencarnação com desprezo pela ideia cristã de ressurreição. É mais fácil, mais cómodo e aparentemente mais seguro acreditar na transmigração dos corpos ou da carne. Por isso, em que crê quem crê na reencarnação? A palavra reencarnação, composta pelo prefixo «re» (que designa repetição) e do verbo «encarnar» (tomar corpo, carne), significa, tornar a tomar corpo. Indica uma acção do ser espiritual (espírito ou alma) que já animou um corpo no passado, foi posteriormente separado dele pela morte e agora informa ou vivifica um outro corpo. Cumpre esclarecer, que a reencarnação não foi inventada pelos Espíritas, é uma das ideias mais antigas da Humanidade. Um papiro egípcio de 3000 A.C. já a menciona. Na Grécia clássica, Pitágoras (580 a 496 A.C.); já divulgava o reencarnacionismo. No diálogo Phedon, Platão cita Sócrates (469 a 399 A.C): «É certo que há um retorno à vida, que os vivos nascem dos mortos». Esta mesma certeza consta da maioria das religiões antigas, como o Hinduísmo, Budhismo, etc. Entre os romanos, Virgílio exprime a ideia dos renascimentos nestes termos: «Todas as almas, ainda que por milhares de anos tenham retornado à roda desta existência, Deus as chama em numerosos enxames ao rio Léthé, a fim de que, privadas de recordações, revejam os lugares superiores e convexos e comecem a querer voltar ao corpo». A reencarnação está também na Bíblia. No A. Testamento, Jeremias diz: «Foi-me dirigida a palavra do Senhor nestes termos, antes que eu te formasse no ventre da tua mãe, te conheci; e, antes que tu saísses do seu seio, te santifiquei e te estabeleci profeta entre as nações» (Jer 1, 4-5). Ou, no N. Testamento: «Digo-vos, porém, que Elias já veio e não o reconheceram»; «Então os discípulos compreenderam que (Cristo) lhes tinha falado de João Baptista.» (Mt, 17, 12-13). E ainda: «Não pode ver o Reino de Deus, senão aquele que nascer de novo.» (Jo, 3, 3). Contudo, entre os padres católicos, Orígenes é o que afirmou de forma mais precisa, em numerosas passagens do seu Princípios (livro 1°), a reencarnação ou renascimento das almas. A sua tese é esta: «A justiça do Criador deve aparecer em todas as coisas». Alguns teólogos católicos, São Jerônimo afirma que a transmigração das almas fazia parte dos ensinamentos revelados a um certo número de iniciados. Nas Confissões, Santo Agostinho expressa dúvida em relação à reencarnação: «A minha infância não sucedeu a um idoso morto antes dela»... – Caso fosse, alguém estaria reduzido à escravidão. Muitos mais caminhos poderíamos encontrar para justificar a teoria da reencarnação. Porém, para a fé cristã faz mais sentido acreditar na ressurreição ou na plenitude da vida. Não pode a existência senão ser uma caminhada para a eternidade, para uma vida gloriosa à maneira de Cristo ressuscitado. A vida não pode ser um castigo, mas sempre um dom.A fé cristã, não encontra resposta satisfatória na transmigração das almas, se entendemos esse peregrinar como uma necessidade de purificação. O cristão é «outro Cristo», por isso, descobre o amor do Pai eterno, «Compassivo, justo, misericordioso e sempre pronto a perdoar» (doutrina dos Salmos), assim, basta aos filhos de Deus, uma réstia de arrependimento para acontecer de imediato a purificação. Para os cristãos, mesmo que o agora da vida seja terrível, faz sentido olhar sempre o futuro com muita esperança. O Deus revelado por Jesus Cristo não sabe castigar, mas apenas salvar eternamente.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Do Cemitério ao Céu

Novembro é o 11º mês do ano civil. Mas era o nono mês do antigo calendário romano. Daí a origem de Novembro, que vem de nove ou nono. Neste mês a Igreja celebra dois momentos cruciais para a fé cristã. Hoje, dia 1, Todos os Santos, amanhã, dia 2, Todos os Fiéis Defuntos. Estas duas datas são muito sentidas pelo povo cristão. Por um lado, com Todos os Santos, invoca-se todos esses heróis anónimos da Igreja. Por outro, com Todos os Fiéis Defuntos, lembramos outra multidão ainda maior, todos os irmãos que já faleceram. Porém, o dia de finados tem maior simpatia no coração do povo do que o dia de Todos os Santos. Não são por acaso as multidões que visitam os cemitérios neste dia. O culto da morte é muito grande. As páginas dos jornais que anunciam os funerais são extensas. É sintomático o número de pessoas que procuram o jornal só para ver quem morreu. A visita ao cemitério, por estes dias, é surpreendente. Os gastos com os funerais, em urnas requintadas e luxuosas, a variedade de ramos de flores… São reveladores do culto que se nutre pelos mortos. É óbvio que tudo isto não é apenas uma obsessão mórbida pela morte. É antes um culto, um pouco destorcido, que expressa tarde um amor pelos familiares. Quantos passaram a sua vida completamente desamparados, sem uma palavra de ânimo e de consolo para a sua dor e solidão? Agora, na morte, têm a expressão de um carinho tardio que não podem saborear nem contemplar com os olhos da carne. Nada obsta que os vivos manifestem como muito bem entenderem, amor pelos seus que partiram. Mas, que nada seja artificialismo balofo, como as mulheres da minha infância que se revezavam nos choros altos enquanto acompanhavam os defuntos. Vale mais acompanhar com discrição o lugar da morte e os mortos do que se deixar envolver em dramas avulsos sem sinceridade. São a maior parte das vezes falsidade e também servem para colmatar a falta de fé e de esperança na vida eterna. Outras vezes serve para apagar mágoas e frustrações antigas ou culpas não resolvidas a tempo. A morte é uma realidade complexa e o seu culto também. Tudo poderia ser de outra forma, com mais simplicidade e mais discrição. Sem choros e sem fantochadas de gosto duvidoso. A visita floreada ao cemitério por estes dias, quererá revelar que a saudade dos familiares idos caminha agora a par e passo com os vivos. Mas, revela também que a dicotomia entre o inferno e o céu continua a padronizar os esquemas de pensamento e de vida dos homens do nosso tempo. O medo do inferno - esse lugar imaginário que «educou» gerações - continua referência de uma multidão de medrosos. Esse lugar mítico, de fogo que tortura continuamente, onde há choro e ranger de dentes, não nos sai da mente e influencia a atitude perante a morte. O inferno, erra o sítio da dor, da condenação eterna e das trevas. A morte cristã é a passagem desta vida terrena para a «casa do Pai». O céu, o purgatório e o inferno são lugares da «casa do Pai», portanto, são sempre experiências do céu, experiências de Deus. Daí o medo da morte. As várias moradas da «casa do Pai» significam que o lugar depois da morte, é sempre uma experiência pessoal do amor ou do não amor, uma convivência pessoal com a intimidade de Deus. Esta realidade nunca poderá ser homogénea, é única e pessoal. A morte, é única, pessoalíssima e intransmissível. O inefável de tudo isto compõe, o mais aliciante da vida. Viver sem saber como será, enriquece e dá sentido à existência. Mas, poderá também inquietar e desesperar. Não seria mais útil para os homens de hoje e de sempre falar do céu, que é o lugar da salvação e o lugar para que fomos chamados, para que estamos destinados já nesta vida, e não é essa a única vontade de Deus para nós? Deus não quer outra coisa senão o céu para cada um de nós.

PENSAMENTO

Todos os dragões da nossa vida são talvez princesas que esperam ver-nos um dia belos e corajosos. Todas as coisas aterradoras não são mais, talvez, do que coisas indefesas que esperam que as socorramos. (Rainer Maria Rilke)

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

50º aniversário do Seminário do Funchal

O Seminário Maior Diocesano do Funchal, Nossa Senhora de Fátima, comemorou cinquenta anos de existência. Não se pense que o Seminário do Funchal só tem esta pequena idade. O Seminário da Diocese do Funchal, já existe há mais de 400 anos. Muitos lembram-se da «Casa Verde», na Calçada da Encarnação, denominada na gíria por Anona, as paredes por fora pintadas de verde e lá dentro os padres e seminaristas vestidos de preto seriam as sementes da Anona. À parte estes considerandos de menor importância, o Seminário da Rua do Jasmineiro, foi adquirido pela Diocese em 1958, passou a ser o Seminário Maior do Funchal de Nossa Senhora de Fátima. Quase todos os padres actuais da Diocese passaram por ali e fizeram os seus estudos nesta casa. Eu estive desde Outubro de 1982 até 1990, ano em que ingressei no Seminário dos Olivais para concluir os últimos quatro anos dos estudos teológicos. Os anos por ali vividos foram muito importantes para a minha formação, aprendi a ser gente e padre. A educação e formação que se recebe no Seminário acaba por ser pluriforme e isso é um previlégio. A casa da nossa família é insubstituível e nela recebemos muitos valores que nunca outra escola nos dará, mas o Semínário também nos dá uma educação interessante em todos os aspectos, que abrange uma educação humana, social e religiosa. A mundividência do Seminário é muito abrante e estende-se a todos os ramos do saber. O Seminário, é uma outra família, com os seus contornos peculiares, mas muito imprtantes para fazer pessoas empenhadas no mundo, abertas a todas as realidades da vida, zelosas quanto à justiça e inquietas quanto a tudo o que seja maldade. Ali aprende-se a olhar o bem comum com reponsabilidade e a sentir que fazemos parte da grande família de Deus, a Igreja. Também ali aprendemos a avaliar positivamente e negativamente as coisas da vida, porque se avalia o bem feito e o mal feito com espírito crítico. Por tudo isto, tenho muita pena que o Seminário esteja reduzido a apenas 13 alunos. Porque acontece isto? - Porque alguma igreja começou a entender que o Seminário só tem razão de existir enquanto escola, fábrica de padres. Não, não penso assim, entendo que o Seminário só será útil na medida em que esteja aberto a preparar pessoas para o mundo, tenha qualquer vocação. Então como se irão formar os leigos? Outra questão: então não se orgulha o Seminário de ter dado abrigo a pessoas que hoje estão na política, nos negócios, no ensino, na saúde, na Comunicação Social e em muitos lugares de decisão desta nossa sociedade? - A meu ver este trabalho seria muito importante, porque fazia do Seminário uma verdadeira escola de vocações. A Igreja não são só os padres, são os leigos também, mas que requerem uma preparação e formação adequadas para exercerem na Igreja a sua verdadeira vocação. O Seminário pode e deve ser este espaço aberto a mais pessoas que desejam fazer uma experiência diferente de educação, à luz do Evangelho e dos princípios que a Igreja prevê para este espaço-escola que chamamos de Seminário.

Morreu a irmã Emmanuelle

Irmã Emmanuelle, uma freira que viveu durante anos junto os catadores de lixo do Cairo e já foi comparada a Madre Teresa de Calcutá, morreu nesta segunda-feira, aos 99 anos. Costumo dizer quando morrem pessoas deste calibre, amigos dos sem sorte neste mundo, que os pobres ficaram mais pobres. A irmã Emmanuelle situa-se na estirpe dos grandes profetas do nosso tempo, está na linhagem da Santa Madre Teresa de Calcutá, porque ambas apaixonadas pelos indegentes deste mundo. No fundo com a morte destas figuras iluminadas não só perdem uns, mas todos nós, o mundo inteiro fica mais pobre. Porém, a lei da vida funciona assim. Não há como escapar a essa fatalidade. Por isso, somos todos convocados a cumprir o nosso papel neste mundo. A irmã Emmanuelle foi uma Apóstola à maneira de Jesus Cristo, nunca se cansou de desafiar a Igreja toda com a sua palavra e o seu exemplo. É dela que se sabe sonhadora e militante de uma Igreja «serva e pobre». Não pode ser mais pertinente este desafio para todos nós Igreja, porque num mundo onde se prova agora que o dinheiro não passa de uma invenção virtual e um jogo de incertezas, a sua palavra e exemplo vêm dizer-nos que o valor do amor aos mais pobres é o único caminho de felicidade e que nenhuma riqueza trará felicidade se não estiver ao serviço do bem para todos. Nisto a nossa Igreja pode, se tiver vontade, ser um exemplo muito grande.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Poema de São João da Cruz

Talvez a marcha da vida possa alimentar o espírito neste poema de São João da Cruz. Ele diz tudo: “Conheço a nascente, ela flui, ela corre, mas é de noite. / Na noite escura desta vida, conheço-a, / a essa nascente, pela fé, / mas é de noite. / Sei que não pode haver coisa mais bela, / que céu e terra nela matam sede, / mas é de noite. / Sei que é um abismo sem fundo e que ninguém / pode passá-la a vau(=), / mas é de noite. / Essa nascente eterna oculta-se neste pão vivo / para nos dar a vida, / mas é de noite. / Daí chama todas as criaturas / que vêm beber da sua água, entre sombras, / mas é de noite. / Vejo-a, / A esta nascente viva do meu desejo neste pão de vida, / mas é de noite”. = Vau – sítio pouco fundo de um rio.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Dia Mundial da Erradicação da Pobreza

É incompreensível que ainda estejamos acima de um milhão de pobres no nosso país. Fundamentalmente, o maior índice de pobreza situa-se, grosso modo, na população idosa, dependente das magras pensões e nos trabalhadores empregados com salários baixos, que na sua maioria vivem fora dos centros urbanos. Sugundo alguns estudos, Portugal é o país da União Europeia que apresenta um número mais elevado de pobres. Embora tenha sido o nosso país que mais fez nos últimos anos para saír deste patamar vergonhoso. Como poderemos descansar perante um país onde há uma multidão enorme de famílias que subsistem em condições de quase profunda miséria? António Barreto, no trabalho sobre «Portugal 1960/1995: Indicadores Sociais», apresentou claramente algumas razões para tanta pobreza. Diz assim exactamente: «os novos condicionalismos de uma economia cada vez mais aberta provocaram uma verdadeira destruição de economias locais, de subsistências rurais (podemos lembrar, a agricultura, os bordados, os vimes (…), de actividades semi-artesanais, de empresas familiares e de circuitos de troca e comércio rudimentares mas socialmente efectivos. Desta verdadeira mutação, operada rapidamente, resultam sobretudo duas consequências. A primeira, o alargamento muito significativo da massa de dependentes da Segurança Social, até porque também as redes familiares deixaram depressa de exercer as suas funções de apoio. A segunda, o crescimento considerável da população dos subúrbios de Lisboa, Porto e Setúbal, em condições muito precárias de vida, emprego e habitação» (p. 69). Sobre este assunto, os alertas são imensos, os debates, os estudos e as palestras, mas parece que aflata o essencial, medidas concretas de combate a este flagelo que consome ainda tantos portugueses. Bruto da Costa, Propõe que é preciso «mexer no sistema de segurança social, na política salarial e no mercado de trabalho a nível nacional». Queremos aqui afirmar um forte não aos sistemas que criam uma multidão de irresponsáveis dependentes, mas sim a sistemas que promovam a dignidade e a responsabilidade das pessoas pelo seu destino. Isto é, é preciso criar meios e métodos que façam das pessoas sujeitos activos da sua subsistência.
Na nossa querida Madeira, são ainda muitas as famílias que não saíram da condição de pobreza. As medidas políticas a este nível nunca foram muito visíveis, embora não se descure a aposta na educação e na habitação social que o poder político levou a cabo. Mas, os resultados ficaram muito aquém do que se pretendia, porque a aposta não era na promoção das pessoas, mas parecia mais uma política de arrumação de pessoas. A pobreza em vez de perder terreno, foi aumentando e ganhou novos contornos.
A política do betão e das inaugurações, semeou muita festa e riqueza que enche o olho, mas pouco serve à maioria da população. Não se nega a importância que têm as muitas estradas, os centros de saúde, os conjuntos habitacionais, as escolas e etc. Mas, muitas obras foram inúteis e os milhões investidos na inutilidade podiam ter sido canalizados para a promoção social e educação da população em geral. Assim, temos um pequeno grupo de famílias que vivem na maior das faustosidades (porque foram apadrinhados e previlegiados por este sistema injusto) e o grosso da população a braços com a luta diária para pagar a prestação bancária e a contar os cêntimos que restam para comprar pão.
Este dia da Erradicação da Pobreza deve fazer-nos reflectir a todos. E enquanto existir um pobre que seja, estaremos sempre a ser confrontados com o maior dos escândalos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sobre o meu avô

O meu avô era um figurão de homem. Sempre me lembro dele. O seu carinho. O Seu afecto. A sua paz interior. O seu sorriso. A sua bondade. Nada nele escapava à ternura e ao amor por todos. Um homem completo. Diríamos que era um «homem dos sete ofícios». Sabia tirar dentes. Sabia cortar os cabelos. Sabia esterilizar (capar) os porcos e os cabritos. Um agricultor de primeira. Um tratador de animais como poucos. Pois, então, uma só palavra, um artista. As solicitações não paravam a todas as horas do dia e da noite. E estava o avô José ou o de «cima» - era a sua alcunha, o José de Cima ou o tio de cima, como toda a gente sabia pronunciar com todo o respeito – mas, de cima, porquê? - Porque um pouco em baixo residia outro familiar do meu avô, chamado de «baixo» ou tio de baixo, como toda a gente o tratava nas redondezas. Estamos perante duas famílias, os de cima e os de baixo. Nada mau, para trato num ambiente rural, onde podiam surgir as alcunhas muito graves. E assim se faziam os sítios da nossa terra, as figuras emblemáticas existiam e todos nutriam por elas um respeito sagrado. Mas, a parte estes considerandos. Gostaria mais de destacar a figura sublime do avô. Um homem lindo de morrer. O seu rosto enrugado aqui e ali, uma barba branca da cor da neve, os cabelos, já muito poucos por sinal, mas reflectiam uma brancura transcendente. O seu estilo na forma como sugava o cigarrinho Santa Maria, aproveitado até à exaustão, elevava para a admiração. O seu acto de fumar era um cerimonial, um acto feito de prazer e alegria pela vida. Então era vê-lo nas tardes de Domingo, na entrada da casa, bordão na mão direita e o cigarrinho Santa Maria na outra, a ser gostosamente fumado com o delírio da festa, que eram as tardes de Domingo nos recantos dos caminhos. Por isto tudo, o meu avô fica na memória e nunca mais deixará de ser uma figura da minha infância. Nos momentos de maior cansaço, tristeza ou desânimo, regresso a ele e nele e por ele encontro outra luz e outra vontade para caminhar. Desta forma, acredito na eternidade. Mais acredito que a ternura, os simples gestos dos avós marcam para sempre as novas gerações. Só assim se percebe que o amor é eterno. Esta é a melhor herança que os avós poderão deixar.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Honestidade

Primeira estrofe: Um sol brilha face a este tempo / O tempo da tua vida / E Deus chama cada um / Ao caminho da transparência / E cai depois um silêncio terno / De amor pelo mundo. Segunda estrofe: Deixa cantar os pássaros / Mesmo que morras / Por uma verdade, não mintas / Que o som da honestidade / Seja a música da vida toda / Em cada momento…

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Três perguntas sobre a FAMÍLIA

A família. Como se faz?
- A família, faz-se mediante um contrato social, jurídico, canónico ou religioso, entre um homem e uma mulher que desejam ser procriativos. A família tem uma base antropológica. É um homem e uma mulher, em ordem à procriação (atenção: a aqui a palavra procriação não tem só em vista a geração dos filhos, mas procriação no sentido de felicidade que o amor produz sempre), numa relação estável e segundo a óptica da Igreja, para toda a vida.
A família. As ameaças?
- O discurso sobre o respeito, a fidelidade e a castidade, é, hoje, muito complicado, porque facilmente se apelidam as pessoas que o defendem ou o vivam no seu dia a dia, de retrógradas e de tradicionalistas. Hoje, o que dá é ser o que o momento proporciona, porque não interessa a estabilidade emocional e a fidelidade aos valores. O que importa é viver a ocasião intensamente. A instituição, como valor perene e estável, sofre muito com esta forma de pensar e viver dos tempos actuais.
A família. Importância e o futuro?
- A família, continua a ser uma forma de crescimento humano e de educação fundamental para a pessoa humana. Todos reconhecemos que a família actual está a atravessar uma crise muito grave. É certo que assim seja, porque os problemas que advêm daí estão à vista de todos. Porém, requer-se uma acentuada intervenção na educação para que a família retome o seu lugar na sociedade. Mais reconhecemos que a família em crise arrasta consigo toda a sociedade. Cada vez mais, reconhecemos que se todos os pais e todas mães fossem verdadeiramente responsáveis pelos seus filhos a nossa sociedade estaria melhor e os problemas não seriam tão graves no que diz respeito à convivência social. A todos é pedido que se empenhem na educação para que a família continue a ser a principal escola de crescimento e de educação de todos os homens e mulheres, dentro dos parâmetros que a antropologia a definiu. Caso não exista esta consciência entraremos no caos e na perversão geral que tanto nos comove ou escandaliza. Mas, mesmo que estes considerandos sejam um pouco negativos no que diz respeito à família, gostaria de salientar que existe uma multidão de pais e mães muito responsáveis e preocupados, que homenageio e incentivo. Bem hajam todas as mães e pais pelo trabalho extrordinário, realizado voluntariamente, pela obra de Deus, a criação da humanidade.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Os casamentos homossexuais

Está na ordem do dia o tema da homossexualidade e, mais precisamente em debate na Assembleia da República, a aprovação ou não de uma proposta do Bloco de Esquerda sobre os casamentos homossexuais. Não será ainda desta vez que será aprovado, mas na próxima legislatura voltará em força.
Para a Igreja Católica este é um assunto muito complexo. A Igreja na sua doutrina considera a homossexualidade uma doença ou um desvio da natureza, em muitos meios da sociedade em geral começa a ser aceite como uma opção ou orientação tão legítima como a orientação heterossexual. Estamos perante um sinal dos tempos, que merece atenção especial e uma reflexão muito séria séria. Porque qualquer precalço nesta matéria, o sofrimento para muita gente é uma realidade incontornável.
Mas, reduzir a homossexualidade a um pecado, é redutor e favorece a perseguição e discriminação em relação às pessoas com esta orientação sexual. Assim, «Pecado» é ter a liberdade de escolher entre o bem e o mal e optar pelo mal. Ninguém escolhe ser homossexual. A orientação sexual é algo inerente ao indivíduo e à sua personalidade. Por isso, em qualquer orientação sexual, a libertinagem e a promiscuidade são pecados porque agridem a dignidade da pessoa. Cristo dá-nos o direito de nos guiarmos pela nossa consciência e pelo amor. Pecado é não amar e permite que se tenha atitudes indignas para si e para os outros. Qual é a mensagem fundamental da Bíblia e do Evangelho de Jesus Cristo? Como cristãos, nós acreditamos que a Escritura Hebraica é a revelação inspirada dos compromissos de Deus para com o seu povo. A nossa lei é a de Cristo e essa lei é a lei do amor. O seu fundamento é o mandamento «amar a Deus e ao próximo como a si mesmo». Nem Jesus nem Paulo e nem mais ninguém no Novo Testamento diz que os Cristãos estão presos às regras éticas da lei de Moisés. Paulo ensinou claramente que os Cristãos não estão mais sob a lei do Antigo Testamento (Gál 3, 23-25). Ensinou também que a velha lei é complementada em Cristo (Rom 10, 4) e que a sua realização se cumpre no amor (Rom 13, 8-10, Gál 5, 14). Jesus verdadeiramente lidou com a sexualidade humana de uma maneira aberta e com aceitação. Por um lado afirmou as virtudes do casamento, mas por outro também declarou que o casamento não é para todas as pessoas (Mateus 19, 3-12). Por fim, a Bíblia não possui registada nenhuma palavra falada por Jesus condenando a homossexualidade. Por fim, faço a pergunta que me parece óbvia, para quando uma Igreja toda, em comunhão fraterna com todos? – Aristóteles dizia, o que todos os homens querem da vida é procurar a felicidade e a Igreja sabe isto desde sempre.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Nomeações de párocos na Diocese do Funchal

Porque será que uma coisa tão banal na vida da Igreja Diocesana provoca tanta celeuma? - Porque falta alma quanto ao modo como se fazem as coisas. Explico-me. A auscultação para nomear qualquer pároco devia ser muito abrangente. Os outros párocos, especialmente os que estão à volta da paróquia para onde vai um novo pároco e todas as pessoas mais empenhadas nessa comunidade deviam ser escutadas com muito atenção. Por um lado, as coisas são feitas de um modo que ninguém sabe e, por isso, levanta muitas suspeitas, muita bilhardice e muita contestação. Por outro, muitos falam, reclamam e criticam sem saber do que falam. O desconhecimento sobre as coisas da religião e do modo como a Igreja funciona é muito grande. Os que opinam, contestam, criticam, fazem-no de um modo tão acintoso que revela muita ignorância e falta de espírito de Igreja. A maioria dos cristãos estão acomodados, vivem na maior das indeferenças em relação a tudo isto. Outra grande parte, não se preocupa muito que seja agora o padre A, B ou C, qualquer um serve desde que llhes garanta os serviços necessários para o momento. A todos de facto não deveria importar que fosse este ou aquele pároco, desde que as comunidades funcionem com o mínimo de qualidade. E se todos estivessem disponíveis para colaborar como verdadeiros cristãos a Igreja, afinal, seria um lugar de corresponsabilidade fraterna exemplar. A celeuma existe, graças à Igreja sacramentalista que ainda perdura entre nós. Tudo à volta do clero, por força de muitas circunstâncias. Umas pela natureza da Igreja e outras por falta de preparação adequada dos fiéis para exercerem determinadas funções com respeito e responsabilidade fraterna. A poeira que este assunto levanta, não passa disso, poeira que o vento leva facilmente. E mais ainda, se todas as famílias dessem um sacerdote à Igreja, qualquer bispo teria muito mais facilidade em resolver as questões da sua diocese. Gostaria de ver aqueles que criticam só por criticar a trabalhar mais nas vocações religiosas e nas suas famílias deveriam tudo fazer para que surgisse um sacerdote. Sabiam que os padres não se colhem na horta? - São fruto das famílias, as nossas famílias concretas. E ainda, outro povo, acusa os sacerdotes de estarem acomodados, e quantos fiéis se apoderaram das comunidades e são autênticos despotasinhos, que desertificam tudo à sua volta? - Mandões, brigões, motivo de divisão e sofrimento para os párocos e todas as pessoas que desejam aproximar-se das comunidades. A Igreja de tudo tem um pouco.