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quarta-feira, 29 de abril de 2009

O padre César Teixeira da Fonte

Uma figura ímpar do século passado da Madeira. Um homem interessante que soube ler a vontade do seu povo e que por ele sofre a miséria das prisões da «velha senhora», isto é, os calaboiços inumanos da ditadura de Salazar.
A propósito da sua morte a 18 de Junho de 1989, o Jornal da Madeira, em 20 de Junho de 1989 escreveu o seguinte: «O padre Dr. César Teixeira da Fonte é natural do Estreito da Calheta, onde nasceu no dia 29 de Setembro de 1902, tendo falecido em Lisboa no dia 19 de Junho de 1989. Foi ordenado presbítero no dia 24 de Setembro de 1927 e celebrou a sua Primeira Missa, no Estreito da Calheta, no dia seguinte. Em 30 de Setembro de 1927 foi nomeado Coadjutor de Câmara de Lobos e, em princípios de Dezembro de 1927, tomou conta da Paróquia do Porto Santo. Em 1 de Outubro de 1928 foi nomeado pároco da freguesia da Calheta, tendo depois, em 9 de Março de 1930, sido nomeado pároco da freguesia do Faial. Em 1 de Julho de 1934 acumulou a função de Pároco de São Roque do Faial. Em 1936, não ficou indiferente a um problema que veio afectar a vida dos seus paroquianos e das populações rurais da Madeira. Foi a chamada questão dos lacticínios, levantada pela promulgação do Decreto de 4-6-1936 que fundava a Junta de Lacticínios da Madeira que monopo­lizou a indústria lacticínia, dentro duma organização que o povo con­siderava lesiva dos seus direitos. Perante tal situação, a população rural manifestou o seu desconten­tamento, tendo merecido o apoio do padre César. Com consequência disso viria a ser preso, a 11 de Setembro de 1936, conjuntamente com muitos dos seus paroquianos. Depois de longos meses no Lazareto seguiu para Caxias. Em meados de Janeiro de 1938 viria a ser restituído à liberdade e regressou à freguesia do Faial, onde continuou a paroquiar. No fim desse ano partiu para Lisboa, onde, a partir de 5 de Dezembro de 1938, passou a exercer o seu múnus sacerdotal na paróquia de São Sebastião, matriculando-se também no Curso de Direito, que concluiu a 21 de Julho de 1943. O Padre Dr. César, em Lisboa ficou adstrito ao serviço da Igreja de São Sebastião da Pedreira. A par das suas funções eclesiásticas, a partir da sua formatura em Direito, exerceu simultaneamente a advocacia, procurando fazer dela um aposto­lado, interessando-se muito pelas causas dos pobres e por assuntos jurídicos relacionados com a vida eclesiástica de muitas paróquias do Patriarcado. Pela sua acção in­trépida, inteligente e zelosa e, ao mesmo tempo, pela sua delicadeza que o tornava estimado, fez muitos amigos e admiradores que não o esquecem».
Um padre livre no pensar e sem dúvidas nenhumas quanto às opções a fazer. Não pondera o que pensará o poder político e religioso. Diante das necessidades do seu povo coloca-se ao lado dos injustiçados e com eles vai até às últimas consequências. Dizem os seus familiares que por causa do sofrimento e da injustiça que passou nunca mais pronunciou o nome Salazar, porque lhe sujava boca.
O seu regresso ao Funchal e concretamente à Freguesia do Faial, é curiosa e mais curioso o seu regresso repentino a Lisboa em 1938. Após poucos meses, não dava mais ficar no lugar onde o poder político e religioso, amancebado, congeminava perseguir o «comunista» diabólico e perigoso que sublevava o povo.
Esta injustiça é intolerável e devia calar fundo no coração de todos nós para que não se repitam estes atentados à liberdade de consciência e para que a livre expressão do pensamento, o direito de opção e a firmeza das convicções sejam o alimento essencial da Democracia.
Não podemos esqueçar esta figura da Igreja e nem permitir que a Igreja se aliene e silencie estes homens nobres que souberam assumir riscos sem olhar a consequências, no que diz às opções que assumiram em favor do povo.
Muito mal será que sejam só alguns partidos políticos a se apoderarem destas figuras, porque quem devia lembrar, simplesmente, se remete ao silêncio, por medo ou por pecado de omissão. Aqui fica a minha sincera homenagem.

Comentário à Missa do Próximo Domingo

03 Maio 2009
Domingo IV da Páscoa – Ano B
Agora somos filhos de Deus
I Jo. 3, 1-2
Agora somos filhos de Deus. Esta filiação radica em Jesus, que veio ao mundo para realizar a obra maior da história humana. Nós, humanidade englobada neste processo, somos agora membros desta grande família de Deus. Os filhos de uma fraternidade que marcha a partir do Deus revelado por Jesus Cristo e que caminha na História em direcção à eternidade que se encontra na «casa» deste Deus. Por mais desgraçados que sejamos, não somos órfãos nem muito menos «filhos das varas verdes», mas filhos no Filho do Deus revelado na história humana.
Nós precisamos e é bom que nos digam sempre que somos filhos de Deus. A solidão que o sofrimento desta vida provoca precisa de uma palavra que nos anime na esperança de uma realidade consoladora a partir de um Deus que nos ama como seus filhos.
Por isso, São João desafia-nos a estender os braços, como faz o Bom Pastor com as suas ovelhas, a todos os recantos da vida. Onde a doença consome a vida e debilita o corpo, podemos aquecer o coração dessas vítimas com a nossa palavra de esperança e tocar bem fundo com esta certeza, o nosso Deus é um Deus Pai-Mãe da humanidade inteira e ama de modo especial todos aqueles e aquelas que experimentam a dor como alimento desta vida.
Podemos nós lutar contra a injustiça, que o nosso mundo alimenta e dá como alimento a tantos irmãos nossos. A nossa filiação divina devia encorajar-nos e escandalizar-nos contra tudo o que não promova a vida em todo o seu esplendor. Tudo o que seja contra a felicidade devia receber de nós uma luta constante.
Somos filhos de Deus e nesta condição devemos estar atentos a tudo o que não é felicidade. Deus deseja que tomemos consciência da nossa condição e logo depois colocá-la em prática, deixando o nosso egoísmo e comodismo de parte para nos devotarmos à vida partilha para o bem de todos.
Por fim, termino com uma breve explicação sobre o sentido da filiação de Jesus e a nossa condição de filhos de Deus. Em última instância Deus é nosso pai, porque é nosso criador. Mas de criaturas de Deus passamos a filhos adoptivos de Deus pelo Baptismo. Somos, portanto, propriedade de Deus, somos filhos adoptivos de Deus, por isso mesmo, filhos amados de Deus.
No Antigo Testamento usa-se para o povo de Israel a expressão «Filho de Deus» (Ex 4,22) e cada um dos seus membros como «Filho de Deus» (Dt 14,1). No Novo Testamento, São Pedro proclama Jesus como Filho do Deus vivo (Mt 16,16). Porém, Jesus parece preferir chamar-se de «Filho do Homem», que equivale a «Messias» (Mt 26,64). Jesus está unido ao Pai pela filiação divina, mas ele quis ser igual a nós em tudo, menos no pecado. Por isso, ele, nascendo de Maria, é o «Filho do Homem» também. Assim, por ser verdadeiro homem ele pode nos libertar do pecado e garantir para nós a filiação divina também. Há uma frase que resume bem a salvação que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nos trouxe. Eis a frase: «O Filho de Deus se fez homem, se fez Filho do Homem, para que o homem fosse filho de Deus».

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Igreja Mãe e Mestra

É o título mais sublime aplicado à Igreja Católica. Estes atributos remontam até ao saudoso e bondoso Papa, que todos admiram, João XXIII, que seguindo a tradição dos Padres da Igreja, formulou este axioma incontronável sobre a Igreja. Não podia ser um título mais profético e dos mais actuais que se deve aplicar, para fazer reflectir as nossas comunidades e todos os baptizados.
Nos nossos tempos não pode ter lugar a lingugem inquisitorial, acusatória e incriminadora entre os membros da Igreja. Padres acusam padres de actividades «ilícitas e abusivas». Esta linguagem não serve à Igreja e não deve estar na boca de cristãos, seguidores de um Mestre, que a ninguém condenou, mas em todos os momentos esteve pronto para perdoar e acolher, mesmo até os piores pecados.
Perante o diferente ou o divergente a Igreja não pode ser inquisitorial e cega quanto ao Direito Canónico. A lei base da Igreja é um instrumento, um meio e nunca um fim em si mesmo. Não podemos substituir o Direito Canónio pelo Evangelho. Se tal acontece damos razão ao filosofo Alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), quando diz: «Cristo fez um Evangelho e a Igreja fez um desenvangelho».
A Igreja afirma e promove o diferente, mas não gosta quanto ele se manifesta. A dúvida é um mal para a Igreja, mas Bernhard Häring dirá sobre a dúvida o seguinte, no livro essencial, «Igreja: Estímulos e Esperanças». Diz assim o autor: «Existem, naturalmente, as dúvidas gratuitas, tontas, pedantes e frívolas. Mas também existe, e tem mesmo de existrir, a dúvida séria e sincera, como expressão de uma respeitosa busca da verdade total». Em nome da verdade, à Igreja compete promover o diferente e o divergente.
Afirma São Cipriano: «Ninguém pode ter a Deus por Pai, se não tem a Igreja como mãe» (De cathol. Ecc. Unitate, 6). Mas, onde se mostra esta Igreja, que tantas vezes acusa, condena e vota ao ostracismo alguns dos seus membros? - Lembremos a imensa quantidade de teológos, bispos, sacerdotes e religiosos condenados ou proibidos de escreverem e de lecionarem nas faculdades ligadas à Igreja. Também entre nós, na Madeira, sente-se muito que os que são diferentes, são condenados ao silêncio, à não participação nos bens e nas actividades que são de todos. A Igreja-Mãe não pode ser só de alguns e para alguns, mas para todos os que a desejam e querem.
Por isso, repudiamos tudo o que seja incriminar, porque a ninguém na Igreja compete apontar o dedo acusador, mesmo que para tal tenha a segurança de todas as leis deste mundo. Porque, assim pensando, ficamos com a advertência de Jesus Cristo: «Um só é o vosso Mestre» (Mt 23, 8). E isto para tudo nos basta.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

As tradições na cabeça de alguns

Acho extrordinário alguns defenderam tanto as tradições. Muito bem, acho que sim. Mas, que se defenda não acusando e não misturando tudo. As tradições são o que são e valem o que valem. Devem ser defendidas, preservadas e ensinadas aos mais novos para que não morram nas calendas empoeiradas da cabeça de alguns.
Sobre a Visita Pascal ao sítio da Ribeirinha que tradicionalmente se realizava na Segunda de Páscoa, este ano não se realizou nesse dia. Não me parece que tenha sido mudado o conteúdo ou que alguém tenha proibido que se relizasse tal tradição. Apenas foi mudado o dia, de Segunda de Páscoa passou para o Domingo de Pascoela. Que mal tem isto se é mais conveniente para a maioria dos moradores daquele sítio?
Há gente que de tudo discorda, não porque saiba do que discorda, mas porque sente prazer em discordar, confundindo, caluniando e metendo tudo e todos dentro do mesmo saco.
O que se diz sobre a cerimónia do Lava-pés é simplesmente aberrante e totalmente desenquadrado dos nossos tempos e, mais grave ainda, uma ofensa contra as mulheres que brada aos céus. Tanto que se reclama mais lugar e vez para as mulheres na Igreja e o que vemos, os féis que ontem faziam tal reclamação hoje vociferam contras as mulheres, não compreendendo o simbolismo interessante desta cerimónia e o quanto ela é importante para a mudança de mentalidade dos homens e das mulheres que devem estar ao serviço de uns e de outros.
As «Festas do Perdão», já se converteram em «confissões colectivas», extraordinária esta confusão. Não se entende nada e as misturas são totalmente falaciosas.
Como se vê e prova, a não mudança é um afrodisíaco de muitos dignitários da Igreja, mas também serve de antídoto a muitos fiéis leigos, que empurram a Igreja para trás e tudo fazem para que a vida continue um fardo para muitos. Estes escribas dispensamos.
São várias as vezes que se acusa os padres, porque são retrógrados e alimentam tradições anacrónicas e que frequentemente não sabem nada do tempo actual e que não sabem adaptar-se aos tempos. Em que ficamos, afinal? Se mudam é porque mudam e se não mudam é porque não mudam. A história do Velho, do Rapaz e do Burro, nunca teve tanta actualidade como hoje. Por isso, muito do que se ouve e lê não passa de fait divers do «povo superior», que a nossa terra diz apresentar ao mundo além mar, subdesenvolvido e pobre. Porque aqui todos somos os mais desenvolvidos e ricos do mundo. Bem hajam os defensores das tradições da nossa terra. Afinal, gosto muito de todos eles.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

26 Abril 2009
Domingo III da Páscoa – Ano B
Jesus Cristo um defensor de todos
I Jo. 2, 1-5a
O calor da presença de Jesus ressuscitado é uma realidade testemunhada pelos discípulos de Emaús, que nos reconforta também e que nos faz sentir que essa presença é muito importante para enfrentar todas as caminhadas da vida deste mundo. O calor da Ressurreição daz arder o coração de alegria, porque não se sente desamparado nem à margem do amor de Deus. Deus aí está e diz-nos: «Tocai-Me e vede…».
Perante esta constante paixão amorosa de Deus por nós, não pode haver medos nem desconhecimentos, que possam eventualmente travar o acolhimento desta proposta que nos torna grandes diante do amor compassivo de Deus-Pai-Mãe, revelado por Jesus Cristo.
Na Eucaristia, Jesus senta-se à mesa, pega no pão, parte o pão e entrega o pão para todos como sinal do Seu Corpo glorioso. Não podemos temer esta entrega e esta disponibilidade para o banquete, porque aí descobrimos Cristo totalmente entregue à causa de salvação designada por Deus-Pai-Mãe, que nos defende e nos protege com o Seu amor infinito e incondicional.
Somos hoje, também chamados pelo nosso nome a tomar parte nesta festa de amor e de vida. Os tormentos dos caminhos da vida nada são diante desta maravilha que Jesus nos oferece. Como venceríamos o desgosto das caminhadas sem sucesso que muitas vezes encetamos pela vida fora? – Só com a força de Jesus que é alimento eucarístico entregue sobre o que somos e temos. E só nessa entrega podemos encontrar sentido para os altos e baixos deste mundo.
A comunidade que se reúne à volta do altar da Eucaristia, descobre-se a si mesma como corpo vivo de Cristo presente na história e descobre também a mediação do Espírito Santo como razão de ser da convocação que Cristo faz todas as vezes que a possibilidade do encontro se manifesta.
Dentro da comunidade cada um descobre a sua vocação ou a sua capacidade de doação aos outros. A comum união fraterna que Cristo deseja e para a qual nos chama em todos os momentos, só é possível mediante a disponibilidade do coração para o acolhimento da fé. Não outra forma de descobrir Cristo vivo nem há outra forma de salvação. Ninguém se salva sozinho. Só na comunidade à volta da mesa do pão e do vinho se pode encontrar a possibilidade da redenção, porque Cristo ressuscitado manifesta-se de forma plena na comunidade reunida. Que todos sejam capazes de abrir a sua existência à Palavra do Amor que Cristo nos dirige. Não se encontra o verdadeiro sentido da vida fora de Jesus ressuscitado. E a verdadeira vida só é possível quando todos os homens e mulheres, como irmãos, se juntarem à volta da mesa do banquete que Cristo nos prepara. Vinde à mesa da festa da vida.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

O Fanatismo dos funcionários de Deus

Alguns tomaram o fanatismo e o legalismo como realização pessoal. Os funcionários de Deus estão por todo o lado. Há também umas damas de caridade que se instalaram por aí em ligas, movimentos e associações que a única coisa que sabem fazer é gastar energia, chá e jogar às cartas. Por isso, vivemos uma Igreja de teimosos e teimosas que não reconhecem as limitações da idade e não permitem a mudança e a transformação como novidade principal do Evangelho de Jesus Cristo. A teimosia e a pesada idade de muitos e muitas, instalados no mofo bafiento das instituições, faz envelhecer e matar a Igreja. Estas instituições há muito que deixaram de cativar, porque não se transformam nem se adaptam aos tempos novos que o mundo oferece em todos os quadrantes sociais. Este também é um tipo de fanatismo. A razão principal de tudo isto, radica no facto de se ter concebido uma falsa ideia de Igreja. A Igreja nunca pode ser a «igrejinha» de alguns na qual se instalaram anos e anos a comer à custa do povo simples. Já chega de pretensos cristãos, que ao invés de servirem, servem-se da Igreja para se mostrarem que são importantes, imprescindíveis e insubstituíveis. A verdadeira definição de Igreja, está no Concílio Vaticano II, que se inspirou na ideia do Antigo Testamento, sobre o «Povo de Deus» e descoberta mais tarde pela inteligência de Pedro, ao dizer, são finalmente constituídos em «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo conquistado... que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1Ped 2, 9-10). Todo esse fanatismo que por aí anda, violento, porque contradiz a vontade de Cristo, não passa de uma roupagem pretensamente caridosa, que não salva senão os comodismos pessoais dos interesseiros deste mundo. Todas as visões de igreja e de igrejinhas que muitas vezes pululam nalgumas cabeças da nossa praça, são puro fanatismo que não busca o interesse de todos, mas salvaguardar tachos e interesses escondidos que diante de Deus não terão qualquer sentido ou valor. Mais curioso e surpreendente é constatar que estamos diante de ideias falsas sobre o que é a Igreja, que pode conduzir à destruição fatal da verdadeira Igreja do Evangelho. Todos somos chamados a assumir o amor pela verdadeira palavra que Cristo nos revela e daí aprender que não existe uma outra Igreja, senão a que o mesmo Cristo faz nascer no coração de cada um.

Comentário à Missa do Próximo Domingo

19 Abril 2009
Domingo II da Páscoa – Ano B
Nascer de Deus
I Jo. 5, 1-6
A partir da Páscoa de Jesus Cristo, descobre-se que «nascer de Deus» é ressuscitar. A Ressurreição, mostra-nos claramente que a vida venceu a morte e que com esse acontecimento inaugura-se o tempo escatológico da acção do Espírito Santo. A era do Espírito, começa com as palavras de Jesus ressuscitado, atestando que sem a acção transformadora do Espírito Santo nada será possível realizar. Estamos diante da realização da promessa de Jesus: «Não vos deixarei abandonados, vou enviar-vos o Espírito...» (Várias vezes pronunciou esta ou outras frases semelhantes nos Evangelhos, quando se refere ao Espírito). Jesus revela-nos agora que chegou o tempo do Espírito Santo e sem Ele nada pode ser feito (este aviso também foi pronunciado várias vezes por Jesus). Por isso, há-de ser o Espírito que realiza o mais nobre ministério, acreditar ou como se refere São João, viver «a nossa fé». Esta é a Missão principal que Jesus confere aos seus Discípulos, que consiste em promover a paz através do perdão dos pecados e mediante a força da fé e da esperança que emergem do coração sempre renovado. Somos todos nós os continuadores deste anúncio. É o Espírito que sempre nos deve fazer renascer, para que a vida não se torne uma prisão, mas libertação para a felicidade. Nisto consiste o nascer de Deus e para Deus. E como precisa o nosso mundo deste testemunho.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

12 Abril 2009
Domingo de Páscoa – Ano B
Afeiçoai-vos às coisas do alto
Col. 3, 1-4
A afirmação de São Paulo, diz tudo sobre o essencial do ser cristão: «afeiçoai-vos às coisas do alto…», porque a nossa vida não é daqui. Estamos imersos num universo que vai muito para além da mesquinhez dos dias em que andamos neste mundo. Por isso, eis Cristo ressuscitado, para que com Ele também ressuscitemos para vida em plenitude. A fé nas «coisas do alto», significa acreditar na Ressurreição, a razão de ser do Cristianismo e o que seria a religião cristã se não tivesse essa novidade da vida para além da morte? – Assim, uma vida votada ao esquecimento de Deus e da gratuidade salvadora que Ele nos oferece no Filho ressuscitado, é uma vida sem sentido. A Ressurreição de Jesus é a chave para a leitura correcta da Sagrada Escritura. E através da vida ressuscitada somos levados a pronunciar as palavras da fé e acreditar que cada palavra da Bíblia foi escrita a pensar em cada um de nós. Sem a Ressurreição, a história de todos nós e de cada um teria rumos imprevisíveis e seria de um absurdo ensurdecedor. O Apostolo dos povos, São Paulo, insiste nesta verdade e faz pensar que a solidão dos dias não devem ser uma derrota mas antes uma mediação, um momento que deve permitir a cada um a descoberta da redenção e do sentido da vida toda que Cristo nos revela, com a vitória da Ressurreição ao terceiro dia. O sepulcro vazio mostra-nos como se de um reflexo se tratasse a verdade dos factos relacionados com Jesus Cristo. Mas porquê o fracasso da vida (a doença, o sofrimento, a morte…)? – Porque, somos como somos, isto é, limitados e sujeitos aos condicionalismos próprios de uma natureza criada desta forma. Porém, a fé em Cristo manifesta que devemos deixar penetrar nessas circunstâncias a realidade da Ressurreição. Ele virá preencher o vazio que a doença, o sofrimento e a morte geram de forma cruel. A vida ressuscitada virá preencher o afastamento e a solidão que tais condicionalismo provocam no nosso coração. Nisto, afinal, consiste a beleza da vida e de outra forma a vida não teria possibilidade de se regenerar e de se abrir constantemente ao devir que a criação lhe confere. A Ressurreição de Cristo deve ser uma das certezas absolutas da nossa fé. Porque este é o milagre por excelência que Deus faz acontecer no Seu plano de salvação da humanidade. Pois, «Uma vez ressuscitados com Cristo…» aspiramos às coisas mais elevadas que não se encontram nesta vida terrena, mas «no alto», isto é, no lugar de Deus. Com esta fé no coração, cada pessoa humana, procurará com o seu viver, elevar-se sempre para tudo o que vida tem de belo, para que o milagre da Ressurreição não seja uma realidade adiada mas, já hoje, preenche a vida e anima-a cada vez mais, porque sabe, que um dia esse milagre será em plenitude.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

05 Abril 2009
Domingo de Ramos – Ano B
Tornou-se semelhante à humanidade
Fil 2, 6-11
São do Apóstolo Paulo as palavras mais densas e fortes sobre Jesus Cristo. Estas palavras sobre a figura de Jesus são dirigidas à comunidade dos Cristãos de Filipos. A cidade de Filipos, era uma cidade importante no Império Romano por causa da sua localização geográfica na região montanhosa entre a Ásia e a Europa. O Apóstolo Paulo visita Filipos pela primeira vez, por ocasião da sua Segunda viagem missionária, como é descrito em Actos 16. A visão que Paulo teve em Troas, era Deus convocando o apóstolo a passar ao continente europeu, dando-se ali, em Filipos, as primeiras conversões na Europa e, por isso, Filipos tem sido chamada o "berço do cristianismo europeu". A igreja em Filipos cresceu e fortaleceu-se e trouxe muitas alegrias ao coração do Apóstolo. Paulo escreve esta carta, muitos anos mais tarde quando, na prisão em Roma, em condições miseráveis, mas que não puderam tirar a sua alegria. A igreja de Filipos amava muito a seu pai na fé, e mostra-lhe muito afecto, enviando-lhe uma carta viva na pessoa do seu representante Epafrodito. Não esqueceu, também, de enviar-lhe algum dinheiro para alguma necessidade temporal. Notamos três características principais nesta carta. Primeira, é uma carta bem pessoal, indicando a profundidade da amizade e fraternidade entre o Apóstolo e a comunidade. Outra marca desta carta é a centralidade da pessoa de Jesus Cristo e o Seu senhorio. Nesta carta temos um dos mais belos hinos sobre a humilhação e exaltação de Cristo como Senhor absoluto. Esta passagem a que nos referimos é bem sintomática desta visão. Mas, sem dúvida, uma outra grande característica de Filipenses é o destaque que o apóstolo dá ao gozo reinante no seu coração, apesar de ele estar em circunstâncias humanas tão tristes na prisão. Só Deus pode, pelo Seu Espírito, colocar «alegria» no coração dos Seus servos em «qualquer tempo» e sob «quaisquer circunstâncias». A nota dominante desta carta é que estamos perante a mais «alegre» carta do Novo Testamento. Do início ao final a alegria é a nota dominante. O abismo da dor e da morte são realidades tão frequentes e tão duras nas nossas vidas, que muitas razões encontramos para não sermos alegres e até os mais desanimados de todos, mas se olharmos para Aquele que abdicou de tanto, para ser um como nós, encontramos, afinal, muitas razões para sermos os mais alegres e felizes de todos. A confiança no Pai que Jesus nos mostra, garante-nos uma outra força e libertação para vencer o escuro do abismo da desesperança e o sem sentido deste mundo.