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segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vaticano em silêncio sobre vergonha irlandesa

Com a devida vénia ao Movimento Nós Somos Igreja, no qual me integro com alma, e a autora desta excelente denúncia e reflexão.
por PATRÍCIA VIEGAS
Ao longo de sete décadas, milhares de crianças foram vítimas de abusos sexuais e corporais em reformatórios geridos pela Igreja Católica. Agora, as vítimas querem ver os nomes dos abusadores publicitados e que a imunidade que lhes foi garantida pelo Estado irlandês lhes seja retirada. A Igreja irlandesa pediu desculpa. Mas a Santa Sé absteve-se de comentar.
O Vaticano manteve ontem o silêncio sobre os milhares de casos de abusos cometidos contra crianças em instituições geridas por congregações religiosas irlandesas, depois de o líder da Igreja Católica do país, cardeal Sean Brady, ter dito, na véspera, que estava "profundamente desolado e coberto de vergonha por ver que crianças sofreram de uma maneira tão atroz nestas instituições".
Isto numa altura em que as vítimas estão revoltadas pelo facto de a comissão de inquérito, ao mesmo tempo que divulgou as conclusões de nove anos de investigação, não revelar os nomes daqueles que cometeram violência corporal e abusos sexuais sobre milhares de crianças entregues a estas instituições geridas por religiosos.
E em que os partidos da oposição irlandesa estão indignados com o acordo feito entre o Estado e a Igreja Católica, em 2002, para garantir a imunidade a suspeitos de abusos a troco de alguns milhões de euros e propriedades. A Igreja entrou com 128 milhões dos mil milhões que já foram pagos a 12 500 das 14 500 vítimas que já se manifestaram até hoje (o resto saiu dos contribuintes).
O relatório de mais de duas mil páginas da comissão, divulgado na quarta- -feira à tarde, denuncia que ao longo de quase sete décadas mais de duas mil crianças foram vítimas de abusos sexuais ou corporais, num total de 35 mil que foram colocadas em reformatórios geridos por congregações como os Irmãos Cristãos.
Ao longo de todo esse tempo muitos sabiam o que se passava, padres, freiras, até pessoas do Ministério da Educação, mas preferiram manter o silêncio e ignorar até alertas feitos por inspectores que falavam em crianças com ossos partidos ou com sinais de passar fome. O Governo da Irlanda, país fortemente católico, lamentou ontem um dos períodos "mais sombrios da sua história".
As conclusões da comissão não são novidade para o Vaticano, referiu ontem o jornal católico francês La Croix, dizendo que nestas situações a norma é deixar a Igreja nacional manifestar-se. Isso e o facto de o Osservatore Romano não ter dado a notícia não significa que o Papa não está atento. A sua posição tem sido, até agora, a de estabelecer a verdade "sobre crimes monstruosos".

1 comentário:

Gorky disse...

Falar da Irlanda ou de outros países como Portugal, o probema é e foi o mesmo. Estranho é dizer que responsáveis da Igreja não sabem (,,,)