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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quem são os leigos?

Às vezes são quase como os «coitados» que não são padres nem freiras nem frades. São a maioria na Igreja Católica, continua a ser dada alguma atenção aos fiéis leigos, mas pouca. Alguma hierarquia da Igreja «brinca» a alguns encontros para mostrarem que eles são importantes e dão-lhes algumas migalhas. Fazem-se umas conferências para que eles tenham alguma sabedoria, formatada segundo uma determinada visão oficial, tudo bem delineado antecipadamente para não se romper o redil. O pensamento único na Igreja é uma tentação recorrente.
O esquecimento e menoridade dos leigos vem de longe, repare-se, a título de exemplo, no seu conhecido livro sobre a História da Igreja, comentando os resultados do Concílio de Trento, Daniel-Rops afirma: «É de admirar que, entre tantas sessões, não tenha havido uma que traçasse o retrato do verdadeiro cristão leigo... como se tinham traçado os do bispo e do sacerdote».
Só o Concílio Vaticano II irá repor alguma dignidade aos leigos. Mas, só passados 20 anos do Vaticano II, o Papa quis voltar-se para um tema que teve destaque no Concílio e dedicou o Sínodo dos Bispos de 1987 ao estudo de aspectos relativos aos fiéis leigos. O documento pós-sinodal, a exortação Christifideles Laici, apresenta temas dignos de estudo. Não vamos aqui analisar os temas desta exortação, está por aí e pode ser lida e estudada por quem assim o desejar.
Este assunto dos leigos na Igreja requer um estudo bastante apurado, é um tema complexo e as soluções não são fáceis de encontrar se a Igreja não abrir mão de outros temas carentes também de solução e de adaptação à realidade do nosso tempo. Ora vejamos o seguinte elenco: as questões sobre a vida em geral, nas quais incluo os temas sobre a sexualidade. A hierarquia tal como se apresenta desde os tempos medievais, cheia de títulos anacrónicos e repleta de mordomias, é, por vezes, um insulto aos fiéis leigos e de modo especial aos pobres. O celibato é um cravo que mina o trabalho vocacional. O não querer abrir mão com total transparência dos assuntos da Igreja que dizem respeito a todos, por exemplo, a economia e o património da Igreja. Os sacramentos, são sete, a humanidade masculina pode receber todos os sacramentos, mas a humanidade feminina apenas pode receber seis sacramentos, porque o sacramento da Ordem lhe está vedado. As incongruências no discurso são reveladores, muita conversa sobre a comunhão e a unidade, mas na prática, fazem-se acepção de pessoas, uns são mais do que outros. Estes aspectos são alguns entre tantos, que senão resolvidos, reduzem os fiéis leigos, a meros espectadores, bons para darem esmolas, remetidos à assembleia, porque não são «idóneos» para serem autores da construção da Igreja.
É preciso ousar e empenhar-se a fundo para que os leigos tenham espaço livre para se empenharem com verdadeira militância na vida da Igreja em todos os aspectos que fazem parte dela. Não se chegará a nada, enquanto as migalhas que são dadas aos leigos sossegarem a consciência de alguma hierarquia e que tais leigos se satisfaçam pacificamente com o pouco que lhes é dado.
O grande mal actual, é que a Igreja esteja também moribunda daquilo que enfermam as nossas sociedades. Não há militância. Poucos estão para ser interventivos e exigirem com a sua acção militante as mudanças necessárias. Neste domínio dos leigos precisamos de um verdadeiro milagre na Igreja para bem do mundo inteiro.

4 comentários:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

P. José Luís, tenho muito medo de leigos. São todos mais conservadores que os padres. Estes, apesar de tudo, ainda conseguem ouvir alguma coisa do Vaticano II. Os leigos que temos na Madeira têm uma demarcação ideológica, isto é, têm que estar situaos na área dos partidos de direita. Os da esquerda estão ostracizados desta igreja madeirense e do seu venerando bispo.Não há, nos cristãos de esquerda, uma ideia evangélica. São todos ateus, agnósticos. Só os católicos de direita, defensores dos valores,a meu ver, anacrónicos, é que são os verdadeiros sequazes do Evangelho. Por mim, está tudo bem. Só acredito no Senhor Jesus e o templo dÉle está em cada um de nós.E não nos apelos de papas, bispos, cónegos ( que raio de nome inventaram!!!) padres etc.Só o Homem modelado pelo Evangelho!De resto, no dizer do Apóstolo Paulo não passamos de ar nas narinas.Mesmo os santos hierarcas que há por aí..

José Luís, autor do blog disse...

É verdade caro Ãngelo... Também tenho um certo medo de leigos. A experiência nesse domínio leva-me a recear alguns e do que temos, muitos são mais papistas que o Papa, mas penso que tudo isto acontece, porque nunca se deu lugar ao diferente, à diversidade de pensamento da esquerda, do centro e da direita, se quisermos falar assim. A Igreja parece, em muitos momentos, só saber viver com os mesmos e de modo especial, os que lhe prestam vassalagem. Não terei medo da acção dos leigos, isto é, de todos os que desejarem fazer verdadeira acção em nome do Evangelho, leigos desinteressados dos bens materiais, totalmente disponíveis para servir Jesus e não leigos interesseiros que correm pelo dinheiro e outros interesses puramente mundanos. Desses leigos tenho muito medo e a experiência já me fez sofrer muito com leigos deste calibre...
José Luís, autor do Blog

M Teresa Góis disse...

Também deixo a minha palavra:distinguir leigos e "leigas".Os leigos são os "irmãos", sempre os mesmos,os chamados nas procissões,nos lava pés,etc.As "leigas" limpam as igrejas,p~ioem flores, fazem leituras,dão catequese.Esta é a mentalidade da maioria dos Párocos que operam na Madeira. Eu sou leiga,católica,apostólica e muito pouco romana,de esquerda,mas não abro mão da m/opinião do mm modo como recorro a quem sabe mais do que eu.Quando a hierarquia da Igreja descer os degraus do altar,talvez encontre um Povo de Deus aberto, útil, prestativo,ávido de informação e de partilha.É por isso que não alinho em multidões de ocasião,mais ou menos folclóricas,sem opinião, submissas e que dançam ao som da música que lhes é tocada,sem poderem ter voz e opinião.Subscrevo as palavras de Angelo Paulos"acredito no Senhor Jesus e o Templo d'Ele está em cada um de nós".Assim o possamos manter limpo e arejado!

Maria disse...

Não sei se foi depois do concilio de Trento que a nossa espiritualidade começou a sofrer uma divisão em patamares:a da hierarquia e a monacal mais elevada,mais intima,mais apoiada na Sagrada Escritura e depois a dos féis, mais simples,mais necessitada de intermediários ,mais devocional,mais fraquinha.

Li no outro dia que os ortodoxos conservaram a unidade dos primeiros tempos sendo de igual intensidade,exigência e proximidade para todos a sua relação com a Trindade Santissima.

Parece-me no entanto e graças a Deus que também caminhamos no mesmo sentido,mesmo q a arrepio de certas instalações.