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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o cartaz para a semana dos Seminários

Nota: Porque encontro abundante reflexão no meu pensamento para classificar o cartaz da Semana dos Semínários que estamos a celebrar, prefiro calar e deixar falar com mais clareza e erudição a nobre Agustina Bessa-Luís e D. António Marcelino. Mas lá que o cartaz é horrível, lá isso é... Não compreendo esta Igreja «encabeçada» de «colarinho branco», desprezada pela maioria dos leigos, mas cada vez mais valorizada e apregoada por algum clero. É pena que os nossos Seminários estejam convertidos não em viveiros de grande espiritualidade e cultura, onde a diversidade seria um bem e o caminho essencial da educação. Ao invés estão reduzidos ao pensamento único e ao formalismo anacrónico. É pena. Não me apetece rezar nem fazer muita publicidade sobre os nossos Seminários, mas fiquem descansados os meus correligionários, tudo faço para que este meu enjoo não me domine. Vamos a três passos de reflexão. O dito cartaz pode ser visto por aí nas paróquias.
Pimeiro passo: A Glorificação das Aparências
«Não sei o que acontecerá quando formos todos funcionários aureolados pela organização de aparências que acentua a satisfação dos privilégios. A aparência vai tomando conta até da vida privada das pessoas. Não importa ter uma existência nula, desde que se tenha uma aparência de apropriação dos bens de consumo mais altamente valorizados. Há de facto um novo proletariado preparado para passar por emancipação e conquistas do século. As bestas de carga carregam agora com a verdade corrente que é o humanismo em foco — a caricatura do humano e do seu significado».
Segundo passo: A Saturação da Servidão
«Hoje estão em causa, não as paradas, que é tudo em que as multidões são adestradas, ou a guerra, a que se convidam; está em causa toda uma dinâmica nova para criar o habitat duma humanidade que atingiu a saturação da servidão, depois de há milénios ter dado o passo da reflexão. As pessoas interrogam-se em tudo quanto vivem. A saturação da servidão não é uma revolta; é um sentimento de desapego imenso quanto aos princípios que amaram, os deuses a que se curvaram, os homens que exaltaram. (...) Mas foi crescendo a saturação da servidão, porque a alma humana cresceu também, tornou-se capaz de ser amada espontaneamente; tudo o que servimos era o intermediário do nosso amor pelo que em absoluto nós somos. Serviram-se valores porque neles se representava a aparência duma qualidade, como a beleza, o saber, a força; esses valores estão agora saturados, demolidos pela revelação da verdade de que tudo é concedido ao corpo moral da humanidade e não ao seu executor. Um grande terror sucede à saturação da servidão. Receamos essa motivação nova que é a nossa vontade, a nossa fé sem justificação a não ser estarmos presentes num imenso espaço que não é povoado pela mitologia de coisa alguma. Somos novos na nossa velha aspiração: a liberdade é doce para os que a esperam; quando ela for um facto para toda a gente, damos-lhe outro nome».
Agustina Bessa-Luís, in 'Dicionário Imperfeito'
Terceiro passo: Um mundo sempre igual, cada dia mais diferente
«Viver e actuar numa sociedade à qual se deve respeitar a autonomia, não se pode fazer pela negativa, refugiando, por exemplo, a expressão religiosa na área do privado, fazendo juízos críticos sobre o declinar do religioso, aceitar de modo passivo a dessacralização da sociedade e o que se exprime como simplesmente humano, considerado o normal de uma sociedade moderna.A Igreja tem de reinventar a sua presença, sem complexos de culpa no processo, nem juízos de um triunfalismo que aguarda a derrocada para fazer a festa da vitória. O projecto a Igreja é o serviço à sociedade e às pessoas, como fermento, como sal e como luz, traduzido em propostas sérias e viáveis, de livre aceitação e generoso seguimento. A história já lhe ensinou que o seu êxito não se mede por critérios profanos, que a luz não se pode colocar debaixo do alqueire, que o fermento só dá força à massa em contacto com ela, e que o sal que não cai sobre os alimentos, os deixará sempre sem sabor.A Igreja, fiel ao Evangelho mais que qualquer força social, tem capacidade para se regenerar, para abrir e andar por caminhos novos. Será que só os seus detractores sabem que essa é a sua força?»
D. António Marcelino, in «Correio do Vouga» 04/11/2009

2 comentários:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Dois textos recheados de sabedoria que tanto servem para os que são crentes como para aqueles não são. O homem do nosso tempo precisa muito do seu blogue, através do qual podemos saborear uma outra igreja, mais evangélica, porque mais próxima da dor humana. Jesus veio para isso. É Ele que diz "vim aliviar os vossos fardos porque sou manso e humilde" A igreja carrega-nos com sofrimento, amargura. Dá aos seus padres uma educação ríspida, cheia de rezas. Em vez de pôr os seminaristas em contacto com o mundo onde estão inseridos, leva-os a negá-lo, a rejeitá-lo. São padres do desespero, deveriam ler a "Manhã Submersa" de Vergílio Ferreira e não as oratórias do P. Marcos do Colégio.

M Teresa Góis disse...

P.José Luís-o conteúdo da sua observação (poderei dizer desabafo?), vem ao encontro do sentimento de muitos católicos que estão fartos de exibições, posteriormente comercializadas como acontece agora com esta imagem deambulante,e que estão ansiosos pelo regresso aos projectos,práticas e teorias do Vaticano II.Ainda ontem o nosso pastor alemão pedia uma igreja mais pobre e simples;vê-se a pobreza! Deveria ele invocar uma Igreja mais culta e sensível, mais evangélica com todo o peso da palavra.Resta resistir...