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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Advento - Rezar com Maria em tempo de Advento

Texto: José Tolentino Mendonça
Imagem: Rui Aleixo
O que te peço, Senhor, é a graça de ser. Não te peço mapas, peço-te caminhos. O gosto dos caminhos recomeçados, com suas surpresas, suas mudanças, sua beleza. Não te peço coisas para segurar, mas que as minhas mãos vazias se entusiasmem na construção da vida. Não te peço que pares o tempo na minha imagem predilecta, mas que ensines meus olhos a encarar cada tempo como uma nova oportunidade. Afasta de mim as palavras que servem apenas para evocar cansaços, desânimos, distâncias. Que eu não pense saber já tudo acerca mim e dos outros. Mesmo quando eu não posso ou quando não tenho, sei que posso ser, ser simplesmente. É isso que te peço, Senhor: a graça de ser de nova. Chegou sem ser esperado, veio sem ter sido concebido. Só a mãe sabia que era filho de um anúncio do sémen que existe na voz de um anjo. Tinha acontecido a outras mulheres hebreias, a Sara por exemplo. Só as mulheres, as mães, sabem o que é o verbo esperar. O género masculino não tem constância nem corpo para hospedar esperas. Sinto de novo a agravante de ignorar fisicamente a voz do verbo esperar. Não por impaciência, mas por falta de capacidade: nem mesmo durante as febres de malária me acontecia recorrer ao repertório das fantasias de me curar, de estar à espera de. Nos despertares matutinos ao folhear Isaías leio: «Felizes aqueles que o esperam» (Is 30,18). Não conheci esta sábia e física alegria. Mas mais forte do que esta notícia, no mesmo versículo está escrito «Por isso esperará Iod/Deus para vos fazer misericórdia». Existe uma primeira espera, que espera por Deus e tem o mesmo verbo hebraico hacchè. Na sua redução à forma da espécie humana, o Seu tempo infinito contrai-se no finito de uma espera. Deus espera: «para vos fazer misericórdia». O tempo de Advento vive desta imitação, defronte à eternidade de um Deus que aceita fazer-se tempo, irrompendo no mundo em meses estabelecidos com nascimento, morte e ressurreição. Quem tem no seu corpo os recursos para conceber esperas, conhece do versículo de Isaías a imensidade da correspondente espera de Deus.

1 comentário:

M Teresa Góis disse...

o meu comentário é feito em SILÊNCIO e de Silêncio.São palavras, é mensagem, que preenche os domingos da Boa Nova.Obrigada