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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Missa do Parto dia 23 - Jesus Cristo hoje. Como?

Nota do autor do blog: para a última Missa do Parto, vamos reflectir sobre a Pessoa de Jesus Cristo, figura central do Presépio e do Natal que deve acontecer no coração de cada pessoa, que deseja todos os anos e cada momento da sua existência neste mundo ser sinal de vida nova ou de renovação constante. Bom Natal para todos.
Jesus Cristo continua a ser uma proposta para a vida toda e a vida de todos os homens. A descoberta de Jesus Cristo salvador de toda a humanidade é algo de elementar na acção da Igreja de hoje. A Igreja, Nele e por Ele descobre-se a si mesma como caminho possível de redenção e de sentido para os passos do homem. No entanto, salvaguarde-se que a pessoa de Cristo é sempre muito mais do que aquilo que somos capazes de viver e de propor.
Jesus Cristo, é a chave que abre os corações, sem jamais os trancar, para a luz da paz, da fraternidade e do amor.
Conta-se assim a brincar mas com um fundo de verdade algo impressionante. No primeiro aniversário de casamento, a esposa ou o marido podem dizer: “faz hoje um ano que te dei as chaves do meu coração!” O outro, com a voz dorida pela frieza da constatação pronuncia: “é verdade! Mas 15 dias depois mudaste-lhe a fechadura!!!” Jesus será essa chave nova que abre as fechaduras sem nunca as fechar por qualquer razão.
A paixão ou entusiasmo pelo projecto de Cristo, nunca se verga aos laços macabros do egoísmo e da soberba humana. Qualquer atitude desenfreada que violente essa relação pessoal com Cristo, estabelece desde logo uma ruptura com o dinamismo novo que a proposta Jesus Cristo inaugura, como perspectiva de salvação. É, por isso, que a mudança de fechadura será sempre um duro golpe na paixão pelo outro e pela vida.
Pensava-se que era impossível viver na apatia e na banalização dos ideais e sem fim transcendente que justificasse um seguro investimento na realização pessoal. Porém, a nossa sociedade prova que, afinal, o que conta apenas, é continuar a zelar pela saúde própria, preservar a situação dos bens pessoais e esperar que cheguem os fins de semana, o final do mês e as férias. Conta apenas o viver o presente intensamente como se fosse o último momento da vida.
As palavras de Jesus aos discípulos de João Baptista, são resposta para as nossas questões acerca Dele, que também perguntavam se podiam dar crédito ao que estavam vendo com os seus próprios olhos. Em jeito de resposta, Jesus diz-lhes que a única prova que podia dar é, que tudo aquilo era coisa de Deus, isto é, “os surdos ouvem, os coxos andam e os pobres anunciam a Boa Notícia”.
Tudo o que é próprio do macabro e do absurdo da vida, morre como resultado do despojamento dessa entrega que Cristo redentor desafia ou convida a assumir. Vivemos séculos de doutrina doce e continuamos a mascar a pastilha elástica insonsa de uma mensagem no sentido de um moralismo mole que não podem eliminar a força da mensagem daquele que veio “lançar fogo à terra” (Lc 12, 49). “Julgam que vim trazer a paz ao mundo?! De modo nenhum: o que eu vim trazer foi a divisão” (Lc 12, 51).
Este que nos falou e que continua a falar a cada um de nós hoje, oferece a ressurreição, a plenitude da vida (resposta à tão procurada eternidade pelo homem) como dom ou graça. Esta gratuidade é a tomada de consciência do meu “eu”, condição do despertar para a realidade do Reino de Cristo - o lugar da experiência do encontro, a condição essencial do ser cristão hoje e sempre (cf. Jo 1, 1-4).
A ressurreição tem esse preço: despertar para a realidade do Reino. Um reino onde se entra não pela guerra, pela invasão ou pela conquista, mas pela dose de entrega ao serviço do outro, o que implica um eficaz desprendimento dos bens, que no fundo manifesta uma radical preocupação mais em dar do em receber. Onde está esse Reino?
O Reino está onde o homem realiza a disponibilidade para o amor, porque Deus é amor. Se teimas em dizer “que não chegou” é porque continua de pé o desafio: é preciso realizar em nós todos essa relação de amor com o mundo. É pois, nesta tensão entre o “já realizado” do despertar pessoal para o desejo do reino, e o “ainda não” do despertar de todos para esse mesmo fim, que formam o drama inquietante da errância. Não parar nunca é a única razão constitutiva dessa tensão que nos torna, por conseguinte, responsáveis pelo despertar de todos.
Chegamos à única regra de Jesus, a do amor. Cristo, esse Deus sem raios e sem coroa (a não ser a de espinhos), não é um rei legislador. Não impôs mandamentos ou leis, evocou as “Bem-aventuranças”. A única lei possível, é a lei do amor, vivida sempre em todas as circunstâncias da existência humana.As estradas do mundo ficam em melhores condições para serem encetadas pelos homens, quando iluminadas pelo ícone Jesus Cristo. Assim sendo, no rosto de Jesus percebemos como a misericórdia de Deus se radicaliza cada vez mais. Daí, comungamos a vontade de dar mais nas vias do diálogo que une para lá das diferenças de língua e de raça, na partilha dos ideais e dos dons, dos problemas e das esperanças… Com tudo isto, se fará uma experiência viva da realidade prometida por Cristo: “Onde dois ou três estiverem reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles” (Mt 18, 20).

1 comentário:

José Machado disse...

A debilidade do discurso das Igrejas Cristãs é a ausência da luta contra tudo o que torna a humanidade menos humana, isto é, menos autónoma, livre e fraterna; luta que implica empenho, risco, até a morte,exemplo,afinal.
Ao lado dos pobres, dos explorados, dos excluídos essa nunca foi a luta preferencial das ICs.Ficam-se pelos discursos moralistas que nem são carne nem peixe.
Um abraço