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sábado, 2 de janeiro de 2010

Cesaropapismo dissimulado

A grande deficiência da cristologia hoje é a cristologia política da Igreja antiga, isto é, influência dos interesses políticos na teologia. Compreende-se que isto tenha acontecido num determinado tempo da história, na época da decadência do Império. Aquilo estava a afundar-se e era necessário agarrar-se a alguma coisa. Como se aperceberam que o cristianismo estava a crescer, os imperadores agarraram-se a ele. Mas, claro, a eles não lhes interessava um Deus crucificado. E o grande problema com que se depararam foi que o cristianismo pregava que o Deus no qual acreditavam era um crucificado, isto é, um escravo, ou um estrangeiro, ou um subversivo. Como resolveram o problema? Criando um Deus Todo-poderoso. El pantocrator, que era um título imperial que acrescentaram a Jesus Cristo. Porém, o Deus que encontramos nos Evangelhos é um Deus misericordioso.
Na verdade, as pessoas não precisam de poderes que as dominem, mas de compreensão, misericórdia, respeito, tolerância, ajuda diante da debilidade. Este é o melhor serviço que a Igreja pode prestar. E isso não o pode fazer uma Igreja de poder. E ao olharmos para o Vaticano dá a sensação de que estamos diante de um grande poder. Porém, isto não é só uma sensação, mas é uma realidade. A cúpula e a praça de São Pedro, a majestuosidade dum cardeal revestido com todos os seus ornamentos, são uma expressão simbólica duma realidade. A Igreja prega continuamente o Evangelho. Existem muitas pessoas na Igreja que o pregam, vivem, e sofrem por causa do Evangelho. Existem bispos, sacerdotes e religiosas e religiosos que o fazem em sítios onde ninguém quer ir. Padres que passam verdadeiramente mal, nos piores sitios. No entanto, isso não é notícia. O que é notícia são as grandes reuniões na Praça de São Pedro, as viagens do Papa que a qualquer sítio onde vai tem de ser recebido como um grande deste mundo, como um chefe de estado!
E as pessoas não entendem. Porquê? Como associar estas imagens com aquelas que se lêem no Evangelho? Jesus, quando mandou os apostolos a evangelizar disse-lhes: "Não leveis dinheiro, nem cajado, nem sandálias; não leveis duas túnicas". Porque é assim que se evangeliza. Eu creio que evangelizou mais São Francisco de Assis com a sua humildade e a sua simplicidade, ou muitas outras pessoas por ai perdidas, padres, monjas, leigos... do que estas personagens que aparecem com esta pompa. E o pior é que esta tendência está crescendo ultimamente. Caminhamos a passos largos para uma Igreja da pompa e da liturgia e afastamo-nos cada vez mais dos pobres. E isto acontece na medida em que a Igreja perder poder no tecido social. Quanto menos poder, mais tendência a agarrar-se a estas coisas. É por isso que vemos a Igreja cada vez nais agarrada ao integrismo dogmático... O Decisivo seria o Sermão da Montanha, mas esse exigiria outra postura... Fonte: O teólogo José María Castillo: "La humanización de Dios". Autor: in blog Padre Inquieto, Quinta-feira, Dezembro 10 / 2009
Ilustração: Barroco, G. F. Guercino, Anjos velando o Cristo morto, 1618.

1 comentário:

M Teresa Góis disse...

o texto tem muita volta a dar e concordo com o que está escrito. Hoje não se leva dinheiro; leva-se o Visa, não se usam sandálias; sapatos Prada, não se leva cajado, vai-se de carro blindado, e as "túnicas" são feitas num alfaiate especializado e muito muito caro!Isto por lá.
Por cá, "qui habet aures audiendi, audiat".