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sexta-feira, 9 de abril de 2010

É possível o Cristianismo sem igrejas? - Está o debate aberto, participe

Uma questão complexa. Sobre a qual não encontramos resposta fácil. Se dissermos que não, deparamo-nos com uma vasta maioria que se afastou das igrejas e agora procura viver a sua fé sem qualquer ligação a estruturas eclesiásticas e dizem-se satisfeitos e felizes com a fé que professam desligada de estruturas eclesiásticas. Se dissermos que sim, tornamos inútil uma imensa doutrina sobre as igrejas, que remonta aos Evangelhos, às Epístolas de São Paulo e à vasta e riquíssima doutrina dos Grandes Santos Padres da História do Cristianismo e toda a riquíssima doutrina produzida pelos eminentes teólogos ligados às igrejas cristãs.
A denúncia dos abusos sexuais perpetrados por padres e bispos, veio acelerar o afastamento dos fiéis em relação às igrejas. São cada vez mais as pessoas que se afirmam distantes e que não precisam de igrejas para viverem a sua fé em Jesus Cristo. Daí a pertinência da questão levantada, é possível um Cristianismo sem igrejas? - Tentarei apontar algumas causas para este desvio comportamental.
Perante a barbaridade que se está a viver, eis a vergonha e a frustração, não só pelos crimes em si, mas também pelas tentativas que se fizeram para esconder e branquear tais crimes com as artimanhas que as igrejas sabem montar quando se trata de defender o poder e as suas mordomias. São imensos os fiéis das igrejas que sentem vergonha e uma consequente desilusão por tamanha violência e escândalo, que alguns membros das igrejas levaram a cabo contra menores inocentes e indefesos. Para estruturar melhor o meu pensamento, aqui vão dois pontos e dois aspectos que nos ajudarão a compreender esta depressão ou crise grave que enfermam as igrejas dos nossos tempos.
Primeiro ponto, a desilusão com as estrutura eclesiásticas. As pessoas não entendem nada de nada das estruturas eclesiásticas e das suas denominações. A nomenclatura e estrutura das igrejas é totalmente anacrónica e as designações que se lhes aplica nada diz às mulheres e homens dos nossos tempos. Quantos são os que sabem o que é o Papa, os Bispos, os Padres (sem falar dos diversos títulos anacrónicos e injustamente atribuídos aos membros da hierarquia), os Concílios, os Sínodos, os Presbitérios, as Congregações, os Movimentos… E todos esses nomes que as igrejas utilizam como se toda a gente soubesse deste vocabulário. Mais ainda, cada uma destas estruturas está carregada de regras ou estatutos rígidos que estão na cabeça dos líderes e quase sempre desconhecidos dos membros que compõem os diversos conjuntos. Por fim, resta o povo simples que é tratado como fiel, a quem é pedido que obedeça e dê esmolas silenciosamente. Nada tem a dizer da escolha dos membros que irão liderar as comunidades. Basta-lhes serem ovelhas que se deixam conduzir.
Segundo ponto, a desilusão com as lideranças eclesiásticas. Esta desilusão acontece, porque as pessoas costumam encontrar igrejas paradoxais, isto é, opostas umas às outras. Em algumas, deparam-se com líderes das igrejas demasiadamente retóricos, carregados de regras absurdas que não levam a lado nenhum. Não cativam ninguém e especialmente os mais jovens. Alie-se tudo isto à grande desilusão que as igrejas têm com líderes que abusaram de crianças, fizeram roubos e falcatruas além da falta de transparência quanto ao uso dos recursos financeiros, que pertencem a todos e não apenas a alguns privilegiados. Porque são chamados a serem igreja todos os fiéis apenas em alguns aspectos e noutros não, por exemplo, neste das finanças e do património que ainda é muito vasto nas igrejas?
Vamos aos dois aspectos aliados a estes pontos. Primeiro, o autoritarismo. Certos líderes religiosos são verdadeiros ditadores, temidos pelo povo que os respeita não como homens de Deus, mas porque temem pelo seu destino espiritual, que pode ser o inferno. O tempo dos pastores que amaldiçoam já devia ter passado, a humanidade de hoje está mais esclarecida, pensa pela sua própria cabeça e tem consciência do que é a liberdade e a autonomia.
Segundo aspecto, a liberdade cristã. Finalmente, as estruturas eclesiásticas pregam, mas ainda não vivem o seguinte. Existem os que aprenderam a ser livres e que descobriram que a vida cristã é feita de liberdade em Cristo, e que Cristo é a regra e o padrão para todos; aqueles que aprendem que tudo lhes é lícito, mas nem tudo lhes convêm, e que aceitam submeter-se ao jugo de Cristo apenas, já não conseguem pôr o seu pescoço em cabrestos de homens. Aceitam o jugo de Cristo, não o de homens.
Quando o não respeito pela liberdade cristã não acontece, é fruto de líderes que estão preocupados, não com o bem-estar da igreja, mas consigo mesmos. Crentes maduros em Cristo possuem uma percepção da vida cristã mais elevada e estão cada vez mais a fugir das grandes prisões da fé. Daí que a aversão às igrejas tomou tal rumo que não sabemos onde vai parar. Que Jesus Cristo nos ajude!

3 comentários:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luis, outro tema interessantíssimo para ser posto à discussão no seu blogue. Estou de acordo que é possível militar e viver num Cristianismo sem igreja. Aliás, foi isso que o Senhor Jesus no-lo ensinou. Disse-nos quem era o Pai. É Ele Bondoso, Generoso, Misercordioso, disse-nos que o Pai era Ele, porque Ele estava N´Ele. E disse-nos ainda "Eu sou Quem Sou".
Portanto, a chaves da suposta igreja que foi entregue a Pedro é mais uma interpretação da Igreja de Jerusalém, a do Poder. Jesus Cristo foi o intérprete fiel da Doutrina e da Vivência do que é, verdadeiramente, o Cristianismo e do seu Programa de Vida para Ele e para nós e que está em Lucas 4, 18-19.

Por conseguinte, é este Jesus que professo e que creio e nessa Igreja que milito. Sem hierarquias só a dos valores e da ética e de uma estética humano-divina

M Teresa Góis disse...

Há muito tempo, ouvi um padre dizer numa homilia: a Igreja é como uma rede de pesca, se tem uma malha ou duas solta, a rede já não cumpre a sua obrigação na totalidade, porque o peixe escapa.Penso, nesta linha de pensamento que acho interessante,hão-de haver enormes buracos na rede estrutural da Igreja.Por isso não funciona. Por outro lado a Igreja, como ela existe agora, foi criada ao sabor do temperamento de homens falíveis.Os Evangelhos foram "adaptados" mais do que uma vez, perderam-se ideias e ideais nas traduções, inventou-se e inventa-se.Hoje a Igreja é um potentado, não criado ou mandado criar por Jesus,é uma fábrica de santos,um marchandising e, agora, uma fábrica de ...anjos!
É possível viver sem essa igreja? É. Na minha opinião.
Mas é preciso trabalhar a Fé e, porque ninguém vive só, escolher apoios:sejam teólogos que deixaram obra, sejam os "resistentes" que lutam pela transparência, pela pureza de ideias, pela justiça, pela humanização da igreja.
A mensagem de Jesus só precisou de multidões atentas, abertas, solidárias e crentes.Não precisou de hostes hierarquizadas, prepotentes, donas de uma verdade que nada tem a ver com a original.

Anónimo disse...

Prezado Rodrigues

Acho que discordo do Sr em alguns pontos. Gostaria dos seus comentários quando possível no meu novo post referente ao tema.

Abraços Orlando
souteologico.blogspot.com