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domingo, 9 de maio de 2010

Código de Amor do século XII

I
A alegação do casamento não é desculpa legítima contra o amor.
II
Quem não sabe esconder não sabe amar.
III
Ninguém se pode dar a dois amores.
IV
O amor pode sempre crescer ou diminuir.
V
O que o amante arranca pela força ao outro amante não tem sabor.
VI
O homem não ama, normalmente, senão em plena puberdade.
VII
Prescreve-se a um dos amantes, por morte do outro, um luto de dois anos.
VIII
Ninguém, em amor, deve ser privado do seu direito sem uma razão mais que suficiente.
IX
Ninguém pode amar se não estiver imbuído da persuasão de amor (da esperança de ser amado).
X
O amor, habitualmente, é expulso de casa pela avareza.
XI
Não é conveniente amar aquela a quem se teria vergonha de desejar em casamento.
XII
O amor verdadeiro não tem desejo de carícias, a não ser que venham de quem ama.
XIII
Amor divulgado raramente dura.
XIV
O êxito demasiado fácil não tarda a tirar o seu encanto ao amor; os obstáculos aumentam-lhe o preço.
XV
Toda a pessoa que ama empalidece ao ver quem ama.
XVI
Ao ver-se imprevistamente aquele a quem se ama, estremece-se.
XVII
Novo amor expulsa o antigo.
XVIII
Só o mérito torna digno de amor.
XIX
O amor que se extingue decai rapidamente e raramente se reanima.
XX
O apaixonado está sempre receoso.
XXI
A afeição de amor cresce sempre com os ciúmes verdadeiros.
XXII
A afeição de amor cresce com a suspeita e com os ciúmes que derivam dela.
XXIII
Menor dorme e menos come aquele a quem atormenta um pensar de amor.
XXIV
Todas as acções do amante terminam pensando no que ama.
XXV
O amor verdadeiro não acha bem senão o que sabe que agrada a quem ama.
XXVI
O amor não pode recusar nada ao amor.
XXVII
O amante não pode saciar-se de fruir do que ama.
XXVIII
Uma fraca presunção faz com que o amante suspeite coisas sinistras em quem ama.
XXIX
O excessivo hábito dos prazeres impede o nascimento do amor.
XXX
Uma pessoa que ama está ocupada assídua e ininterruptamente pela imagem de quem ama.
XXXI
Nada impede que uma mulher seja amada por dois homens, e um homem por duas mulheres.
André, capelão francês do séc. XII, citado por Stendhal (Do Amor)

2 comentários:

Tati Lemos disse...

Muito interessante*
BJ

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

É lindo esse texto. O eros está patente. Todos os amores são lindos. O que interessa é o íntimo de cada um dos pares. "Amar amar perdidamente mas amar" (alguém). Não vou no poema da Espanca.