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sexta-feira, 14 de maio de 2010

Frei Cláudio, o pároco

Frei Beto, in Adital
Pessoas não são descartáveis. Muito menos quando se trata de um frade da venerável Ordem dos Carmelitas que abandona o conforto de sua terra, a Holanda, para servir a comunidade cristã numa paróquia de Belo Horizonte. Falo de frei Cláudio Van Balen, ordenado sacerdote há 50 anos e brasileiro de coração há 44. Ruivo, espigado, gestos decididos e orador de frases curtas e contundentes, o bom humor faz de frei Cláudio um dos melhores contadores de piadas que conheço. Talvez esse seja o segredo de sua perene jovialidade. Desde que o conheci, na década de 1970, tem a mesma alegria de viver.
Escritor profícuo, autor de inúmeras obras de espiritualidade e liturgia, pároco da igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Cláudio jamais foi um mero burocrata da fé, como certos padres que se restringem a cumprir horários de missas dominicais e a agenda paroquial de batizados e casamentos. Quase nunca têm tempo para visitar seu rebanho, em especial a parcela mais pobre. Há párocos do "venhais vós ao nosso reino". Jamais se preocupam de, espontaneamente, ir ao encontro de seus paroquianos. Frei Cláudio é um pastor dedicado às suas ovelhas. Visita com frequência as famílias da paróquia nos bairros Carmo e Sion. Em especial, aquelas que se encontram em dificuldades.
Quando estive preso, sob a ditadura militar, ao longo de quatro anos, frei Cláudio me animava com suas generosas cartas, publicadas em Cartas da Prisão (Agir), e visitava meus pais, seus paroquianos, quase toda semana.
Corre a notícia de que, por discordar da ação pastoral de frei Cláudio, a arquidiocese de Belo Horizonte teria dado a ele o prazo de abandonar a paróquia do Carmo até 31 de maio. Será que há diálogo entre o colégio episcopal e o conselho paroquial do Carmo?
Frei Cláudio teve oportunidade de se defender das suspeitas que pesam sobre ele (é acusado de ser demasiadamente heterodoxo em suas pregações e nos boletins dominicais) e apresentar as razões de sua inovadora ação pastoral?
A paróquia do Carmo é um dinâmico centro de evangelização e serviços prestados à população carente. Ali trabalham 82 funcionários e 316 voluntários! Entre os vários serviços destacam-se: Pastoral da Saúde, que beneficia crianças de 0 a 6 anos (e já fez quase 30 mil atendimentos); Centro de Atendimento Terapêutico (psicoterapia, orientação profissional e fonoaudiologia); Pastoral da Promoção Humana (alfabetização de adultos); Projeto Conviver (crianças e adolescentes em situação de risco); Bazar da Vovó (idosas); Clube de Mães; biblioteca; Centro de Atendimento Jurídico (às famílias pobres de vilas e favelas); Escola Profissional (informática, digitação, eletricidade, mecânica de automotores, massagem para a terceira idade etc.); ambulatório; Bazar da Família (venda de produtos a preços simbólicos); Equipe de Costura; Creche do Morro do Papagaio (65 crianças); Creche Terra Nova (100 crianças); e Instituto Zilah Spósito (334 crianças e adolescentes em situação de risco).
De janeiro a novembro de 2009, a paróquia do Carmo arrecadou - através de dízimos, alugueis, doações e eventos - R$ 1.468.026,00 e gastou, com projetos sociais e despesas administrativas R$ 1.507.745,00 Tudo ali é transparente, como os serviços e a contabilidade.
No sínodo dos bispos em 1971, em Roma, um arcebispo africano apresentou a seus pares, por documentário, a liturgia em sua diocese. O filme mostrava um tronco de árvore, cortado quase rente à raiz, como altar. Em volta, negros de tanga tocando tambores e negras, com os seios à mostra, dançando na missa. Um cardeal romano protestou indignado: "Isto é uma blasfêmia. Não é a liturgia da Igreja." O africano reagiu calmamente: "Pode não ser a de Roma, mas da Igreja é. Porque se nós africanos tivéssemos evangelizado a Europa, a esta hora todos os senhores estariam dançando desnudos em volta do altar".
Esta a questão: a atividade pastoral de frei Cláudio Van Balen contradiz a Igreja Católica? Nem o próprio Jesus quis uniformidade em sua Igreja. Não são quatro os evangelhos? Vejam as brigas entre Pedro e Paulo na Carta aos Gálatas. A pluralidade de métodos de evangelização é uma riqueza. A tolerância, uma virtude. O diálogo, a via mais fácil para as pessoas se entenderem.
Nota da Redacção: A atitude do bispo de Belo Horizonte, contraria de modo terrível o discurso da Igreja Universal e de modo especial as homilias do Papa. Há excesso de zelo por todo o lado. Que pena mais uma parcela da Igreja dar outra vez este pobre testemunho!

4 comentários:

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luís, esse bispo deve ser ateu ou melhor dizendo, pagão. Deve ter o culto das imagens, das rezinhas, mas os gestos evangélicos ele no sei íntimo deve considerá-los demasiado revolucionários. Jesus visitou e conversou com o povo e fundou a sua e nossa Igreja no diálogo com os mais simples sem honrarias. A única honra que Ele teve foi ser pregado numa Cruz a mando dos poderosos, tal como esse sacripanta do bispo tb é . O frade carmelita é que é anunciador da Boa Nova e está sendo humilhado por todos os que não querem a fertilidade no mundo trazido pelo Evangelho de Jesus Cristo.

Pe. Pedro Nóbrega disse...

O Papa não é contra a pluralidade, antes pelo contrário... Em relação a outros, muitas vezes falam por aquilo que viveram em tempos, mas não são piores por certos comentários muitas vezes sem pensar naquilo que estão a dizer, recordo a resposta do africano (que não percebo pelo texto se era Bispo) ao Bispo que não me espanta claramente, há que perceber as diferentes visões do mundo, o que depois deve ter acontecido, com o diálogo.
Não me espanta que tenha sido travado por uma pastoral hetertodoxa, espantava-me se deixassem fazer o que quer só porque sim, porque tem muita gente na paroquia, porque muita gente o ajuda, pois quanto a mim todo o seu testemunho é mais importante é ortodoxo, É O QUE NOS TEM PEDIDO O PAPA.
Que este frade seja um padre bom isso não duvido pela atitude que fala o inicio do texto... Que muitos outros queiram passar por isso, tendo atitudes de verdadeiro sensassionalismo e pouca fé isso sim faz-me duvidar!

Viva Cristo!

Amélia Ribeiro disse...

Olá Padre José Luis!

Que pena e que triste que não se saiba conservar quem faz um bom trabalho...!

Um beijo e bom fim de semana.

M Teresa Góis disse...

É natural que quem está habituado a água quente, comida farta e a horas, roupa lavada, horas de descanso e pouco trabalho, não saibam dar valor aos que trabalham sem nada, por Amor ao Evangelho,integrando-se e vivendo com o rebanho confiado.
Parabéns pelo som hoje no blog (Kyrie da Missa Luba) que acho muito interessante e que nos mostra que o ritmo africano é muito rico para louvar a Deus.