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sábado, 1 de maio de 2010

Mãe

I.
Mãe:
Que desgraça na vida aconteceu,
Que ficaste insensível e gelada?
Que todo o teu perfil se endureceu
Numa linha severa e desenhada?
II.
Como as estátuas, que são gente nossa
Cansada de palavras e ternura,
Assim tu me pareces no teu leito.
Presença cinzelada em pedra dura,
Que não tem coração dentro do peito.
III.
Chamo aos gritos por ti — não me respondes.
Beijo-te as mãos e o rosto — sinto frio.
Ou és outra, ou me enganas, ou te escondes
Por detrás do terror deste vazio.
IV.
Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!
Miguel Torga, in 'Diário IV'

2 comentários:

Moisés de Carvalho disse...

BELISSIMA POESIA POSTADA POR VOCE , MEU CARO AMIGO!

SEU BLOG É UMA DELICIA DE SE LER ...ADOREI ESTAR AQUI !

VOLTAREI SEMPRE !

UM FORTE ABRAÇO PRA VOCE !

Amélia Ribeiro disse...

Olá José Luis,

Bom dia!

Que lindos versos a essa figura que, ainda que já não esteja... nunca deixa de o ser..., por isso...
FELIZ DIA DA MÃE!

Um beijo.