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terça-feira, 11 de maio de 2010

TESTEMUNHO EM HORA DE DESPEDIDA

Nota da redacção: Só falta dizer que Nossa Senhora, a Mãe de todos, deve estar muito triste, porque os homens deste mundo, donos da sua imagem, não encontraram 5 minutos de tempo para que Ela entrasse no recinto da Igreja da Ribeira Seca, mas por força maior, que os tais homens fortes deste mundo não têm mão, está retida há quase um dia no aeroporto do Funchal. Porque será?
Por estes dias de Maio, ajoelho as minhas palavras aos pés da Senhora que veio com a Imagem Peregrina.
Não tenho nada para lhe oferecer para a viagem. Não sei bordar as palavras para lhe agradecer a Visita. Não me ocorrem metáforas novas para contar o que se experimentou, desde Outubro até agora, nestas duas rochas que se erguem do mar.
Ao papel de hoje, chegam-me desenhos de flores e de velas, de panos brancos a dançar no vento, de terços desfiados nos dedos que trabalharam a terra, que foram à faina da pesca, que prepararam a mesa, que abraçaram os filhos, que seguraram as dores, que limparam as lágrimas.
Não tenho mais nada. Apenas os recados que disse ao ouvido de Maria, quando ela cruzou o Seu coração com o meu. Apenas o abraço que Ela me ofereceu quando me obrigou a parar, a ouvir o silêncio e a iluminar a minha noite com a luz que segurei nas mãos.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela falou-me de um Sim dito em silêncio, de uma entrega sem limites. Falou-se de um Anjo e de um Deus que quis peregrinar ao meu lado. Falou de um Menino que nasceu sem nada, que cresceu, que falou de Amor, que acalmou o mar e que me pediu que O seguisse. Falou de um Homem que me pegou ao colo, que me abraçou na cruz, que me mostrou que a morte tem nome de esperança.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela ensinou-me a acreditar: “Fazei o que Ele vos disser!”. Apontou-me o céu e disse que a minha vida tinha de ser forte como as rochas desta ilha e doce como as areias do Porto Santo. Ensinou-me a olhar para as pontes que o Seu manto teceu, quando as comunidades se juntaram para receber a Sua Imagem. Ensinou-me a olhar para uma diocese unida na oração do terço. Ensinou-me a olhar para as lágrimas que lavavam os medos de cada pessoa que lhe tocava e a quem Ela chamava - filho.
Foram sete meses de Maio neste arquipélago. A Imagem vai pesada de nós: leva a festa e leva o luto, leva-nos, embrulhados naquele olhar que Deus iluminou e que Ela deixou escorregar, em contas de luz, sobre as nossas mãos.
A Imagem vai. Fica a Mãe. E a Mensagem que trouxe.
Desta visita, guardarei no chão do meu peito, a certeza de que nunca ficarei sozinha. Porque a Mãe estará onde eu estiver: na praça, na escola, na igreja, na prisão e no hospital.
A Imagem Peregrina leva o que somos: um arquipélago que olha o céu com olhos de verde e de basalto, que marca os seus passos no areal e que é capaz de dar as mãos e de acreditar em milagres.
Não tenho mais nada. Apenas a voz das gentes, - Santa Maria, rogai por nós!
E um lenço branco que leva escrito muito obrigada!
Graça Alves

3 comentários:

Iza Maria disse...

bonita reflexão, padre... fraternal abraço...

M Teresa Góis disse...

O texto, devo dizer Oração talvez, da Graça, é emotivo e é, sobretudo, verdadeiro. Poucas serão as gentes que absorveram a mensagem da Mãe: sem ódios, sem vinganças,sem arrobos de protagonismos...apenas ajoelhadas no silêncio em que Maria se faz ouvir.
Como diz o autor do blog, é irónico - quase parece "castigo"- que não houvesse 5, 15 minutos para levar a imagem peregrina e acudir a um povo que A esperava com fé, para agora esperar, fechada numa urna, dias inteiros num aeroporto.
Um obrigada à Graça pela partilha.

Amélia Ribeiro disse...

Olá Padre José Luis!

Muito obrigada por essa oração sentida e escrita com a tinta das lágrimas que também lavam o meu rosto neste momento!
Quanta insensibilidade no coração dos homens!
Mas lá diz o povo: Deus escreve direito por linhas tortas.
E não será por acaso que se diz, também, que a voz do povo é a voz de Deus!

Um beijo enorme, do Continente!

P.S. e um agradecimento à Graça por partilhar connosco tão bela oração.