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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Cristovam Pavia

De alguns dos Poemas de Cristovam Pavia, que é pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho, que nasceu em Lisboa em 7 de Outubro de 1933.
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«Na folha bailada / Levada / No vento, / Vai meu pensamento... // Na cinza delida, / Espargida / Pelo rio, / Vai meu olhar frio...// [...]». ..... «Pequena Oração» («Quando a nossa dor descansa, / E as lágrimas nos olhos são mais frescas que o orvalho nas flores... / Ave-Maria.») ..... «Consolação para o Tempo Incerto» («Há-de haver sempre meninos a chorar ao pé do velho cão morto.») ..... «A tarde em meio ...» («A tarde em meio mas num milésimo / De segundo depois do lanche ao rito claro / (Um cheiro a leite e a ervas) nem brisa foi / (Adolescendo só as ervas) nem fria náusea / Mexeu a luz dentro do sono / Leve, impossível.») ..... «Subitamente ficas na paisagem / E olho os teus olhos quentes e antigos... / Tens sol e sede, tens brincos de cerejas / E a pele cheirosa e fresca como a água. // Subitamente sinto aquela sede / Dos sobreiros gretados, das estevas... / Mas perto, fonte ardente, dás frescura / A paisagem dormente e abrasada!» ..... «Nas tuas mãos o aroma das glicínias. / Nos meus olhos o sol de outras tardes. / O céu azul aonde pairam asas / Ou tremem, de súbitas andorinhas... // O tempo agora é um mistério claro... / Vem comigo, vem ver chegar o gado, / Vem ao passado, sem saudade, agora... / Olha o pó que ficou no ar tão calmo... // Meninos sem palavras, que alegria! / Distraídos demais p'ra sermos dois... / Nas tuas mãos o aroma das glicínias. / O céu azul aonde pairam asas...». ..... A Nossa Senhora /// Voltarei à penumbra fresca da igreja / Ancestral, silenciosíssima e vazia, / Aonde está pousado o teu altar: / Doce mãe Maria... / E ajoelhar-me-ei, / E fecharei os olhos sem pensar... / - Que a minha oração nada mais seja: / Basta descansar. / ..... Meu São Sebastião de Grünewald, / Meu arcanjo de carne e sangue em fogo, / Fita-me com teu olhar viril, tão calmo... / E o sabor de sentir passar cada segundo, / E o perfume a cravos quentes dessas feridas. / Fita-me com teu olhar viril, tão calmo. / ..... Se fizer um pequeno esforço levanto-me e caminho no ar / Porque o meu Deus dá-me forças já não minhas. / Se fizer mais um pequeno esforço tudo se transformará em verdadeiro prazer / E em cada gota de suor, em cada brilho frio nas gotas de suor / Rodará um mundo fresco como um leque que se abre. / Se fizer um último esforço será a vertigem, talvez a deliciosa vertigem. / E depois não interessa o que virá. / Creio neste amor angustiado. / ..... Senhor, era bom / Lavar as nossas lágrimas / De todo o sentimento... / Dos cansaços humanos, / Daquela angústia vaga / E da alegria... / Senhor nós devíamos / Lavar as nossas lágrimas / Para serem na terra / Água perdida e irreconhecível. / ..... (Ousei ler o poema seguinte na homilia de um funeral de um jovem que suicidou, parece, que serviu muito às pessoas que participaram nesta despedida trágica, mas, que tentei aquecer com a chama da esperança e da fé. Paz à sua alma e a todas as almas que partem deste mundo desta forma). Se fizer um pequeno esforço levanto-me e caminho no ar / Porque o meu Deus dá-me forças já não minhas. / Se fizer mais um pequeno esforço tudo se transformará em verdadeiro prazer / E em cada gota de suor, em cada brilho frio nas gotas de suor / Rodará um mundo fresco como um leque que se abre. / Se fizer um último esforço será a vertigem, talvez a deliciosa vertigem. / E depois não interessa o que virá. / Creio neste amor angustiado. .....
In Poesia, ed. D. Quixote (Tirado de Sec. Nac. da Pastoral da Cultura)

2 comentários:

M Teresa Góis disse...

Quando estamos fracos, carentes, angustiados, o pequeno esforço parece o mais difícil de tudo. Estar atento a quem precisa de pequenos esforços, nossos e para eles, é garantirmos que o nosso pequeno esforço, um dia, será ajudado a crescer. Sábias palavras as do poeta. Acho o texto bem escolhido para a cerimónia de exéquias.

Marilu disse...

Querido amigo, linda poesia. Beijocas