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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O Deus de Paulo

O mundo foi da Poesia, nos primeiros séculos da nossa era. Repetir-se-á o milagre? Voltará o deus dos poetas contra os sábios, que só acreditam na matéria, e com ela fabricam explosivos, gases asfixiantes, máquinas pavorosas? Nesta orgia industrial moderna, paródia em ferro e vapor, da orgia pagã, o homem está morto ou isolado do seu espírito. Existe, mas não vive. Existe a duzentos quilómetros à hora, mas com a vida parada, dentro dele. Vida inerte numa existência delirante. (...)
O homem, desviado do seu destino, que é tornar-se consciência universal, perante o Criador, mente à sua própria natureza e perde a razão de ser. Daí, a paralisia moral em que ele jaz e a velocidade que o desvaira, e leva para o túmulo. Pretende eliminar o espaço e o tempo, converter-se numa entidade fictícia, simples imagem abstracta, perpendicular a um solo vertiginoso. Pretende evaporar-se. Eis a grande sensação moderna, depois do sentimento antigo. Mas confiemos no espírito humano.
Esta civilização americana depende de materiais esgotáveis ou em quantidade limitada. A fábrica, esse templo moderno, há-de ser destruída, como o templo de Artemisa, em Éfeso, e o de Vénus, em Pafos. Templo quer dizer túmulo, casa dos mortos, que os mortos foram os primeiros deuses. Foram eles que dirigiram, para além do mundo, a atenção dos vivos. Destruída a fábrica pagã, teremos a igreja de Cristo, a confraria dos irmãos, o convívio universal e amoroso.
Confiemos no Deus de Paulo.

O autor deste texto, Teixeira de Pascoaes, nasceu a 2 de novembro de 1877, em Amarante.
& Título da redacção do blogue

3 comentários:

Marilu disse...

Querido amigo, Deus queira que o mundo volte a ser poesia, diante de tanta tragédia e injustiças que estão acontecendo. Beijocas

M Teresa Góis disse...

Sim, às vezes nada mais resta....confiar no Deus de Paulo!

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...

Padre José Luís, que grande Poeta foi Teixeira Pascoaes converteu-se ao cristianismo , através da mão de uma criança que lhe aponta um Cristo na Cruz, mas em estado de degradação, tal como a capela que Pascoaes visitou, estava tudo em ruínas. E a expressão e a mãozita dessa Criança que lhe diz ali está o Meu Senhor. E ele de lágrimas nos olhos, sem compêndios de teologia, abriu logo o seu coração para que esse Deus entrasse pelo dedinho inocente de um criança . S.Paulo foi outro. Guerra Junqueiro e Jaime Cortesão morreram com o hábito de São Francisco de Assis. Antero denunciou uma igreja decrépida e Eça descobriu num dos seus livros, um Jesus Revolucionário em contraste com um Cristo de pés de ouro. Todos os grandes se fazem humildes e a humildade é a porta de Deus. Esse templo maravilhoso que Pascoaes descobriu no coração dos portugueses -a Saudade. A saudade é a nossa porta de despedida e de entrada. E nesse vai e vem temos sempre um porto, um cais que ancora, mesmo em mares revoltos os nossos regressos. Pascoaes quis que Jesus fosse o regresso dessa Igreja pobre, despida de preconceitos e de preceitos, mas que fosse eternamente VERDADEIRA.Porque feita pelos Simples tal como no-lo disse Raul Brandão.