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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PARASITAS

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No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
..
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
...
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
....
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Guerra Junqueiro
Nota: Tirado de A Velhice do Padre Eterno, que é um poderoso libelo contra o obscurantismo da Igreja Católica em Portugal e contra o clero do século XIX. Fica este soneto como sinal dessa leitura possível, quando os factos, às vezes, não negam a crueza da metáfora...
Imagem de: www.portaldecanoinhas.com.br

2 comentários:

Cambará Cultura disse...

Olá, padre! Era uma época difícil em que todos os tinham tachos não faziam questão nenhuma de largá-los...Não esqueçamos que Gerra Junqueiro também escreveu a Harpa do Crente...

M Teresa Góis disse...

Já citei de cor este poema, agora algumas das rimas vão esquecendo. Quanto à "Velhice...", é um livro cheio de lições e actualidade, ainda bem que m'o recordou, já o vou buscar à prateleira!