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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A história da cigarra na época de saldos

Se nos dizem que o ano novo será pior que 2010, aplicamos, sem olhar à moral da história, a prática da cigarra: gastem-se os últimos cêntimos naquela carteira fantástica que andávamos a namorar desde Agosto.
Os portugueses continuam a surpreender. Quando não se fala de outra coisa senão da crise e na necessidade de apertar o cinto, eis que os dados relativos a dinheiro levantado nas caixas multibanco e pagamentos em terminais automáticos deixa todos de boca aberta. Só na semana do Natal, gastaram-se cem milhões de euros acima do ano passado.
Números impressionantes. Entre 20 e 26 de Dezembro, foram gastos 4,6 milhões de euros por dia ou, se quisermos olhar com mais detalhe, 77,8 mil euros por minuto. Afinal, onde está a crise? A crise, a crise anda por aqui. Impossível já iludi-la. Como se explica então esta corrida infrene dos portugueses às compras, como se tudo estivesse em saldo? Talvez só psicólogo o possa explicar. Ninguém, talvez, acredita nas mensagens aterradoras, de todo o género de especialistas, que entram portas adentro. Ou será outro o motivo: aproveita-se enquanto há, depois logo se vê.
Bem vistas as coisas, sempre foi assim que fizemos. Se nos dizem que o ano novo será pior que 2010, aplicamos, sem olhar à moral da história, a prática da cigarra: gastem-se os últimos cêntimos naquela carteira fantástica que andávamos a namorar desde o final de Agosto... E foi uma sorte apanhá-la ainda! A crise não impede que os produtos desapareçam das prateleiras - e mais vazias se encontram desde ontem, com a abertura oficial da época dos saldos.
A crise está aí, disso não tenhamos dúvidas. Mas também podemos ter a certeza que atinge quase sempre os mesmos: os que eram pobres e agora estão muito, muito mais pobres, mesmo seguindo à risca as boas práticas da formiga.
Não foram estes, os pobres do Portugal democrático, que correram aos multibancos na semana do Natal e, por certo, não acotovelaram ninguém nas enormes e demoradas filas para pagar - a crédito ou não - nas lojas dos centros comerciais. Este país foi feito para as cigarras.
in Jornal de Notícias

3 comentários:

M Teresa Góis disse...

Pois, somos um país de "fadistas" e de cigarras....formigas, ainda vai havendo! Mas, na verdade, com tanta contestação de juízes, médicos, professores, funcionários públicos, e ao analisar estes números, dá mesmo para perguntar:Onde está a crise? E mais, os destinos de pequenas férias de Natal não tiveram baixa, a Páscoa já está "muito bem composta"... É cada vez maior o fosso entre os pobres e os que sabem viver gastando na crise. Os pobres não se manifestam, não têm tempo de antena reivindicativo, deve ser essa a questão.

M. disse...

E não vejo mudanças no horizonte...Só para pior...

José Luís Rodrigues disse...

M.

Este artigo da Paula Ferreira, até dói por ser tão verdadeiro. Mas, vamos ter esperança, teimo em não fazer parte dos pessimistas/realistas, a vida também se fez com desejos, sonhos...