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domingo, 30 de maio de 2010

E se o povo se cansar…

Os jogos europeus do Marítimo vão realizar-se no Estado do Nacional. Ao que parece é necessário pagar uma conta por essa utilização.
Bom, mas, dado que há uma birra entre os dirigentes maritimistas e nacionalistas, não se entenderam quanto a esse pagamento.
Porém, porque temos uns governantes cheios de bondade e de misericórdia, entraram no negócio e prontamente irão pagar a conta com dinheiro dos contribuintes e não com dinheiro dos seus chorudos salários, como se poderia pensar à partida quando, ironicamente e eufemísticamente, qualificamos de bondosos e misericordiosos estes governantes.
Onde vamos parar com estas políticas do desbarato e do desrespeito pelo nosso povo simples, que, nestas horas de apertos, come o pão que o diabo amassou para suprir os seus deveres? - Mais um escândalo inqualificável do desgoverno em que está a nossa Madeira.
Após a tragédia de 20 de Fevereiro, que levou a uma onda de solidariedade sem precedentes entre nós e fora de nós, esperava que as atitudes fossem agora outras e que o respeito pelos bens públicos fosse um valor mais forte e mais visível. Mas, nada. Continua a mentalidade esbanjadora e a construção desregrada, sem planos, e quem sabe sem pensar-se na sua utilidade e importância para o futuro da Madeira. Parece que o mais importante é saciar a fome da clientela partidária, não importa o futuro nem muito menos que outros sofram com isso. Há um certo sadismo em tudo isto. Penso também, já ser tempo de se procurar estabelecer regras bem claras e fortes limites quanto ao fazer bem e de modo especial quanto ao gastar bem os dinheiros que são de todos nós. Com estas e outras caiem por terra todos os exaltados discursos a favor dos apertos financeiros que estes governantes actuais estão a fazer. Lá virá o dia em que o povo, que eles consideram tolo, se cansa. Não se esqueça isso.
Nota da redação: Felizmente, esta manhã, 1 de Junho de 2010, fomos acordados com a feliz notícia que imperou o bom senso. A entidade privada, Nacional, prescinde do respectivo pagamento. Agradecem todos os contribuintes por esta dádiva, melhor, este bom senso. Só lamentamos, que aqueles que nos governam não tenha tido a iniciava de desde o início por fazerem prevalecer os interesses de todos nós. Um bem haja a quem denúnciou tamanha injustiça. Vale a pena levar a sério a consciência dos valores que devem nortear a acção de todas as entidades ao serviço do nosso povo.

Mesmo sendo noite!

São João da Cruz (1542-1591), carmelita, Doutor da Igreja Poema «Cantar da alma que folga em conhecer a Deus por fé», Obras completas, Edições Carmelo, 2005 p. 68
«Um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza» (Prefácio)
I.
Que bem sei eu a fonte que mana e corre
Mesmo sendo noite!
II.
Aquela eterna fonte está escondida.
Bem eu sei onde tem sua guarida,
Mesmo sendo noite!
III.
Sei que não pode haver coisa tão bela
E sei que os céus e a terra bebem dela,
Mesmo sendo noite!
IV.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
Mas sei que toda a origem dela vem
Mesmo sendo noite!
V.
O fundo dela, sei, não pode achar-se;
Jamais por ela a vau pode passar-se,
Mesmo sendo noite!
VI.
É claridade nunca escurecide
E sei que toda a luz dela é nascida,
Mesmo sendo noite!
VII.
Tão caudalosas são as suas correntes
Que céus e infernos regam, mais as gentes,
Mesmo sendo noite!
VIII.
Nascida de tal fonte, esta corrente
Bem sei que é mui capaz e omnipotente,
Mesmo sendo noite!
IX.
Das duas a corrente que procede
Sei que nenhuma delas antecede,
Mesmo sendo noite!
X.
Aquela eterna fonte está escondida
Neste pão vivo para dar-nos vida,
Mesmo sendo noite!
XI.
Aqui está chamando as criaturas:
Desta água se saciem, e ás escuras,
Porque é de noite!
XII.
É esta a viva fonte que desejo
E neste pão de vida é que eu a vejo,
Mesmo sendo noite!

sábado, 29 de maio de 2010

Os Sete Sapatos Sujos

O escritor moçambicano Mia Couto, também licenciado em Medicina e Biologia, fez uma oração de sapiência, no dia 7 de Março, na abertura do ano lectivo do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique.
Excertos desta oração foram publicados no “Courrier Internacional” de 2 de Abril. Destacamos... “Os Sete Sapatos Sujos”:
Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos.
À porta da modernidade precisamos de nos descalçar.
Eu contei “Sete Sapatos Sujos” que necessitamos de deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico:
Primeiro Sapato
A ideia de que os culpados são sempre os outros.
Segundo Sapato
A ideia de que o sucesso não nasce do trabalho.
Terceiro Sapato
O preconceito de que quem critica é um inimigo.
Quarto Sapato
A ideia de que mudar as palavras muda a realidade.
Quinto Sapato
A vergonha de ser pobre e o culto das aparências.
Sexto Sapato
A passividade perante a injustiça .
Sétimo Sapato
A ideia de que, para sermos modernos, temos que imitar os outros.

Mia Couto
Gravura de Neves e Sousa, Pintor Angolano

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo 29 de Maio de 2010
Domingo da Santíssima Trindade ou IX Domingo do Tempo Comum
A Santíssima Trindade
Santo Tomás, no final de seu tratado sobre a Santíssima Trindade, fala-nos das missões divinas e da habitação das três Pessoas Divinas em toda alma justa. Ele dá-nos uma certa inteligência deste mistério recordando-nos que Deus está sempre presente em todas as coisas, especificando de que maneira especial está realmente nos justos e quais são os efeitos da Sua acção neles.
Conta-se que Santo Agostinho andava certo dia a passear na praia a meditar sobre este mistério da Santíssima Trindade: um Deus em três pessoas distintas... Enquanto caminhava, observou um menino que carregava um pequeníssimo balde com água. A criança ia até o mar, trazia a água e deitava-a dentro de um pequeno buraco que tinha feito. Após ver repetidas vezes o menino fazer a mesma coisa, resolveu interrogá-lo sobre o que pretendia. O menino, olhando-o, respondeu com simplicidade: - quero colocar a água do mar neste buraco. Santo Agostinho sorriu e respondeu-lhe: - mas tu não percebes que isso é impossível mesmo que trabalhes toda a vida? O mar é infinitamente grande. Jamais o irás conseguir colocar aí todo dentro desse pequeno buraco...
Então, novamente olhando para Santo Agostinho, o menino respondeu-lhe: - ora, é mais fácil a água do mar caber neste pequeno buraco do que o mistério da Santíssima Trindade ser entendido por um homem!. É mais fácil colocar toda a água do mar aqui dentro deste buraco que o homem conseguir entender o mistério da Santíssima Trindade. O homem é infinitamente pequeno e Deus é infinitamente grande!
A Trindade ou Santíssima Trindade é a doutrina acolhida pela maioria das igrejas cristãs que professam a Deus único preconizado em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Para os seus defensores, é um dos dogmas centrais da fé cristã, e considerado um mistério. É nesse mistério que acreditamos e é desse mistério que devemos dar testemunho.
A celebração da Santíssima Trindade, abre-nos caminhos para o exemplo de como podemos e devemos viver. Ninguém se realiza sozinho. Cada um de nós só é capaz de futuro, se acolher a riqueza da dimensão comunitária da vida humana. O que seria da nossa existência se não fôssemos capazes de reconhecer a importância da vida dos outros para a nossa realização pessoal? Está mais que provado que ninguém é capaz de viver totalmente isolado, todos necessitámos de ser e viver em comunidade.
A Santíssima Trindade, é antes de mais uma verdadeira comunidade. A comunhão é o seu elemento principal, por isso, não nos surpreende a expressão de intimidade de Jesus: “Tudo o que o Pai tem é meu”. Esta formidável riqueza de comunhão serve de exemplo ou revela-se como desafio para a nossa vida de cristãos e para todos os homens de boa vontade.
Como enquadrar o mistério da Santíssima Trindade na nossa vida concreta? – Sim falamos de mistério, porque, por mais que se diga, por mais que se faça e por mais que se acredite, a Santíssima Trindade será sempre o mistério dos mistérios. Pois, não serão os pensamentos e as palavras humanas que traduzirão o que é e o que representa este mistério. Assim sendo, mais do que dizer deste mistério, o melhor será fazer silêncio diante Dele. Este é um mistério mais para ser contemplado do que para ser dito ou mostrado. É um mistério inefável, próximo e distante ao mesmo tempo.

terça-feira, 25 de maio de 2010

O que é o Lausperene?

Nota da Redacção: Porque acontece o Lauperene na Diocese do Funchal, vamos dar uma breve explicação sobre a palavra Lausperene, o seu conceito, sentido e um pouco de história na Igreja Católica.
Lausperene (do latim laus perene, «louvor perene») é a designação dada na Igreja Católica Romana à exposição continuada do Santíssimo Sacramento da Eucaristia (hóstia consagrada) à adoração dos fiéis. O Lausperene tem geralmente a duração de 40 horas, em memória do período que o corpo de Jesus Cristo passou no túmulo até à ressurreição, mas pode ocorrer por períodos mais longos.
«A instituição do Sagrado Lausperene comemora as quarenta horas que esteve no sepulcro o divino corpo do Redentor, e data, segundo se afirma, do ano de 1556. Parece que durante muito tempo se conservou privativamente monástica esta solenidade do culto, que veio a ser introduzida em Portugal pelos religiosos do mosteiro de Santa Maria de Alcobaça, em cuja ordem (a de S. Bernardo) passou por diferentes vicissitudes, sendo restabelecida e regularizada, em 1672, por frei António Brandão, geral da mesma ordem e ilustrado continuador da Monarchia Lusitana. O referido cardeal D. Luís de Sousa, arcebispo de Lisboa, solicitou da sede apostólica, no tempo da regência do príncipe D. Pedro, o privilegio da exposição permanente do Santíssimo Sacramento nas igrejas de Lisboa, como se praticava em Roma, obtendo do papa Inocêncio XI, no ano de 1682, a bula do jubileu do Lausperene, pela qual este pontífice permitiu que as igrejas da mesma cidade recebessem, por todo o circulo do ano, o Sagrado Lausperene, começando a sua distribuição pela sé Patriarcal no primeiro domingo do Advento e no domingo de Pentecostes, e concedeu indulgencia plenária aos fieis que verdadeiramente contritos, arrependidos, confessados e comungados, orassem nas igrejas designadas diante do Senhor Sacramentado».
Transcrito por Manuel Amaral

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Como se apanham cerejas?

O tempo das cerejas aproxima-se. Sou nado e criado na terra delas, o nosso amado Jardim da Serra, zona alta do Conselho de Câmara de Lobos. Está plantado entre lombos, picos e vales que tocam o céu até às ribeiras que nascem aí e que escorrem até à baía de Câmara de Lobos. Para sul, estende-se até às encostas pintadas pelas multicolores vides que fazem do Estreito de Câmara de Lobos a sua principal característica na paisagem. Não sei dizer outras fronteiras para a Freguesia do Jardim da Serra, senão estas duas, lá no alto dos montes o céu e para baixo onde começa a outra Freguesia do Estreito de Câmara de Lobos. Porque de resto somos todos cidadãos de um mesmo lugar, o mundo. Já o disse o grande filósofo da antiguidade, Sócrates: «Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo».
Mas, vamos ao testemunho da apanha das cerejas. Antes de mais a cereja, não fossem as pessoas, é o produto mais importante da Freguesia do Jardim da Serra. Pelas encostas abaixo, nos pequenos vales e nos poios feitos a pulso pelo braço das gentes na conjugação da pedra, plantou-se no que a terra permitia primeiro as ginjeiras, que depois de enxertadas se convertem em cerejeiras, de onde se pode colher a deliciosa cereja. A cereja genuína da Madeira é miudinha ao contrário das cerejas importadas, que são grandes e às vezes muito belas, mas menos gostosas no paladar. A cereja regional é produzida em cerejeiras frondosas, muito altas e com muitos ramos, ao contrário das cerejas grandes que são produzidas em pequenas plantas e com menos anos de durabilidade.
Não tenho elementos científicos para afirmar isto, mas, penso, que a cereja regional, por ser mais sumarenta e mais deliciosa, deriva do facto de ter mãe pujante e mais profundidade na terra e estende-se pelo céu adentro. A natureza também tem os seus segredos para confeccionar as coisas boas.
Tendo em conta tais características da produção das cerejas, emerge daí as dificuldades para a sua colheita. Não podem ser vergastadas como as castanhas e as nozes, não se sabe de máquinas quer apuradas tecnologicamente ou artesanalmente para fazer a sua colheita. Só e unicamente as mãos, a ponta dos dedos indicadores, a coragem e a ausência de vertigens para estar nas alturas. É um trabalho moroso, delicado e minucioso porque as cerejas nascem com finos «pés» gémeos ou trigémeos. Assim, nem sempre amadurecem ao mesmo tempo, daí que seja necessário cortar um ou dois pés e deixar o restante para a próxima apanha. Esta atenção requer um certo cuidado. Será por isso que nem todos têm vontade e engenho para a apanha das cerejas. Uma maçada que se impõe só pela força imperiosa da sobrevivência. Porque a produção da cereja no Jardim da Serra não é propriamente um desporto, mas muito importante para o sustento de várias famílias. Também resta dizer que não passa um ano que não caiam pessoas das cerejeiras, porque se partem os ramos ou porque se desequilibram lá nas alturas, de onde derivam consequências trágicas para as famílias. Também não será necessário dizer que ao fim da campanha da colheita das cerejas, os pés das pessoas ficam inchados, cheios de gretas ensanguentadas. E as mãos ficam desgraçadas.
Perante este património, penso que será necessário preservar o mais que se puder esta característica do Jardim da Serra, não permitir a introdução em demasia de cerejeiras que desvirtuem a delícia das cerejas miudinhas, mas suculentas e saborosas, que já são típicas da nossa terra. E não seria de todo em vão tentar formas de apanha mais amigas para as pessoas. Este sim seria um grande bem e uma forma de fortalecer a produção das cerejas típicas da nossa terra.
Fico-me com este curto testemunho porque também foram muitos os anos que passei nesta safra e continua ainda a ser uma tarefa imprescindível anualmente de muitos membros da minha família.
Vamos, por isso, torcer para que este ano de 2010 a produção da cereja seja frutífero, embora, já saibam as pessoas que não será ano de muita abundância. Mas, do pouco sabe o nosso povo fazer o muito. Pedimos a Deus tempo moderado, sem chuva, porque, ela sim, é o pior inimigo das cerejas. E do nosso apetite também.
José Luís Rodrigues

DE TARDE

Naquele «pic-nic» de burgueses,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter histórias nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzonal azul de grão de bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro de papoulas!
Cesário Verde, O Livro de Cesário Verde, Editora Orfeu, 1985, p. 75

domingo, 23 de maio de 2010

O Pentecostes

Deus, Esse desconhecido
Eis o nome maior.
Já tinha o eco da voz inocente
Feito retinir uma voz cantante
«Vinde, Espírito Santo»
E não disse mais nada.
Porque do Mistério não se fala.
E quem melhor sabe do Divino
São as nossas saloias…
José Luís Rodrigues

Nota: As saloias na Madeira são as crianças muito bem vestidas a preceito, que acompanham os grupos que vão de casa em casa de sítio em sítio nas paróquias anunciando a Ressurreição de Jesus Cristo durante os domingos do Tempo Pascal. Elas cantam, maravilhosamente, canções ao Divino Espírito Santo. Aqui fica a minha homenagem a todas as saloias.

sábado, 22 de maio de 2010

Dias realmente úteis

Às vezes, demasiadas vezes,
a vida assemelha-se a uma repartição cinzenta,
onde os horários se cumprem sem empenho.
Estamos, mas fazemos sem compromisso íntimo.
Falamos e fazemos,
mas sentindo o nosso interesse noutro lado.
Vivemos, claro, mas com o coração distante.
Como é necessário tornar realmente úteis
os dias úteis!
Úteis não apenas por imposição do calendário.
Úteis, porque vividos com generosidade e sentido.
Úteis, porque não os atropelamos
na voragem das solicitações,na dispersão das coisas,
mas sabemos (ou melhor, ousamos) fazer deles
lugar de criação e descoberta,
tempo de labor e de escuta,modo de acção e de contemplação.
É preciso acolher o “inútil”
se quisermos chegar ao verdadeiramente útil.
P. José Tolentino Mendonça

sexta-feira, 21 de maio de 2010

NADA ME IMPEDIRÁ DE SORRIR

NADA ME IMPEDIRÁ DE SORRIR
Nem a tristeza, nem a desilusão
Nem a incerteza, nem a solidão NADA ME IMPEDIRÁ DE SORRIR.
Nem o medo, nem a depressão,
Por mais que sofra meu coração,
NADA ME IMPEDIRÁ DE SONHAR.
Nem o desespero, nem a descrença,
Muito menos o ódio ou alguma ofensa,
NADA ME IMPEDIRÁ DE VIVER.
Em meio as trevas, entre os espinhos,
Nas tempestades e nos descaminhos,
NADA ME IMPEDIRÁ DE CRER EM DEUS.
Mesmo errando e aprendendo,
Tudo me será favorável,
Para que eu possa sempre evoluir
Preservar, servir, cantar,
Agradecer, perdoar, recomeçar…
QUERO VIVER O DIA DE HOJE
COMO SE FOSSE O PRIMEIRO,
COMO SE FOSSE O ÚLTIMO,
COMO SE FOSSE O ÚNICO.
Quero viver o momento de agora
Como se ainda fosse cedo,
Como se nunca fosse tarde.
Quero manter o otimismo,
Conservar o equilíbrio,
Fortalecer a minha esperança,
Recompor minhas energias,
Para prosperar na minha missão
E viver alegre todos os dias.
Quero caminhar na certeza de chegar,
Quero lutar na certeza de vencer,
Quero buscar na certeza de alcançar,
Quero saber esperar
Para poder realizar os ideais do meu ser.
ENFIM,
Quero dar o máximo de mim,
para viver intensamente!
Nota: Não sei quem é o autor.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo de Pentecostes
23 de Maio de 2010
O Pentecostes
Pentecostes (em grego antigo πεντηκοστή [ἡμέρα], pentekostē [hēmera], "o quinquagésimo [dia]") é uma das celebrações importantes do calendário cristão, e comemora a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos de Jesus Cristo. O Pentecostes é celebrado 50 dias depois do Domingo de Páscoa. O dia de Pentecostes ocorre no décimo dia depois do dia da Ascensão. Pentecostes é histórica e simbolicamente ligado ao festival judaico das colheitas, que comemora a entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai cinquenta dias depois do Êxodo. Para os cristãos, o Pentecostes celebra a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e seguidores de Jesus, através do Dom das Línguas, como está descrito no Novo Testamento, durante aquela celebração judaica do quinquagésimo dia em Jerusalém. Por esta razão o dia de Pentescostes é às vezes considerado o dia do nascimento da Igreja. O movimento pentecostal tem o seu nome derivado deste evento. A vida não teria sabor se não fosse a dinâmica do Espírito Santo. A Igreja seria uma simples organização de homens e mulheres com interesses mundanos. As celebrações litúrgicas seriam manifestações de diversão ou para entreter os tempos livres. Os diversos grupos que formam a Igreja seriam estruturas sem alma que promoviam a rivalidade e a concorrência. Os membros da Igreja, seriam apenas hierarcas que buscavam o poder pelo poder. A sede de protagonismo ou a fama do mundo seriam as únicas motivações pelas quais todos corriam de forma desmedida e sem escrúpulos. As palavras da Igreja seriam iguais a todas as palavras pronunciadas pelas outras organizações do mundo. A caridade seria solidariedade sem alma e sem a abnegação desinteressada que só o Espírito Santo informa. O diálogo Igreja-mundo seria pura diplomacia interesseira com vista a ser pura propaganda e domínio de uns sobre os outros.
Uma infinidade de coisas que a Igreja é e faz que sem o dinamismo do Espírito Santo seriam puro activismo concorrencial mais interessado na promoção de alguns e pouco aberta ao bem-comum, isto é, sem interesse nenhum pela salvação de todo a humanidade.
Assim sendo, no dia de Pentecostes, descobre-se a universalidade do projecto de Deus (o relato dos Actos dos Apóstolos confirma-o de forma bastante óbvia, o famoso milagre das línguas, é uma prova bem evidente desta pretensão de Deus).
O Pentecostes, é o acontecimento que quebrou as correntes da divisão, o ódio das grades da incompreensão, a violência das palavras e das atitudes de alguns homens, os rancores dos momentos que ninguém se livra de viver, os amuos que provocam tristeza e inimizade, a falta de abertura para o perdão, a teimosia do não arrependimento, a intolerância e o racismo entre as religiões e as comunidades humanas. Sob a luz do Esípírito Santo, deixemos o medo e vamos ao encontro da vida, proclamar bem alto a justiça do Evangelho de Jesus Cristo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A miséria moral degrada

Leonardo Da Vinci legou-nos, entre outras maravilhas do seu talento, uma obra admirável intitulada “Santa Ceia” representando a última Ceia de Jesus com seus apóstolos.
Da Vinci pensou em representar no rosto de Jesus a bondade e o amor.
Procurou um modelo para o seu trabalho. Depois de tanto buscar, encontrou num coral religioso um jovem de rosto belo e sereno semelhante ao de Jesus. Convidou-o então para ser modelo de Jesus no seu trabalho.
O jovem acedeu e passou a ir várias vezes ao atelier de Leonardo, que observou atentamente o jovem e fez vários esboços. E a figura de Jesus ficou belíssima.
Da Vinci pretendia ainda outra coisa. Queria representar a figura de Judas, que traíra Jesus. A sua obra estava quase pronta, mas a dificuldade era não encontrar alguém que representasse a figura sinistra de Judas.
O seu trabalho esteve parado três anos até que o cardeal responsável pela obra começou a pressionar o pintor para que o concluísse.
Leonardo procurou modelo por caminhos sórdidos de delinquência e vício. Visitou cadeias e tascos nauseabundos de embriagados. Depois de tanto procurar, encontrou um jovem envelhecido, esfarrapado e sujo. “Está aqui um rosto sinistro de Judas” pensou. E ordenou aos seus auxi-liares que lhe levassem aquele homem para o atelier.
Da Vinci viu no rosto daquele infeliz os sintomas da miséria moral semelhantes ao rosto do traidor. Ao despertar da sua sonolência alcoólica, o jovem olhou o quadro incompleto com espanto e tristeza e disse: “Eu já vi este quadro!”
“Quando?” - Perguntou Leonardo.
“Há três anos atrás, quando me convidou para ser o modelo de Cristo.
Era eu um jovem cantor, cheio de sonhos e comportamento irrepreensível. As más companhias e as tentações do mundo atiraram-me à valeta da vida.”
Quantos jovens se assemelham a Jesus, vivendo como Ele viveu, amando como Ele amou. Mas a droga, o alcoolismo, as más companhias levam à ruína moral que tantas vezes termina na prisão, no hospital ou na morte.
Mário Salgueirinho, in Voz-Portucalense

terça-feira, 18 de maio de 2010

Diocese do Funchal faz festa. Porque...

Um postal para ler neste dia de festa:
Parabéns ao sr. Bispo do Funchal.
Dia 19 de Maio, é o 3º Aniversário da entrada e tomada de posse na Diocese do Funchal de D. António Cavaco Carrilho.
Balanço, para quê... Tudo está bem neste reino do bailinho da Madeira.
Bastou ouvir a entrevista do padre-juiz da Diocese do Funchal dada à televisão do «povo superior». Ao que isto chegou. O rumo que leva não nos anima muito e não augura futuro melhor para ninguém. Como me repugna a mentira, o branqueamento, as acusações fundamentalistas, a linguagem tribunalesca (anti-Evangelho duro), a defesa do indefensável, a camuflagem, o atrevimento e a atitude do jagunço a defender o dono.
Basta de ordinarices que nos envergonham. Basta de vozes atabalhoadas, confusas que metem os pés pelas mãos comprometendo todos e que em vez de melhorar a imagem das figuras da igreja ainda as afunda mais. Basta de dizer coisas, qual picareta falante, sem nexo e sem consistência de verdade.
Não chega o descrédito de uma igreja vergastada pelos escândalos e a vergonha dos abusos sexuais de membros do clero? Não chega uma igreja desacreditada depois do que aconteceu com a Visita da Imagem Peregrina de Fátima a Machico? Não chega a confusão de uma igreja mergulhada num activismo inconsistente, pouco pensado? Não chega uma igreja que se arrasta com problemas que demoram anos e anos a serem resolvidos? Não chega uma igreja que muito faz pelo parecer e quase nada para ser fermento de Evangelho? Não chega uma igreja que não sabe conviver saudavelmente com a diferença? Não chega uma igreja que não tolera uma crítica, só se for a favor, contra nunca? Não chega uma igreja ligada ao poder político e quem disso falar contra é acusado de ser cego? Não chega uma igreja que no Ano Sacerdotal, em vez de aprofundar e apresentar o verdadeiro sentido do ser padre (o sacerdote) nos tempos de hoje, apresenta-se o padre-juiz defensor de leis que nada dizem ao comum dos fiéis e muitas delas profundamente anti-Evangelho puro? - Meu Deus, por favor, envia-nos o Espírito Santo...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A pisa do trigo e as mãos da avó

Coisas de outros tempos...
As mãos deslizam debaixo do pisão com mestria e agilidade extraordinária. Neste quadro aparentemente dramático, só o trigo se contorce de dor, esteve de molho desde o dia de ontem, agora colocado na pia de pisar, levará umas pancadas valentes com o pisão, pedra arredondada enfiada na ponta de um pau de madeira (o cabo) onde seguramos para ir a cima e abaixo, e, assim, cai o pisão, ora devagar ora rápido, para que o trigo não salte de dentro da pia para fora ou não fique esmagado. As mãos que trabalham dentro da pia vão ordenando o ritmo. Este trabalho da avó era brilhante e provocava-me o maior dos espantos.
As suas mãos circulando dentro da pia a mexer o trigo de forma ritmada sem medo das pancadas do pisão que cai sobre o trigo, mas que não toca nas mãos.
Este trabalho da pisa do trigo era feito com muita frequência na casa da avó. Um trabalho extraordinário, muito longe dos tempos modernos, que já nos vende nos supermercados o trigo debulhado de forma mecânica. Face a estas facilidades actuais, sempre faz reminiscência aquele trabalho que em pouco tempo nos debulhava em suor e arfava o peito de cansaço para conseguir descascar o trigo. E que sopa maravilhosa vinha dali. As mãos da avó trabalhavam debaixo do pisão a virar e a revirar o trigo para que nenhum manhoso ficasse com a casca ou então, pior ainda, se esmagasse o melhor do trigo no fundo da pia, que era duro e carcomido pelo tempo e pelas pancadas das imensas pisagens que ali já foram feitas.
Este ritual da debulha do trigo era encantador. Normalmente, realizava-se durante as manhãs para ser cozinhado para a hora da ceia - ceia sim - porque nesse tempo jantávamos pão e café pelas quatro horas da tarde. A ceia era tragada pela noite no fim da jornada de trabalho intenso na agricultura, depois da terra revirada pela impiedosa inxada e o gado atestado e aconchegado no palheiro. Esta vida tinha o ritmo do sol e não se dominava com o stress das agendas e com a escravatura dos horários. Tudo tinha um sabor a tempo.
Acabado o momento da pisa do trigo, ficava esse néctar, espalhado a secar ao sol, depois de feita essa secagem as mulheres escolhiam o melhor sítio com a devida direcção do vento para ser joeirado, isto é, as mãos enchiam-se de trigo e eram levantadas ao mais alto possível, as cascas do trigo, eram levadas pela brisa para um canto, o alimento como era mais pesado caía no sítio certo. Já sabemos qual seria o seu destino.
Técnicas rudimentares, mas cheias de sabedoria, em nome da sobrevivência.

José Luís Rodrigues

Jesus Cristo e nós

São Paulino de Nola (355-431), bispo Carta 38, 3-4: PL 61, 359-360
«No mundo, tereis tribulações; mas, tende confiança: Eu já venci o mundo!» (Jo 16, 33)
Desde a origem do mundo que Cristo sofre em todos os Seus. Ele é «o princípio e o fim» (Ap 1, 8); escondido na lei, revelado no Evangelho, Ele é o Senhor «sempre admirável», que sofre e triunfa «nos Seus santos» (2Ts 1, 10; Sl 67, 36 LXX). Em Abel, foi assassinado pelo irmão; em Noé, foi ridicularizado pelo filho; em Abraão, conheceu o exílio; em Isaac, foi oferecido em sacrifício; em Jacob, foi reduzido a servo; em José, foi vendido; em Moisés, foi abandonado e rejeitado; nos profetas, foi lapidado e dilacerado; nos apóstolos, foi perseguido em terra e no mar; nos Seus inúmeros mártires, foi torturado e assassinado. É Ele quem, ainda hoje, carrega a nossa fraqueza e as nossas doenças, porque Ele é o verdadeiro homem, exposto por nós a todos os males e capaz de tomar a Seu cargo a fraqueza que, sem Ele, seríamos totalmente incapazes de suportar. É Ele, sim, é Ele que carrega em nós e por nós o peso do mundo para nos libertar dele; e assim, é «na fraqueza que a Minha força se revela totalmente» (2Cor 12,9). É Ele que em ti suporta o desprezo, é Ele que este mundo odeia em ti.

domingo, 16 de maio de 2010

A tua vontade em cada hora

Uma sombra caiu do alto ante a admiração do sublime encanto
Quando aquele olhar melancólico quis dizer uma palavra
Um nome. Que fosse um nome. Da visão maior da glória distante
Quando o Mestre faz a promessa do amor eterno
Para todos os dias da vida de quem vive a missão da felicidade.
Nessa hora desvelou-se entre o baço um sinal verde
Daquela visão antiga do encantamento das sombras
Que Deus escondeu no canto do tempo rente à criação
Quando tudo era mais puro e inocente
Como o rosto da criança que sorri ante o afago da tua mão.
Agora cantam todos no momento da festa
Que irrompeu na alma que se deixou saciar pelo banquete
Da revelação da Palavra feito som presente
Desse mar distante. Depois Deus conduz
O teu olhar à fonte do sentido primeiro quando
O retrato soube responder à saudade do tempo.
Pois, deixa o caminho ser caminho.
E podes ser feliz. Basta uma vontade em cada hora.
E mais nada.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Frei Cláudio, o pároco

Frei Beto, in Adital
Pessoas não são descartáveis. Muito menos quando se trata de um frade da venerável Ordem dos Carmelitas que abandona o conforto de sua terra, a Holanda, para servir a comunidade cristã numa paróquia de Belo Horizonte. Falo de frei Cláudio Van Balen, ordenado sacerdote há 50 anos e brasileiro de coração há 44. Ruivo, espigado, gestos decididos e orador de frases curtas e contundentes, o bom humor faz de frei Cláudio um dos melhores contadores de piadas que conheço. Talvez esse seja o segredo de sua perene jovialidade. Desde que o conheci, na década de 1970, tem a mesma alegria de viver.
Escritor profícuo, autor de inúmeras obras de espiritualidade e liturgia, pároco da igreja Nossa Senhora do Carmo, frei Cláudio jamais foi um mero burocrata da fé, como certos padres que se restringem a cumprir horários de missas dominicais e a agenda paroquial de batizados e casamentos. Quase nunca têm tempo para visitar seu rebanho, em especial a parcela mais pobre. Há párocos do "venhais vós ao nosso reino". Jamais se preocupam de, espontaneamente, ir ao encontro de seus paroquianos. Frei Cláudio é um pastor dedicado às suas ovelhas. Visita com frequência as famílias da paróquia nos bairros Carmo e Sion. Em especial, aquelas que se encontram em dificuldades.
Quando estive preso, sob a ditadura militar, ao longo de quatro anos, frei Cláudio me animava com suas generosas cartas, publicadas em Cartas da Prisão (Agir), e visitava meus pais, seus paroquianos, quase toda semana.
Corre a notícia de que, por discordar da ação pastoral de frei Cláudio, a arquidiocese de Belo Horizonte teria dado a ele o prazo de abandonar a paróquia do Carmo até 31 de maio. Será que há diálogo entre o colégio episcopal e o conselho paroquial do Carmo?
Frei Cláudio teve oportunidade de se defender das suspeitas que pesam sobre ele (é acusado de ser demasiadamente heterodoxo em suas pregações e nos boletins dominicais) e apresentar as razões de sua inovadora ação pastoral?
A paróquia do Carmo é um dinâmico centro de evangelização e serviços prestados à população carente. Ali trabalham 82 funcionários e 316 voluntários! Entre os vários serviços destacam-se: Pastoral da Saúde, que beneficia crianças de 0 a 6 anos (e já fez quase 30 mil atendimentos); Centro de Atendimento Terapêutico (psicoterapia, orientação profissional e fonoaudiologia); Pastoral da Promoção Humana (alfabetização de adultos); Projeto Conviver (crianças e adolescentes em situação de risco); Bazar da Vovó (idosas); Clube de Mães; biblioteca; Centro de Atendimento Jurídico (às famílias pobres de vilas e favelas); Escola Profissional (informática, digitação, eletricidade, mecânica de automotores, massagem para a terceira idade etc.); ambulatório; Bazar da Família (venda de produtos a preços simbólicos); Equipe de Costura; Creche do Morro do Papagaio (65 crianças); Creche Terra Nova (100 crianças); e Instituto Zilah Spósito (334 crianças e adolescentes em situação de risco).
De janeiro a novembro de 2009, a paróquia do Carmo arrecadou - através de dízimos, alugueis, doações e eventos - R$ 1.468.026,00 e gastou, com projetos sociais e despesas administrativas R$ 1.507.745,00 Tudo ali é transparente, como os serviços e a contabilidade.
No sínodo dos bispos em 1971, em Roma, um arcebispo africano apresentou a seus pares, por documentário, a liturgia em sua diocese. O filme mostrava um tronco de árvore, cortado quase rente à raiz, como altar. Em volta, negros de tanga tocando tambores e negras, com os seios à mostra, dançando na missa. Um cardeal romano protestou indignado: "Isto é uma blasfêmia. Não é a liturgia da Igreja." O africano reagiu calmamente: "Pode não ser a de Roma, mas da Igreja é. Porque se nós africanos tivéssemos evangelizado a Europa, a esta hora todos os senhores estariam dançando desnudos em volta do altar".
Esta a questão: a atividade pastoral de frei Cláudio Van Balen contradiz a Igreja Católica? Nem o próprio Jesus quis uniformidade em sua Igreja. Não são quatro os evangelhos? Vejam as brigas entre Pedro e Paulo na Carta aos Gálatas. A pluralidade de métodos de evangelização é uma riqueza. A tolerância, uma virtude. O diálogo, a via mais fácil para as pessoas se entenderem.
Nota da Redacção: A atitude do bispo de Belo Horizonte, contraria de modo terrível o discurso da Igreja Universal e de modo especial as homilias do Papa. Há excesso de zelo por todo o lado. Que pena mais uma parcela da Igreja dar outra vez este pobre testemunho!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

16 de Maio de 2010
Domingo da Ascensão de Jesus
A Ascensão
Santo Agostinho diz o seguinte sobre a Ascensão de Jesus: «Ele não abandonou o céu quando desceu até nós, e não nos abandonou quando subiu ao céu».
O que é a Ascensão de Jesus? - Tem a ver com a ideia difundida em todo o Evangelho, «Jesus subiu aos céus». Quer isto dizer o seguinte: «Jesus ressuscitou, foi glorificado e entrou na glória de Deus». Por outras palavras diríamos que Jesus voltou de onde tinha vindo.
O mistério da Ascensão, é o momento em que Jesus volta à casa do Pai, mas é também o momento em que toda a humanidade com ELe e Nele se vê elevada ao mais alto da dignidade. Isto é, em Jesus elevado ao céu toda a humanidade é tomada por Deus para se divinizar. E com esta ideia fica confirmada a palavra de Santo Ireneu quando diz o seguinte: «Em Jesus, tornamo-nos todos deuses». Parece forte esta expressão, mas revela-nos a densidade do amor de Deus encarnado na história concreta do mundo. Por isso, mais claro se torna para nós a visão de São Paulo: «Aquele que preenche tudo em todos». O todo de Jesus torna-se oferta para tudo e todos. Desta forma, participamos efectivamente da divindade de Jesus e tomamos parte da mesa do banquete da plenitude da graça que Deus concede a todos os que se deixam envolver pelo Seu amor.
José Luís Rodrigues

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Bento XVI e uma frase para a história

Nota da redacção: A Visita Papal a Portugal tem corrido bem, com pompa, organização bem montada, muita fé, muitos sorrisos de gente até aqui muito sisuda e com muita coisa bonita como é de esperar nestas ocasiões. Saliento os discursos que têm sido proferidos, muito interessantes, a merecerem um estudo e reflexão apurados. Gostei muito dos discursos do Papa e do cineasta Manuel de Oliveira no Centro Cultural de Belém, no encontro com os artistas. Porém, ficará para a história a frase. Esta frase sintomática, porque corajosa e lúcida, a revelar boa política e a meu ver augura novos céus e nova terra para a Igreja. Afinal, chegou ao fim a ideia de que todo o mal contra a Igreja só vinha de fora. Eles eram os diabos comunistas, os diabos dos homossexuais, os diabos dos maçónicos, os diabos dos jornalistas e etc. Era sempre a mesma táctica, o mal só podia vir de forma dos inimigos que a Igreja tinha elegido. Esperemos que muitos bons católicos aprendam com o Papa a saber olhar para dentro antes de diabolizar o exterior. Sempre pensei e rezo para que a Igreja não seja a mesma e tenha a coragem de mudar depois da vergonha dos escândalos de abusos sexuais levados a cabo por sacerdotes contra menores. Aguardemos em jubilosa esperança. (Adiante apresento um parágrafo do editorial do Público sobre este assunto).
Antes mesmo de pisar solo português, o Papa Bento XVI proferiu aquela que ficará como umas das declarações mais relevantes da sua visita a Portugal - e que logo teve eco na imprensa internacional, com destaque para o New York Times. Referindo-se aos casos de pedofilia que envolvem membros do clero, disse claramente: "Sempre o soubemos, mas agora vemo-lo de forma mais aterradora, que a maior perseguição à Igreja não vem dos inimigos no exterior mas nasce do pecado da Igreja". Não pôs de parte a existência de ataques "do exterior", mas relativizou-os, afirmando de forma inequívoca que a Igreja Católica tem uma "profunda necessidade" de "aprender o perdão e a necessidade da justiça", sendo que o primeiro não substitui a segunda. Com isto, Bento XVI quis "resolver" logo no início uma polémica que se adivinhava poder vir a ensombrar a viagem, e, ao mesmo tempo, deixar claro perante crentes e não crentes que a sua disposição é a de não pactuar com práticas inadmissíveis nem com os discursos de vitimização que outros ensaiaram para as iludir. Olhar de frente o problema, encará-lo, é o caminho. Muitos tinham-no sugerido, Bento XVI disse-o agora, sem hesitações. De forma tão clara que o mundo certamente lhe agradecerá.
in 2º parágrafo do editorial do Público

A letra do Hino Nacional foi actualizada...

Nota da redacção: Para descontrair um pouco ou para levar a sério? - Melhor será rir, porque rir é o melhor remédio...
A letra do Hino Nacional foi actualizada...
Só falta mesmo a música, promulgá-la e publicá-la no Diário da República….

HERÓIS DO MAL
POBRE POVO
NAÇÃO DOENTE
E MORTAL
EXPULSAI OS TUBARÕES
EXPLORADORES DE PORTUGAL
ENTRE AS BURLAS
SEM VERGONHA
Ó PÁTRIA
CALE-SE A VOZ
DESSA CORJA TÃO ATROZ
QUE HÁ-DE LEVAR-TE À MISÉRIA
P’RA RUA, P’RA RUA
QUEM TE ESTÁ A ANIQUILAR
P’RA RUA, P’RA RUA
OS QUE SÓ ESTÃO A CHULAR
CONTRA OS BURLÕES
LUTAR, LUTAR !

terça-feira, 11 de maio de 2010

TESTEMUNHO EM HORA DE DESPEDIDA

Nota da redacção: Só falta dizer que Nossa Senhora, a Mãe de todos, deve estar muito triste, porque os homens deste mundo, donos da sua imagem, não encontraram 5 minutos de tempo para que Ela entrasse no recinto da Igreja da Ribeira Seca, mas por força maior, que os tais homens fortes deste mundo não têm mão, está retida há quase um dia no aeroporto do Funchal. Porque será?
Por estes dias de Maio, ajoelho as minhas palavras aos pés da Senhora que veio com a Imagem Peregrina.
Não tenho nada para lhe oferecer para a viagem. Não sei bordar as palavras para lhe agradecer a Visita. Não me ocorrem metáforas novas para contar o que se experimentou, desde Outubro até agora, nestas duas rochas que se erguem do mar.
Ao papel de hoje, chegam-me desenhos de flores e de velas, de panos brancos a dançar no vento, de terços desfiados nos dedos que trabalharam a terra, que foram à faina da pesca, que prepararam a mesa, que abraçaram os filhos, que seguraram as dores, que limparam as lágrimas.
Não tenho mais nada. Apenas os recados que disse ao ouvido de Maria, quando ela cruzou o Seu coração com o meu. Apenas o abraço que Ela me ofereceu quando me obrigou a parar, a ouvir o silêncio e a iluminar a minha noite com a luz que segurei nas mãos.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela falou-me de um Sim dito em silêncio, de uma entrega sem limites. Falou-se de um Anjo e de um Deus que quis peregrinar ao meu lado. Falou de um Menino que nasceu sem nada, que cresceu, que falou de Amor, que acalmou o mar e que me pediu que O seguisse. Falou de um Homem que me pegou ao colo, que me abraçou na cruz, que me mostrou que a morte tem nome de esperança.
Se lhe pedi milagres? Pedi.
E Ela ensinou-me a acreditar: “Fazei o que Ele vos disser!”. Apontou-me o céu e disse que a minha vida tinha de ser forte como as rochas desta ilha e doce como as areias do Porto Santo. Ensinou-me a olhar para as pontes que o Seu manto teceu, quando as comunidades se juntaram para receber a Sua Imagem. Ensinou-me a olhar para uma diocese unida na oração do terço. Ensinou-me a olhar para as lágrimas que lavavam os medos de cada pessoa que lhe tocava e a quem Ela chamava - filho.
Foram sete meses de Maio neste arquipélago. A Imagem vai pesada de nós: leva a festa e leva o luto, leva-nos, embrulhados naquele olhar que Deus iluminou e que Ela deixou escorregar, em contas de luz, sobre as nossas mãos.
A Imagem vai. Fica a Mãe. E a Mensagem que trouxe.
Desta visita, guardarei no chão do meu peito, a certeza de que nunca ficarei sozinha. Porque a Mãe estará onde eu estiver: na praça, na escola, na igreja, na prisão e no hospital.
A Imagem Peregrina leva o que somos: um arquipélago que olha o céu com olhos de verde e de basalto, que marca os seus passos no areal e que é capaz de dar as mãos e de acreditar em milagres.
Não tenho mais nada. Apenas a voz das gentes, - Santa Maria, rogai por nós!
E um lenço branco que leva escrito muito obrigada!
Graça Alves

Excomunhão e Anátema

Nota: a pedido de várias famílias, publicamos uma nota sobre a palavra excomunhão e Anátema. Pessoalmente, faz uma certa impressão ter que falar-se desta prática na Igreja Católica, que deve ser sempre inclusiva para quem quer livremente pertencer à Igreja, não querendo, deverá ser respeitada, em absoluto, a sua vontade. Porém, colocando-se fora, por opção própria, não deve atrapalhar os outros que desejem participar. Outra coisa impressionante é saber-se que a Igreja Católica, aplica sanções (castigos) sem julgamento nenhum, de forma imediata sem qualquer possibilidade do contraditório. Tudo muito anti evangélico. Ficam as notas para reflexão.
Excomunhão
Excomunhão é uma punição religiosa utilizada para se retirar ou suspender um crente de uma filiação ou comunidade religiosa. A palavra significa literalmente colocar [alguém] fora da comunhão. Em algumas religiões, excomunhão inclui condenação espiritual do membro ou grupo.
Anátema
Vamos à definição da palavra Anátema para clarificar o conceito de excomunhão.
Anátema (do grego antigo ἀνάϑημα, "oferta votiva" e, depois, ἀνάϑεμα, "maldição"; derivadas de ἀνατίϑημι, "dedicar") era, na Grécia Antiga, uma oferenda posta no templo de uma deidade, constituída inicialmente por freutas ou animais e, posteriormente, por armas, estátuas, etc. Seu objectivo era agradecer por uma vitória ou outro evento favorável. No Cristianismo, é uma sentença de excomunhão da Igreja. A base bíblica da excomunhão é a anátema. As referências são encontradas em Gálatas 1, 8 - "Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo vindo do céu - vos anunciasse um Evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema!" Então, também, 1 Coríntios 16, 23 - "Se alguém não amar ao Senhor, seja anátema." A palavra pode ser traduzida de várias maneiras, alguns traduzem como amaldiçoado. O Novo Testamento contém limitados exemplos de excomunhão. Jesus, em Mateus 18, 17, "Se há recusa em ouvi-los, diz à Igreja. E se recusar ouvir também a Igreja, seja ele para ti como um pagão e um publicano". Na epístola aos Romanos 16, 17, Paulo escreve para "marcar aqueles que causam divisões contrárias à doutrina que vos tenho ensinado", e em 1 Coríntios 5, ele instrui os coríntios para expulsar os membros imorais da sua comunidade. Além disso, na 2João, versículos 10 e 11, o escritor aconselha: "Por isso, quando eu for aí, hei-de recordar as obras que ele pratica, espalhando contra nós coisas más. Não contente com isto, ele não só recusa receber os irmãos, como até proíbe de recebê-los aos que quereriam fazer, e os exclui da comunidade".
Anátema foi utilizado também no início da igreja como uma forma de sanção extrema além da excomunhão. O primeiro exemplo foi gravado em 306 d. C.. Na Igreja Católica é uma das maiores penas que um fiel pode receber da Igreja. O fiel excomungado fica proibido de receber os Sacramentos e de fazer alguns actos Eclesiásticos. A excomunhão faz parte das censuras no Código de Direito Canónico, sendo uma das três mais duras e severas.
A excomunhão então é uma disciplina que tem um sentido medicinal, ou seja, uma oportunidade de um afastamento das pessoas envolvidas no aborto, da comunhão de todos os bens espirituais que a Igreja oferece, para que as mesmas repensem a sua atitude, e na dimensão do arrependimento, busquem a confissão e a sanação da pena, para retornar à comunhão com o Senhor e com a Igreja: “Se reconhecemos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”. (Cf. 1Jo 1, 9).
Casos para a Excomunhão da Igreja Católica
O Código de Direito Canónico prevê desde 1983 nove casos para a pena de excomunhão:

1. Profanação das espécies sagradas;
2. Violência física contra o Pontífice;
3. Absolvição por um sacerdote do cúmplice do pecado da carne;
4. Consagração ilícita de um bispo sem mandato pontifical;
5. Violação directa do segredo da Confissão;
6. Apostasia (renegar a fé ou afastar-se da doutrina que professava…);
7. Hersia (professar uma fé ou doutrina contrária à que está estabelecida);
8. Cisma (separação ou divisão de um corpo geralmente religioso);
9. Aborto. Na Igreja Católica, a excomunhão, consiste em excluir ou expulsar oficialmente um membro religioso. Sanção religiosa máxima que separa um membro transgressor da comunhão da comunidade religiosa. O mesmo que desassociação em outras religiões. Pode ser aplicada a uma pessoa individual ou aplicada colectivamente.

Tipos de excomunhão católica:
1. Excomunhão ferendae sententiae - A que é decretada pela autoridade eclesiástica, aplicando a pessoa ou pessoas determinadas as sanções que a religião tem estabelecidas como condenação da falta cometida.
2. Excomunhão latae sententiae - Aquela em que o fiel incorre no momento que comete a falta previamente condenada pela religião.
3. Excomunhão de participantes - Aquela em que incorrem os que se associam com o excomungado declarado ou público.
4. Excomunhão menor - É limitada apenas à privação dos sacramentos.
5. Excomunhão maior - É aplicada contra os cristãos que têm incorrido em heresia ou em determinados pecados de escândalo, privando o excomungado de receber e administrar os sacramentos, de assistir aos ofícios religiosos, da sepultura eclesiástica, dos sufrágios da religião, de toda dignidade eclesiástica, do relacionamento com os demais fiéis, etc. Quando a Excomunhão Maior se pronuncia solenemente ou num concílio e vai contra a heresia, chama-se também anátema, ou seja, os excomungados são considerados amaldiçoados.
Baseado na Wikipédia, a enciclopédia livre.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O 'pecado' da Ribeira Seca

In Diário de Notícias do Funchal, 10-05-2010
Vergonhoso! É esta a melhor definição para o que aconteceu, este fim-de-semana, na Ribeira Seca. Todo o enredo que rodeou a visita da imagem peregrina é, aliás, digno de uma espécie de realismo mágico à moda da América Latina. Uma santa, padres e um povo que se sente ostracizado por uma Igreja autista e pouco justa.
Pelo meio, uma suspensão 'ad divinis' que se perde no tempo, sem condenação ou redenção e com política à mistura.
Não fosse risível, tudo isto seria trágico. E trágico para quem? Não para os padres, com certeza, mas para o povo que acredita.
Visto de fora, o episódio até pode parecer de pouco interesse, uma discussão de paróquia em torno de uma imagem de barro.
Mas não é assim para quem tem fé. E, neste prisma, se houve alguém a quem a Diocese e os seus padres ofenderam não foi o padre Martins, mas sim o povo da Ribeira Seca. Esse povo que, pela devoção, constitui a verdadeira Igreja. Esse povo que merecia mais respeito e cuja crença não se compadece com brigas de sacristia. É claro que vão começar a chover versões e explicações para o que aconteceu. Se calhar até chovem críticas e condenações à comunicação social, como é tradição. Mas o 'pecado' cometido na Ribeira Seca tem raízes mais profundas do que a retórica que apenas serve para atirar água benta aos olhos.
Raquel Çonçalves
Nota: com devida vénia…

domingo, 9 de maio de 2010

Código de Amor do século XII

I
A alegação do casamento não é desculpa legítima contra o amor.
II
Quem não sabe esconder não sabe amar.
III
Ninguém se pode dar a dois amores.
IV
O amor pode sempre crescer ou diminuir.
V
O que o amante arranca pela força ao outro amante não tem sabor.
VI
O homem não ama, normalmente, senão em plena puberdade.
VII
Prescreve-se a um dos amantes, por morte do outro, um luto de dois anos.
VIII
Ninguém, em amor, deve ser privado do seu direito sem uma razão mais que suficiente.
IX
Ninguém pode amar se não estiver imbuído da persuasão de amor (da esperança de ser amado).
X
O amor, habitualmente, é expulso de casa pela avareza.
XI
Não é conveniente amar aquela a quem se teria vergonha de desejar em casamento.
XII
O amor verdadeiro não tem desejo de carícias, a não ser que venham de quem ama.
XIII
Amor divulgado raramente dura.
XIV
O êxito demasiado fácil não tarda a tirar o seu encanto ao amor; os obstáculos aumentam-lhe o preço.
XV
Toda a pessoa que ama empalidece ao ver quem ama.
XVI
Ao ver-se imprevistamente aquele a quem se ama, estremece-se.
XVII
Novo amor expulsa o antigo.
XVIII
Só o mérito torna digno de amor.
XIX
O amor que se extingue decai rapidamente e raramente se reanima.
XX
O apaixonado está sempre receoso.
XXI
A afeição de amor cresce sempre com os ciúmes verdadeiros.
XXII
A afeição de amor cresce com a suspeita e com os ciúmes que derivam dela.
XXIII
Menor dorme e menos come aquele a quem atormenta um pensar de amor.
XXIV
Todas as acções do amante terminam pensando no que ama.
XXV
O amor verdadeiro não acha bem senão o que sabe que agrada a quem ama.
XXVI
O amor não pode recusar nada ao amor.
XXVII
O amante não pode saciar-se de fruir do que ama.
XXVIII
Uma fraca presunção faz com que o amante suspeite coisas sinistras em quem ama.
XXIX
O excessivo hábito dos prazeres impede o nascimento do amor.
XXX
Uma pessoa que ama está ocupada assídua e ininterruptamente pela imagem de quem ama.
XXXI
Nada impede que uma mulher seja amada por dois homens, e um homem por duas mulheres.
André, capelão francês do séc. XII, citado por Stendhal (Do Amor)

sábado, 8 de maio de 2010

Sobre o avô

O meu avô era um figurão de homem. Sempre me lembro dele.
O seu carinho. O Seu afecto. A sua paz interior. O seu sorriso. A sua bondade. Nada nele escapava à ternura e ao amor por todos.
Um homem completo. Diríamos que era um «homem dos sete ofícios». Sabia tirar dentes. Sabia cortar os cabelos. Sabia esterilizar (capar) os porcos e os cabritos. Um agricultor de primeira. Um tratador de animais como poucos. Pois, então, uma só palavra, um artista.
As solicitações não paravam a todas as horas do dia e da noite. E estava o avô José ou o de «cima» - era a sua alcunha, o José de Cima ou o tio de cima, como toda a gente sabia pronunciar com todo o respeito – mas, de cima, porquê? - Porque um pouco em baixo residia outro familiar do meu avô (um irmão) chamado de «baixo» ou tio de baixo, como toda a gente o tratava nas redondezas. Estamos perante duas famílias, os de cima e os de baixo. Nada mau, para trato num ambiente rural, onde podiam surgir as alcunhas muito graves. E assim se faziam os sítios da nossa terra, as figuras emblemáticas existiam e todos nutriam por elas um respeito sagrado.
Mas, aparte estes considerandos. Gostaria mais de destacar a figura sublime do avô. Um homem lindo de morrer. O seu rosto enrugado aqui e ali, uma barba branca da cor da neve, os cabelos, já muito poucos por sinal, mas reflectiam uma brancura transcendente. O seu estilo na forma como sugava o cigarrinho Santa Maria, aproveitado até à exaustão, elevava para a admiração. O seu acto de fumar era um cerimonial, um acto feito de prazer e alegria pela vida. Então era vê-lo nas tardes de Domingo, na entrada da casa, bordão na mão direita e o cigarrinho Santa Maria na outra, a ser gostosamente fumado com o delírio da festa, que eram as tardes de Domingo nos recantos dos caminhos.
Por isto tudo, o meu avô fica na memória e nunca mais deixará de ser uma figura da minha infância. Nos momentos de maior cansaço, tristeza ou desânimo, regresso a ele e nele e por ele encontro outra luz e outra vontade para caminhar. Desta forma, acredito na eternidade. Mais acredito que a ternura, os simples gestos dos avós marcam para sempre as novas gerações. Só assim se percebe que o amor é eterno. Esta é a melhor herança que os avós poderão deixar.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Tive um sonho….

Nota: Faço minhas estas palavras do Bispo D. Januário Torgal Ferreira. Afinal, ainda há oásis neste deserto. E como vale sempre a pena sonhar militantemente...
Sonhei que o Papa nunca seria mais considerado Chefe de Estado, após ter alienado o território do seu domínio temporal, dispensado a força militar suíça, os múltiplos eclesiásticos de carreira, à sua volta, e após doar os edifícios do Vaticano para trabalhos de reflexão e desenvolvimento da Igreja, a serviço do mundo, ter-se-ia reservado um espaço de dimensões mais normais e simples. Longe de prisioneiro dum “resort”, tornou-se habitante dum mundo mais humano e próximo, sem hauras míticas.
Sonhei que as solicitações pastorais, desde os altos das montanhas até ao alongado dos vales, com capelinhas brancas e Igrejas de todo e qualquer volume, deixariam de ser campânulas a mendigar multidões de pastores, de acordo com imponências de “marketing”: “quantos mais, melhor”, à semelhança de avanços guerreiros.
E, com os meus botões, lá fui cogitando que o único necessário era a qualidade da luz, mesmo se nascida de um toco de luminária, sem pretensões nem altura. Tanta gente, apesar de cada vez menos! Mas a capacidade para dar esperança e saber? E o entusiasmo não estragado pela esterilidade dos interesses? E o ter gosto pelo que se é, pelo que se propõe, pelo que se constrói? Armazém de multidões? Ou a ligeira noz sobre as águas, com alguns a dormitar na barca, mas, pelo menos, um desperto pela qualidade?
Sonhei que os lugares mais escondidos, os quais nunca se mostram pela vulgaridade, tristeza e abjecções que encerram (capelas imperfeitas…de humanidade), seriam visitadas pelo doce Rabi da Galileia – como me habituei sempre a voltar ao “Suave Milagre” de Eça de Queirós…! Fica sempre muito longe a dor. Mora, para além das serras, a desdita.
Fica muito mais à mão o imediato, o empolgamento, as palmas e as emoções, o barulho e a festa. E as pessoas que se mostram e que guardarão sempre um “pró-memória” de que, no banquete, tiveram os primeiros lugares.
Sonhei que muitos divorciados recasados tiveram a dita de ser compreendidos no drama da sua ruptura, e de por fim, sem o solicitarem, terem obtido uma declaração de nulidade de um casamento de que foram protagonistas, no qual saborearam a amargura da inexistência e do sem sentido.
Sonhei que, afinal de contas, a simplicidade era a forma mais importante da apresentação e que títulos e condecorações, fardas (eclesiásticas e congéneres…) e bandas largas punham mais à vista o que não movia o verdadeiro mundo das mulheres e dos homens.
Sonhei que era muito mas singular estudar do que fazer nada, organizar do que gastar o tempo na dispersão, ouvir alguém do que lhe gritar aos ouvidos, aprender do que estar convencido, sentir-me bem do que comer e respirar tédio.
Sonhei que santos passavam por mim todos os dias, sem processos nem brios de agremiação, sempre receosos de que descobríssemos a originalidade nos desarrumos do mais banal.
Sonhei que os aflitos e os pobres tinham um defensor em cada crente e que o voto feito em seu favor equilibrava a balança dos orçamentos e encontrava trabalho para cada braço.
Sonhei que o mundo se voltava para aquela mesma janela, que Goethe mandou entreabrir, ciciando: “Mais Luz”…
E, quando acordei, vi, de imediato, por que tinha sonhado tantas coisas: até altas horas escutei um mundo de gente que me encheu de perguntas sobre a quase chegada de Bento XVI a Portugal!
MDN, Capelania Mor, 7 Maio de 2010
Januário Torgal Ferreira
Bispo das Forças Armadas e de Segurança

O mundo virtual - só nas nossas cabeças

Nota: Este episódio, é muito interessante. Porque no nosso mundo actual, erroneamente apelidado de virtual, nada tem de virtual. Não sei quem é o autor deste texto. Obrigado a quem partilhou comigo esta mensagem, partilho-a agora com todos os meus leitores. É importante transmitir esta mensagem aos nossos jovens. Entrei apressado e com muita fome no restaurante. Escolhi uma mesa bem afastada do movimento, porque queria aproveitar os poucos minutos que dispunha naquele dia, para comer e acertar alguns bugs de programação num sistema que estava a desenvolver, além de planear a minha viagem de férias, coisa que há tempos que não sei o que são.
Pedi um filete de salmão com alcaparras em manteiga, uma salada e um sumo de laranja, afinal de contas fome é fome, mas regime é regime não é?
Abri o meu portátil e apanhei um susto com aquela voz baixinha atrás de mim: - Senhor, não tem umas moedinhas? - Não tenho, menino. - Só uma moedinha para comprar um pão. - Está bem, eu compro um.
Para variar, a minha caixa de entrada está cheia de e-mail. Fico distraído a ver poesias, as formatações lindas, rindo com as piadas malucas. Ah! Essa música leva-me até Londres e às boas lembranças de tempos áureos.
- Senhor, peça para colocar margarina e queijo. Percebo nessa altura que o menino tinha ficado ali. - Ok. Vou pedir, mas depois deixas-me trabalhar, estou muito ocupado, está bem? Chega a minha refeição e com ela o meu mal-estar. Faço o pedido do menino, e o empregado pergunta-me se quero que mande o menino ir embora. O peso na consciência, impedem-me de o dizer. Digo que está tudo bem. Deixe-o ficar. Que traga o pão e, mais uma refeição decente para ele.
Então sentou-se à minha frente e perguntou: - Senhor o que está fazer? - Estou a ler uns e-mail. - O que são e-mail? - São mensagens electrónicas mandadas por pessoas via Internet (sabia que ele não ia entender nada, mas, a título de livrar-me de questionários desses): - É como se fosse uma carta, só que via Internet. - Senhor você tem Internet? - Tenho sim, essencial no mundo de hoje. - O que é Internet ? - É um local no computador, onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, conhecer pessoas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. Tem de tudo no mundo virtual. - E o que é virtual? Resolvo dar uma explicação simplificada, sabendo com certeza que ele pouco vai entender e deixar-me-ia almoçar, sem culpas. - Virtual é um local que imaginamos, algo que não podemos tocar, apanhar, pegar... é lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer. Criamos as nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse. - Que bom isso. Gostei! - Menino, entendeste o significado da palavra virtual? - Sim, também vivo neste mundo virtual. - Tens computador?! - Exclamo eu!!! - Não, mas o meu mundo também é vivido dessa maneira...Virtual.
A minha mãe fica todo dia fora, chega muito tarde, quase não a vejo, enquanto eu fico a cuidar do meu irmão pequeno que vive a chorar de fome e eu dou-lhe água para ele pensar que é sopa, a minha irmã mais velha sai todo dia também, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, porque ela volta sempre com o corpo, o meu pai está na cadeia há muito tempo, mas imagino sempre a nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu a estudar na escola para vir a ser um médico um dia. Isto é virtual não é senhor???
Fechei o portátil, mas não fui a tempo de impedir que as lágrimas caíssem sobre o teclado. Esperei que o menino acabasse de literalmente 'devorar' o prato dele, paguei, e dei-lhe o troco, que me retribuiu com um dos mais belos e sinceros sorrisos que já recebi na vida e com um 'Brigado senhor, você é muito simpático!'.
Ali, naquele instante, tive a maior prova do virtualismo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel nos rodeia de verdade e fazemos de conta que não percebemos!

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Chama de Amor Viva

I.
Ó chama de amor viva,
que ternamente feres
dessa minha alma o mais profundo centro!
Se já não és esquiva, acaba já, se queres,
ah! Rompe a tela desse doce encontro!
II.
Ó cautério suave!,
ó regalada chaga!,
ó mão tão leve, ó toque delicado!,
que a vida eterna sabe,
a dívida selada!
Matando, a morte em vida transformada.
III.
Ó lâmpadas de fogo,
em cujos resplendores
as profundas cavernas do sentido,
que estava escuro e cego,
com estranhos primores
calor e luz dão juntos ao seu Querido!
IV.
Quão manso e amoroso
despertas em meu seio,
lá onde tu secretamente moras,
nesse aspirar gostoso
de bem e glória cheio,
quão delicadamente me enamoras!
São João da Cruz

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo, 9 de Maio de 2010
O Paráclito
O Paráclito é o defensor. O advogado de defesa, se quisermos um conceito mais próximo dos nossos dias.
Nos tempos da vida prática de Jesus alguns julgamentos eram realizados do seguinte modo. Reuniam uma grande assembleia para julgar alguma pessoa que tivesse cometido algum crime. O juiz que presidia ao julgamento em determinado momento perguntava a assembleia se haveria alguém disposto a defender o criminoso, se alguém se levantasse, saía do seu lugar e colocava-se ao lado do réu, esta pessoa assumia a sua defesa, por isso, recebia a designação do Paráclito.
Jesus, ao falar do Espírito Santo, apresentando-o como defensor dos seus discípulos, pegou na figura do Paráclito, para ensinar o que seria o Espírito Santo, o defensor de todos os que assumissem a missão do anúncio do Reino de Jesus. Este é o único Espírito que salva e que pode dar garantias de futuro. Nada nos deve demover desta causa. O Espírito de Deus é um caminho de salvação que nos garante uma possibilidade de graça salvadora.
Somos, então, chamados a não deixarmos que esse espírito do mundo nos conduza para essas formas de vida pouco digna e pouco eficaz para a verdadeira construção do Reino de Deus.
Jesus, revela-nos a verdadeira palavra, a Palavra de Deus, e com ela somos convocados para o acolhimento do Espírito Santo. Este é o único Espírito que salva e que pode dar garantias de futuro. Nada nos deve demover desta causa. O Espírito de Deus é um caminho de salvação que nos garante uma possibilidade de graça salvadora. Nada nem ninguém nos pode contrariar nem desviar desta luz de amor revelada por Jesus Cristo.
E como nos ensina o nosso Mestre, não há outro caminho ou outro modo de construir a paz. É saboroso escutar esta palavra: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo». A paz e o amor são sempre os valores principais da fé cristã. É preciso amar a Deus, na pessoa de Cristo para tornar presente na vida a Sua palavra salvadora.

terça-feira, 4 de maio de 2010

«Dou-vos a Minha paz»

Nota: Aí está um texto tirado de um Tratado Espiritual do Séc. XV, com uma actualidade deveras impressionante e que deve encher de coragem todos aqueles e aquelas, que em todos os lugares da vida e da sociedade, se lançam, na luta pela justiça e pela verdade. Não podemos ser «frios ou mornos».
Grande paz poderíamos alcançar se nos não quiséssemos ocupar das palavras e dos actos alheios e do que não nos diz respeito. Como poderá permanecer em paz aquele que interfere nos problemas dos outros, que busca o que é exterior e pouco ou muito raramente se recolhe? Felizes os simples, porque terão grande paz.
Por que razão qualquer dos santos foi tão perfeito e contemplativo? Porque a todo o momento eles matavam em si os desejos do mundo, de todo o coração pertenciam a Deus e então livremente se ocupavam de si. Mas nós ocupamo-nos muito das nossas paixões e daquilo que passa. Raramente vencemos por completo um defeito, e não conseguimos um progresso diário: assim nos mantemos frios ou mornos.
Se estivéssemos completamente mortos para nós próprios e mais livres por dentro, saberíamos o gosto do divino e alguma coisa da contemplação do Céu. O nosso maior e único obstáculo é não estarmos livres de paixões e desejos e não nos esforçarmos por entrar na perfeita via dos santos. Quando nos sucede qualquer adversidade, imediatamente desanimamos e voltamos às consolações humanas.
Se nos mantivermos quais homens fortes no combate, depressa veremos sobre nós o auxílio de Deus. Na verdade, Ele está pronto a ajudar os que combatem e esperam na Sua graça, pois é Quem nos favorece as ocasiões de lutar, para que vençamos. [...] (destaque nosso).
Oh, soubesses tu quanta paz para ti e alegria para os outros a tua vida santa causaria, julgo que terias mais ardor no teu progresso espiritual.
Imitação de Cristo, tratado espiritual do século XV Livro 1, cap. 11
Imagem tirada de: macarrao2.blog.uol.com.br/images/coragem.jpg