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Convite a quem nos visita

sábado, 31 de dezembro de 2011

Fim e princípio

1.
Esse limiar que diz fim na hora do adeus
Faz pensar no horizonte do princípio
Que as convenções ditaram na origem do tempo.
2.
Ninguém se fica indiferente ao que acabou
E nos braços do incerto acredita sem pranto
Que o futuro sabe de nós na alegria do sorriso.
3.
Todos brindam no princípio do sémen da luz
E o fogo estala o prazer da festa dos dias
Que se finaram no gosto seguro destes começos.
4.
Então sem dramas um olhar diz mais do interior
Sempre enfeitado no deslumbramento da fé
Que se colheu nos céus da esperança e da vida.
5.
Não nos deixemos perdidos na busca do nada
O pensar dita o desejo de mais e melhor com Deus
Que se faz presente na vertigem do mistério.
6.
Não fora maus augúrios e vã perdição do mundo
Não diria nunca a inumanidade da fome e da guerra
Que em cada um não se faz querer mas ditam os ódios.
7.
Então o fim se faz nobre em despedida solene
No mesmo tempo e espaço deste princípio
Que as miríades de estrelas desvelam na paz.
8.
Neste desejo canto o agora e o depois
Em serenidade renovada no calor da amizade
Que o sempre novo edifica na intensidade do amor.
José Luís Rodrigues
Imagem Google...

«Não tenhais medo» - Blogosfera

Nota do autor do blogue: face à chegada do ano de 2012, com todos os anúncios catastrofistas a todos os níveis, incluíndo o reincindente fim do mundo, somos levados a retemperar forças, coragem e vontade de viver sem qualquer sombra de medo... Não nos desconcentremos do essencial e do importante. A vida sem crise, sem sacrifícios, sem desafios, sem dificuldades não tem muita graça. São estas condicionantes que aguçam a criatividade, a amizade, a solidariedade e todos os valores que embelezam a vida deste mundo. Por isso, sem medo do futuro vamos adiante seguros nas nossas capacidades e convíctos na esperança. Afinal, sem medo de nada nem de ninguém... Um abraço a todos os meus leitores e um ano de 2012 muito feliz no alicerce das dificuldades que seremos capazes de vencer se nos unirmos no interesse da justiça e do bem comum... Deixo aqui este testemunho muito interessante sobre o deslumbramento do mundo novo que Deus nos ofereceu no domínio da comunicação. Palavras que faço minhas integralmente, porque são uma bela resposta a todas as investidas ocas que ainda pairam em alguma Igreja Católica contra o mundo novo da blogosfera.
«Não tenhais medo»
Estas palavras marcam o início do Pontificado de Sua santidade o Papa João Paulo II. São palavras que constituem hoje para mim um enorme desafio e um convite à desinstalação. São palavras que me têm conduzido, nomeadamente nos mais de 5 anos que levo já a escrever em blogues.
O mundo dos blogues e das demais redes sociais – facebook, twitter, etc. –, apesar de virtual, captou já a atenção dos mais jovens e é, para muitos, a forma de comunicação por excelência.
Sem obrigatoriedade de mostrar a cara e sem que ninguém exija identificação, as redes sociais acolhem, só em Portugal, centenas de milhares de jovens, ansiosos por comunicar. E se é verdade que muitos são eles próprios fontes de comunicação, não são menos os recetáculos de informação; à espera de uma Boa Notícia.
Este constituirá, hoje, o principal motivo para que eu continue a alimentar, decorridos mais de 5 anos, um blogue. Um blogue de cariz essencialmente social e político, no qual tento dar, nos mais diversos assuntos, uma perspetiva cristã.
A tarefa é difícil e tem adversários poderosos, como sejam o politicamente correto, uma comunicação social adversa, políticos sem coragem e incapazes de dar testemunho, as ideias feitas, o facilitismo, a atratividade das novas filosofias de vida e a cada vez maior incapacidade de aceitar as dificuldades da vida e o sofrimento.
Acresce a isto o amadorismo com que os católicos comunicaram nas últimas décadas, com um discurso pouco atrativo e, muitas vezes, obscurantista.
Nos últimos anos, porém, a situação tem vindo a inverter-se. A recente visita de S.S. o Papa Bento XVI a Portugal é disso exemplo, tendo apostado numa comunicação profissional e eficaz. Considero que a presença de católicos nas redes sociais, nomeadamente nos blogues, é essencial e, nos próximos anos, obrigatória. A sua ausência, nos últimos anos, permitiu que uma minoria ateia e anti-clerical conseguisse impor as suas ideias. O resultado está à vista: aborto, casamento homossexual e (quase) a eutanásia.
A perseguição dos cristãos e o martírio foram profetizados. Isto não implica, porém, que percamos por falta de comparência. A Boa Notícia – o imenso Amor de Deus por todos – tem que ser dada. Como disse S.S. o Papa Bento XVI, no encontro que teve em Portugal com o mundo da Cultura: “Fazei coisas belas, mas, sobretudo, fazei das vossas vidas lugares de beleza.”
Rui Castro
Jurista
In Observatório da Cultura, n.º 14 (Novembro 2010)
Imagem Google...

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Os jovens a justiça e paz

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI PARA A CELEBRAÇÃO DO XLV DIA MUNDIAL DA PAZ
1 DE JANEIRO DE 2012 EDUCAR OS JOVENS PARA A JUSTIÇA E A PAZ
1. O INÍCIO DE UM NOVO ANO, dom de Deus à humanidade, induz-me a desejar a todos, com grande confiança e estima, de modo especial que este tempo, que se abre diante de nós, fique marcado concretamente pela justiça e a paz.
Com qual atitude devemos olhar para o novo ano? No salmo 130, encontramos uma imagem muito bela. O salmista diz que o homem de fé aguarda pelo Senhor « mais do que a sentinela pela aurora » (v. 6), aguarda por Ele com firme esperança, porque sabe que trará luz, misericórdia, salvação. Esta expectativa nasce da experiência do povo eleito, que reconhece ter sido educado por Deus a olhar o mundo na sua verdade sem se deixar abater pelas tribulações. Convido-vos a olhar o ano de 2012 com esta atitude confiante. É verdade que, no ano que termina, cresceu o sentido de frustração por causa da crise que aflige a sociedade, o mundo do trabalho e a economia; uma crise cujas raízes são primariamente culturais e antropológicas. Quase parece que um manto de escuridão teria descido sobre o nosso tempo, impedindo de ver com clareza a luz do dia.
Mas, nesta escuridão, o coração do homem não cessa de aguardar pela aurora de que fala o salmista. Esta expectativa mostra-se particularmente viva e visível nos jovens; e é por isso que o meu pensamento se volta para eles, considerando o contributo que podem e devem oferecer à sociedade. Queria, pois, revestir a Mensagem para o XLV Dia Mundial da Paz duma perspectiva educativa: « Educar os jovens para a justiça e a paz », convencido de que eles podem, com o seu entusiasmo e idealismo, oferecer uma nova esperança ao mundo.
A minha Mensagem dirige-se também aos pais, às famílias, a todas as componentes educativas, formadoras, bem como aos responsáveis nos diversos âmbitos da vida religiosa, social, política, económica, cultural e mediática. Prestar atenção ao mundo juvenil, saber escutá-lo e valorizá-lo para a construção dum futuro de justiça e de paz não é só uma oportunidade mas um dever primário de toda a sociedade.
Trata-se de comunicar aos jovens o apreço pelo valor positivo da vida, suscitando neles o desejo de consumá-la ao serviço do Bem. Esta é uma tarefa, na qual todos nós estamos, pessoalmente, comprometidos.
As preocupações manifestadas por muitos jovens nestes últimos tempos, em várias regiões do mundo, exprimem o desejo de poder olhar para o futuro com fundada esperança. Na hora actual, muitos são os aspectos que os trazem apreensivos: o desejo de receber uma formação que os prepare de maneira mais profunda para enfrentar a realidade, a dificuldade de formar uma família e encontrar um emprego estável, a capacidade efectiva de intervir no mundo da política, da cultura e da economia contribuindo para a construção duma sociedade de rosto mais humano e solidário.
É importante que estes fermentos e o idealismo que encerram encontrem a devida atenção em todas as componentes da sociedade. A Igreja olha para os jovens com esperança, tem confiança neles e encoraja-os a procurarem a verdade, a defenderem o bem comum, a possuírem perspectivas abertas sobre o mundo e olhos capazes de ver « coisas novas » (Is 42, 9; 48, 6).
Os responsáveis da educação
2. A educação é a aventura mais fascinante e difícil da vida. Educar – na sua etimologia latina educere – significa conduzir para fora de si mesmo ao encontro da realidade, rumo a uma plenitude que faz crescer a pessoa. Este processo alimenta-se do encontro de duas liberdades: a do adulto e a do jovem. Isto exige a responsabilidade do discípulo, que deve estar disponível para se deixar guiar no conhecimento da realidade, e a do educador, que deve estar disposto a dar-se a si mesmo. Mas, para isso, não bastam meros dispensadores de regras e informações; são necessárias testemunhas autênticas, ou seja, testemunhas que saibam ver mais longe do que os outros, porque a sua vida abraça espaços mais amplos. A testemunha é alguém que vive, primeiro, o caminho que propõe.
E quais são os lugares onde amadurece uma verdadeira educação para a paz e a justiça? Antes de mais nada, a família, já que os pais são os primeiros educadores. A família é célula originária da sociedade. « É na família que os filhos aprendem os valores humanos e cristãos que permitem uma convivência construtiva e pacífica. É na família que aprendem a solidariedade entre as gerações, o respeito pelas regras, o perdão e o acolhimento do outro ».[1] Esta é a primeira escola, onde se educa para a justiça e a paz.
Vivemos num mundo em que a família e até a própria vida se vêem constantemente ameaçadas e, não raro, destroçadas. Condições de trabalho frequentemente pouco compatíveis com as responsabilidades familiares, preocupações com o futuro, ritmos frenéticos de vida, emigração à procura dum adequado sustentamento se não mesmo da pura sobrevivência, acabam por tornar difícil a possibilidade de assegurar aos filhos um dos bens mais preciosos: a presença dos pais; uma presença, que permita compartilhar de forma cada vez mais profunda o caminho para se poder transmitir a experiência e as certezas adquiridas com os anos – o que só se torna viável com o tempo passado juntos. Queria aqui dizer aos pais para não desanimarem! Com o exemplo da sua vida, induzam os filhos a colocar a esperança antes de tudo em Deus, o único de quem surgem justiça e paz autênticas.
Quero dirigir-me também aos responsáveis das instituições com tarefas educativas: Velem, com grande sentido de responsabilidade, por que seja respeitada e valorizada em todas as circunstâncias a dignidade de cada pessoa. Tenham a peito que cada jovem possa descobrir a sua própria vocação, acompanhando-o para fazer frutificar os dons que o Senhor lhe concedeu. Assegurem às famílias que os seus filhos não terão um caminho formativo em contraste com a sua consciência e os seus princípios religiosos.
Possa cada ambiente educativo ser lugar de abertura ao transcendente e aos outros; lugar de diálogo, coesão e escuta, onde o jovem se sinta valorizado nas suas capacidades e riquezas interiores e aprenda a apreciar os irmãos. Possa ensinar a saborear a alegria que deriva de viver dia após dia a caridade e a compaixão para com o próximo e de participar activamente na construção duma sociedade mais humana e fraterna.
Dirijo-me, depois, aos responsáveis políticos, pedindo-lhes que ajudem concretamente as famílias e as instituições educativas a exercerem o seu direito-dever de educar. Não deve jamais faltar um adequado apoio à maternidade e à paternidade. Actuem de modo que a ninguém seja negado o acesso à instrução e que as famílias possam escolher livremente as estruturas educativas consideradas mais idóneas para o bem dos seus filhos. Esforcem-se por favorecer a reunificação das famílias que estão separadas devido à necessidade de encontrar meios de subsistência. Proporcionem aos jovens uma imagem transparente da política, como verdadeiro serviço para o bem de todos.
Não posso deixar de fazer apelo ainda ao mundo dos media para que prestem a sua contribuição educativa. Na sociedade actual, os meios de comunicação de massa têm uma função particular: não só informam, mas também formam o espírito dos seus destinatários e, consequentemente, podem concorrer notavelmente para a educação dos jovens. É importante ter presente a ligação estreitíssima que existe entre educação e comunicação: de facto, a educação realiza-se por meio da comunicação, que influi positiva ou negativamente na formação da pessoa.
Também os jovens devem ter a coragem de começar, eles mesmos, a viver aquilo que pedem a quantos os rodeiam. Que tenham a força de fazer um uso bom e consciente da liberdade, pois cabe-lhes em tudo isto uma grande responsabilidade: são responsáveis pela sua própria educação e formação para a justiça e a paz.
Educar para a verdade e a liberdade
3. Santo Agostinho perguntava-se: « Quid enim fortius desiderat anima quam veritatem – que deseja o homem mais intensamente do que a verdade? ».[2] O rosto humano duma sociedade depende muito da contribuição da educação para manter viva esta questão inevitável. De facto, a educação diz respeito à formação integral da pessoa, incluindo a dimensão moral e espiritual do seu ser, tendo em vista o seu fim último e o bem da sociedade a que pertence. Por isso, a fim de educar para a verdade, é preciso antes de mais nada saber que é a pessoa humana, conhecer a sua natureza. Olhando a realidade que o rodeava, o salmista pôs-se a pensar: « Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que Vós criastes: que é o homem para Vos lembrardes dele, o filho do homem para com ele Vos preocupardes? » (Sal 8, 4-5). Esta é a pergunta fundamental que nos devemos colocar: Que é o homem? O homem é um ser que traz no coração uma sede de infinito, uma sede de verdade – não uma verdade parcial, mas capaz de explicar o sentido da vida –, porque foi criado à imagem e semelhança de Deus. Assim, o facto de reconhecer com gratidão a vida como dom inestimável leva a descobrir a dignidade profunda e a inviolabilidade própria de cada pessoa. Por isso, a primeira educação consiste em aprender a reconhecer no homem a imagem do Criador e, consequentemente, a ter um profundo respeito por cada ser humano e ajudar os outros a realizarem uma vida conforme a esta sublime dignidade. É preciso não esquecer jamais que « o autêntico desenvolvimento do homem diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em todas as suas dimensões »,[3] incluindo a transcendente, e que não se pode sacrificar a pessoa para alcançar um bem particular, seja ele económico ou social, individual ou colectivo.
Só na relação com Deus é que o homem compreende o significado da sua liberdade, sendo tarefa da educação formar para a liberdade autêntica. Esta não é a ausência de vínculos, nem o império do livre arbítrio; não é o absolutismo do eu. Quando o homem se crê um ser absoluto, que não depende de nada nem de ninguém e pode fazer tudo o que lhe apetece, acaba por contradizer a verdade do seu ser e perder a sua liberdade. De facto, o homem é precisamente o contrário: um ser relacional, que vive em relação com os outros e sobretudo com Deus. A liberdade autêntica não pode jamais ser alcançada, afastando-se d’Ele.
A liberdade é um valor precioso, mas delicado: pode ser mal entendida e usada mal. «Hoje um obstáculo particularmente insidioso à acção educativa é constituído pela presença maciça, na nossa sociedade e cultura, daquele relativismo que, nada reconhecendo como definitivo, deixa como última medida somente o próprio eu com os seus desejos e, sob a aparência da liberdade, torna-se para cada pessoa uma prisão, porque separa uns dos outros, reduzindo cada um a permanecer fechado dentro do próprio “eu”. Dentro de um horizonte relativista como este, não é possível, portanto, uma verdadeira educação: sem a luz da verdade, mais cedo ou mais tarde cada pessoa está, de facto, condenada a duvidar da bondade da sua própria vida e das relações que a constituem, da validez do seu compromisso para construir com os outros algo em comum ».[4]
Por conseguinte o homem, para exercer a sua liberdade, deve superar o horizonte relativista e conhecer a verdade sobre si próprio e a verdade acerca do que é bem e do que é mal. No íntimo da consciência, o homem descobre uma lei que não se impôs a si mesmo, mas à qual deve obedecer e cuja voz o chama a amar e fazer o bem e a fugir do mal, a assumir a responsabilidade do bem cumprido e do mal praticado.[5] Por isso o exercício da liberdade está intimamente ligado com a lei moral natural, que tem carácter universal, exprime a dignidade de cada pessoa, coloca a base dos seus direitos e deveres fundamentais e, consequentemente, da convivência justa e pacífica entre as pessoas.
Assim o recto uso da liberdade é um ponto central na promoção da justiça e da paz, que exigem a cada um o respeito por si próprio e pelo outro, mesmo possuindo um modo de ser e viver distante do meu. Desta atitude derivam os elementos sem os quais paz e justiça permanecem palavras desprovidas de conteúdo: a confiança recíproca, a capacidade de encetar um diálogo construtivo, a possibilidade do perdão, que muitas vezes se quereria obter mas sente-se dificuldade em conceder, a caridade mútua, a compaixão para com os mais frágeis, e também a prontidão ao sacrifício.
Educar para a justiça
4. No nosso mundo, onde o valor da pessoa, da sua dignidade e dos seus direitos, não obstante as proclamações de intentos, está seriamente ameaçado pela tendência generalizada de recorrer exclusivamente aos critérios da utilidade, do lucro e do ter, é importante não separar das suas raízes transcendentes o conceito de justiça. De facto, a justiça não é uma simples convenção humana, pois o que é justo determina-se originariamente não pela lei positiva, mas pela identidade profunda do ser humano. É a visão integral do homem que impede de cair numa concepção contratualista da justiça e permite abrir também para ela o horizonte da solidariedade e do amor.[6]
Não podemos ignorar que certas correntes da cultura moderna, apoiadas em princípios económicos racionalistas e individualistas, alienaram das suas raízes transcendentes o conceito de justiça, separando-o da caridade e da solidariedade. Ora « a “cidade do homem” não se move apenas por relações feitas de direitos e de deveres, mas antes e sobretudo por relações de gratuidade, misericórdia e comunhão. A caridade manifesta sempre, mesmo nas relações humanas, o amor de Deus; dá valor teologal e salvífico a todo o empenho de justiça no mundo ».[7]
«Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados » (Mt 5, 6). Serão saciados, porque têm fome e sede de relações justas com Deus, consigo mesmo, com os seus irmãos e irmãs, com a criação inteira.
Educar para a paz
5. « A paz não é só ausência de guerra, nem se limita a assegurar o equilíbrio das forças adversas. A paz não é possível na terra sem a salvaguarda dos bens das pessoas, a livre comunicação entre os seres humanos, o respeito pela dignidade das pessoas e dos povos e a prática assídua da fraternidade ».[8] A paz é fruto da justiça e efeito da caridade. É, antes de mais nada, dom de Deus. Nós, os cristãos, acreditamos que a nossa verdadeira paz é Cristo: n’Ele, na sua Cruz, Deus reconciliou consigo o mundo e destruiu as barreiras que nos separavam uns dos outros (cf. Ef 2, 14-18); n’Ele, há uma única família reconciliada no amor.
A paz, porém, não é apenas dom a ser recebido, mas obra a ser construída. Para sermos verdadeiramente artífices de paz, devemos educar-nos para a compaixão, a solidariedade, a colaboração, a fraternidade, ser activos dentro da comunidade e solícitos em despertar as consciências para as questões nacionais e internacionais e para a importância de procurar adequadas modalidades de redistribuição da riqueza, de promoção do crescimento, de cooperação para o desenvolvimento e de resolução dos conflitos. « Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus » – diz Jesus no sermão da montanha (Mt 5, 9).
A paz para todos nasce da justiça de cada um, e ninguém pode subtrair-se a este compromisso essencial de promover a justiça segundo as respectivas competências e responsabilidades. De forma particular convido os jovens, que conservam viva a tensão pelos ideais, a procurarem com paciência e tenacidade a justiça e a paz e a cultivarem o gosto pelo que é justo e verdadeiro, mesmo quando isso lhes possa exigir sacrifícios e obrigue a caminhar contracorrente.
Levantar os olhos para Deus
6. Perante o árduo desafio de percorrer os caminhos da justiça e da paz, podemos ser tentados a interrogar-nos como o salmista: « Levanto os olhos para os montes, de onde me virá o auxílio? » (Sal 121, 1).
A todos, particularmente aos jovens, quero bradar: « Não são as ideologias que salvam o mundo, mas unicamente o voltar-se para o Deus vivo, que é o nosso criador, o garante da nossa liberdade, o garante do que é deveras bom e verdadeiro (…), o voltar-se sem reservas para Deus, que é a medida do que é justo e, ao mesmo tempo, é o amor eterno. E que mais nos poderia salvar senão o amor? ».[9] O amor rejubila com a verdade, é a força que torna capaz de comprometer-se pela verdade, pela justiça, pela paz, porque tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (cf. 1 Cor 13, 1-13).
Queridos jovens, vós sois um dom precioso para a sociedade. Diante das dificuldades, não vos deixeis invadir pelo desânimo nem vos abandoneis a falsas soluções, que frequentemente se apresentam como o caminho mais fácil para superar os problemas. Não tenhais medo de vos empenhar, de enfrentar a fadiga e o sacrifício, de optar por caminhos que requerem fidelidade e constância, humildade e dedicação.
Vivei com confiança a vossa juventude e os anseios profundos que sentis de felicidade, verdade, beleza e amor verdadeiro. Vivei intensamente esta fase da vida, tão rica e cheia de entusiasmo.
Sabei que vós mesmos servis de exemplo e estímulo para os adultos, e tanto mais o sereis quanto mais vos esforçardes por superar as injustiças e a corrupção, quanto mais desejardes um futuro melhor e vos comprometerdes a construí-lo. Cientes das vossas potencialidades, nunca vos fecheis em vós próprios, mas trabalhai por um futuro mais luminoso para todos. Nunca vos sintais sozinhos! A Igreja confia em vós, acompanha-vos, encoraja-vos e deseja oferecer-vos o que tem de mais precioso: a possibilidade de levantar os olhos para Deus, de encontrar Jesus Cristo – Ele que é a justiça e a paz.
Oh vós todos, homens e mulheres, que tendes a peito a causa da paz! Esta não é um bem já alcançado mas uma meta, à qual todos e cada um deve aspirar. Olhemos, pois, o futuro com maior esperança, encorajemo-nos mutuamente ao longo do nosso caminho, trabalhemos para dar ao nosso mundo um rosto mais humano e fraterno e sintamo-nos unidos na responsabilidade que temos para com as jovens gerações, presentes e futuras, nomeadamente quanto à sua educação para se tornarem pacíficas e pacificadoras! Apoiado em tal certeza, envio-vos estas refl exões que se fazem apelo: Unamos as nossas forças espirituais, morais e materiais, a fim de « educar os jovens para a justiça e a paz ».
Vaticano, 8 de Dezembro de 2011.
BENEDICTUS PP XVI

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Oração pela paz

Nota: para o dia mundial da paz (1 de Janeiro) e com o desejo que o ano de 2012 seja rico dos valores essenciais para a felicidade... Que nos ajudemos uns aos outros, assim será mais fácil ultrapassar os desafios...
Mário Salgueirinho
Todo o mundo anseia pela paz. Uns manifestam-se desfilando pelas ruas gritando slogans, embora muitas dessas pessoas sejam pouco ou nada amantes da paz nos seus lares, nos seus campos de trabalho, na sociedade. Mas é a sua forma de manifestação, algumas vezes com efeitos válidos. Outros - os crentes, respondendo ao apelo do Papa e dos seus líderes religiosos, oram confiadamente ao Senhor do Universo rogando o regresso rápido da paz.
Eis uma oração expressiva do escritor católico inglês, Thomas Merton, intitulada:
"Na tua vontade está a nossa paz".
Omnipotente e misericordiosa Deus,
Pai de todos os homens,
Criador e dominador do Universo,
Senhor da História,
cujos desígnios são imperscrutáveis,
cuja glória é sem mancha,
cuja compaixão pelos erros dos homens é inexaurível,
na Tua vontade está a nossa paz!
Na Tua misericórdia,
ouve esta oração que sobe a Ti
do tumulto e do desespero
de um mundo que se esqueceu de Ti,
no qual o Teu nome não é invocado,
tuas leis são ridicularizadas
e Tua presença é ignorada.
Não Te conhecemos e, assim, não temos paz.
Concede-nos prudência proporcional ao nosso poder,
sabedoria proporcional à nossa ciência,
unidade proporcional à nossa riqueza e vigor.
E abençoa a nossa vontade
de ajudar todas as raças e povos a caminhar,
em amizade connosco,
pela estrada da justiça,
da liberdade e da paz perene.
Mas concede-nos, sobretudo,
compreender que os nossos caminhos
não são necessariamente os teus caminhos,
que não podemos penetrar plenamente o mistério dos teus desígnios,
e que a própria tempestade de poder que agora cresce nesta terra
revela a Tua secreta vontade e a Tua imperscrutável decisão.
Concede-nos ver o Teu rosto
à luz desta tempestade cósmica,
ó Deus de santidade, misericordioso com os homens.
Concede-nos encontrar a paz
onde ela realmente pode ser encontrada:
na Tua vontade, ó Deus, está a nossa paz.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Génesis

..
De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
..
Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
..
Por mais justiça... - Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!
..
Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.
..
Jorge de Sena
..
Nota: Não encontro melhor texto para dizer do nosso estado de alma nesta manhã. As medidas anunciadas para equilibrar as contas públicas da nossa terra são a confirmação última do estado de tristeza em que está mergulhada a nossa população. Porém, adiante... Não consta que em tais medidas nos tirem a dignidade e a esperança, nem muito menos que estejam previstos impostos para esses valores, assim sendo, lutemos com todas as forças pela nossa dignidade cheios de toda a esperança... Força Madeira!

A canção dos pássaros

No dia dos Santos Inocentes...
...........................
Os poios na encosta do som
Ditaram a beleza de um rosto
Que se enrosca na cantiga
Do momento dos pássaros
Que chilreavam a canção
Do grande amor do tempo
Que as árvores disseram
Em fruto para nós.
No encontro desta manhã.
José Luís Rodrigues

sábado, 24 de dezembro de 2011

Carta ao Menino Jesus

Menino Jesus:
Chegou o Teu Natal? - Tu que és o autor principal do Natal ou da festa, como tão bem gostamos de dizer na nossa terra? Como vás passar o Teu dia de Festa, é certo que te aconchegas nos braços da Tua mãe envolto em paninhos amarelecidos de pobreza e de tempo? Porém, não será melhor pensar que o Teu Natal acontece nos corações cheios de paz e de amor? Não estavas Tu naquela casa onde se fez festa a sério, naquela família que unida saboreou o prazer da alegria? Não nasces em todos os lugares onde o abraço amigo e fraterno é a realidade mais visível? – Sim, nasces na terra da esperança e do amor. Por isso, o Natal não é Teu, mas é o nosso Natal. É assim, que vejo o Natal, porque um Deus não precisa de nascer, nós sim precisamos, cada ano renovar esse horizonte de vida nova, porque somos criaturas e se não nascemos morremos e o Pai/Mãe que nos mostras não nos criou para a morte, mas para a vida sempre renovada e em abundância como nos ensinas no Teu Evangelho.
Bom, Meu Menino-Deus, será que nos apercebemos de verdade que de facto tudo nascestes e estás aí em todos os rostos que se cruzam pela rua? - Naturalmente, que haverá de tudo um pouco. Muitos ficaram apenas no prazer do dar e receber ofertas materiais, outros ficarão com a abundância da comida e da bebida que por estes dias quase todas as casas apresentam. Outros ainda não perceberam o que significa «nascer» um Deus no meio de nós. Por fim, haverá outros ainda que perceberão e desde essa hora a sua vida muda radicalmente, porque repudiam o que era velho e nascem de novo para o amor.
Menino Jesus, é preciso descobrir que nascer é sempre uma graça cheia de prazer. Mas o Teu Natal ainda está cheio de inquietação. Por isso, naquele dia em que me levaste por algumas portas, lá estavas moribundo sobre enxergas de sofrimento e de dor. Na casa da D. Laurinda com 98 anos, com o seu corpo magro e parado, mas com um cérebro lúcido e a fazer-me inveja, vi claramente o sofrimento e a solidão. Também Te vi na casa da D. Conceição e da D. Encarnação, que dominadas totalmente por uma trombose, lá estão na cama e na dependência total de terceiros. Estavas também, muito provavelmente, na casa de outros irmãos sem memória, porque a perderam, crianças autênticas em corpos idosos e adultos. Porém, mais forte foi encontrar-Te caído no chão sem Te poderes levantar para a cama disponível ali mesmo à Tua beira. São muitos ainda os lugares e os corações onde não é possível nascer...
Para mais este Natal, uma vez mais recebo palavras de estímulo e votos de Bom Natal ou de Boas Festas. Mas também perscrutei uma lágrima, um grito de sofrimento, a me dizer «que Natal vou ter aqui moribundo nesta cama». Não quero porém deixar de referir que ao lado destes universos de dor sofrida, está uma multidão de gente entregue aos cuidados dos outros. Os familiares, assistentes domiciliárias e pessoal de enfermagem ou médico são autênticos heróis que se entregam totalmente ao bem-estar destes irmãos que não saboreiam o sentido do Natal. Menino Jesus, felizmente, nasces em muitos corações e em muitos lugares da vida deste mundo.
Nascer é sempre uma festa. O Teu nascer é a festa das festas pelo que és e pelo que significas no coração de todos aqueles que Te acolhem como sentido para a vida. Não resisto a partilhar contigo o belíssimo poema que dias antes de um Natal recebi num postal de Boas Festas, com o seguinte título: «Natal», do autor Moreira das Neves. O prazer que senti ao ler este poema foi muito grande, porque mais uma vez descobri que o Natal não pode ser apenas de há dois mil anos, mas um acontecimento de cada momento da existência de cada um de nós.
Menino Jesus, diz o poema assim: «Seja cada presépio a nossa casa / Transformada no mais florido altar, / Um pedaço de sol em cada brasa, / Uma estrela no céu em cada olhar. / Seja o Natal das prendas uma prenda / Que não esqueça o mundo humilde e mudo, / Seja a verdade a dominar a lenda, / A verdade primeiro e mais que tudo. / Seja o Natal fraterna comunhão / Com os pobres sem pão e sem lareira, / Não haja, em parte alguma, coração / Que, por Jesus, não ame a terra inteira. / A voz das almas, se una à voz dos sinos: / - Glória a Deus! Para os homens, paz e bem! / Todos, pelo Natal, somos meninos / A beijar o Menino de Belém...».
Tu e só Tu Menino Jesus podes inspirar-nos a saber colocar na pequenez da vida uma dose elevada de alma. As coisas não nos servem nem servem ninguém sem um espírito ou sem uma alma que lhes dê sentido e lógica. Por isso, com mais este Teu Natal queremos fazer-Te nascer no mais pequeno gesto, na mais corriqueira palavra e na mais quotidiana das atitudes. Deste Teu Natal queremos dar sentido, no anonimato da vida diária, às mais singelas coisas e mais queremos ainda fazer corresponder tudo com a lógica do amor que salva. O Teu Natal deu-se na gruta do amor, daí nasceu uma luz ou um pequeno brilho que deu resposta à mais profunda e densa inquietação que nos persegue durante esta vida.
Menino Jesus termino esta minha carta com um propósito. Não desejaria que as palavras cheias de boa vontade, de doçura e de encanto não fossem apenas deste tempo, mas que fossem também reflexo constante em todos os momentos e lugares da nossa existência. E, por fim, ofereço-Te também as palavras de Ruy Cinatti na sua «Arte Política»: «Com o impossível fazem-se milagres / com o possível fazem-se milagres a menos». Menino Jesus, fica bem no coração de todos os que Te acolhem no cantinho quente do coração.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Como vejo o Natal...

Para onde vamos? E Onde chegaremos, afinal, com esta mentalidade desenfreada assente no orgulho, na vaidade pelas coisas grandes e faustosas? - A simplicidade de Deus, que todos os anos faz nascer sempre nova, a luz da pobreza e da humildade, para nos relembrar que não faz sentido nenhum, estarmos minados pelo gosto do chique, a avidez das modas e a atenção constante nos bens materiais de último modelo.
Até parece que tomámos gosto pela violência da vida e que o nosso coração se torna dia para dia cada vez mais sofisticado. A nossa recusa acentua-se na ausência de um coração simples, livre de preconceitos, sem medos absurdos sobre o futuro e sem nos inquietarmos sobre o que parece bem ou sobre o que parece mal.
Para quando a riqueza de corações livres de manchas negras que aprisionam a criatividade? E para quando o assumir da humildade que nos conduz à entrega de serviços humanos que edifiquem aqui e agora o reino da fraternidade? - A resposta, lê-se no rosto alegre e confiante das figuras da lapinha. Ainda assim, parece-me, ser o quadro mais apaixonante que embeleza a casa do nosso coração.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Propósito deste Natal para viver 2012

Na magnífica voz de Teresa Salgueiro ecoa do alto mediante uma liturgia soberba de luz e cor divinas, cantando “Oxalá”, que diz assim:
Oxalá, me passe a dôr de cabeça, oxalá
Oxalá, o passo não me esmoreça;
Oxalá, o carnaval aconteça, oxalá,
Oxalá, o povo nunca se esqueça;
Oxalá, eu não ande sem cuidado,
Oxalá eu não passe um mau bocado;
Oxalá, eu não faça tudo à pressa,
Oxalá, meu futuro aconteça.
Oxalá, que a vida me corra bem, oxalá.
Oxalá, que a tua vida também;
Oxalá, o Carnaval aconteça, oxalá.
Oxalá, o povo nunca se esqueça;
Oxalá, o tempo passe, hora a hora,
Oxalá, que ninguém se vá embora,
Oxalá, se aproxime o Carnaval,
Oxalá, tudo corra, menos mal.

Feliz Natal

In O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

A dança do Natal

O cheiro a verde que trouxe a serra
Fez brilhar a magia que nomeio esperança
Mesmo que na tez do rosto soe a inocência
Daquela criança solene do presépio divino.
Nessa ternura os animais disseram aos pastores
No momento incrédulos perante o mistério
Da simplicidade e humildade na gruta do amor.
Todos correm à fonte
Pedem o dom e a dádiva
Para que o sentido último do tempo
Se converta em pedra segura nesta memória.
Que o Deus pobre diga pão
Contra a fome.
Diga a água viva
Contra a sede de sentido.
Diga a paz
Contra os campos de batalha.
Diga a união fraterna
Contra a divisão familiar.
Diga a ternura de afectos
Contra a frieza do esquecimento.
Diga bem-aventurança pacífica
Contra todas as forma de violência
Diga mais vida e sempre mais vida
Contra todas as formas de morte.
Diga a todos somos irmãos
Contra a teimosia das hierarquias.
Diga serviço em todos os lugares
Contra o desvario do poder que domina.
Diga festa no coração
Contra a artimanha da tristeza.
Diga fartura de amor
Contra a pobreza desse dom...
- E fico-me na contemplação deste quadro
Que pintou na hora da criação um Deus-Verbo
Feito carne de mãe e pai
No abraço que só esse enlace soube verter
No reflexo maior da história.
Saber ser filho no silêncio eterno de uma busca
Que o bafo dos animais testemunham
No canto dos anjos ao ritmo cintilante de uma estrela.
Natal! Natal! Natal! A dança dos anjos
Que o escuro de uma noite oferece
Em sinal glorioso nos olhos de anjos, pastores e reis.
Um Menino-Deus dizendo Emanuel
Nos panos da palha quente da alegria de uma Mãe
Aquecido na segurança compadecida de um Pai.
E não digam que desta dança que digo do Natal
Não veio para todos a salvação...
José Luís Rodrigues

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

10 mandamentos das relações humanas

Lista com 10, mas, desta vez, com os dez mandamentos das relações humanas, segundo Alejandro Córdoba. Tornariam a nossa vida mais fácil:
1. Fala com as pessoas. Nada há tão agradável e estimulante como uma palavra de saudação cordial.
2. Sorri para as pessoas.
3. Chama as pessoas pelo seu nome. Para quase todas, a música mais suave é ouvir o seu próprio nome.
4. Sê amigo e prestável. Se queres ter amigos, sê amigo.
5. Sê cordial. Fala e age com toda a sinceridade: tudo o que fazes fá-lo com gosto.
6. Interessa-te sinceramente pelos outros. Recorda que sabes o que sabes, mas que não sabes o que outros sabem.
7. Sê generoso a elogiar e cauteloso a criticar. Os líderes elogiam. Sabem animar, dar confiança e elevar os outros.
8. Aprende a captar os sentimentos dos outros. Em toda a controvérsia, há três ângulos: o teu, o do outro e o do que só vê o seu com demasiada certeza.
9. Preocupa-te com a opinião dos outros. São três as atitudes de autêntico líder: ouvir, aprender e saber elogiar.
10. Ama e depois age.
É transversal a todos os anteriores e é a maneira mais eficaz de dar testemunho e evangelizar.
Anselmo Borges, in Diário de Notícias, 17 de Dezembro de 2011

domingo, 18 de dezembro de 2011

Como será o Natal em tempos de crise?

José Luís Rodrigues, padre
Nunca se viveu um tempo como o nosso onde se fale tanto em solidariedade, caridade, partilha, dádiva…
Deus não clama por caridade, mas por justiça. Nunca se viveu um tempo como o nosso onde se fale tanto em solidariedade, caridade, partilha, dádiva… Entre tantas outras palavras que apelam a uma prática que leva cada um a pensar nos outros, especialmente os mais necessitados. Tudo isto é muito correcto e importante que aconteça. Mas acho grave quando as instituições públicas que têm o dever de pensar no bem comum e na justiça também se deixem contagiar. O Governo do nosso país, do fundo da penúria e após extorquir uma boa parte dos rendimentos familiares, arrancou, dizem, dos jogos, 10 milhões para fazer caridade. Uma ninharia face às necessidades mais prementes e face ao empobrecimento que as medidas levadas a cabo estão a provocar.
Amigos, devia eu estar aqui com uma crónica toda Natal, com palavrinhas mansas e com a cantilena habitual sobre esta quadra. Que me desculpem, não tenho paciência para isso… É que nos tira do sério esta pedinchice geral, não podemos andar na rua, pedem individualmente, pedem para todo o género de instituições que apareceram agora como cogumelos. Um chorrilho de pedincha que brada aos céus. Temo que matem a famosa generosidade do nosso povo.
Há uma caridade muito interesseira e circunscrita a redomas de egoísmo, de interesses pessoais, de puro negócio que beneficiam meia dúzia camuflada de bem comum, mas que no fim só provoca ainda mais desigualdades e injustiças. Faz-me mossa que governos eleitos pelo povo cujo fim da sua eleição foi para promover a justiça, embarquem no assistencialismo barato que não serve em nada o bem comum.
Esta política é revoltante e não resolve nada do que deve ser resolvido. A caridade não resolve nenhuma situação e todos nós temos experiência que as nossas ajudas aos pobres, podem dar uma pequena ajuda hoje, mas amanhã os mesmos que ajudamos voltam a bater-nos à porta. Assim, do que se trata a nossa reclamação é de que as injustiças bradam aos céus e Deus não se compadece com quem se alimenta da injustiça. Deus, reclama por justiça e não por caridades ou solidariedades que não solucionam problema nenhum. A qualquer governo devia importar ser o mais possível justo nas medidas que implementa.
Ora, amansemos que caminhamos para o Natal, diz o bom pensar.
É urgente dar lugar à esperança nesta hora de sofrimentos vários, de dores desmedidas e de desesperos angustiantes. Não há tempo a perder-se, cada um traz em si o lugar de Deus. O lugar do Seu nascimento.
Mas que lugar tão pobre, dirão os mais exigentes! Sim, pobres todos os corações humanos, mas lugares eleitos para o nascimento de Deus, o Senhor da esperança e da salvação para todos. O Deus da vida partilhada não se deixa intimidar com a pobreza de cada um. É dos pobres que Deus gosta. É dos lugares pobres que se faz a eleição para Ele nascer, não como caridade, mas por elementar desejo que se faça justiça.
Este ano, é especial. O ano do espectro da crise que a todos inquieta face ao futuro. Este, o ano dos cortes salariais e do desemprego que condena várias famílias à fome e especialmente crianças a não saborearem algo especial no Natal e quem sabe pior do que isso, ter que irem para a escola sem se alimentarem convenientemente ou a estarem sujeitas à marginalização perante os coleguinhas, porque não têm vestidas as roupas que os mais novos estandardizaram para o momento. O ano onde nos surpreendemos ou não com mais pobreza e caímos na real de quanto é vulnerável a condição humana e tudo o que essa condição humana criou como definitivo e acabado. Tudo surpreendente para nós que nos habituamos à Internet, às viagens frequentes de avião, ao bem estar social e económico... Tudo parecia assegurado e garantido, mas, afinal, facilmente desmoronaram sobre as nossas cabeças as torres de Babel, que teimosamente erguemos até ao mais alto dos céus.
«...Ele nascer de novo...» - pensaremos - dê por onde der, Ele vai nascer de novo! Basta de solidão, basta de ódios, basta de sofrimentos em tantas almas que nunca souberam o que é a paz, a felicidade da existência e o gosto de viver com o necessário para ser verdadeira humanidade. Este que quer nascer de novo, em nome do amor infinito pelos homens e pelas mulheres, faz-se criança, símbolo da esperança e da confiança de que da miséria é sempre possível comunicar o sentido e a feliz notícia da Boa Nova do Reino.
Texto publicado no Dnoticias, 18 de Dezembro de 2011.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

A vida de Maria

Não tivesses tu simplicidade, como poderia
acontecer-te o que agora a noite enche de luz?
Vê, o Deus que sobre os povos em ira ardia
torna-se manso e em ti ao mundo vem Jesus.
Terias imaginado maior esse Menino?
Rainer Maria Rilke

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O mistério mantido em silêncio

Comentário à Missa do Próximo Domingo
Domingo IV Advento
18 Dezembro de 2011
A palavra grega "mysterion" (Mistério) é uma palavra significativa na teologia de Paulo, ocorre vinte e uma vezes ao longo dos seus escritos. Ela refere-se ao conhecimento que vai além da compreensão de pecadores, mas, que agora tem sido graciosamente revelado por meio do Evangelho. A ênfase do conceito está no facto que esta informação agora pode ser conhecida, que explica a sua associação em comum com palavras como apokalypsis, 'revelação' (Rom 16, 25; Ef 3, 3), apokalyptein, 'revelar' (1 Cor 2, 10; Ef 3, 5), 'dar a conhecer' (Rom 16, 26; Ef 1, 9; 3, 3, 5; Col 1, 27), e phaneroo, 'manifestar' (Rom 16, 26; Col 1, 26)… Com a excepção de uma ocorrência do termo, o mysterion é o Evangelho (1Cor 14, 2 refere-se aos mistérios). A equação de Mistério com o Evangelho é algo implícito (1Cor 2, 1; 2, 7; 4, 1) e às vezes explícito (Rom 16, 25-26; Ef 6, 19; Col 1, 25-27). Às vezes mysterion refere-se a um aspecto específico do plano de redenção de Deus como o endurecimento dos judeus (Rom 11, 25), a inclusão dos gentios na igreja igualmente como os judeus (Ef 3, 3, 4, 9; Col 1, 26-27), a mudança a ser experimentada pelos crentes na parousia (o fim dos tempos - 1Cor 15, 51), a união de todas as coisas em Cristo (Ef 1, 9), e o Mistério da iniquidade que será revelada na parousia (2Tess 2, 7-8). Este mistério que Paulo proclama é a revelação do plano de Deus, e no entanto, sem amor, este conhecimento de nada valerá (1Cor 13, 2).
Não há dúvidas de que existem coisas encobertas e pontos difíceis a serem entendidos na Bíblia (Deut 29, 29; 2Ped 3, 16). Dependendo na maneira pela qual os pontos estão aplicados ou entendidos podem colaborar para o nosso aperfeiçoamento (Ef 4, 12; 2Tim 3, 16s) ou levar-nos à perdição (2Ped 2, 1; 3, 16).
Deus não pode ser completamente entendido, pois Ele é um ser infinito e nós finitos (Is 55, 8,9; Rom 11, 33s). As Escrituras são revelações de Deus, todavia, para o nosso entendimento (Deut 29, 29). A Bíblia não deve ser deixada de lado por Ela tratar de assuntos divinos e sublimes. Devemos procurá-la para termos o ensino de Deus. Só assim teremos esperança (Rom 15:4) e gozo completo (Jer 15, 16; 1João 1, 4). Somente vivendo adequadamente a Palavra de Deus podemos ser encaminhados a realizar boas obras (2Tim 3, 16). Se não tivermos uma Bíblia ou se fizermos da Bíblia um objecto de ornamento não procurando o Seu ensino seremos "crianças inconstantes, levados para todo o lado pelo vento de qualquer doutrina" (Efés 4, 11-14).
As verdades que conhecemos hoje, nem sempre foram reveladas. Há assuntos que entendemos hoje, que por anos, muitos profetas e reis desejaram entender (Luc 10, 24; I Ped 1, 10). Os segredos que não foram entendidos no Antigo Testamento mas agora explicados no Novo Testamento são os que a Bíblia chama "mistérios". A própria palavra traduzida "mistério" ou "mistérios" no Novo Testamento (e estas palavras só se encontram no Novo Testamento) significa "segredo". E diante do Mistério, resta-nos o silêncio e uma verdade elementar, é mais o que não sabemos sobre a essência de Deus, do que aquilo que sabemos. Por isso, deixemos o nosso olhar interior contemplar essa realidade e isso é suficiente, para que a nossa fé encontre todo o sentido para ser útil à vida.
JLR

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Breve apontamento sobre as Missas do Parto

"Puuuuuu… Puuuuu. Puuuuu…. Não é para agrupamento de povo, pagamento de leite ou casa a arder, que o búzio chama às duas horas da madrugada nas Fontes e Furnas da Ribeira Brava. Todos conhecem aquela voz a tais horas da noite. Traduzida numa linguagem popular, quer dizer: Para a "Missa do Parto"… Para a "Missa do Parto"… Para a Missa do Parto".
E em todas as casas acordam pessoas e luzes. (…). Reúnem-se todos no terreiro da vereda do João Pequeno ou da do Manuel das Ascensões e, quando já não esperam mais ninguém, põem-se em marcha para a Vila. Duas horas de viagem, por caminhos serenados e ladeiras de matar. Avançam ao som dos instrumentos regionais, dos búzios e de muitas dezenas de castanholas. (…).
Todos tocam acordando as gentes. À medida que o grupo avança, outros se vêm juntar, de modo que ao chegarem ao Pico da Banda de Além e à Cruz, ecoam na Vila, dando a impressão de que um bando de grilos gigantescos a vêm invadir. Contudo, ninguém tem medo. (…) Reunidos todos os tocadores de castanholas, começam então a dar voltas à pequenina Vila e não há quem resista, quem deixe de ir à "Missa do Parto".
São as festas do Natal que começam. Daí a momentos, às quatro e meia da manhã, estarão todos, ricos e pobres, senhores e plebeus, na igreja, pequena de mais para tanta gente, a cantar com todo o calor: "Ao Menino nascer./ Que gosto teremos! / Oh! Quanto felizes /Todos nós seremos! / Anjos e pastores, / Vinde em harmonia, / A louvar o parto / Da virgem Maria."
In O Natal na Madeira, Pe. Pita Ferreira

Vamos à procura da luz

Natal: a festa da luz... Então procuremos a luz.
António Mega Ferreira, num texto belíssimo que já conta algum tempo, depois de passear a sua pena por vários poetas, escultores e pintores, por exemplo, Sophia, João Cabral de Melo, Rubens, El Greco, Don DeLillo entre outros. O seu texto termina com esta pergunta, tirada de Don DeLillo: «Há estrelas mortas que ainda brilham porque a sua luz ficou aprisionada no tempo. Como situar-se em face desta luz, que, em bom rigor, não existe?» E continua: «Um homem quando vem da morte, diz, ao rosto amado: Minha luz». Provavelmente, foi esta expressão que Cristo também utilizou quando depois da morte, ao terceiro dia, aparece aos Apóstolos cheio de luz. Não terá o mesmo sentido a expressão que Cristo utiliza: «Dou-vos a minha paz...»? – Ao rosto que Cristo ama, que são todos os seus discípulos, revela-lhes a luz e deseja-lhes paz. Esta é a expressão máxima do amor divino feito história concreta.
Por outro lado, dado que «só o poema contém a luz que nos faz ver», apresento o poema de Octavio Paz, «Este Lado»: «Há luz. Não lhe tocamos nem vemos. / Nas suas vazias claridades / repousa tudo o que vemos e tocamos. / Eu vejo com as pontas dos meus dedos / o que os meus olhos apalpam: / Sombras, mundo. / Com as sombras traço mundos, / dissipo mundos com as sombras. / Ouço palpitar a luz do outro lado». O poema apresenta-se como é a festa da luz. O poética ora perturbado com as sombras do mundo, ora angustiado porque a vida perde-se na azáfama do agora, mas, ao mesmo tempo, sente que do outro lado a luz está e é essa certeza que o anima. Esta mensagem é fabulosa. Para nós serve, para entender que a vida faz-se nas sombras, «com as sombras faço mundos», mas não me quero esquecer que do outro lado a luz palpita, para me encher de alegria e felicidade.
As imagens de Noronha da Costa, pintura construída à luz da vela e com a luz da vela, são quadros fantásticos, que nos remetem para o eterno das coisas. A penumbra construída pela luz da vela são sombras, mas o centro revelado pela luz que brilha é o palpitar da eternidade. Na penumbra dos dias devemos perceber que o futuro está já aqui nesse brilho da luz, mesmo que seja uma singela e humilde vela.
Perante esta embalagem descobrimos mais adiante um texto muito belo de Hugo Gonçalves, «Toda a Matéria é Combustível». Repare-se, então, na beleza das suas palavras: «Sentamo-nos no passeio, esperando o final das chamas. Estaremos assim, próximos, no mesmo lugar, cada vez menos. Quando amanhecer, trocaremos apertos de mão em vez de beijos, como fazem os adultos. Mas por enquanto, continuaremos aqui, esperando a luz do sol que elimina a tristeza, sorrindo sempre que acertamos com pedras nas janelas que resistem ao fogo». Muito interessante, sempre pensei que a tristeza nada é perante a luz do sol. Por isso, não gosto dos dias sombrios, tristes e muito menos gosto da noite. Pois, venha o sol para iluminar os dias e acabar sempre com o terror da noite.
Então face a esta realidade da vida e ao medo que possa provocar qualquer elemento do universo, da natureza e da vida, «Venha mais Luz» como pedia João Lima Pinharanda, porque é o que cada um pode pedir quando o escuro da vida o persegue.
Mas, também vamos ao encontro de um texto extraordinário de José Augusto Mourão. No início do seu texto descobre-se uma citação muito sugestiva de Echkart, que diz assim: «Não poderia ver bem a luz que brilha sobre o muro se não voltasse os olhos para onde ela jorra. E mesmo aí, se a capto onde ela jorra, preciso de ser libertado desse jorrar; devo captá-la tal como ela plana em si mesma. E mesmo assim direi que não deve ser assim. Não a posso captar nem no seu contacto nem no seu jorrar nem mesmo quando plana em si mesma, porque tudo isso é ainda um modo. É preciso captar Deus como um modo sem modo, como um ser sem ser, porque não há modo». Agora parece estarmos perante uma procura da luz que se identifica mais com a presença de Deus.
JLR

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mãe nossa!

Nota: Porque se aproximam as populares Missas do Parto e para que não se façam delas puro folclore religioso, mas devida preparação para o Natal de Jesus em cada um dos nossos corações... ...
Neste lugar desejamos ao mesmo tempo falar-Te — assim como se fala à Mãe — de tudo o que forma o objeto das nossas esperanças, mas também das nossas preocupações; das nossas alegrias, mas também das nossas aflições; dos temores e até das grandes ameaças.
Somos porventura capazes de exprimir tudo isto e de chamar-lhe pelo seu nome? (...)
Tu, ó Mãe, sabes melhor quais são os problemas da Igreja e do mundo contemporâneo, com que vem aos Teus pés o Bispo de Roma, assim como cada um dos presentes. Então, aceita-os, tem a bondade de aceitá-los e de ouvir esta nossa oração sem palavras.
E, sobretudo, recebe as expressões da nossa ardente gratidão por estares connosco, por te encontrares connosco todos os dias e particularmente no dia solene de hoje.
E continua!
Continua connosco cada vez mais. Encontra-te connosco cada vez mais frequentemente, porque temos muita necessidade. Fala-nos com a tua Maternidade, com a tua simplicidade e santidade. Fala-nos com a tua Imaculada Conceição!
Fala-nos continuamente!
E obtém-nos a graça — mesmo quando estivermos muito longe — de não perdermos a sensibilidade da tua presença no meio de nós.
...
Sê Tu quem orienta os seus filhos na peregrinação da fé, tornando-os cada vez mais obedientes e fiéis à Palavra de Deus.
Sê Tu quem acompanha cada cristão ao longo do caminho da conversão e da santidade, na luta contra o pecado e na busca da verdadeira beleza, que é sempre um sinal e um reflexo da Beleza divina.
Sê Tu, ainda, quem obtém a paz e a salvação para todos os povos. O Pai eterno, que te quis como Mãe imaculada do Redentor, renove também no nosso tempo, por teu intermédio, os prodígios do seu amor misericordioso.
Amém. ------- João Paulo II--------- Imagem-pintura: Salvador Dali

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

DIÁRIO

Toda a semana me apeteceu gostar da vida,
Por causa deste dia, que sonhei
Tão grande como o Dia do Juízo...
Afinal, anoiteceu,
E o meu pobre coração
Trabalha como nos dias
Em que nada aconteceu!...
..
Ora isto vem de tão longe,
É já tão velho e revelho
Adormecer como um justo
E acordar roubado e morto;
É tão natural em mim
A ânsia ser um aborto
Ao fim
Dos nove meses do prazo,
Que era lógico e seguro
Ouvir cantar as sereias
Sem fazer caso...
..
Ah! Mas isso é que não! Ninguém se iluda!
Ninguém pense que vou desanimar!
Não, senhor:
A Sagrada Teologia
Previu isto e muito mais...
Deus lá sabe
Das linhas com que me cose...
Deus lá sabe
Se para o meu sumo bem
Terá de aumentar a dose...
..
Miguel Torga, Poesia Completa, Vol. I, pag. 52

sábado, 10 de dezembro de 2011

Cidade

I
Canto a cidade nos cantos sublimes das artérias do medo
Como se o dia fosse acabar em cada passo da gente
Que deambula nas avenidas, ruas, becos, travessas e rampas
Porque cada momento e cada esquina escondem o segredo
De nunca chegar a vida que o tempo engoliu naquela hora.
II
Fica depois uma sombra de um esbelto plátano no oásis
Daquela cidade maior onde um dia no baptismo da história
Te nomearam de liberdade sobre a rocha firme da calçada.
III
Agora passeiam-te os povos vindos de todos os lugares
Sob o olhar atento de quem deseja um dia saber mais
De todos os lugares mágicos que a vida nos ofereceu.
IV
Ó cidade da minha memória encantada pelo ideal fervor
Quero ver-te esbelta, viva ou mesmo ressuscitada
E nesta hora nasci de novo para o dia maior
Daqueles passos em volta do rosto sublime do amor.
V
E não digas mais que a cidade nunca pode ser sentida
Como uma vida cheia de esperança no ideal da felicidade.
JLR

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

«Vivei sempre na alegria…»

Nota: Dado que o Evangelho (cf. Jo 1, 6-8. 19-28) deste domingo III do Advento aponta outra vez a figura de João Baptista, sobre esta temática já apresentei o comentário para o domingo passado. Por isso, para este domingo limito-me a comentar um pouco o texto de São Paulo (cf. 1Tes 5, 16-24) que dá para relacionar com a leitura de Isaías (cf. Is 61,1-2, 10-11) sobre a temática do «Espírito do Senhor» e com a mensagem do Evangelho de São João que nos fala da identidade de João Baptista e do anúncio do Messias que vem ao encontro da humanidade. Continuação de bom Advento para todos…
Comentário à Missa do Próximo Domingo
1Tes 5, 16-24
Paulo estava em Corinto na Grécia, durante o Inverno do ano 50-51 quando escreveu a primeira Carta (1 Ts). Na missiva ele realça que Silas e Timóteo estavam a seu lado, voltavam da segunda visita que realizaram a Tessalónica e lhe transmitiram as boas notícias que muito alegraram o seu coração. Paternalmente transmite práticas, exortações, lembrando que o Evangelho não lhes foi pregado somente com palavras, mas com eficazes manifestações do Espírito Santo, que os estimulava a se tornarem imitadores do Senhor e dos Apóstolos, apesar das tribulações de cada dia. Dessa forma, eles se concretizariam como modelo para os fiéis não só da Macedônia e da Acaia, mas para todos os que crêem no Deus Vivo e Verdadeiro.
O Apóstolo realça a necessidade deles progredirem na busca de um maior polimento espiritual, cultivando a santidade e lembrando-lhes os seus ensinamentos de como devem viver para agradar mais a Deus, exercitando o amor fraterno, apartando-se da luxúria, tratando a esposa com carinho e respeito, sem se deixar levar pelas paixões desenfreadas do mundo. Também não poupa esforços para afirmar que deve ser mantida a unidade que existe entre todos os cristãos, os que vieram do paganismo e aqueles que nasceram em Israel. Concluindo a missiva, ele insere uma resposta sobre o destino dos mortos e a Parusia (próxima Vinda) de Cristo, explicando: «O próprio Deus da paz vos santifique totalmente, e todo o vosso ser - espírito, alma e corpo - se conserve irrepreensível, por ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo».
O Espírito de Jesus reacende em nós esta esperança numa vida renovada e enche-nos de luz. Celebrar o Natal é sempre renovar esse estado de alma para que a vida se entranhe mais e melhor na construção da felicidade.
Todos ressuscitarão mesmo aqueles que estão adormecidos (mortos).
Ninguém sabe o momento e a hora, por isso, todos devem viver como verdadeiros «filhos da Luz» e não como «filhos das Trevas». Vivendo dignamente e permanecendo preparados para a chegada do Senhor. Paulo pregava uma cristologia que insistia na Vinda iminente do Senhor Ressuscitado. Por isso, apela insistentemente: «Não apagueis o Espírito…» e aconteça o que acontecer «vivei sempre na alegria».
No final da missiva, o Apóstolo faz mais algumas exortações dizendo: «Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias. Discerni tudo e ficai com o que é bom. Guardai-vos de toda espécie de mal. O Deus da paz vos conceda santidade perfeita; e que vosso espírito, vossa alma e vosso corpo, sejam guardados de modo irrepreensível para o Dia da Vinda de nosso Senhor Jesus Cristo». Esta divisão em três partes (espírito, alma e corpo) só aparece aqui, nas cartas de Paulo. Na verdade não se trata de uma divisão sistemática e coerente. Isto porque, cada pessoa tem somente um Corpo e uma Alma. O Corpo nasce do relacionamento dos esposos pelo Matrimónio; a Alma vem de Deus, é invenção Divina. Assim sendo, ao citar um terceiro elemento: o «espírito», é possível que ele estivesse pensando numa semelhança com o Mistério Trinitário (Três pessoas Divinas num único e Mesmo Deus). Dessa forma, ele referia-se ao terceiro elemento «espírito» o qual seria possuído por aqueles que exercitavam uma vida nova em Cristo, ou quem sabe, seria o «espírito» possuído pelos verdadeiros cristãos que estavam sob a influência do Espírito Santo de Deus. Por último podemos acrescentar, que também podia significar a parte mais elevada das pessoas, ou seja, a sua espiritualidade, porque o lado mais baixo das pessoas se referia exactamente a «carne». Só por esse caminho vem a desgraça.
JLR

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Maria de Nazaré mais Discípula do que Mãe

A propósito do dia da Imaculada Conceição
...........................
Se Nossa Senhora fosse menos olhada como Mãe de Jesus e mais como a discípula ou a apostola de Jesus, dar-se-ia uma revolução na Igreja Católica e quiçá no mundo cristão.
Explico-me. Maria de Nazaré foi sempre considerada ao longo dos século como a Mãe Imaculada, a mulher submissa à virgindade e endeusada no papel de Mãe, coisa que os textos bíblicos facilmente desmentem e falam-nos de uma mulher interventora, discípula, que antes de ser Mãe, ouve a Palavra de Deus e a coloca em prática. Eis o papel do discípulo/a, aquele ou aquela que se coloca aos pés de Jesus para escutar a Sua Palavra.
Maria, trata-se de uma mulher activa, que vai ao encontro dos outros e resiste de pé firme ao pé da cruz. Antes de ser a Mãe, é a discípula que escuta, mas avança na entrega total à causa de Jesus.
Se esta visão sobre Maria de Nazaré fosse mais rezada, celebrada pelo mundo cristão, as mulheres teriam o seu verdadeiro lugar nas igrejas e estariam em plena igualdade face aos homens. Não haveria acepção de pessoas. Os sacramentos seriam para todos, especialmente, o Sacramento da Ordem que continua vedado às mulheres. Ora, uma reviravolta enorme no pensamento e na mentalidade dos cristãos.
O que se diz ou prega sobre Maria de Nazaré reveste-se de uma desumanidade impressionante. A iconografia mariana é disso um exemplo. As imagens que se contemplam de Maria de Nazaré, revelam uma mulher assexuada, nada próxima da condição do ser mulher. Um rosto sempre tristonho, cabisbaixo e de mãos sempre voltadas para o céu como se o inferno estivesse aí junto aos pés. Esta visão do ser mulher em nada tem que ver com a condição feminina e não espelha a dignidade que esta condição expressa de riqueza e diversidade. A feminilidade ainda continua a ser um perigo para as igrejas profundamente masculinizadas que a tradição máscula arquitectou baseada na imbecilidade de se dizer que é a vontade de Deus. A divinização de tais argumentos é um sacrilégio e uma ofensa ao Deus da universalidade bem patente no Evangelho da Cananeia e no diálogo extraordinário de Jesus com a Samaritana junto ao poço de Jacob.
Maria de Nazaré, antes de ser Mãe, é a Serva de Deus, que participa do plano libertador que Deus quer levar adiante a favor da humanidade inteira. É Ela que se levanta como profeta ou discípula ou apostola para dizer «NÃO» a tudo o que se opõe a esse plano libertador de Deus. O Seu «SIM» não é uma manifestação submissa, mas compromisso activo, militante nessa obra de Deus. Ela é a Maria do povo, um povo concreto, a mulher do nosso chão, a companheira que faz caminho connosco nas veredas deste mundo e que em cada esquina nos toca com o Seu abraço de amor. O Evangelho prova-nos que esta mulher é a Maria pobre, que vem do meio do povo, da aldeia, da cidade… Ora integrada no sangue que escorre nas encruzilhadas dos caminhos ora desprezada por ser mulher e por manifestar a diferença, exactamente, como acontece ainda hoje a qualquer mulher que assuma activamente a sua condição feminina e que se preze porque quer ser diferente do status machista que a sociedade convencionou.
No canto de Maria «O Magnificat», acolhemos Maria como a mulher pobre vergada ao carinho dos pobres desta vida, que procuram Deus e gritam por justiça. É desta mulher que se aprende o que é a fé, a escuta, a reflexão e a capacidade de decidir, mesmo que muitas vezes a compreensão das coisas não seja assim tão clara e tão óbvia como Ela desejaria.
Assim, mais valia para uma humanidade mais justa, fraterna e amiga dentro das igrejas cristãs se Maria de Nazaré fosse olhada como a discípula ou a apostola e não tanto como a Mãe, que Jesus desvaloriza frequentemente em muitos momentos do Evangelho. E mais, Maria não se valeu da sua condição de Mãe para contrariar o Filho e fez-se discípula.
JLR
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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A santa sem nome

Conto
Era uma vez uma pequena que servia numa quinta – já não se sabe onde... Esta jovem parecia de tal maneira insignificante que só a chamavam por “Ei, tu aí”, “Psst, pequena” ou “Ó miúda”. O seu nome havia sido completamente esquecido e ela própria também já não o recordava.
Depois da sua morte, quando se encontrou no paraíso, qual não foi a surpresa ao ver que a conduziam diante dos maiores santos do céu! Sim, porque apesar de uma vida discreta e pouco notável, a jovem tinha chegado, sem se dar conta – e talvez por causa disso – ao maior estado de santidade.
E se, cúmulo da inocência, ela estava surpreendida e perturbada com tantas atenções, os outros santos estavam muito embaraçados. Todos sabiam que, por não ter nome próprio, a nova santa nunca poderia receber orações particulares, pedidos que só a ela fossem dirigidos.
Desde logo os santos mais generosos propuseram-lhe partilhar os seus nomes, mas ela recusava educadamente, dizendo que até aí tinha vivido bem dessa maneira, e assim poderia continuar.
Foi então que Deus se pronunciou: - à nova santa sem nome irão todas as preces sem nome.
Depois desse dia é esta pequena, de quem nada se sabe, que recolhe no céu a maior parte das orações. Com efeito, é a ela que sobem todos os impulsos dos nossos corações cada vez que, mesmo sem termos consciência, somos atravessados por uma inclinação para o bem ou um desejo impreciso de tornar o mundo melhor.
Diz-se que cada sorriso, cada lágrima das nossas emoções mais puras é no mesmo instante recolhida e abençoada pela santa sem nome.
Jean-Jacques FdidaIn Contes des sages juifs, chrétiens et musulmans, ed. SeuilTrad. / adapt.: rm

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Voluntariado na Igreja Católica. Só para lembrar...

Desde 1985, a Organizações das Nações Unidas instituiu o dia 5 de dezembro como Dia Internacional do Voluntário.
Tendo em conta esta efeméride rendo aqui homenagem a uma multidão incontável de voluntários que na Igreja Católica se congregam quotidianamente para ajudar a levar adiante o bem em favor dos outros. Faço uma pequena lista dessa inumerável plêiade de gente que individualmente, em grupos, movimentos, associações se deixam conduzir por uma causa que sempre desafia o Evangelho de Jesus de Nazaré…
Eles são as/os catequistas que semanalmente reúnem as crianças, os jovens e os adolescentes para reflectirem e celebrarem a mensagem da salvação de Jesus Cristo. A educação da fé e a transmissão da mensagem cristã passa por este inumerável conjunto de pessoas que de forma voluntária assumem essa missão da catequese nas comunidades religiosas.
Toda a dinâmica da solidariedade/caridade cristã está entregue a grupos, conferências de São Vicente de Paulo e Caritas entre outros que se congregam para ajudar os mais infelizes deste mundo, os pobres.
A realidade da doença e da velhice encontra uma palavra noutro grupo enorme de pessoas que semanalmente visitam este mundo que ninguém quer saber, os doentes e os velhinhos quase abandonados nas suas casas. Alguns com família, mas que só se lembra deles quando morrem, a ver se deixaram dinheiro ou alguns bens que ainda prestem para serem literalmente açambarcados. É este grupo, os Ministros Extraordinários da Comunhão, que realizam um trabalho notável de ajuda com a sua palavra amiga e o consolo do sinal da fé, a Sagrada Comunhão.
Outro grupo ainda de voluntariado que a Igreja Católica congregam, são os diversos grupos de animação litúrgica, o canto. Aqui, então, a multidão não tem fim, porque são imensas as pessoas que despendem do seu tempo para ensaiar e animar celebrações religiosas com o imprescindível canto litúrgico ou religioso.
Apenas destaco estas áreas onde se pode ver claramente como o voluntariado é imenso e que não é atingido em nada pelas estatísticas oficiais. Cabe dizer-se a bem da verdade que este interessante voluntariado está bem ou mal movimentado pela Igreja Católica. Este voluntariado, é o mais anónimo possível, discreto e fora totalmente da mediatização que alguns organismos recentemente constituídos fazem passar para a opinião pública.
JLR
Imagem Google

domingo, 4 de dezembro de 2011

À volta do pensar de Deus

«Há uma história que Aristóteles narra sobre uma palavra do filósofo Heraclito a uns forasteiros que queriam chegar até ele. Aproximando-se, viram como se aquecia junto a um fogão. Detiveram-se surpreendidos, enquanto ele lhes dava ânimo: "Também aqui estão presentes os deuses."» «Pede-lhes que entrem: "Também aqui estão presentes os deuses." Também aqui, neste lugar corriqueiro, é o espaço para a presentificação de Deus».
Santa Teresa de Ávila: «dizia que Deus anda na cozinha no meio das panelas. Para sublinhar que quem julga encontrar Deus fora do mundo lida apenas com as suas ilusões».
Como escreveu o filósofo Henri Bergson, "a mística completa é acção"; o místico autêntico, "através de Deus, por Deus, ama a humanidade inteira com um amor divino".
São João escreveu de modo forte e pregnante: "Se alguém possuir bens deste mundo e, vendo o seu irmão com necessidade, lhe fechar o seu coração, como é que o amor de Deus pode permanecer nele?" São Tiago não é menos explícito: "De que aproveitará a alguém dizer que tem fé, se não tiver obras? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano e um de vós lhes disser: 'Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos', sem lhes dar o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se a fé não tiver obras, está completamente morta."
O místico Ruysbroek disse: "Se estiveres em êxtase e o teu irmão precisar de um remédio, deixa o êxtase e vai levar o remédio ao teu irmão; o Deus que deixas é menos seguro que o Deus que encontras."
Também Buda, depois de ter lavado e tratado de um monge doente e abandonado, disse aos seus monges: "Quem quiser cuidar de mim cuide dos enfermos." São João da Cruz tem aquela expressão famosa: "Ao entardecer desta vida examinar-te-ão no amor."
Escreveu, com razão, J. Ratzinger, Bento XVI: "A curiosa magia dos estupefacientes apresenta-se como o atalho para o Paraíso, aquele atalho que nos pouparia todo o 'penoso' caminho da ascética e da moral. A droga é a pseudomística de um mundo que não tem fé, mas que de modo algum pode prescindir da ânsia da alma pelo Paraíso. A droga é, por conseguinte, um sinal indicador de algo mais profundo. Não só descobre na nossa sociedade um vazio, que esta não é capaz de preencher com os seus próprios meios, como chama a atenção para uma exigência íntima do ser humano, que, se não encontrar a resposta acertada, se manifesta de forma pervertida."
JLR