Publicidade

Convite a quem nos visita

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jesus Cristo hoje. Como?

Hoje a abundância de literatura sobre Jesus Cristo (JC) revela que talvez nunca houve uma época com tanta profusão sobre o tema. O Papa já fez vir a lume dois volumes (não tardarão outros, suponho) e com ele têm sido os imensos livros sobre Jesus Cristo.
Neste ambiente da Páscoa somos convidados a descobrir, Jesus de Nazaré como uma proposta para a vida toda e para todos. A descoberta de Jesus Cristo salvador de toda a humanidade é algo de elementar na acção da Igreja de hoje. A Igreja, Nele e por Ele descobre-se a si mesma como caminho possível de redenção e de sentido para os passos da humanidade. Salvaguarde-se que a pessoa de JC é sempre muito mais do que aquilo que somos capazes de viver e de propor. JC, é a chave que abre os corações, sem jamais os trancar, para a paz, a fraternidade e o amor.
Conta-se assim a brincar. No primeiro aniversário de casamento, a esposa/esposo podem dizer: «faz hoje um ano que te dei as chaves do meu coração»! O outro, com a voz dorida pela frieza da constatação pronuncia: «é verdade! Mas 15 dias depois mudaste-lhe a fechadura»… Jesus será essa chave nova que abre as fechaduras sem nunca as fechar.
A paixão ou entusiasmo pelo projecto de JC, nunca se verga aos laços macabros do egoísmo e da soberba humana. Qualquer atitude desenfreada que violente essa relação pessoal com JC, estabelece desde logo uma ruptura com o dinamismo novo que a proposta JC inaugura, como perspectiva de salvação. É, por isso, que a mudança de fechadura será sempre um duro golpe na paixão pelo outro e pela vida.
Pensava-se que era impossível viver na apatia e na banalização dos ideais e sem um fim transcendente que justificasse um seguro investimento na realização pessoal. Porém, a nossa sociedade prova que, afinal, o que conta apenas, é continuar a zelar pela saúde própria, preservar a situação dos bens pessoais e esperar que cheguem os fins-de-semana, o final do mês e as férias. Só que a crise fez desmoronar muitos esquemas de vida que pareciam ser para sempre.
As palavras de Jesus aos discípulos de João Baptista, são resposta para as nossas questões acerca Dele, que também perguntavam se podiam dar crédito ao que estavam vendo com os seus próprios olhos. Em jeito de resposta, Jesus diz-lhes que a única prova que podia dar é, que tudo aquilo era coisa de Deus, isto é, «os surdos ouvem, os coxos andam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia».
Ora, vivemos séculos de doutrina doce e continuamos a mascar a pastilha elástica insonsa de uma mensagem no sentido de um moralismo mole que não podem eliminar a força da mensagem daquele que veio «lançar fogo à terra» (Lc 12, 49). «Julgam que vim trazer a paz ao mundo?! De modo nenhum: o que eu vim trazer foi a divisão» (Lc 12, 51). Este que nos falou e que continua a falar a cada um de nós hoje, oferece a ressurreição, a plenitude da vida (resposta à tão procurada eternidade pelo homem). Esta gratuidade é a tomada de consciência do meu «eu», condição do despertar para a realidade do Reino de Cristo - o lugar da experiência do encontro, a condição essencial do ser cristão hoje e sempre (cf. Jo 1, 1-4).
A ressurreição tem esse preço: despertar para a realidade do Reino. Um reino onde se entra não pela guerra, pela invasão ou pela conquista, mas pela dose de entrega ao serviço do outro, o que implica um eficaz desprendimento dos bens, que no fundo manifesta uma radical preocupação mais em dar do que em receber. Onde está esse Reino?
O Reino está onde acontece o amor, porque Deus é amor. Se teimas em dizer «que não chegou» é porque continua de pé o desafio, é preciso realizar em nós todos essa relação de amor com o mundo. E mergulhamos na tensão entre o «já realizado» do despertar pessoal para o reino, e o «ainda não» do despertar de todos para fim. Pelo meio o drama inquietante da errância. Não parar nunca é a única razão constitutiva dessa tensão que nos torna, por conseguinte, responsáveis pelo despertar de todos. É neste JC do Reino do «eu» com o «outro» e vice-versa que acredito em verdade.
José Luís Rodrigues
Publicado no Diário de Notícias, Madeira, no dia 10 de Abril de 2011

1 comentário:

Marilu disse...

Querido amigo, linda postagem. Tenha uma excelente semana. Beijocas