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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Patriarca chamado ao Vaticano para se explicar sobre ordenação de mulheres

Por António Marujo
Igreja forçou bispo australiano a sair do cargo por causa da mesma questão, um mês e meio antes das afirmações do responsável português. D. José Policarpo já tinha publicado esclarecimento...
O cardeal-patriarca de Lisboa foi chamado a uma audiência com o secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, por causa da sua afirmação de que não há obstáculos teológicos à ordenação de mulheres. A conversa foi em Castelgandolfo, a residência estival do Papa nos arredores de Roma, antes de dia 14 de Julho, por ocasião de uma ida de D. José Policarpo a Roma, para uma reunião do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, de que faz parte.
Numa entrevista à revista da Ordem dos Advogados, publicada em meados de Junho, o patriarca afirmava, sobre a ordenação de mulheres: "Penso que não há nenhum obstáculo fundamental. É uma igualdade fundamental de todos os membros da Igreja."
Por causa desta afirmação, transcrita e comentada em Roma, por dois "vaticanistas", o cardeal Bertone falou com D. José Policarpo. Segundo o PÚBLICO soube - o facto tem sido tema de conversa entre o clero de Lisboa desde então -, o patriarca foi bem tratado, pois o Vaticano temia que D. José pudesse reagir mal a uma advertência severa. "Foi tratado nas palminhas", nota um padre de Lisboa, falando do tom da audiência.
Dias antes desse encontro, o patriarca recebera uma carta do cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (cargo anteriormente ocupado pelo actual Papa Bento XVI), órgão que zela pela Teologia oficial. A carta foi-lhe entregue em mão pelo núncio apostólico (embaixador da Santa Sé) em Lisboa, a 2 de Julho, dia em que o patriarca presidiu a uma missa de ordenações no Mosteiro dos Jerónimos. Outro padre afirma que o cardeal manifestou um ar grave após ter lido a carta.
Doutrina é "infalível"
Logo a seguir, no dia 6, o patriarca publicou um esclarecimento no site do patriarcado de Lisboa na Internet. No texto, afirmava que, na entrevista, não tivera "na devida conta as últimas declarações" dos papas sobre o tema, dando assim azo a "reacções várias e mesmo indignação".
O facto tem provocado controvérsia entre muitos padres e outros católicos que entretanto vão sabendo do que se passou - e que questionam tanto a afirmação centralista do Vaticano como o modo como D. José recuou da sua posição inicial. Já não é, de facto, a primeira vez que o patriarca diz o que pensa sobre o assunto. Só que, desta vez, as declarações foram citadas por dois jornalistas do Vaticano, o que aumentou o seu efeito.
A 4 de Julho, o PÚBLICO deu notícia desses comentários. John Allen Jr., correspondente do National Catholic Reporter em Roma, notou que as declarações do patriarca apareceram um mês e meio depois de um bispo australiano ter sido demitido por causa da mesma questão. William Morris, bispo de Toowoomba, admitira em 2006 o debate sobre o tema. No início de Maio deste ano, o Vaticano forçou-o a sair do cargo. Numa carta em que lhe anunciava a decisão, o Papa Bento XVI dizia que a doutrina da Igreja sobre o tema é "infalível".
Na mesma altura, ainda na segunda quinzena de Junho, o Vatican Insider, site de informação religiosa do diário italiano La Stampa, o vaticanista Andrea Tornielli acrescentava que as declarações do patriarca desalinhavam do que já tinham dito João Paulo II e Bento XVI.
De facto, não é nova a ideia expressa pelo patriarca. Em 1999, com um ano no cargo, dizia D. José, no livro-entrevista Igreja e Democracia (ed. Multinova): "Que [as mulheres] eram capazes - as que tivessem vocação para isso - não tenho dúvidas. (...) As razões pelas quais a Igreja Católica não se abriu ainda a essa hipótese são sobretudo as da tradição apostólica, que foi sempre de homens." E acrescentava: "Terão de ser as comunidades e a Igreja, como um todo, a amadurecerem o assunto. É um facto que hoje, mesmo dentro da Igreja Católica, se aceitam mulheres em papéis que há trinta anos eram impensáveis."
"Se Deus quiser"
Em Maio de 2003, em Viena de Áustria, D. José Policarpo respondeu no mesmo sentido a uma pergunta de uma jornalista, numa conferência de imprensa do Congresso Internacional para a Nova Evangelização.
Na entrevista agora em questão, o patriarca falava de uma carta do Papa João Paulo II, de 1994, e de um esclarecimento, um ano depois, da Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo então cardeal Joseph Ratzinger. Os dois textos diziam que o tema pertencia ao "depósito da fé".
D. José Policarpo acrescentava: "Penso que a questão não se dirime assim; teologicamente, não há nenhum obstáculo fundamental; há esta tradição, digamos assim... Nunca foi de outra maneira." E, antecipando o que a si próprio lhe iria acontecer, dizia ainda: "No momento que estamos a viver, é um daqueles problemas que é melhor nem levantar... Suscita uma série de reacções." A mudança, terminava, acontecerá "se Deus quiser que aconteça, e se estiver nos planos Dele acontecerá".
No esclarecimento publicado a 6 de Julho, e que pode ser lido na íntegra no site do patriarcado, o cardeal dizia que nos primeiros tempos do Cristianismo "é notória a harmonia entre o facto de o sacerdócio apostólico ser conferido a homens e a importância e dignidade das mulheres na Igreja". E, depois de citar a carta de João Paulo II, afirmava que seria para ele "doloroso" que as suas palavras "pudessem gerar confusão" na adesão "à Igreja e à palavra do Santo Padre".
in Público
Estamos esclarecidos?
O esclarecimento que o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa tão prontamente e estranhamente escreveu sobre a ordenação das mulheres é merecedor de uma leitura muito cuidada. Primeiro porque de esclarecedor tem pouco e depois porque o que deixa nas entrelinhas é muito esclarecedor.
Não é minha preocupação analisar aqui o tema da ordenação das mulheres até porque já houve quem o fizesse com grande maestria. A minha preocupação é bem diferente. Tem fundamentalmente a ver com a forma como este esclarecimento é feito.
Em primeiro lugar é dito pelo Senhor Cardeal Patriarca que este tema foi sempre por si abordado de forma não sistemática. Será que um assunto que tanta tinta tem feito correr entre adeptos e não adeptos não lhe merecia uma análise e um interesse mais cuidado? Esta afirmação vinda de um sacerdote é estranha, de um teólogo reconhecido é pouco abonatória mas vinda de um Cardeal Patriarca é desconcertante e preocupante.
Em segundo lugar e imitando o estudante que prepara o seu exame em cima da hora faz uma observação que me deixa estarrecido: “por não ter tido na devida conta as últimas declarações do Magistério sobre o tema, dei azo a essas reacções ”. Quer isto dizer que o nosso Cardeal Patriarca de Lisboa não leu ou não prestou a devida atenção ao que os dois últimos papas escreveram sobre este assunto. Um exemplo de sinceridade…
Por último conclui que somos convidados a acatar o Magistério do Santo Padre e que a comunhão com o Santo Padre é uma atitude absoluta no exercício do seu ministério. Aqui está uma atitude reveladora de quem pensa pela sua cabeça ou segundo alguns de quem tenta proteger a sua. Decifrando o emaranhado deste texto ele serve apenas para dizer desdizendo aquilo que se disse antes. Esclarecidos?
Nota: Isto está mesmo bonito.... Uma ortadoxia da Igreja Católica ancrónica e totalmente fora da realidade do mundo de hoje. Uma pena muito dolorosa. Vamos continuar na oração militante. Pelo sonho é que vamos, já dizia o poeta Sebastião da Gama, e porque não dar azas ao sonho que muitos ainda teimam em fazer crer que é inútil sonhar à luz do Evangelho de Jesus Cristo.

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