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Convite a quem nos visita

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Ofício de Amar

.
já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e o remorso
..
um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao
silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração não,
não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas
...
ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo
Al Berto, “O Medo”

domingo, 30 de janeiro de 2011

Será utopia ou uma necessidade urgente?

- Face ao que está acontecer no mundo, não pode ser utopia, rezar e desejar esta saudável convivência entre as religiões. Pois, se assim não for, para onde caminha a humanidade? Para a catástrofe? Para o seu fim? - Penso, que ninguém deseja este destino... E não podemos permitir que o veneno do fundamentalismo religioso contamine a boa convivência entre os seres humanos.
Citação:
«Lembro que, há precisamente 1300 anos, os muçulmanos entraram na Península e é inegável que se impôs um razoável espírito de tolerância entre muçulmanos, cristãos e judeus. Não é com esse espírito que é preciso avançar para o futuro? Levo comigo um sonho - um sonho acordado: que um dia a catedral de Córdova possa ser partilhada com os muçulmanos e a basílica de Santa Sofia (Hagia Sophia) em Istambul, partilhada com os cristãos. Dir-se-á que é mero wishfull thinking, utopia irrealizável. Mas eu estou com Ernst Bloch, que, citando livremente Heraclito, escreveu: "Quem não espera o inesperado não o encontrará." »
In Diário de Notícias de Lisboa, «711-2011. 1300 anos depois» por ANSELMO BORGES

sábado, 29 de janeiro de 2011

A FRASE DO ANO

A FRASE DO ANO, PROFERIDA PELO PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA O oncologista brasileiro Drauzio Varella
"No mundo actual, investe-se cinco vezes mais em medicamentos para a virilidade masculina e silicones para as mulheres do que na cura do Alzheimer. Daqui a alguns anos, teremos velhas de mamas grandes e velhos com pénis duro, mas nenhum se recordará para que servem".
Recebido por mail...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Renúncia do Natal 2010

Aló, irmão José.
Votos de muita saúde e bom apostolado.
Venho em nome da Comunidade Paroquial e por meio desta carta agradecer o vosso grande e generoso gesto de solidariedade para connosco.
Aí vai o relatório do uso da Vossa oferta:
60 chapas de zinco para 3 capelas = 21.000
50 uniformes escolares para 50 alunos = 7500
50 cobertores para 50 leprosos = 7500
Diversos materiais escolares = 3500
Lanche para os doentes do Hospital 2500
Transporte de chapas as capelas 2000
Caixa Paroquial 2000
Pe. Luís Macuinja
Nota: A renúncia do Natal das pessoas que participaram na Paróquia de São Roque e São José no Funchal nas celebrações do Natal de 2010, rendeu 1.100 €, enviamos para uma Paróquia do Norte de Moçambique, Nossa Senhora de Fátima de Gurué. Convertidos os nossos euros na moeda local, rendeu-lhes 46.000 Meticais. A 26 de Janeiro de 2011 recebemos como relatório o que puderam fazer com o nosso donativo. Foi com alguma emoção que lemos cada uma das coisas que compraram, porque, com este singelo gesto provou-se o seguinte: se a humanidade quisesse mesmo, não haveria neste mundo pessoas com fome, sem roupa para se abrigar e sem cuidados de saúde para se amparar na doença… Este foi para nós um verdadeiro Natal. E vamos continuar a ser solidários para quem verdadeiramente precisa.
Foto 1: Pessoas da Comunidade de Nossa Senhora de Fátima de Gurué na sua Igreja Paroquial
Foto 2: o P. Luís Dinis Macuinja, Pároco desta comunidade.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

30 de Janeiro de 2011
Domingo IV Tempo Comum
AS BEM-AVENTURANÇAS - O Sermão da Montanha
O Sermão da Montanha do Evangelho de Mateus é o texto mais importante do Novo Testamento. Aqui estão expressos os principais conceitos do cristianismo e contém, sem dúvida, a síntese da mensagem de Jesus. Afirmava Mahatma Gandi que se toda a literatura ocidental se perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido.
O Sermão começa com as Bem-aventuranças, que são a síntese dos passos da iniciação cristã, que é o processo de evolução do espírito na sua jornada terrena. Aqui estão descritos, de um modo impressionante e com uma clareza cristalina, os passos que o homem/mulher devem seguir para chegar ao Reino dos Céus.
Consiste na afirmação do passo iniciático, seguido da afirmativa que se refere à consequência desse passo. Seguem uma ordem ascendente. Os passos são citados iniciando a condição terrena e material, que leva o espírito encarnado até à sua libertação da cadeia evolutiva deste Eon. Inicia, pois, com o Homem terreno, puramente materialista, que vive exclusivamente da matéria.
1. Os pobres de espírito, a vida não é só matéria.
2. Os que choram e sofrem, as coisas do mundo não dão satisfação plena.
3. Os humildes ou mansos, quem tudo quer tudo perde, quem não pensa só em si, mas também nos outros, Deus está com ele.
4. Os que têm fome e sede de Justiça, quem não se acomoda com as coisas más procura fazer tudo pela justiça e pelo amor.
5. Os misericordiosos, a verdadeira Misericórdia vem depois da Justiça. Só é misericordioso quem for Justo, fora disto temos pena e dó dos nossos semelhantes, por egoísmo.
6. Os puros de coração, são os que vivem sempre e de acordo com a vontade de Deus.
7. Os que fazem a paz, sem a paz não há felicidade.
8. Os que sofrem perseguição por causa da Justiça, Cristo é o exemplo.
9. Vós, quando vos injuriarem, perseguirem e mentirem, dizendo todo o mal contra vós por minha causa, a glória do cristão está no sofrimento que sente por causa do projecto do Reino que anuncia.
JLR

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ser simples

Ser simples
é regressar às fontes da festa permanente, reconquistar a espontaneidade perdida…
É simples aquele que vive normalmente a nível de plena intimidade
e o oferece com delicadeza como aquele que nada faz.
Não se é simples de uma vez para sempre:
é um processo que nunca termina.
Pondo o eu à frente do tu,
a simplicidade tornar-se-á impossível.
O simples não é quem problematiza mais a existência
mas sim quem sabe encontrar para cada problema a sua solução
e, normalmente, a mais simples.
Quem quiser ser simples não dê ouvidos à maldade
e comece por pensar bem de toda a gente;
não ponha em jogo os mecanismos obscuros
de aspirar a ser poderoso;
comece a semear confiança e simpatia à sua volta.
Os simples são aqueles a quem a vida sorri
porque sabem sorrir à vida.
Simples é aquele de quem se sente falta quando não está
porque deixa um vazio.
Ser simples é apostar forte na bondade e no respeito,
no bem que se pode fazer e está ao alcance.
Ser simples quer dizer não pactuar com fraudes
não esconder nada na manga,
fazer com que as palavras saiam do íntimo.
Ser simples é saber ganhar com a mesma atitude
com que se sabe perder.
É simples quem sabe equilibrar a capacidade de aceitação
com a capacidade de espera.
O simples sabe desfrutar do gosto natural e próprio
que tem cada coisa e cada pessoa.
Sabe viver o presente com tranquilidade.
(Jaume Borrás)

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos - 8º dia

Chamados ao ministério da reconciliação
Leitura bíblica: Mt 5, 21-26
«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo».
Comentário:
Termina hoje esta caminhada de oração pela unidade dos cristãos e dos povos. Procuramos em cada dia apresentar uma citação dos textos bíblicos que foram propostos para a oração de cada um dos dias da semana, seguido de um pequeno comentário como achega para a reflexão. Fomos chamados a regressar às nossas origens cristãs – aquela Igreja apostólica de Jerusalém. Pelas ressonâncias que nos chegaram, este contributo serviu a muitas pessoas. Ainda bem.
No último dia, a oração pela unidade radica na ideia da reconciliação. É um tema importante. Não há unidade sem reconciliação. Perante a mensagem do Evangelho de Jesus Cristo, não faz sentido os irmãos desavindos e quando seja necessário o abraço sentido em lágrimas seria bom para sanar as feridas da desunião. Porém, esta etapa requer humildade para reconhecer os erros e abertura de espírito para encetar novos rumos que levem à paz entre todos.
O apelo à unidade é um apelo à reconciliação, que se deve traduzir na conversão das nossas acções pessoais, mas que também devia ter expressão bem concreta na mudança em muitas das acções da nossa Igreja Católica, para que a oração não se fique por isso mesmo, oração bonita sem consistência nenhuma na realidade. E como diz São Tiago: «A fé sem obras é morta» (Tiago 2, 17).

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Bispo brasileiro Dom Manuel Edmilson Cruz

Belo exemplo de coragem profética...

Num plenário esvaziado, apenas com alguns parlamentares, parentes e amigos do homenageado, o bispo cearense de Limoeiro do Norte, dom Manuel Edmilson Cruz impôs um espectacular constrangimento ao Senado Federal no dia 21 de Dezembro.
Dom Manuel chegou a receber a placa de referência da Comenda dos Direitos Humanos Dom Hélder Câmara, das mãos do senador Inácio Arruda (PCdoB/CE).
Mas, ao discursar, ele recusou a homenagem em protesto ao reajuste de 61,8% concedidos pelos próprios deputados e senadores aos seus salários.
No seu discurso, o Bispo Manuel Edmilson Cruz destacou a realidade da população mais carente:
"Não são raros os casos de pacientes que morreram de tanto esperar o tratamento de doença grave, por exemplo, de câncer, marcado para um e até para dois anos após a consulta – observou o bispo. – A comenda hoje outorgada não representa a pessoa do cearense maior que foi dom Hélder Câmara. Desfigura-a, porém. De seguro, sem ressentimentos e agindo por amor e com respeito a todos os senhores e senhoras, pelos quais oro todos os dias, só me resta uma atitude: recusá-la".
(adaptado da notícia publicada no Jornal do Brasil de 22 de Dezembro de 2010)

Semana de Unidade dos Cristãos - 7º dia

Vivendo a fé da ressurreição
Leitura bíblica: Romanos 6, 13-18: «Não entregueis os vossos membros, como armas da injustiça, ao serviço do pecado. Pelo contrário, entregai-vos a Deus, como vivos de entre os mortos, e entregai os vossos membros, como armas da justiça, ao serviço de Deus. Pois o pecado não terá mais domínio sobre vós, uma vez que não estais sob a Lei, mas sob a graça. Então? Vamos pecar, porque não estamos sob a Lei, mas sob a graça? De modo nenhum! Não sabeis que, se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis, quer seja do pecado que leva à morte, quer da obediência que leva à justiça? Demos graças a Deus: éreis escravos do pecado, mas obedecestes de coração ao ensino que vos foi transmitido como norma de vida. E libertos do pecado, tornastes-vos escravos da justiça».
Comentário:
Deus quer-nos livres no pensamento e na acção. Nenhuma lei deste mundo supera a Lei de Deus, que é a Lei do amor criativo e sempre disponível para que cada um seja senhor da sua vida. Daí a reflexão de São Paulo «se vos entregais a alguém, obedecendo-lhe como escravos, sois escravos daquele a quem obedeceis...». Neste sentido, cada pessoa deve radicar a sua vida no dom da descoberta do amor de Deus, que o criou para a assunpção da liberdade responsável. Todo aquele que abdica da sua vontade própria para ser dominado pela vontade de outrem, torna-se escravo aos olhos de Deus.
A unidade das religiões e dos povos, radica nesta ideia essencial que qualquer lei deste mundo é apenas um instrumento para uma boa convivência social. A lei que importa para o sentido da vida e para a salvação, é aquela que Deus nos oferece, que nos criou livres, responsáveis e capazes de toda a criatividade para construir a felicidade.
Por fim, ligo esta ideia com o pensar de Fernando Pessoa que nos desperta uma vez mais para o acreditar que a unidade se alia claramente à diferença e tudo o que seja apelo ao contrário, é um tremendo erro. Nisso consiste a riqueza da ressurreição de Jesus Cristo, que nessa vitória consumou, o desejo da humanidade de se elevar à glória na sua diversidade. Diz assim o belíssimo de Fernando Pessoa, onde se interpreta esta ideia:
O erro de querer ser igual a alguém
Aqui, neste misérrimo desterro
onde nem desterrado estou, habito,
Fiel, sem que queira, àquele antigo erro
Pelo qual sou proscrito.
O erro de querer ser igual a alguém
Feliz em suma - quanto a sorte deu
A cada coração o único bem
De ele poder ser seu.
(Odes/Ricardo Reis)
JLR

sábado, 22 de janeiro de 2011

Semana de Unidade dos Cristãos - 6º dia

Fortalecidos para a acção na oração
Leitura bíblica para o 4º dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos,
1 Timóteo 2, 1-8: «Façam-se preces por todos os homens...» e Mateus 6, 5-15: «Que venha o teu Reino, que se realize a tua vontade».
Comentário:
«O dia 6 apresenta o quarto elemento de unidade: com a Igreja em Jerusalém ganhamos força pelo tempo que nos dedicamos à oração. Especificamente, a Oração do Senhor chama todos nós, em Jerusalém e no mundo inteiro, os fracos e os poderosos, a um trabalho conjunto pela justiça, paz e unidade, para que venha a nós o Reino de Deus». (Do texto do Pontifício COnselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas).
A oração como elemento de unidade entre as religiões. Eis chegada a hora de compreender Deus na sua verdadeira simplicidade. São ainda muitas as vezes que nos ferimos com a má imagem que muitas pessoas alimentam no seu coração sobre o Deus de Jesus Cristo. São elas a de um Deus altíssimo, todo poderoso e castigador. O Deus revelado em Jesus Cristo é o Deus dos pobres, dos simples e dos pecadores. Numa palavra dos pequenos do mundo. Os sem voz e vez desta vida.
Por isso, ficamos agradecidos a todos os que dão o seu contributo para purificar tais imagens injustas sobre o Deus misericórdia, simplicidade e amor revelado por Jesus Cristo.
A título de exemplo, escutemos expoentes máximos de alguns amigos de Deus. S. Tomás de Aquino: «Conhece melhor Deus quem confessa que tudo o que pensa e diz fica aquém daquilo que Deus é realmente» (in librum de Causis exposito, osc. X, lect. 6); Fernando Pessoa: «em qualquer espírito, que não seja disforme, existe a crença em Deus (…). Não existe crença em um Deus definido(…). Chamando-lhe Deus dizemos tudo, porque, não tendo a palavra Deus sentido algum preciso, assim o afirmamos, sem dizer nada(…). Ele, a que, por indefinido, não podemos dar atributos, é, por isso mesmo, o substantivo absoluto» (F. Pessoa/ Bernardo Soares, O Livro do Desassossego); Sophia de Mello Breyner Andersen: «Não darei o Teu nome à limpidez/ De certas horas puras que perdi, / Nem às imagens de oiro que imagino,/ Nem a nenhuma coisa que sonhei» (Antologia, Porto 19985). «Não estás no sabor nem na vertigem/ Que as presenças bebidas nos deixaram./ Não Te tocam os olhos nem as almas,/ Pois não Te vemos nem Te imaginamos»; Herberto Helder: «Esperamos na obscuridade./ Vinde, vós que escutais, vinde/ saudar-nos na viagem nocturna:/ nenhum sol agora brilha,/ nem luz agora nenhuma estrela./ Vinde, ó vós, mostrar-nos o caminho:/ que a noite secreta é inimiga,/ a noite que fecha as próprias pálpebras./ E eis como a noite inteiramente nos esqueceu./ E esperamos, esperamos, na obscuridade» (H. Helder, Poesia Toda); Miguel Torga: «Vens, e não sonho mais./ Quebra-se a onda no penedo austero./ E o mar recua, sem haver sinais/ De que te quero.// Não sei amar, ou amo o que me foge./ Já com Deus foi assim, na juventude;/ Dei-lhe a paixão que pude/ Enquanto o namorava na distância:/ Depois, ou medo, ou ânsia/ De maior perfeição,/ Vi-o junto de mim e fiquei mudo./ Neguei-lhe o coração./ E então, perdi-o, como perco tudo» (M. Torga Antologia Poética, Coimbra 1981, 175); Vitorino Nemésio: «Que a minha dor seja um campo de graças/ E tudo o que de belo em voz eu diga/ Puro eco de Alguém; e Tu, que faças/ Ser, cantando, eu só terra e Tu cantiga,…» (Vitorino Nemésio, Obras Completas, II, INCM; 1989, p.296.); Em jeito de conclusão ficamos com Virgílio Ferreira, que Na Tua Face lê assim: «…reparei que pouco a pouco eu ia passando através de toda a sua face enrugada e divisava através dela como de um vidro sujo a sua face antiga inatingível que estava do lado de lá e não nela, no vidro. (…) Levantamo-nos e de súbito eu vi, eu vi o rosto de Bárbara rejuvenescer, a face lisa de esplendor e imprevistamente era aí que eu repousava, na tua face, na imagem final do meu desassossego».
Por fim dizemos com Régis Debray: «(o Deus único), é uma ideia de tal maneira forte que há um poder de síntese, um poder de explicação de tal forma vivificante, dir-se-ia uma necessidade vital, que penso que Deus não nos abandonará e que nós não abandonaremos Deus».
A unidade de Jesus de Nazaré procura todos os campos, os recantos e as margens. Foi o que fizemos neste curto andar por alguns da nossa literatura. Bom Domingo para todos.
JLR

Semana de Unidade dos Cristãos - 5º dia

Leitura bíblica, Jo 6, 53-58:
«Disse-lhes Jesus: 'Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós'».
A descoberta de Jesus Cristo alia-se ao amor pela vida. Por isso, a unidade das religiões e dos povos desejada por Deus, só pode verdadeiramente estar centrada na promoção da vida. Nada justifica um atentado, por mais banal que seja, contra a vida. Viver Jesus Cristo e anunciá-Lo implica esta opção radical a favor da vida toda. Este amor à vida é condição sine qua non para ser verdadeiro cristão.
Por fim, fica-nos o pensamento do Padre António Vieira, que diz assim: «Tantos trabalhos, tantos cuidados, tantos desvelos, tantas diligências, tantas negociações, tantos subornos, tantas lisonjas, tantas adorações, tantas indignidades, tanto atropelar a razão, a justiça, a verdade, a consciência, a honra e a vida! E porquê? Por alcançar a vaidade de um posto, de um lugar, de um título, de um nome, de uma aparência».
Enquanto predominar tudo isto a unidade não é possível nem muito menos a vida acontecerá para todos em abundância.
JLR
Imagem no blogue: Aliis tradere

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

23 de Janeiro de 2011
Domingo III Tempo Comum
O Reino de Deus
O Reino de Deus, na Bíblia, designa um governo ou domínio em que tem Deus por soberano ou governante. É sinónimo de teocracia. Segundo o Gênesis, os primeiros humanos rebelaram-se deliberadamente contra a soberania de Deus.
O Reino Milenar de Cristo é subsidiário do Reino de Deus. Entre os teólogos existe conceitos divergentes quanto ao que é concretamente o Reino de Deus, que podemos sintetizar em três pontos:
1. um governo real estabelecido no Céu;
2. uma condição mental existente nos verdadeiros cristãos;
3. a Igreja Cristã.
Segundo uma outra interpretação teológica, o Reino de Deus é o Projecto Criador de Deus a realizar neste Mundo e que consiste na plena realização da Criação de Deus, finalmente liberta de toda a imperfeição e compenetrada por Ele. É interpretado também como o estado terminal e final da salvação, onde a humanidade irá transcender-se e viver eternamente com Deus. Lá, a lei do amor incondicional a Deus e ao próximo é finalmente instaurada definitivamente.
Não haverá mais tempo, mais sofrimento, mais conflitos, mais ódio, e o céu e a terra unem-se finalmente. Embora Deus seja Todo-Poderoso, Ele quer que nós, humanos, dotados de inteligência e razão, participemos de um modo recíproco, livre e voluntário no Projecto Criador de Deus, o maior de todos os projectos que o mundo jamais viu, englobando todos os tempos, todos os povos e todos os seres do Universo.
Seguindo este pensamento, esta missão torna-nos verdadeiros parceiros de Deus, com muita liberdade e simultaneamente muita responsabilidade. Isto quer dizer que nós temos o poder e a capacidade de acelerar a vinda do Reino de Deus com a nossa fé em Jesus Cristo e com as nossas boas acções.
Os valores principais do Reino de Deus são a verdade, a justiça, a paz, a fraternidade, o perdão, a liberdade, a alegria e a dignidade da pessoa humana. É precisamente disto que o nosso mundo precisa.
JLR
Imagem em: «Rede de Jovens» (blog)

Semana de Unidade dos Cristãos - 4º dia

Leitura bíblica para o 4º dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Act 4, 32-37:
«A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles. Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda e depositavam-no aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um conforme a necessidade que tivesse. Assim, um levita cipriota, de nome José, a quem os Apóstolos chamaram Barnabé, isto é, «filho da consolação», possuía uma terra; vendeu-a e trouxe a importância, que depositou aos pés dos Apóstolos».
Comentário:
Neste quarto dia sobre a Semana da Unidade dos Cristãos, o texto bíblico, centra a reflexão na partilha. A unidade dos povos e das igrejas, requer uma abertura à partilha. A partilha não só de bens materiais, mas de tudo o que é necessário para a construção da vida. A partilha dos afectos e de todo o género de experiências, a partilha também da dor, das sobrecargas, lutas e da solidão… A partilha dos dons, das virtudes ou qualidades que cada um recebeu da bondade de Deus. Essencialmente, há a partilha nas alegrias e conquistas, na esperança e na desesperança, no amor e na falta dele. A partilha em tudo, para que o nosso mundo não seja tão desigual e tão desumano. Só com a consciência apurada destas partilhas o mundo pode sorrir para todos.
JLR

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Semana de Unidade dos Cristãos - 3º dia

Leitura bíblica para o 3º dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, Is 51, 4-8:
«Ouvi-me, vós que conheceis a justiça, o povo que leva a minha lei no coração: não temais os insultos dos homens, nem vos deixeis abater pelos seus ultrajes, porque a traça os comerá como a um vestido, e os vermes da traça os roerão como a lã. Mas a minha justiça subsistirá sempre, e a minha salvação nunca mais terá fim».
O ensinamento de Deus está profundamente ligado com a justiça. O grande desafio à Unidade das religiões e dos povos, radica nesse valor, a justiça. Nisso consiste a salvação que Deus realiza para toda a eternidade, como nos faz ver o profeta Isaías.
Porém, completa-se este desejo com as palavras do teológo, Hans Urs Von Balthasar, que nos diz o seguinte: «Não é porque o espírito do homem depende da sensibilidade que o amor lhe surge de fora, mas porque só existe amor entre pessoas – o que a filosofia sempre tendeu a ignorar. Deus, o Totalmente Outro de nós, surge no lugar do outro, no sacramento do irmão: e (…) não é por estar em cima que Ele perde o direito, o poder e a palavra de se revelar a nós como o amor eterno, de se dar e de se fazer compreender na sua incompreensibilidade».
Por este caminho é possível a unidade que Deus deseja e não a unidade que alguns a partir do seu poder egoísta desejam para as Igrejas e para os povos. Sem justiça não há unidade nenhuma nem muito menos a paz.
JLR

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Semana de Unidade dos Cristãos - 2º dia

Leitura bíblica para o 2º dia da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, 1 Cor 12, 12-27:
«Pois, como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, apesar de serem muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo. De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito. O corpo não é composto de um só membro, mas de muitos».
Esta metáfora do corpo é interessante. São Paulo enaltece a riqueza da diversidade («muitos membros») em função da unidade que forma o corpo.
Face a isto o que se pode dizer a quem está a formatar pessoas para pensarem do mesmo modo e fazerem todos o mesmo discurso, o mais oficial possível?
O que dizer de quem repudia a criatividade? E a ousadia do pensamento que se deixa conduzir pela acção sempre surpreendente do Espírito Santo?
O que dizer de quem na Igreja Católica têm medo da transparência e da verdade? Ou é melhor pregar a verdade e depois não pôr em prática? No filme «Ondine» declarou-se o seguinte: «A verdade não é o que se sabe é aquilo em que se acredita». Neste domínio, teremos que deduzir que a verdade anunciada por muito cristianismo é apenas isso, uma verdade que se sabe, mas não se acredita? - Não quero, recuso chegar a esta conclusão...
No fim, fica o pensamento do Padre António Vieira quando diz sobre a verdade, isto é, de quem aponta para a verdade que serve o bem comum: «Quem sabe dizer as verdades que todos calam, ele só merece ser mais amado que todos. Não há-de ser o amado quem cala as verdades que os outros calam, senão quem diz as verdades que os outros calam». (in Sermões - 92).
Ao que leva então achar-se dono do que quer que seja, dando conselhos a todos, como se tivesse Deus na barriga, ou quem sabe noutro membro do corpo, que não me atrevo nomear? - Serve este desejo de unidade inconsequente para repudiar, afastar e isolar ainda mais cada uma das igrejas no seu reduto sectário. Não era esse o sonho de São Paulo, muito bem expresso nesta ideia: «De facto, num só Espírito, fomos todos baptizados para formar um só corpo, judeus e gregos, escravos ou livres, e todos bebemos de um só Espírito»...
JLR

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Semana de Unidade dos Cristãos - 1º dia

Começa hoje a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos (18 a 25 de Janeiro de 2011). Eis alguns elementos sobre esta actividade de algumas Igrejas Cristãs. Tema: “Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação” (Actos 2, 42.47).
O Papa João XXIII, constatava, convictamente, que “é muito mais forte aquilo que nos une do que aquilo que nos divide”. Era deste olhar sereno e generoso que irradiava esse profundo desejo. Ou melhor ainda, seria a voz de Deus que se fazia ouvir no coração da história como expressão última de uma vontade incontornável.
Não basta desejar a união. Não chega inquietar-se com a separação e considerar que quem comunga de outros símbolos e sinais para alimento da sua fé no “Deus escondido”, irmãos desavindos ou rebeldes. João Paulo II, na notável Encíclica “Ut Unun Sint”, sobre o Ecumenismo, considera que “do amor nasce o desejo de unidade” – e continua o Papa – “O amor é a corrente mais profunda que dá vida e infunde vigor ao processo que leva à unidade” (nº 21).
A unidade é o mesmo que caridade. Porque a fonte desta causa radica numa pessoa, Jesus Cristo, que constantemente faz apelo ao nosso coração para essa disponibilidade essencial que conduz à paz e à fraternidade entre todos na maior das diversidades. Unidade neste caso conjuga-se com diversidade e com a maior das multiformes idiossincrasias.
JLR
Imagem no blogue: Aliis tradere

Breve explicação sobre os Tempos Litúrgicos

O Tempo Comum é um período do Ano litúrgico de trinta e três ou trinta e quatro semanas nas quais são celebrados, na sua globalidade, os Mistérios de Cristo. Comemora-se o próprio Mistério de Cristo na sua plenitude, principalmente aos domingos. O Tempo Comum é o período mais extenso do ano litúrgico: 33 - 34 semanas distribuídas entre a festa do Baptismo de Jesus até o começo da Quaresma e as outras semanas entre a segunda-feira depois de Pentecostes e o início do Advento. Este tempo existe não para celebrar algum aspecto particular do mistério de Cristo mas para celebrá-lo na sua globalidade, especialmente em cada Domingo; durante este tempo aprofunda-se e assimila-se o mistério de Cristo que se insere na vida do povo de Deus para torná-la plenamente pascal.
O elemento principal e mais forte do Tempo Comum é o Domingo, que surgiu antes mesmo da celebração anual da Páscoa. Era o único elemento celebrativo no correr do ano: a grande celebração semanal do Mistério Pascal de Cristo. É, pois, um tempo marcadamente caracterizado pelo Domingo, quer pela teologia, quer pela espiritualidade. Os meses temáticos do Ano Litúrgico não fazem parte do calendário e nunca as suas celebrações se sobrepõem àquelas contidas no Domingo. O Dia das Missões, Seminários e ou-tras comemorações ajudam na adaptação e criatividade nas celebrações mas nunca são superiores à mística da liturgia dominical. O Tempo Comum deste ano pertence ao dito Ano A, porque a Liturgia está dividida em três anos A, B e C, o que corresponde aos três Evangelhos Sinópticos: São Mateus, São Lucas e São Marcos. Este ano vamos ler, o Evangelho de São Mateus, o primeiro dos Evangelhos. Neste Tempo a cor das vestes litúrgicas é a cor verde. Este tempo, chamado de comum, é muito importante, embora não seja chamado de Tempo forte, como o Advento, Natal, Quaresma e Páscoa. Porém, serve para escutarmos Jesus e ver claramente em que consiste a Sua acção no mundo em favor da libertação da humanidade inteira.
JLR

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Carta aberta a José Sócrates

Autor: Pedro Carvalho Magalhães
Senhor Primeiro—ministro:
Venho protestar veementemente através de Vª Exª pelo nome dado ao computador que os vossos serviços resolveram distribuir aos meninos deste país.
Eu, Pedro Carvalho de Magalhães (P.C. Magalhães) nunca mais poderei usar a minha assinatura sem ser indecentemente gozado pelos meus colegas de trabalho.
Sempre assinei PC Magalhães e, desde que Vª Ex.ª baptizaram o tal computador, tive que alterar todos os meus documentos.Uma coisa tão simples como perguntar as horas e a resposta que recebo é:
— Atão Magalhães... vai ao Google...
Se vou à máquina de preservativos, há sempre uma boca dum colega:
— Para quê, Magalhães? Não te chega o anti—virus?
Se vou ao dentista, a recepção é sempre a mesma:
— Então o senhor Magalhães vem limpar o teclado...
A minha mulher, Paula Carvalho Magalhães, também sofre pressões indescritíveis no emprego: Ontem uma colega veio da casa de banho com um tampão na mão e gritou:
— Paula.... Esqueceste—te da tua pen!
Também o ginecologista não resistiu ao nome e, após a consulta, disse—lhe que tudo estava bem com as entradas USB!
Nem o meu filho, Pedro Carvalho Magalhães, escapa ao gozo que o nome veio provocar.
A Rita, a mocinha com quem andava há mais de 6 meses, acabou tudo com este argumento:
— Magalhães.... Vou à Staples procurar outro que a tua pega é muito pequena!
Quando, devido a tudo isto, apanhei uma tremenda depressão que me impediu de trabalhar, fui ao psiquiatra. Ele olhou para o meu nome e disse:
— Pois é, senhor PC Magalhães. Aconselho—o a passar pelo suporte técnico da Staples... podem ser problemas de memória RAM!
Neste momento a minha mulher quer desinstalar—se e procurar alguém que tenha um nome 'decente'.
Senhor Primeiro Ministro...
Porque diabo não puseram Sócrates a esse maldito computador? Queria que o senhor visse o que custa! Atenciosamente, assina Paulo Carvalho M.
(e não me perguntem o que é o M)

A grandeza de carácter

Obedecer aos próprios sentimentos? Arriscar a vida ao ceder a um sentimento generoso ou a um impulso... Isso não caracteriza um homem: todos são capazes de fazê-lo; neste ponto, um criminoso, um bandido, um corso, certamente superam um homem honesto. O grau de superioridade é vencer em si esse elã e realizar o acto heróico, não por um impulso, mas friamente, razoavelmente, sem a expansão de prazer que o acompanha. Outro tanto acontece com a piedade: ela há-de ser habitualmente filtrada pela razão; caso contrário, é tão perigosa como qualquer outra emoção. A docilidade cega perante uma emoção - tanto importa que seja generosa ou piedosa como odienta - é causa dos piores males. A grandeza de carácter não consiste em não experimentar emoções; pelo contrário, estas são de ter no mais alto grau; a questão é controlá-las e, ainda assim, havendo prazer em modelá-las, em função de algo mais.
In F. Nietzsche, «A Vontade de Poder»

domingo, 16 de janeiro de 2011

O quotidiano e a imaginação

Leonardo Boff
Como se manifesta essa estrutura concretamente na nossa vida?
Antes de mais nada, pelo quotidiano. Cada qual vive o seu quotidiano que começa com a higiene pessoal, a forma como vive, o que come, o trabalho, as relações familiares, os amigos, o amor. O quotidiano é rotineiro, convencional e, não raro, carregado de desencanto. A maioria da humanidade vive restrita ao quotidiano com o anonimato que ele envolve. Alguns são conhecidos pela primeira vez quando morrem, pois o anúncio aparece no jornal. E o lado da ordem universal que emerge na vida das pessoas.
Mas os seres humanos são também habitados pela imaginação. Ela rompe as barreiras do quotidiano e permite dar saltos. A imaginação é, por essência, fecunda; é o reino das probabilidades e possibilidades, de si infinitas. Imaginamos nova vida, nova casa, novo trabalho, novos relacionamentos. A imaginação produz a crise existencial e o caos na ordem quotidiana.
É da sabedoria de cada um articular o quotidiano com o imaginário e retrabalhar a crise. Se alguém se entrega só ao imaginário, pode dar por si a fazer uma viagem, a voar pelas nuvens esquecido da Terra e acabar numa clínica psiquiátrica. Pode também negar a força sedutora do imaginário, sacralizar o quotidiano e sepultar-se, vivo, dentro dele. Então mostra-se pesado, desinteressante e frustrado. Rompe com a lógica do movimento universal.
Quando alguém, entretanto, sabe abrir-se ao dinamismo do imaginário e às oportunidades presentes na crise e ao mesmo tempo mantém os pés no chão, quando assume o seu quotidiano e o vivifica com injecções de novidade e de criação, então começa a irradiar uma rara energia interior. Dele sai força de expressão. Emerge a singularidade pessoal. Há luz e brilho na vida, originalidade no que propõe e criatividade nas suas práticas.

sábado, 15 de janeiro de 2011

A tolerância e a não-violência

Reflexão em manhã de Sábado...
Pregava aquele padre acerca de como nós, cristãos, devemos procurar ser “tolerantes” e, ao sair, muitos ouvintes contrapunham que isto de “tolerância” não é uma ideia muito… cristã É? Não é? Sim, é!
Lá, onde se pregue o Evangelho,
onde se repitam as palavras de Jesus
declarando “ditosos” os “mansos”,
também haverá que proclamar bem-aventurados os …”tolerantes”.
Faz-nos compreender, Senhor, que um cristão tolerante não é…
o ignorante disposto a engolir o que quer que seja,
nem o fraco que não se atreve a enfrentar, nem o tíbio, transigente com tudo, e muito menos o gracioso que tudo o envaidece. Precisamos da luz do Teu espírito, Senhor, para ser “tolerantes”. Porque cristão tolerante é aquele que tem a certeza da Tua verdade. Verdade que por ser Tua, só podes demonstrar, infundir e assegurar Tu. Se nós somos tolerantes, o que apenas podemos fazer com os que não crêem naquilo em que cremos é… facilitar-lhes o caminho como fez o Pai do filho pródigo (Lc 15,11), mas facilitá-lo esperando, compreendendo, escutando, dialogando, saindo ao seu encontro. Isto é, sendo “tolerantes...
Agora escutemos um grande mestre da tolerância e da não-violência...
“A força de um homem e de um povo está na não-violência… A não-violência é o primeiro artigo da minha fé e o último… Conheci a Bíblia por volta dos 45 anos… De tudo o que li, o que mais me impressionou para sempre foi o facto de Jesus ter vindo para estabelecer uma nova lei… Não mais olho por olho, nem dente por dente; devermos estar dispostos a receber duas bofetadas se nos dão uma, e percorrer dois quilómetros se nos pedem um… Dizia a mim próprio: isto não é seguramente o cristianismo. O Sermão da Montanha demonstrou-me como estava errado à medida que tomava contacto com os verdadeiros cristãos, quer dizer, com os que viviam para Deus vi que o Sermão da Montanha era todo o cristianismo… Enquanto não formos homens insatisfeitos e não tivermos arrancado a raiz da violência da nossa civilização, Cristo não terá nascido… O princípio da não-violência infringe-se com os maus pensamentos, com a pressa injustificada, com a mentira em todas as suas vertentes, o ódio, desejando mal ao próximo. Violamola ao reter para nós o que necessitam os outros. A não-violência, na sua forma activa, é boa vontade em tudo o que se vive. É amor perfeito”.
(M. Gandhi, Todos os homens são irmãos, Atenas, Madrid 1984)
Imagem em: Transformando e Reinventando o Mundo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A vocação é coisa séria

Tendo em conta que o tema da liturgia do Próximo Domingo é sobre a vocação, fica este texto interessante sobre a vocação.
Por: FILIPE RESENDE
In Audácia, Novembro de 2004
Olá Invencível!
Há dias escutei esta frase: «Já não há médicos por vocação! O que conta são os zeros nos salários que recebem ao fim do mês!» Fiquei pensativo: «O que será dos doentes que caírem nas mãos destes profissionais? Serão bem tratados? Serão atendidos como pessoas?» Respirei fundo. Quase me resignei. «Afinal - disse para os meus botões -, são muitas as pessoas que têm um emprego sem vocação para o que fazem.» Todavia, não fiquei convencido e a minha consciência disse: «É necessário ter vocação para o trabalho que se faz!»
Todos somos chamados
Quando se fala de vocação, é habitual pensar só em padres, freiras ou missionários. Mas isto é um erro. De facto, todos somos chamados a cumprir um projecto de vida ao longo da existência. Quem chama é Deus. E as circunstâncias da vida costumam ser os meios que tornam perceptível tal projecto.
Ser chamado é ter vocação. Os esposos, para se casarem, hão-de ter vocação para o matrimónio. O médico, mecânico, professor... todos devem de ter vocação para a tarefa que realizam. Ou seja, cada um deve fazer-se a pergunta: qual é a minha vocação? O que é que sou chamado ou chamada a realizar na vida?
É importante «perder» tempo a reflectir sobre esta questão no início da juventude. Por tradição, os adultos perguntam: «O que queres ser quando fores grande?» Mas a vocação não é o que «eu quero ser». A pergunta deve ser: a quê é que sou chamado(a)?
A escola da vocação
Na infância acontece uma descoberta fundamental. Cada um reconhece que tem uma inclinação, um jeito para fazer melhor umas coisas do que outras. Isso é um dos sinais da vocação. Deve-se, então, aperfeiçoar as qualidades pessoais.
Depois, há factores que despertam a consciência. A escola, o contacto com outras pessoas, os meios de comunicação social, a Igreja são alguns destes factores. Então, surge a noção de que há realidades no mundo com as quais se está em desacordo. Reage-se assim aos médicos ou enfermeiros que não tratam os doentes como pessoas; às leis injustas que só beneficiam uns poucos; ao drama da multidão de pobres confrontada com a excentricidade dos ricos; aos políticos que prometem e não cumprem; aos padres que já não dizem nada de jeito nas missas; aos professores que não sabem ensinar...
Ao mesmo tempo, a consciência diz que cada pessoa tem a responsabilidade de trabalhar para a mudança, para o aperfeiçoamento da vida e do mundo. Então, o jovem pergunta-se: com as minhas qualidades, como é que posso ser útil para construir um mundo melhor? E é daqui que surgem as respostas: médico, enfermeiro, advogado, economista, sacerdote, missionário, carpinteiro, sapateiro, político ou…
Que profissão escolher?
Quantas vezes a escolha do curso não se baseia no salário ou no prestígio de determinada profissão? E os pais não condicionam a escolha com as suas preferências?
A escola mostra as opções profissionais. Os psicólogos dão orientações. Porém, há tendência para desprezar as profissões tidas como menos importantes socialmente.
Deve-se, por isso, pensar de modo diferente. A felicidade e realização pessoal vão depender da orientação vocacional e profissional. Quem não quer ser um advogado infeliz, um enfermeiro que não gosta dos doentes, ou, até, um carpinteiro que só martela os dedos, esse pára e pensa bem na sua vocação.
Talvez as famílias não sejam uma escola onde se aprende a vocação. É possível que a Igreja tenha dificuldades em mostrar o melhor caminho aos mais novos. Todavia, a cultura da vocação é algo que urge cultivar. Há muita gente pronta a ajudar. Pede ajuda. Mas tu tens a última palavra! Descobre a tua vocação e serás feliz!
A vocação do grão de trigo
Era uma vez um grão de trigo. Foi escondido na terra pela mão do lavrador. No escuro, debaixo da terra, o grão pensava para si mesmo: «Porque é que vim aqui parar? Não escolhi este lugar, nem tão triste solidão! Eu nasci para ser grão! Porque me veio enterrar o lavrador? Tenho vida para dar!» E continuava a gritar o pobre, esquecido no seio da Terra-mãe.
O tempo ia correndo e o pobre grão sofria sem ver fim ao seu desterro. Até que a terra intervém e, agarrando-o bem a si, segreda-lhe com carinho: «Se aceitares o desafio que está dentro do teu ser!... Se não tens medo de romper a “capa” que te atrofia, verás de novo a alegria e a vida renascerá. Multiplicarás o teu valor, serás pão, serás Amor, n’Aquele que se dá a nós.»
E o grãozinho, sorrindo, dia a dia, foi-se abrindo. E a planta nova cresceu e deu fruto como foi prometido.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A isenção que significa Cavaco

Uma vergonha. Já tinha dito que a isenção que o Cardeal Patriarca de Lisboa pediu aos padres do Patriarcado nesta campanha eleitoral, queria dizer, vamos apoiar o Cavaco. Espanto meu, vejo hoje mesmo (13 de Janeiro 2011) o Padre Lino Maia (presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade - CNIS) no direito de antena a apelar ao voto no Cavaco e Silva. Afinal a palavra «isenção» nas proximas eleições para a Presidência da República, para a alguma Igreja Católica, significa «Cavaco e Silva». Extraordinário... Não acham?
JLR

Um cê a mais

Recebido por mail…
De fato, lá temos que nos habituar (ou será abituar?)...
Manuel Halpern
Quando eu escrevo a palavra acção, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.
Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Nenhuma lei faz os afectos

Uma notícia vinda da China está a causar alguma reflexão entre nós. Ainda bem que estamos a pensar sobre este assunto. Diz assim a notícia, o governo chinês poderá aprovar este ano um projecto-lei que obriga os filhos a visitarem os pais idosos, para que estes recebam os cuidados adequados por parte dos familiares.
Uma notícia surpreendente. Ou talvez não muito. Está antes de acordo com a chegada do progresso económico e social à China. A pensar nisso poderá não surpreender muito. Faz pensar, e muito. Os afectos regulamentados, feitos lei que os obriga a serem praticados e quem não os praticar vai para a prisão ou paga multa.
A velhice. O grande problema. O grande desafio do mundo actual. O desafio maior para cada um de nós, tanto na forma como lidamos com os velhos que se nos deparam tanto na nossa própria condição de chegarmos um dia à velhice.
Carlos Drummond de Andrade, dirá o seguinte: «Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons». Mas, seria necessário legislar para que «a caixa de bombons» fosse entregue a essas «duas épocas»? – Obviamente, que não… «Duas épocas da vida» que necessitam de afectos redobrados, mas livre-nos Deus, de que seja necessária uma lei para que os afectos sejam levados à prática para quem está nessas «duas épocas da vida».
Por fim, tudo isto é consequência da forma como se encara a velhice. Essencialmente, vista como uma tragédia irremediável e não como aquilo que Jean Jacques Rousseau proclamou, «a juventude é a época de se estudar a sabedoria; a velhice é a época de a praticar». Neste sentido, nunca nem em parte nenhuma do mundo, nenhuma lei pode fazer dessa etapa da vida o melhor que já li sobre a velhice em Simone de Beauvoir. Diz assim a autora, «a velhice é a paródia da vida». E porque não dizer que a vida toda pode ser isso mesmo, uma grande paródia, se aprendermos todos a viver com todo o amor do mundo.
JLR
Imagem: in Correio da Manhã

A Fonte que Mana e Corre, Mesmo de Noite

Que bem sei eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu bem sei onde tem sua guarida, mesmo de noite.
Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.
Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite.
Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.
Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda a luz dela é nascida,
mesmo de noite.
Sei que tão caudalosas são suas correntes,
que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.
A corrente que desta fonte vem
é forte e poderosa, eu sei-o bem,
mesmo de noite.
A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas a precede,
mesmo de noite.
Aquela eterna fonte está escondida
neste pão vivo para dar-nos vida
mesmo de noite.
De lá está chamando as criaturas.
Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite.
Por São João da Cruz
Fonte: "O amor não cansa nem se cansa", Editora Paulus
In «Sociedade Católica»

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Somos ditosos...

Somos ditosos, porque fomos chamados à vida.
Somos ditosos, porque fomos chamados à fé.
Somos ditosos, porque Deus nos amou primeiro.
Somos felizes, porque temos um Deus
muito melhor do que imaginávamos.
Somos felizes, porque, ao ressuscitar,
(Cristo) venceu a morte.
Somos ditosos, porque sabemos
que, inclusivamente, a dor é caminho de ressurreição.
Somos ditosos, porque Ele continua connosco.
Somos ditosos, porque, ao ser Ele o nosso irmão,
descobriu quão irmãos nós éramos.
Somos ditosos, porque Ele curará a nossa cegueira como a de Tomé.
Somos ditosos, porque Ele avivará a nossa esperança morta como
a dos de Emaús.
Somos ditosos, porque ele endireitará o nosso amor
como o de Madalena.
Somos ditosos, porque os nossos nomes estão inscritos
no Reino dos Céus.
Somos ditosos, porque o Reino dos Céus já está dentro de nós.
Somos ditosos, porque nos nomeou testemunhas do Seu prazer,
a melhor das tarefas,
o mais bendito dos trabalhos,
a missão que deveria encher-nos sempre os ouvidos de alegria.
(J.L. Martin Descalzo)
.......................................................
“Sejamos, pois, testemunhas da alegria com a palavra e com a vida a tantos irmãos nossos que, pelas mais variadas situações, a clamam e reclamam: “é preciso recordarmos uns aos outros que o cálice da dor é também o cálice do prazer, que o que realmente nos causa tristeza pode converter-se num campo fértil de alegria. Por isso, precisamos de ser anjos uns com os outros, de nos darmos mutuamente força e consolo. Porque, somente quando nos damos conta de que o cálice da vida não é apenas um cálice de dor, mas também de prazer, seremos capazes de o beber”.
(H. Nouwen)
Imagem de Penitent Magdalen, in gnosisonline.org

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A morte de Carlos Castro

A crueldade da morte do jornalista Carlos Castro, segundo o meu modo de ver, revela que estamos perante duas vítimas, o assassinado e o assassino. A seguir reforço uma das minhas certezas, a humanidade é capaz do melhor e do pior. O melhor surpreende sempre, enche de orgulho, de alegria e felicidade. O pior, surpreende também e admira-nos pela crueldade e pelo quanto pode ser fria, cruel e absurda a atitude de quem provoca a morte do seu semelhante.
Perante este homicídio hedionde, a crer nas notícias que nos chegam, mais uma vez se confirma o seguinte: «Homo homini lupus» - a sentença latina que significa o homem é o lobo do homem. Vem de Plauto (254-184) na sua obra Asinaria, no texto que diz exactamente , «Lupus est homo homini non homo».
Obviamente, que sinto uma grande mágoa por Carlos Castro, mas também sinto de igual modo pelo jovem Renato Seabra. Duas pessoas que morreram totalmente para este mundo. É pena!
JLR

domingo, 9 de janeiro de 2011

Por ocasião da morte de um amigo

A notícia chegou esta tarde. Caiu subitamente. Fria. Triste.
Morreu o sr. António Pereira. Era um amigo. Melhor, será um amigo para sempre, porque nada deste mundo, nem a profundadidade nem a altura nem as potestades nem muito menos a morte, podem apagar uma amizade.
É um homem com um sentido de humor muito belo, não deixava escapar uma bela anedota e parava para saber da última para se divertir à brava. Até já tinha em manga a última para lhe contar, não chegamos a tempo, guardá-la-ei para o encontro definitivo da eternidade. Agradeço-lhe o muito que me fez rir e também a atenção que me dedicava para escutar a anedota ou charla, com a qual nos divertiamos muito.
Fiz parte do seu projecto literário há dois anos, convidou-me para escrever o prefácio do seu interessante livro “Consonância de Palavras”, obra apresentada a 25 de Março de 2008, dia da Freguesia da Ribeira da Janela. Este livro é composto essencialmente por quadras populares, olha para toda a sua vida e para as tradições, cantares, dizeres e viveres do povo do Porto Moniz.
Neste trabalho desvelou-se para mim um homem sério, íntegro e apaixonado pela vida. Um sentido de bem público muito apurado. A sua vida política tetemunha esta constatação. Uma dedicação aos outros muito viva, empenhada. Uma capacidade de liderança rara, um mobilizador de pessoas para a criatividade e participação em actividades de carácter social (os idosos da Ribeira da Janela perdem o seu guia, o seu pastor e quem sabe o seu pai).
Bom, mas a vida tem esta parte que não nos agrada tanto e às vezes é tão traçoeira, súbita e tão cruel, a morte. Mas, não acaba quem sempre trabalhou para a eternidade. Fica a memória e mais uma certeza de que sempre vale a pena trabalhar pelos outros. Desejo profundamente paz à sua alma e que junto de Deus, encontre a felicidade plena, essa realidade que a fé enforma no coração de quem crê, como acreditava o irmão e amigo António Pereira.
Mesmo sendo este o momento mais duro, ainda fica tempo para saber do consolo de uma palavra certeira de Victor Hugo, autor dos Miseráveis, sobre a morte: «Morrer não é acabar, é a suprema manhã». Basta isto para não temer a nossa morte e saber acolher em paz a morte dos outros. É isto que faço agora.
À família enlutada (especialmente a sua esposa), apresento sentidas condolências.
JLR

AS DUAS VERGONHAS

Não é vergonha ter defeitos. Mas ver os dos outros e não os próprios...
Não é vergonha ser trabalhador. Mas fugir ao trabalho...
Não é vergonha cair. Mas ficar caído...
Não é vergonha sucumbir. Mas sucumbir no prazer...
Não é vergonha não ter dinheiro. Mas gastá-lo mal gasto...
Não é vergonha errar. Mas preservar no erro...
Não é vergonha ser ignorante em alguns assuntos. Mas presumir-se sábio em todos eles...
Não é vergonha comer o que a bondade de alguém põe na mesa. Mas ainda por cima dizer mal...
Não é vergonha rezar ao levantar-se pela manhã. Mas portar-se como pagãos pelo dia adiante...
Não é vergonha pregar a paz com os inimigos. Mas andar em guerras constantes com os amigos e parentes...
Não é vergonha usar os cabelos compridos. Mas sim ter ideias curtas...
Não é vergonha ouvir os ditos dos homens. Mas não ouvir a voz da consciência...
Não é vergonha ficar a dever. Mas sim não pensar em pagar...
Não é vergonha ter vergonha. Vergonha é não a ter...
Imagem em: http://bloggdaro.blogspot.com

sábado, 8 de janeiro de 2011

O Solar dos Leais no Porto da Cruz

Foi notícia nos últimos dias que a Diocese do Funchal vendeu o Solar das Meninas Leais no Porto da Cruz. Pelo que sei pertencia ao Seminário Diocesano do Funchal.
É necessário levantar-se algumas questões que a Diocese terá que responder. Acho que é uma exigência elementar que alguns, que se acham donos dos bens da Diocese, devem prestar sobre o património que pertence a todos. Não quero ser polémico, mas apenas fazer ver que, aquilo que é de todos a todos deve dizer respeito. Seis pontos.
Primeiro, quem decide e com que direito o faz, comprar ou vender património, que não é de alguns, mas de toda a gente, todos os baptizados e, espeiclamente, todos os que pertencem à Igreja com a sua prática e com os seus donativos para a sua manutenção?
Segundo, qual a verdadeira intenção das Meninas Leais quando doaram aquele Solar ao Seminário Diocesano do Funchal?
Terceiro, feita a venda, para que se destina o dinheiro, isto é, vai ser aplicado em quê e como?
Quarto, que irão fazer do Solar os novos proprietários, uma escola, um lar para idosos, um museu, uma casa da cultura, algo que sirva o bem comum? - Se não for isso estamos perante um vergonhoso negócio…
Quinto, será que esta venda é apenas um ensaio para outras maiores que se advinham, por exemplo, o antigo Seminário da Encarnação, cobiçado por muitos pela sua localização e por outros dentro da Igreja Diocesana desejosos de fazer pura e simplesmente negócio?
Sexto, finalmente, julgo que se pede à Igreja maior transparência nestas questões do património imóvel e móvel para que não se perca a dignidade nem muito menos a autoridade para pedir ao povo esmolas para a sua acção pastoral.
Ainda uma nota: alguns dirão que eu deveria colocar estas questões nos «locais próprios» e directamente a quem de direito para as responder. Talvez. Mas, porque não fazer reflectir os outros, como se de um dever de caridade se tratasse? E mais, onde estão esses «locais próprios», nesta Igreja que se desdobra em milhentas reuniões para discutir inutilidades e sem dar espaço para se dizer abertamente o que se pensa e se deseja que seja esclarecido? - Está sempre tudo muito afunilado e manietado por alguns que se apoderaram da Diocese como se tratasse de património herdado da família de sangue. A dimensão profética deve fazer parte da missão de todo o cristão, aquele que pelo Baptismo assumiu viver nesse contrabalançar da denúncia e do anúncio. Com isto faço jus à minha condição de baptizado, nada mais, penso. Ponho-me fora destas negociatas, porque, acho, que esta não é a forma melhor de ser Igreja à luz do Evangelho de Jesus Cristo.
JLR

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O QUE É A ALIANÇA ?

Aliança, no sentido de acordo, é um pacto entre duas ou mais partes objetivando a realização de fins comuns: Aliança militar; Aliança política; Outras formas de aliança (acordo comercial; casamento, etc).
Aliança, é um anel, usado para simbolizar um compromisso e a união afectiva entre duas pessoas, em noivados e cerimónias de casamento.
Na Bíblia, o termo Aliança (em hebraico: berith; em grego, segundo a tradução da Saptuaginta, diatheke) é utilizado para definir o pacto divino entre Deus e os homens. É também utilizado como sinónimo da própria Bíblia (como acontece em versões latinas). Existem diversos rituais, indicados na Bíblia, que implicavam a formação de alianças entre pessoas ou directamente com Deus.
A primeira aliança a ser estabelecida aparece com a descida da arca de Noé no monte Ararat, em que Deus faz aparecer o arco-íris como sinal da Velha Aliança (daqui o nome vulgar de "arco-da-velha" - aliança - para este fenómeno óptico).
Outras alianças se vão sucedendo na história sagrada, como o pacto com Abraão e a promessa de uma descendência mais numerosa que as estrelas do céu (e que tem o seu momento ritual quando Abraão divide ao meio uma novilha, uma cabra e um cordeiro entre os quais passa uma labareda de fogo, em sinal divino) - aliança esta que passa a ser marcada também pelo ritual da circuncisão.
Após o Êxodo do Egipto, o povo de Israel passa a ser testamentário de outra aliança que o torna no povo eleito de Deus.
Na perspectiva cristã, com São Paulo, passa-se a falar da Nova Aliança, selada com o sacrifício de Cristo para a remissão de todos nós.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo do Baptismo do Senhor
09 de Janeiro de 2011
O Baptismo de Jesus
Pessoalmente para João, o baptismo de Jesus terá sido o seu auge experiencial. João terá ficado admirado por Jesus se ter proposto para o baptismo. Esta experiência motivou a sua fé e o seu ministério. João baptizava em Pela, quando Jesus se aproximou, na margem do rio Jordão.
A síntese bíblica do acontecimento é resumida, mas denota alguns factores fundamentais no sentimento da experiência de João. Nesta altura João encontrava-se no auge das suas pregações. Teria já entre os 25 e os 30 discípulos e baptizava judeus e gentios arrependidos. Neste tempo os judeus acreditavam que Deus castigava não só os iníquos, mas as suas gerações descendentes. Eles acreditavam que apenas um judeu poderia ser o culpado do castigo de toda a nação. O baptismo para muitos dos judeus não era o resultado de um arrependimento pessoal. O trabalho de João progredia.
Os relatos Bíblicos contam a história da voz que se ouviu, quando João baptizou Jesus, dizendo “este é o Meu filho amado com o qual Me alegro”. Refere que uma pomba esvoaçou sobre os dois personagens dentro do rio, e relacionam essa ave com uma manifestação do Espírito Santo. Este acontecimento sem qualquer repetição histórica tem servido por base a imensas doutrinas religiosas.
A cena do baptismo de Jesus revela portanto, essencialmente, que Jesus é o Filho de Deus, que o Pai envia ao mundo a fim de cumprir um projecto de libertação em favor da humanidade. Como verdadeiro Filho, Ele obedece ao Pai e cumpre o plano salvador do Pai; por isso, vem ao encontro da humanidade, solidariza-se com ela, assume as suas fragilidades, caminha com ela, refaz a comunhão entre Deus e a humanidade que o pecado havia interrompido e conduz cada mulher e cada homem ao encontro da vida em plenitude. Da actividade de Jesus, o Filho de Deus que cumpre a vontade do Pai, resultará uma nova criação, uma nova humanidade.
Neste Jesus que João baptiza, está a esperança da renovação do mundo. Ele é o sinal do amor de Deus a favor de todos. Assim, tudo o que seja desesperança há-de encontrar uma luz, um sentido novo Neste Filho de Deus que se deixa marcar pelo o amor. Este mundo onde reina a injustiça, a malvadez contra os mais fracos, a soberba que acolhe os amigalhaços ou os mais bafejados pela dita sorte, não marcará jamais o seu lugar perante a força vibrante do anúncio da fraternidade, a igualdade e a liberdade do encontro do Deus do amor, que este Filho representa.
Imagem em: walldesk.com.br

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Estamos perdidos há muito tempo...

No ano de 1871, Eça de Queirós disse:
«Estamos perdidos há muito tempo...
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os carácteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: “o país está perdido!”
Algum opositor do actual governo?... Não!»
Nota: Se fosse hoje deste mesmo país o que diria o mesmo autor...

É difícil... Como é fácil...

É difícil fazer alguém feliz,
assim como é fácil fazer triste.
.
É difícil dizer eu te amo,
assim como é fácil não dizer nada.
..
É difícil valorizar um amor,
assim como é fácil perdê-lo para sempre.
...
É difícil agradecer pelo dia de hoje,
assim como é fácil viver mais um dia.
....
É difícil enxergar o que a vida traz de bom, assim como é fácil fechar os olhos e atravessar a rua.
É difícil se convencer de que se é feliz, assim como é fácil achar que sempre falta algo.
.....
É difícil fazer alguém sorrir,
assim como é fácil fazer chorar.
......
É difícil colocar-se no lugar de alguém,
assim como é fácil olhar para o próprio umbigo.
.......
Se você errou, peça desculpas...
É difícil pedir perdão?
........
Mas quem disse que é fácil ser perdoado?
Se alguém errou com você, perdoa-o...
.........
É difícil perdoar?
Mas quem disse que é fácil se arrepender?
Se você sente algo, diga...
É difícil se abrir?
Mas quem disse que é fácil encontrar
alguém que queira escutar? Se alguém reclama de você, ouça... É difícil ouvir certas coisas?
Mas quem disse que é fácil ouvir você?
Se alguém te ama, ame-o...
..........
É difícil entregar-se?
Mas quem disse que é fácil ser feliz?
...........
Nem tudo é fácil na vida...
Mas, com certeza, nada é impossível...
Nota: Não sei quem é o autor. Serve para reflectir e isso basta.