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Convite a quem nos visita

sábado, 30 de abril de 2011

Encontrei um Homem

Encontrei um Homem.
Perdi a memória do autor; mas não a do texto, que aqui segue.
“Encontrei um dia um homem com fome
e eu que tinha cinco pães, não lhe dei um. (Jo. 6, 1-15)
Encontrei um dia um homem com sede de água (Jo. 4, 1-42)
e eu que era irmão da samaritana, disse que não tinha balde.
Encontrei um dia um homem carregando com uma cruz (Lc. 23,26)
e eu que também me chamava Simão, não fiz de Cireneu.
Encontrei um dia um homem nu (Lc. 3,11)
e eu, que tinha duas túnicas, não lhe dei uma.
Encontrei um dia um homem, cego de nascimento (Jo. 9, 1-12)
e eu, que era professor, não lhe dei a luz.
Encontrei um dia um homem sentado no último lugar (LC. 14, 7-11)
no banquete dos meus anos;
e eu que era o dono da festa,
não o convidei, a vir mais para cima.
Encontrei um dia um homem paralítico (Jo. 5, 1-9)
e eu que tinha os dois pés, não o ajudei a caminhar.
Encontrei um dia um homem na praça da vida (Mt.20-1-16)
à espera de trabalho; e eu que era latifundiário
deixei-o ficar.
Encontrei um dia um homem que dizia: (Mt.3,1-12)
“arrependei-vos, endireitai os caminhos do espírito”
e eu que não gostava de sermões,
mandei-lhe cortar a cabeça.
Encontrei um dia um homem, que regressava andrajoso
à casa paterna; e eu que era cristão cumpridor, fiz o papel
do irmão mais velho. (Lc. 15, 11-32)
Encontrei um dia um homem a caminhar
na estrada da minha vida,
e eu que também ia para Emaús, (Lc. 24, 13-35)
não vi que era Cristo”.
MND – Capelania Mor – 29 de Abril de 2011 Januário Torgal Mendes Ferreira Bispo das Forças Armadas e de Segurança
Nota: com votos de um bom fim de semana para todos...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

1 de Maio de 2011
Domingo II da Páscoa
A Divina Misericórdia
A Devoção à Divina Misericórdia é de origem polonesa, cuja divulgação se deve a Santa Faustina, considerada uma grande mística pela Igreja Católica, e que teria recebido instruções do próprio Cristo, através de aparições, para que a mesma divulgasse a Sua Misericórdia Divina. O processo de beatificação desta Santa iniciou-se por iniciativa do então Cardeal Arcebispo de Cracóvia, Karol Wojtila, e posteriormente foi canonizada pelo mesmo bispo, já quando era o Papa João Paulo II. Segundo os católicos, Jesus Cristo não apenas ensinou a Irmã Faustina os pontos fundamentais da confiança e da misericórdia para com os outros, mas também revelou maneiras especiais para vivenciar a resposta à Sua misericórdia. A isso chamam de devoção à Divina Misericórdia. A palavra "devoção" significa o cumprimento das nossas promessas. É uma entrega da vida ao Senhor, que é a própria Misericórdia. A compaixão e o amor aos outros como forma de conduta de vida, faz o cristão, que deve dar beleza ao nosso com tais valores, especialmente, na sua atenção aos mais fracos da sociedade. A Misericórdia de Deus só se percebe na atenção de cada um ao outro. O nosso mundo precisa desse testemunho e dessa sensibilidade, para que os mais fracos não se sintam desamparados, mas vejam nos braços dos cristãos o sinal da partilha generosa carregada de amor, de misericórdia.
JLR

Informação ao sr. jornalista Mário Gouveia

Informação ao sr. jornalista Mário Gouveia, opinion maker do Programa da RTP–Madeira, Dossier de Imprensa.
Ex.mo sr.
Já li os dois livros que vossa excelência fez referência no programa do dia 28 de Abril, «O Tesouro Escondido» do Padre Tolentino Mendonça, (vª excelência só se deu conta do livro agora, mas o livro já existe nas bancas há muito tempo) e também já li e já comentei o livro «Jardim, a Grande Fraude» do jornalista Ribeiro Cardoso. Sabe o que é opinião com conhecimento de causa, sabe o que é ter opinião própria, livre e desprovida das amarras do pensar dos outros, da inveja e do ressentimento. Vª excelência que nos poupe e vá cantar para outra freguesia.
Vª excelência opina sobre dois livros que não leu, opina sobre a minha pessoa, dá sugestões, conselhos e não sabe o meu nome… Não preciso de mais nada para saber dos seus intentos e de quanto vª excelência está a tornar-se a maior anedota do jornalismo madeirense. Não perco mais tempo consigo…
Só uma nota para finalizar: Vá ler a notícia do Luís Rocha no Diário de Notícias sobre o Padre Tolentino Mendonça na edição de hoje na secção «5 sentidos», página 29: «Tolentino Mendonça almeja "tirar o Cristianismo do ghetto cultural"».

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Citação sobre o mal

Simone Weil escreveu: «Um homem pode, em qualquer momento da sua vida, entregar-se ao mal, pois entrega-se na inconsciência e sem saber que se introduz nele uma autoridade exterior… não é necessário ter dito sim ao mal para ser tomado por ele. Mas o bem não toma a alma a não ser quando ela diz ‘sim’». E José Ignacio González Faus, teólogo jesuíta, conclui este pensamento: «(…) reconhecer a nossa pobreza (que é a nossa verdade) será a primeira maneira de ‘deixarmo-nos tomar pelo bem’ (como dizia Simone Weil) e de evitar que o mal se apodere de nós sem nos darmos conta».
in Deus e a Fé – razões de um crente e do não crente, J. I. González Faus e Ignacio Sotelo, (Casa das Letras, Lisboa, 2005).

quarta-feira, 27 de abril de 2011

CARTA DE FREI BETTO AO PAPA JOÃO PAULO II

Nota: Esta Carta do frei Betto ao Papa foi publicada na “Folha de São Paulo”, no dia 05.10.1997, por ocasião da última visita do Papa João Paulo II ao Brasil. Esta carta já tem algum tempo, mas reveste-se de uma actualidade muito grande, porque os temas que aborda ainda não tiveram uma resposta adequada da ortodoxo Igreja. Por isso, tem o mérito de nos pôr a reflectir neste contexto da beatificação do Papa João paulo II. A propaganda à volta disso será imensa, como já se vislumbra...
Vós chefiais a Igreja na qual dedico minha vida à proposta de Jesus. Sois o sucessor de Pedro. Tendes outros títulos. Não me agradam. “Vossa Santidade” soa-me impróprio à nossa comunidade de pecadores. “Sumo pontífice” era pagão antes de ser cristão. O imperador Otávio Augusto, que reinava quando Jesus nasceu, adotou essa denominação honorífica.
Vossa imagem desenha-se, a meus olhos, diferente daquela que os Evangelhos retratam de Pedro. O chefe dos apóstolos era casado, pois Jesus curou-lhe a sogra. Sois celibatário e não permitis que o celibato volte a ser, na Igreja Católica, um carisma distinto do carisma do sacerdócio. Nos Evangelhos, é proeminente a presença de mulheres ao lado de Jesus: Maria de Nazaré, Maria Madalena, Joana, Susana, Maria, mãe de Cléofas; Salomé, mãe de Tiago e João; e várias outras.
Onde estão as mulheres do grupo do papa? Como se chamam? Por que, tendo Deus criado homens e mulheres à sua imagem e semelhança, são elas impedidas de acesso ao sacerdócio, ao episcopado e ao papado?
Sois um homem de coração à esquerda e cabeça à direita. Não vos agradam a Teologia da Libertação e as inovações suscitadas pelo Concílio Vaticano 2º. Ah, que grande alegria se o vosso pontificado canonizasse o papa João 23!
Exigistes do presidente Fernando Henrique Cardoso, em Roma, empenho na reforma agrária. Ao presidente Sarney dissestes que “no Brasil não haverá democracia enquanto não houver reforma agrária”. E agora, ao chegar ao Brasil, denunciastes as desigualdades sociais e citastes os sem-terra.
Tivestes a humildade de, em nome da Igreja, pedir perdão pela equivocada condenação a Galilei Galileu. Por que não vos permitiram receber no Rio famílias de sem-terra? Haverá no futuro um papa que reconheça como certos cardeais romanos foram duros com Leonardo Boff e Ivone Gebara?
Viestes ao Rio tratar da família. Sabeis que a família monogâmica, patriarcal, branca e europeizada é um entre tantos modelos. Qual o modelo cristão? Minha amiga Dora, favelada do ABC, que era surrada toda semana pelo marido alcóolatra e, hoje, refaz sua vida afetiva com Luiz merece ser considerada família?E por que lhes é vetado o acesso aos sacramentos? Julgais que Deus, em sua bondade, nega ao casal o sacramento maior da compaixão? E meus amigos Renato e Lúcio, que vivem juntos e comungam seus afetos, seriam aos olhos do pai de amor uma família? “Deus é amor”, proclama o Novo Testamento.
O amor é o maior dos mandamentos. E por que meu amigo Cláudio, tetraplégico, não pode merecer a bênção matrimonial em suas núpcias com Teresa? Quis o Criador que, nos animais, coito e procriação não diferissem. Quis também que entre o homem e a mulher a atração seja transfigurada em ternura, o afeto em carinho, o toque em comunhão de corpos e de espíritos. Toda essa liturgia que faz do erotismo ágape é um pecado, se não há intenção de procriar? Sabíeis que o Brasil é o terceiro país do mundo em casos de Aids? Porém Roma não admite que se usem preservativos. A disseminação da morte não seria algo muito mais grave que o prazer do sexo estéril? E por que não condenais a fabricação e o comércio de armas, bem como a pena de morte, com a mesma veemência com que abominais o aborto? Pena que a vossa visita seja tão breve a este país. Quisera convidar-vos a conhecer as Comunidades Eclesiais de Base, nas quais Jesus é tão vivo na fé e na esperança dos pobres. Pudesse, levar-vos-ia também às igrejas evangélicas em que a palavra de Deus povoa corações e a vossa figura é apreciada. Depois, aos terreiros de candomblé, nos quais negros e brancos celebram uma liturgia mística que torna as pessoas mais generosas e solidárias. Veríeis também os ritos indígenas que varam a noite e, ao som de flautas e tambores, evocam a sacralidade da natureza como expressão do Criador. Essa gente, meu pastor, traz na mente e no sangue tanto sincretismo quanto os cardeais romanos.
Pois não é verdade que o modelo de igreja romano traz marcas visíveis de influências pagãs e judaicas? O governo dos césares não teria incutido em alguns de nossos prelados o gosto de ser chamados “príncipes da igreja” e habitar em palácios? Por que não retornar à simplicidade de Jesus, ao despojamento dos apóstolos, à pobreza evangélica?E, antes de deixardes o Brasil, quão felizes ficaríamos todos com a visita de Pedro à pedra sobre a qual se ergue a Igreja Católica no Brasil nesta Segunda metade do século d. Hélder Câmara, o profeta.
Frei Betto, 53 anos, é frade dominicano, assessor da Pastoral Operária do ABC e da Central de Movimentos Populares e consultor do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra).

terça-feira, 26 de abril de 2011

O amor fino

«Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: "O amor fino não busca causa nem fruto". Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino».
Padre Antônio Vieira

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O códice oculto do 25 de Abril: a demora

(nota: este códice foi encontrado numa gruta submarina das Berlengas e foi decifrado por um perito dos Farilhões). Porém, 25 de Abril sempre... A liberdade é um bem precioso. Sejamos merecedores dele...
Já há vários anos se sabia que era inevitável, muitos sabiam, muitos escondiam que a bancarrota tinha chegado com os desmando da evolução do 25 de Abril. Agora importava remediar a situação. Mas muitos continuaram a ocultar a realidade.
Afinal outras semelhantes tinham acontecido em revoluções brandas ou violentas do passado. A da primeira República levou dez anos a ser aceita e foi-se deteriorando; em 1926 não foi possível adiar mais. Procuraram, então, pelo país e conseguiram encontrar alguém com perfil para pôr as finanças em ordem. Convidaram essa pessoa. Muitos políticos, porém, não aceitaram as suas condições e o remendo foi adiado mais dois anos.
Agora, após sucessivos adiamentos mentiras e desmentidos não foi possível adiar mais. Decidida a questão a contragosto alguns ainda procuraram por todo o país algum Salazar. Não conseguiram encontrar. Como agora a Europa também é Portugal, tiveram que ir procurar mais longe mas não encontraram ninguém com perfil. Sugeriram então outros que em vez de um Salazar qualquer sem perfil para a tarefa, se encontrassem dois ou três, ou mais se fosse preciso, porque isto estava mesmo a afundar-se. Assim fizeram e convidaram meia dúzia para ver se remendam isto. A certeza de esta meia dúzia conseguir não é muita porque boa parte dos ingovernáveis continua ainda a negar que haja rasgões e outros continuam a rasgar mais.
(Assinatura ilegível)

domingo, 24 de abril de 2011

O Papa João Paulo II

Nota: Seja verdade ou não, não me importa, acho a foto interessante. Nestes braços que enlaçam o Papa vejo os braços da Mãe de Deus que sempre abraça com muito amor toda a humanidade e não preciso de fotos deste género para acreditar e sentir este abraço. Recebi por mail...
Esta foto foi tirada pelo fotografo oficial do Vaticano no dia do atentado ao Papa João Paulo II.
O Vaticano a libertou depois da morte do Santo Padre e após longos estudos químicos na revelação da mesma.
Não se sabe porque João Paulo II quis manter oculta esta foto por tantos anos. A Santa Sé publicou há pouco, pela primeira vez, esta foto que fora tomada pelos seguranças, no preciso momento do atentado ao Santo Padre, quando este caía no papamóvel, dobrado pela dor. De acordo com Joaquín Navarro Valls, porta-voz da Santa Sé, foram muitos anos de estudos da revelação desta incrível fotografia e naturalmente sobre a qualidade do filme utilizado, já que na primeira revelação não se conseguia ver direito a imagem porque não era muito nítida.
Finalmente e depois de havê-la submetido a mil controles com os fotógrafos mais especializados do mundo, decidiram que não havia truque nenhum nela e hoje nos presenteiam com este belo dom de Nossa Senhora, Mãe de Deus.

sem título

Porque a morte tem o seu tempo
A ruína soma ruína, à cabeça
Equilibra a existência desmoronada e inteira.
Tu és o que edifica
Tu constróis mil vezes.
Porque o raio tem o seu tempo.
És o clarão, a lâmpada, a estrela
Somas luz à luz.
Não és a luz, és mais que a luz
Porque a noite tem o seu tempo.
Daniel Faria

sábado, 23 de abril de 2011

DOMINGO DE PÁSCOA - A RESSURREIÇÃO

Ressurreição em latim (resurrectione), grego (a·ná·sta·sis). Significa literalmente "levantar; erguer". Esta palavra é usada com frequência nas Escrituras bíblicas, referindo-se à ressurreição dos mortos. No seio do povo hebreu, a palavra correlata designava diversos fenómenos que eram confundidos na mentalidade da época. O seu significado li-teral é voltar à vida, assim o acto de devolver uma pessoa considerada morta era chamada ressurreição; Existe a conotação esca-tológica adoptada pela Igreja Católica para esse termo que é a ressurreição dos mortos no dia do juízo final.
Através dos séculos, os cristãos ortodoxos sempre confessaram o credo dos apóstolos: “Creio na ressurreição da carne”. Esta confissão de fé na ressurreição “carnal” dos crentes é fundamentada na fé da ressurreição do corpo de Cristo. Apesar da convicção inabalável da igreja histórica na ressurreição da carne, existem, nos nossos dias, alguns que se julgam ortodoxos, mas não aceitam esta doutrina. No passado, também houve aqueles que se apartaram dessa confissão pregada pelo cristianismo apostólico, negando a realidade da ressurreição. Hoje, igualmente, alguns continuam sendo tentados a mudar de rumo negando a materialidade da ressurreição.
O que nos chama a atenção nisto tudo é que os tais não têm dificuldades em pregar um “túmulo vazio” enquanto, de forma irónica, negam que um corpo material (carnal) possa ter emergido deste. Em resumo, enquanto negam a materialidade da ressurreição, confessam a sua objetividade, e, baseados nesta confissão, concluem que têm uma fé bíblica. Cristo vivo, oferece-nos a vida em plenitude. Vamos agora abrir o nosso coração à força da fé.
Feliz Páscoa para todos...
Imagem de blog «Sonhos de crianças»

O SÁBADO SANTO E O SENTIDO DA PÁSCOA

No Sábado Santo, com a chegada da noite, entramos no coração das celebrações da Semana Santa! É a hora da Grande Vigília, a Vigília Pascal, que Sto. Agostinho (+ 430 d.C.) chamava a Mãe de todas as Vigílias!
Para os primeiros Cristãos, a Páscoa não era apenas uma Festa entre tantas outras, mas era a Festa das Festas! É assim que é até hoje! A maior Festa da Igreja Católica não é a Festa do Padroeiro (a), mesmo de Nossa Senhora! Não é a Festa do Natal, que é o começo de nossa Salvação! Não é a Festa de Pentecostes, que é complemento da Páscoa! A maior Festa da Igreja Católica é a Festa da Páscoa! Somos uma Igreja Pascal!
A Liturgia da Vigília Pascal, riquíssima, divide-se em quatro partes:
1) Bênção do Fogo e do Círio Pascal, que simbolizam o Cristo Ressuscitado;
2) Liturgia da Palavra, com várias leituras do Antigo e Novo Testamento, que resumem a História da Salvação;
3) Liturgia Baptismal: na Igreja Primitiva, o Baptismo dos Catecúmenos Adultos era feito na Vigília Pascal, depois de longa preparação;
4) Liturgia Eucarística: segue-se, então a Missa com procissão das Ofertas.
Eis uma pergunta que sempre é feita: porque é que a Festa da Páscoa é móvel: não cai sempre no mesmo dia de um mês? A Resposta: - porque os Cristãos herdaram dos Judeus a data da Páscoa, que é no Domingo depois da primeira Lua Cheia da Primavera (na Europa e no Ocidente). Para nós, no Hemisfério Sul, a Páscoa é no Domingo depois da primeira Lua Cheia do Outono. Com a Páscoa variam as Festas da: Ascensão do Senhor, Pentecostes, Corpus Christi (Corpo de Deus) e Sagrado Coração de Jesus.
A Páscoa tal como a celebramos hoje
Após uma disputa seríssima sobre o assunto entre a Igreja do Oriente e do Ocidente, venceu Roma pelo Concílio de Niceia em 325. Tudo começa com a controvérsia Quartodecímana, ou do décimo quarto dia, a disputa sobre a celebração da Páscoa lançou a Igreja da Ásia Menor contra a Igreja de Roma. A Igreja Oriental comemorava a Páscoa com uma vigília na mesma noite em que se celebrava a Páscoa judaica, independentemente do dia da semana em que caía. O costume romano também observado em alguns lugares da Ásia Menor, defendia que a Páscoa caía no domingo seguinte da Páscoa judaica. Após longas disputas e discussões sem conclusões absolutamente nenhumas e com uma grande confusão em toda a Igreja (uns a celebrar a ressurreição outros ainda a fazer jejum...), a Igreja de Roma, com a afirmação cada vez mais forte do bispo de Roma, as coisas serenaram e foi definido no Concílio de Niceia em 325 a celebração da Páscoa tal como a temos ainda hoje...
A CELEBRAÇÃO DO SÁBADO DE ALELUIA
O Círio Pascal
O Tempo da Páscoa ou Tempo Pascal vai do domingo da Páscoa até à Solenidade de Pentecostes (Festa do Espírito Santo). Durante este período, o círio pascal (aquela vela grande que é acesa durante a Vigília Pascal, no Sábado de Aleluia) fica junto ao altar e sempre é aceso novamente durante as Santas Missas e Baptismos. Ele representa Jesus Ressuscitado, que é a Luz do Mundo!
Passemos à leitura de um artigo explicativo interessante:
"EIS A LUZ DE CRISTO! DEMOS GRAÇAS A DEUS!
GRANDE VELA é o CÍRIO PASCAL: simboliza, recorda, faz a memória da pessoa de Jesus Cristo ressuscitado.
O CÍRIO PASCAL
É preparado, abençoado, aceso e conduzido para a Igreja na Santa Vigília Pascal.
A grande celebração da Vigília Pascal se inicia normalmente com a bênção do "FOGO NOVO". Este FOGO NOVO, FOGO DA PÁSCOA, FOGO QUE QUEIMA, ILUMINA e AQUECE, recebe uma bênção especial, antes de ser aceso o CÍRIO PASCAL.
É como uma chama do FOGO NOVO ABENÇOADO que o CÍRIO é aceso. Terminada a preparação do CÍRIO PASCAL, inicia-se a procissão para introduzi-lo solenemente no interior da Igreja. Apagam-se todas as luzes para deixar o ambiente completamente escuro e eis o significado: a Igreja toda às escuras simboliza o mundo em trevas, o mundo sem Deus, sem Jesus, sem o Evangelho. Nesta escuridão do mundo brilhou e brilha uma única luz verdadeira, a luz de Jesus ressuscitado, simbolizada pela Luz do CÍRIO PASCAL.
O CÍRIO, é aceso e elevado e apresentado aos fiéis reunidos através do cântico: "Eis a Luz de Cristo!" Os fiéis voltam-se para o CÍRIO e cantam: "Demos Graças a Deus!" O sacerdote prossegue até o centro da Igreja, faz novo anúncio e os fiéis respondem com o mesmo canto, em frente ao altar. O sacerdote coloca o CÍRIO num pedestal e incensa para significar a adoração que os fiéis prestam ao Ressuscitado. Logo a seguir. É cantado o "Exultet" (de alegria) ou o Precónio Pascal (ou seja, pregação resumida sobre a História da Salvação, desde a Criação até à Ressurreição de Jesus Cristo).
Agora vamos ver o significado dos sinais, números e letras que decoram o CÍRIO PASCAL:
A CRUZ: A cruz encravada no CÍRIO, em geral de cor vermelha, lembra a Cruz de Jesus Cristo. Jesus e Cruz mantêm um vínculo indestrutível. Ao traçar a Cruz sobre o CÍRIO o celebrante diz: (no vertical) "Cristo, ontem e hoje, (no horizontal) princípio e fim".
AS LETRAS: As duas letras colocadas ao alto e em baixo da Cruz, o Alfa e o Ómega, são a primeira e a última letra do alfabeto grego. Ao cravar as duas letras o celebrante diz: "ALFA E ÓMEGA", quer dizer, "PRINCÍPIO E FIM".
O NÚMERO: O número 2011, que varia conforme o ano corrente, é a afirmação que Jesus é o mesmo, ontem, hoje e para sempre: O nº (2) A Ele é o tempo, o nº (0) é a eternidade, o nº (1) A glória e o poder e o nº (1) pelos séculos. Amem.
AS BOLINHAS (feitas de cera e grãos de incenso): As cinco bolas que são afixadas à cruz, uma ao alto, outra ao centro, outra em baixo e as outras duas nos dois braços da cruz, simbolizam as cinco chagas de Jesus Cristo. O celebrante diz: (ao alto da cruz) "por suas Santas Chagas", (ao centro) "suas Gloriosas Chagas", (em baixo) "o Cristo Senhor", (à esquerda) "nos proteja", (à direita) "e nos guarde. Amem".
"A ELE O TEMPO E O PODER PELOS DOS SÉCULOS. AMÉM". FELIZ PÁSCOA E TEMPO PASCAL!
Texto adaptado por mim com base no blogue Canto da Paz. com
Imagem de blog coreaú

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Espaço curvo e finito

Nota: em dia de Sexta-feira-santa, dois textos para nos ajudarem a melhor rezar e viver este dia com toda a consciência da nossa finitude, mas com toda a esperança... Para lá desse horizonte está a outra margem, onde o Deus de Jesus nos espera com um «Banquete de saborosos manjares e carnes suculentas» (Profeta Isaías).
Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.
(José Saramago, de Os Poemas Possíveis, Editorial Caminho, Lisboa, 1981. 3ª edição)
..............................................................
Crucificação
As Sextas-Feiras Santas nos relembram
aquela madrugada sombria em Jerusalém
quando um Jovem Imaculado foi vítima
da traição humana.
O vento brando, a lua inibida,o murmúrio das palmeira,
o gemidos das almas…
A sentença se aproximava.
Ela vinha sobre o dorso áspero
da fera – o homem!
A multidão que há poucos dias
o saudava delirantemente
com ramos e cânticos
agora implorava por sua morte.
Ali, sob seus castos pés,
centuriões imperiais
disputavam suas vestes em meio
a estrondoantes gargalhadas.
Ele bradava: “Eli, Eli, lame sabactani?”:
“Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?”
As púmbleas nuvens abalaram-se,
as rochas estremeceram…
Jesus deu o último suspiro relembrando
da água transformada em vinho,
do Lázaro ressuscitado,
da fé de Nicodemus,
da ira dos fariseus porque o Mestre
sentou-se à mesa com pecadores, réprobos
e cobradores de impostos.
Ele relembrou das conversações
que teve com os apóstolos,
da Madalena livre do apedrejamento
e perdoada…
Jesus já não se encontra na Cruz.
Ele está defronte do teu coração,
suplicando para entrar,
sentar à tua mesa e ceiar contigo
por toda eternidade.
Poema do poeta Ivo Júnior

quarta-feira, 20 de abril de 2011

TRÍDUO PASCAL

Nota: Breve explicação sobre estes três dias da Semana Santa. Eis a Páscoa... Palavra que significa passagem...
O tempo quaresmal continua até Quinta-Feira Santa. A partir da Missa vespertina da Ceia do Senhor começa o Tríduo pascal, que abrange a Sexta-Feira da Paixão do Senhor e o Sábado Santo, tem o seu centro na Vigília pascal e conclui-se com as Vésperas do Domingo da Ressurreição. Nele se torna presente e se realiza o mistério da Páscoa, isto é, a passagem do Senhor deste mundo para o Pai. Com a celebração deste mistério, a Igreja, por meio dos sinais litúrgicos e sacramentais, associa-se em íntima comunhão com Cristo seu Esposo.
Missa da Ceia do Senhor
Nesta Missa a Igreja propõe-se comemorar aquela última Ceia, na qual o Senhor Jesus na noite em que ia ser entregue, tendo amado até ao fim os seus que estavam no mundo, ofereceu a Deus Pai o seu Corpo e Sangue sob as espécies do pão e do vinho, os entregou aos Apóstolos para que os tomassem, e lhes mandou, a eles e aos seus sucessores no sacerdócio, que os oferecessem também. Toda a atenção da alma deve estar orientada para os mistérios que sobretudo nesta Missa são recordados, a saber, a instituição da Eucaristia, a instituição da Ordem sacerdotal e o mandamento do Senhor sobre s caridade fraterna.
Sexta-feira da Paixão do Senhor
Neste dia em "Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado", a Igreja, meditando a Paixão do seu Senhor e adorando a Cruz, comemora o seu nascimento do lado de Cristo e intercede pela salvação do mundo inteiro.
Sábado Santo
No Sábado Santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando na sua Paixão e Morte, e na sua descida à mansão dos mortos, e esperando na oração e no jejum a sua Ressurreição.
Vigília Pascal. Noite Santa
Segundo uma antiquíssima tradição, esta noite deve ser comemorada em honra do Senhor, e a Vigília que nela se celebra, em memória da noite santa em que Cristo ressuscitou, deve considerar-se a "mãe de todas as vigílias", pois nela a Igreja se mantém de vigília ª espera da ressurreição do Senhor e a celebra com os sacramentos da iniciação. Desde o início a Igreja celebrou a Páscoa anual, solenidade das solenidades, principalmente com uma vigília nocturna. Com efeito, a Ressurreição de Cristo é o fundamento da nossa fé e da nossa esperança, e, por meio do Baptismo e da Confirmação, fomos inseridos no mistério pascal de Cristo: mortos, sepultados e ressuscitados com Ele, com Ele também havemos de reinar. Esta Vigília é também expectativa da vinda do Senhor.
Boa Páscoa para todos...

A Vida

Nota: Nós cristãos, que celebramos a vida ressuscitada e a sua plenitude durante esta semana continuamos a escutar na literatura (poesia) a sabedoria dos poetas que pela densidade da palavra nos falam da maravilha que é a VIDA.
..
A vida, as suas perdas e os seus ganhos, a sua
mais que perfeita imprecisão, os dias que contam
quando não se espera, o atraso na preocupação
dos teus olhos, e as nuvens que caíram
mais depressa, nessa tarde, o círculo das relações
a abrir-se para dentro e para fora
dos sentidos que nada têm a ver com círculos,
quadrados, rectângulos, nas linhas
rectas e paralelas que se cruzam com as
linhas da mão;
..
a vida que traz consigo as emoções e os acasos,
a luz inexorável das profecias que nunca se realizaram
e dos encontros que sempre se soube que
se iriam dar, mesmo que nunca se soubesse com
quem e onde, nem quando; essa vida que leva consigo
o rosto sonhado numa hesitação de madrugada,
sob a luz indecisa que apenas mostra
as paredes nuas, de manchas húmidas
no gesso da memória;
..
a vida feita dos seus
corpos obscuros e das suas palavras
próximas.
Nuno Júdice, in "Teoria Geral do Sentimento"

terça-feira, 19 de abril de 2011

Vida

Nota: Porque celebramos a semana da vida...
Vida:
sensualíssima mulher de carnes maravilhosas
cujos passos são horas
cadenciadas
rítmicas
fatais.
A cada movimento do teu corpo
dispersam asas de desejos
que me roçam a pele
e encrespam os nervos na alucinação do «nunca mais».
Vou seguindo teus passos
lutando e sofrendo
cantando e chorando
e ficam abertos meus braços:
nunca te alcanço! Meu suplício de Tântalo.
Envelheço...
E tu, Vida, cada vez mais viçosa
na oscilação nervosa
das tuas ancas fecundas e sempre virgens!
À punhalada dilacero a folhagem
e abro clareiras
na floresta milenária do meu caminho.
Humildemente se rasga e avilta
no roçar dos espinhos
minha carne dorida.
E quando julgo chegada a hora
meu abraço de posse fica escancarado no ar!
Olímpica
firme
gloriosa
tu passas e não te alcanço, Vida.
Caio suado de borco
no lodo...
O vento da noite badala nos ramos
sarcasmos canalhas.
Não avisto a vida!
Tenho medo, grito.
Creio em Deus e nos fantásticos ecos
do meu grito
que vêm de longe e de perto
do sul e do norte
que me envolvem
e esmagam:
— maldita selva, maldita selva,
antes o deserto, a sede e a morte!
Manuel da Fonseca, in "Rosa dos Ventos"

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vida

Nota da redacção: Esta semana para nós cristãos é a semana da VIDA. Por isso, concentremo-nos no valor mais belo que nos foi dado, a VIDA. Que nesta semana sabemos ser um dom que perdura para toda a eternidade, porque participamos na oferta maior de Jesus Cristo, a Sua Ressurreição...
Sempre a indesencorajada alma do homem
resoluta indo à luta.
(Os contingentes anteriores falharam?
Pois mandaremos novos contingentes e outros mais novos.)
Sempre o cerrado mistério
de todas as idades deste mundo
antigas ou recentes;
sempre os ávidos olhos, hurras,
palmas de boas-vindas, o ruidoso aplauso;
sempre a alma insatisfeita,
curiosa e por fim não convencida,
lutando hoje como sempre,
batalhando como sempre.
Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

domingo, 17 de abril de 2011

A frase de J. Ratzinger contra Bento XVI?

J. Ratzinger escreveu em 1968: "Acima do Papa encontra-se a própria consciência, à qual é preciso obedecer em primeiro lugar; se fosse necessário, até contra o que disser a autoridade eclesiástica. O que faz falta na Igreja não são panegiristas da ordem estabelecida, mas homens cuja humildade e obediência não sejam menores do que a sua paixão pela verdade, e que amem a Igreja mais do que a comodidade da sua própria carreira." Continuou a pensar assim enquanto Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé? O que pensará hoje?
Citado do por Anselmo Borges in Diário de Notícias de Lisboa na sua crónica semanal, 16 de Abril de 2011

sábado, 16 de abril de 2011

O mundo tem a forma da Cruz!

O mundo tem a forma da Cruz!
Maior prova de amor!
A humanidade foi redimida, está salva de uma vez para sempre, graças Aquele que nos ama.
"Deus amou de tal modo o mundo que entregou o seu Filho Unigénito,
para que todo o que n'Ele crê não morra mas tenha a vida eterna" (Jo 3, 16).
..
O mundo tem a forma da Cruz!
Não a cruz do absurdo, mas a cruz da sabedoria.
Não uma cruz abandonada, mas uma cruz abraçada.
Não a cruz do desespero, mas a cruz da esperança,
Não a cruz da morte, mas a cruz da vida.
..
O mundo tem a forma da Cruz!
Não a minha ou a tua, não a soma das nossas cruzes.
Mas a forma da Cruz de Cristo.
E N'Ele, então sim, também a nossa cruz.
O Filho, "que não conhecera pecado, Deus tratou-o, por nós, como pecado" (2Cor 5, 21) para nos resgatar.
Misericórdia infinita!
..
O mundo tem a forma da Cruz, pois,
é entregando o seu corpo ao mundo
que o Crucificado transforma o mundo em cruz!
Pe. Giselo
Nota: com um grande abraço ao amigo e colega Pe. Giselo e votos de bom fim de semana para todos os meus leitores...

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ser fiel a tudo - bem precisamos de fidelidade

Ser fiel a tudo o que uma pessoa iniciou num momento espontâneo, demasiado espontâneo, por vezes.
Ser fiel a cada sentimento, cada pensamento que começou a germinar.
Fiel no sentido mais lato da palavra.
Fiel a si mesmo, a Deus, fiel aos seus próprios melhores momentos.
E onde uma pessoa está, ser totalmente, cem por cento ser.
O meu “fazer” consistirá em “ser”.
“Diário” de Etty Hillesum, a jovem judia morta no campo de concentração de Auschwitz a 30 de Novembro de 1943.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

17 de Abril de 2011
Domingo de Ramos
Os Ramos: o triunfo de Jesus
O Domingo de Ramos abre a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição. Este domingo é chamado assim porque o povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão onde Jesus passava montado num jumento. Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hossana ao Filho de David”, “Salve o Messias”... E assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder. Começa então uma trama para condenar Jesus à morte e morte de cruz. O povo aclama-O cheio de alegria e esperança, pois Jesus como profeta de Nazaré da Galiléia, o Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão política e económica imposta cruelmente pelos romanos naquela época e, religiosa, que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos. Mas, essa mesma multidão, poucos dias depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria de impostor, de blasfemador, de falso Messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei, exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à morte. Por isso, na celebração do Domingo de Ramos, proclamamos dois Evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão de Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do julgamento de Cristo. Julgamento injusto com testemunhas compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Eis, então, Jesus vítima da aristocracia do seu tempo, toda junta para o sanear. Todas as vezes que qualquer pessoa humana é tramada na sua dignidade pela lógica do poder opressivo, vemos «outro Jesus» a ser banido ou violentado na sua dignidade.
JLR

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O balão negro

Nota: o racismo é o pior dos males no coração da humanidade...
O balão negro Numa grande romaria, um vendedor de balões segurava uma quantidade enorme de todas as cores. Para atrair a petizada soltava de vez em quando um balão de cor garrida: ora vermelho, ora amarelo, ora verde, etc.. Mas também tinha balões de cor preta, mas soltava de preferência os outros que eram mais atraentes.
Os balões subiam perante a algazarra das crianças que acompanhavam com o olhar a trajectória até desaparecer.
Entre as crianças ali reunidas estava um pequeno de cor negra. Ao ver subir os balões de todas as cores excepto a negra aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe: se você soltasse um balão negro, ele também subiria? O homem sorriu, porque entendeu a razão da pergunta do pequeno, soltou um balão de cor preta que se elevou rapidamente nos ares e disse-lhe: meu menino, não é a cor que faz subir os balões, é o que está dentro. Aquele pequeno negro habituado a algum desprezo racista, julgava que aquele balão não subia porque a cor não deixava, julgando que era um balão inferior.
Mas o homem deu-lhe uma explicação importante: não é a cor do balão que o faz subir ou não. É o que ele contém dentro que o eleva e o transporta para longe.Cada homem pode comparar-se a um destes balões. Qualquer que seja a sua cor, o seu tamanho, o seu peso, a sua fortuna, não é isso que o faz subir na verdadeira escala dos valores. É o que contém dentro: é a riqueza da alma que contém dentro de si.
Mário Salgueirinho

Mais um contributo quaresmal

Para levar uma vida melhor,
Eu preciso que o meu amor esteja aqui ...
Aqui, fazendo cada dia do ano
Mudando a minha vida com um aceno da sua mão
Ninguém pode negar que existe alguma coisa lá
Lá, passando as minhas mãos pelos cabelos dela
Nós dois pensando o quão bom ele pode ser
Alguém está falando, mas ela não sabe que ele está lá
Eu quero que ela em toda parte
e se ela está junto de mim, sei que nunca preciso me preocupar.
Mas amá-la é precisar dela
Sabendo que o amor é para compartilhar
Cada um acreditando que o amor nunca morre
Observando os seus olhos e esperando que eu esteja sempre lá
(...)
Eu estarei lá, e em toda parte
Aqui, ali e em toda parte
(Trechos de Here, There and Everywhere - The Beatles)
Versão em inglês
To lead a better life,I need my love to be here...
Here, making each day of the year
Changing my life with a wave of her hand
Nobody can deny that there's something there
There, running my hands through her hair
Both of us thinking how good it can be
Someone is speaking but she doesn't know he's there
I want her everywhereand if she's beside me I know I need never care.
But to love her is to need her
Everywhere, knowing that love is to share
each one believing that love never dies
watching her eyes and hoping I'm always there
(...)
I will be there, and everywhere
Here, there and everywhere
(Trechos de Here, There and Everywhere - The Beatles)

terça-feira, 12 de abril de 2011

O amor é...

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Luiz Vaz de Camões
Nota: Tendo em conta que veio a público a notícia que os reclusos podem ter sexo uma vez por mês, deixo aqui o famoso poema de Camões sobre o amor, para que os encontros sexuais não sejam apenas ocasionais, desprovidos de amor e carne... Ó triste país este...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Jesus Cristo hoje. Como?

Hoje a abundância de literatura sobre Jesus Cristo (JC) revela que talvez nunca houve uma época com tanta profusão sobre o tema. O Papa já fez vir a lume dois volumes (não tardarão outros, suponho) e com ele têm sido os imensos livros sobre Jesus Cristo.
Neste ambiente da Páscoa somos convidados a descobrir, Jesus de Nazaré como uma proposta para a vida toda e para todos. A descoberta de Jesus Cristo salvador de toda a humanidade é algo de elementar na acção da Igreja de hoje. A Igreja, Nele e por Ele descobre-se a si mesma como caminho possível de redenção e de sentido para os passos da humanidade. Salvaguarde-se que a pessoa de JC é sempre muito mais do que aquilo que somos capazes de viver e de propor. JC, é a chave que abre os corações, sem jamais os trancar, para a paz, a fraternidade e o amor.
Conta-se assim a brincar. No primeiro aniversário de casamento, a esposa/esposo podem dizer: «faz hoje um ano que te dei as chaves do meu coração»! O outro, com a voz dorida pela frieza da constatação pronuncia: «é verdade! Mas 15 dias depois mudaste-lhe a fechadura»… Jesus será essa chave nova que abre as fechaduras sem nunca as fechar.
A paixão ou entusiasmo pelo projecto de JC, nunca se verga aos laços macabros do egoísmo e da soberba humana. Qualquer atitude desenfreada que violente essa relação pessoal com JC, estabelece desde logo uma ruptura com o dinamismo novo que a proposta JC inaugura, como perspectiva de salvação. É, por isso, que a mudança de fechadura será sempre um duro golpe na paixão pelo outro e pela vida.
Pensava-se que era impossível viver na apatia e na banalização dos ideais e sem um fim transcendente que justificasse um seguro investimento na realização pessoal. Porém, a nossa sociedade prova que, afinal, o que conta apenas, é continuar a zelar pela saúde própria, preservar a situação dos bens pessoais e esperar que cheguem os fins-de-semana, o final do mês e as férias. Só que a crise fez desmoronar muitos esquemas de vida que pareciam ser para sempre.
As palavras de Jesus aos discípulos de João Baptista, são resposta para as nossas questões acerca Dele, que também perguntavam se podiam dar crédito ao que estavam vendo com os seus próprios olhos. Em jeito de resposta, Jesus diz-lhes que a única prova que podia dar é, que tudo aquilo era coisa de Deus, isto é, «os surdos ouvem, os coxos andam e aos pobres é anunciada a Boa Notícia».
Ora, vivemos séculos de doutrina doce e continuamos a mascar a pastilha elástica insonsa de uma mensagem no sentido de um moralismo mole que não podem eliminar a força da mensagem daquele que veio «lançar fogo à terra» (Lc 12, 49). «Julgam que vim trazer a paz ao mundo?! De modo nenhum: o que eu vim trazer foi a divisão» (Lc 12, 51). Este que nos falou e que continua a falar a cada um de nós hoje, oferece a ressurreição, a plenitude da vida (resposta à tão procurada eternidade pelo homem). Esta gratuidade é a tomada de consciência do meu «eu», condição do despertar para a realidade do Reino de Cristo - o lugar da experiência do encontro, a condição essencial do ser cristão hoje e sempre (cf. Jo 1, 1-4).
A ressurreição tem esse preço: despertar para a realidade do Reino. Um reino onde se entra não pela guerra, pela invasão ou pela conquista, mas pela dose de entrega ao serviço do outro, o que implica um eficaz desprendimento dos bens, que no fundo manifesta uma radical preocupação mais em dar do que em receber. Onde está esse Reino?
O Reino está onde acontece o amor, porque Deus é amor. Se teimas em dizer «que não chegou» é porque continua de pé o desafio, é preciso realizar em nós todos essa relação de amor com o mundo. E mergulhamos na tensão entre o «já realizado» do despertar pessoal para o reino, e o «ainda não» do despertar de todos para fim. Pelo meio o drama inquietante da errância. Não parar nunca é a única razão constitutiva dessa tensão que nos torna, por conseguinte, responsáveis pelo despertar de todos. É neste JC do Reino do «eu» com o «outro» e vice-versa que acredito em verdade.
José Luís Rodrigues
Publicado no Diário de Notícias, Madeira, no dia 10 de Abril de 2011

domingo, 10 de abril de 2011

Padrecos mediáticos

GILBERTO TEIXEIRA
Padrecos mediáticos
www.jornaldamadeira.pt
Duas ou três notas: Este é um título de um artigo de opinião publicado no Jornal da Madeira no dia 7 de Abril de 2011. A saga das ofensas a tudo e todos continua, basta que mexa em sentido contrário.
Perguntas: como é possível a Igreja Católica da Madeira se permita servir de sombra moral a um Jornal totalmente instrumentalizado pelo poder político vigente na nossa terra, permitindo que à sombra dos dinheiros dos contribuintes, alguém, pretensamente achar-se dotado a tal ponto, para ofender, acusando gravemente, com linguagem de calhau os pares da Igreja Católica da Madeira?
Acharia bem este senhor que os padres perante as suas assembleias destratassem com nomes malcriados os deputados, os militantes de qualquer partido, os escribas do regime e outros agentes da sociedade com alcunhas e outros nomes mais aproriados à linguagem dos arruaceiros de quinta categoria?
Achará este senhor que todos os padres devem pregar ao povo da nossa terra que na hora de votar devem fazê-lo colocando a «cruzinha no quadradinho das setinhas voltadas para o céu». Então, era isso... - Como dizem os nossos jovens?
Em que mundo anda este senhor?
Nota final: se este senhor, pensava na minha pessoa quando escrivinhava estes gatafunhos do calhau, é melhor despertar e transmitir as lições de fé e moral para os seus pares. E quem sabe se ficaria mais bonito utilizar o espaço do Jornal da Madeira para cronicar sobre o Bem-Comum (um princípio extraordinário da Doutrina Social da Igreja, claramente dirigido aos governantes) e fazer propostas sobre a forma como deve cumprir o seu dever o Governo Regional pagando o que deve a tempo e horas, isto é, cumprindo o que deve ser feito a favor de todo o povo da nossa terra.
Pensa este senhor que os padres ideais não devem utilizar os meios modernos de comunicação, devem estar circunscritos às sacristias e dedicar-se às esmolinhas para alimentar os pobrezinhos coitadinhos que Deus coloca no nosso caminho para nós salvarmos a nossa alminha.
E o exemplo do padre Américo... Boa, gostei. Não deveria ser tão orgulhoso com a sua obra, dado que a sua existência manifesta que os poderes instituídos demitiram-se da sua função. Tenho orgulho de todos os membros da Igreja que tudo fizeram e fazem em favor dos outros, especialmente os mais pobres. Porém, isso não me leva a desqualificar o trabalho que se faz hoje e a função essencial que cada padre (não padreco como chama com todo o desprimor este sr.) realiza em favor de todos em cada comunidade.
E que tal uma frase do ilustre Padre Américo para meditar: «É necessário que o mundo não pasme do que me dão.. Mas, sim, que se aflija com o que me falta. É só a fome e sede de Justiça que eu tenho, que me leva... a mostrar a minha chapa de mendigo, só isso». Não é uma frase que deve fazer corar de vergonha todos os políticos?
Por fim, quanto ao mimo de «padrecos», guarde-o para si e aplique-o os seus familiares ou aos membros do seu imprescindível partido. Para nós fica a advertência, estes senhores que se acham donos da Madeira, têm os dias contados, porque enveredaram por um caminho onde ninguém escapa e pelo andar da procissão não tarda nada o sr. bispo será tratado por «bispeco» pelo Jornal que teima em seguir princípios claramente católicos. Meus amigos, este serviço à Igreja é melhor ser dispensado. No entanto, fique com a certeza, rezarei por si sr. Gilberto Teixeira, porque do Evangelho tomo o ensinamento que é bom caminho de salvação rezar pelos nossos inimigos e pelos os que nos ofendem.
JLR

sábado, 9 de abril de 2011

Teimosamente na esperança

«A Igreja tem uma história muito longa, essa história inclui uma parte equitativa dos canalhas, mas também inclui aqueles cujo heroísmo foi alcançado, apesar da oposição da Igreja oficial: Joana d'Arc e Oscar Romero, para citar apenas dois. (...)
Como é que alguns de nós ainda ficam na Igreja? No sofrimento, na tristeza, com a resolução de não ficar de fora por causa daqueles que dizem que estão falando em nome do Pai. Nós apenas não acreditamos neles. A Igreja não é uma instituição, é o povo, as pessoas que estão feridas e escandalizadas, não só pelos crimes sexuais de padres, mas o mais importante, pelo encobrimento por aqueles que estão no poder. Em 1959, a eleição do Papa João XXIII foi uma surpresa, uma espécie de milagre. Aconteceu uma vez. Isso pode acontecer novamente. Vamos esperar, na esperança teimosa, para que volte o milagre. Nós queremos certificar-nos que alguns de nós estão em casa quando isso acontece».
In Encontro do Metanoia & Why I Stay: A Parable From A Progressive Catholic
Nota: título nosso. Serve este texto para reacender a esperança no milagre dentro da nossa Igreja, mas também na nossa sociedade e especialmente na nossa terra a Madeira. Que na esperança, o nosso coração se anime com o que sempre proclamamos todos os dias, «Deus tarda, mas não falha»… Bom fim de semana para todos.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo V Tempo da Quaresma
10 de Abril de 2011
A ressurreição de Lázaro
A ressurreição. Um mistério. Uma fé. Uma proposta de esperança para a vida. Porque resulta do amor vivido até ao extremo e de uma radical entrega a uma causa de salvação do mundo caído na desgraça do egoísmo e do ódio.
Parece esquisito, mas vou dar-vos um exemplo de ressurreição a partir de uma telenovela. Coisa muito apreciada por todo o lado. O canal Sic transmitiu uma telenovela brasileira com o nome muito sugestivo e interessante, «Esperança», assim se chamava. Nos últimos capítulos do enredo a personagem Justine às portas da morte, magistralmente interpretado por uma actriz muito conhecida, mas que não sei o nome, dá-nos um exemplo fabuloso do que é a redenção e de como a vida só tem sentido quando acolhida com amor.
Justine é uma prostituta apaixonada por um jovem advogado chamado Marcus. A sua vida foi uma caminhada de miséria e de muito sofrimento. Justine dirige um Cabaré ou casa de prostituição, frequentemente apelidado de «antro de perdição» e de «postíbulo». Mal sabíamos nós que estava prestes a emergir deste lugar imundo um testemunho extraordinário de esperança.
Uma doença grave de pulmões e a descoberta do amor conduz Justine aos braços do seu jovem amante que também manifesta muito amor ela. A descoberta do amor liberta Justine da vida miserável que até então levava. Juntos alugam uma casa no campo com a esperança que o ar puro alivie a sua dor e até a cure da doença. Porém, a mãe do jovem advogado interfere na relação paradisíaca e consegue separar os dois. Justine abandona o campo, regressa ao «Antro de perdição», para que Marcus a odeie e que se liberte do amor por uma prostituta desprezível. Justine cumpre a promessa que faz à mãe de Marcus, que desempenha o papel da sociedade.
Uma mulher severa e conservadora, exprime o que pensa hipocritamente a sociedade. A mesma sociedade que promove os «antros de perdição» ao mesmo tempo os condena e despreza às trevas todos os que a eles estão ligados mesmo que desejem voltar à vida. A redenção para determinada forma de vida não acontece aos olhos da sociedade.
Justine desprezada por todos mesmo até pelas amigas e companheiras, acaba num quarto de porão. Aí nos braços de Marcus, o seu amado, agoniza às portas da morte. Nesse momento, depois de olhar para a sua vida miserável, apenas deseja partir feliz porque soube o que era o amor. Justine pergunta: «Quantas pessoas podem fechar os olhos e partir sabendo o que é o amor?»
De facto, esta lição de vida nem todas as pessoas a podem dar. É surpreende descobrirmos que da miséria que a vida oferece pode emergir a redenção. A ressurreição que de Lázaro é esse sinal forte de que a vida não tem sentido nas trevas. Dizia Justine: «Quem vive nas trevas não conhece o amor». A sua vida marcada pela entrega ao não amor são umas trevas terríveis que não permitem o brilho da luz do sentido da vida.
Na hora da morte justine aludiu a uma frase que a sua mãe lhe dizia frequentemente: «Nascemos e renascemos muitas vezes ao longo da vida». Depois, acrescentava que não sabia se seria exactamente assim. Porém, a sua morte acolhida na esperança de que tinha conhecido o amor manifestou e ensinou-nos que a vida vivida no amor é a única forma de nascer e renascer constantemente. A ressurreição é isso mesmo.
A ressurreição de Cristo é esta luz que ilumina as trevas, os túmulos onde se esconde a dignidade e a vida de tanta gente mergulhada na escaravidão e miséria deste mundo. Mas, a miséria da vida e a fronteira da morte são um nada diante da grandeza do horizonte de felicidade do amor que Jesus faz acontecer. A ressurreição identifica-se com redenção e com amor. Mais uma vez deixemos a vida renascer à luz de Cristo vivo que em cada hora torna novas todas as coisas.
JLR

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Amor Não É Um Fantasma

.
A noite cai e eu caio com a noite
como os planos que connosco caem
invocados por espíritos que sim deviam ter vindo
agora a noite caiu
mas o amor não é um fantasma, está vivo
o amor não é um fantasma, ele está vivo
..
o amor é um fantasma, são palavras nos teus lábios
o engano que os teus olhos denunciam
eis o sol que se levanta, e eu também me levanto,
também me levanto para vos encontrar
a noite que trago é a vossa única pista
para a minha queda
...
ela atravessa ruas largas e estreitas
e eu atravesso com ela
ruas largas e estreitas, e eu com ela,
cantando o amor não é um fantasma, está vivo
o amor não é um fantasma,
ele está vivo.
Poema: Pedro Mexia In blogue de Aldina Duarte

terça-feira, 5 de abril de 2011

Três Coisas não se Sofrem sem Discórdia

Nota: Escutemos a sabedoria de Camões, para arrefecer alguns ânimos que pululam nas artérias da cidade desta vida...
Príncipes de condição, ainda que o sejam de sangue, são mais enfadonhos que a pobreza; fazem, com sua fidalguia, com que lhe cavemos fidalguias de seus avós, onde não há trigo tão joeirado que não tenha alguma ervilhaca. Já sabeis que «basta um frade ruim para dar que falar a um convento». Três cousas não se sofrem sem discórdia: companhia, namorar, mandar vilão ruim sobre cousa de seu interesse. Não se pode ter paciência com quem quer que lhe façam o que não faz. Desagradecimentos de boas obras, destroem a vontade para não fazê-las a amigo, que tem mais conta com o interesse que com a amizade; rezai dele, que é dos cá nomeados.
Luís Vaz de Camões, in "Cartas"

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Mandrágora – partilhar enganos

Juntar várias forças humanas para partilhar enganos. A ciência, a família, a Igreja, a ética que a todos devia orientar para o bem, juntam-se para a partilha mais absurda, satisfazer instintos puramente humanos, para não dizer animalescos.
Nesta trama de enganos o absurdo toma conta dos personagens sedentas de resposta aos mais disparatados apetites. Neste entrecruzar de interesses patéticos a moral não conta, a intrujice marca as regras. Basta saber-se que em vista dos fins o bem pode ser mal e o mal pode ser bem.
Ora de que falamos afinal? – Mandrágora, de Niccolò Machiavelli, espectáculo levado à cena pelo Teatro Experimental do Funchal (TEF), no Cineteatro de Santo António, Funchal. Trata-se de uma peça que nos fala de um jovem rico que se apaixona por uma mulher casada, que não consegue engravidar, cujo marido deseja desesperadamente um filho varão. O jovem sabendo desta situação, está disposto a tudo para conquistar esta mulher, recorre a um mercenário da localidade para o ajudar na trama para levar a cabo os seus fins. E conseguirá. Acertados os respectivos fins começa a trama com a colaboração de todos, destacando-se a ajuda crucial da «velhaca sabidona» da sogra e do frade, que em nome da ajuda aos pobres, procura todas as artimanhas para extorquir todo o dinheiro possível de todas as partes interessadas neste imbróglio. A ele cabe-lhe o papel de convencer a bela esposa, Lucrécia, do mais que feio, gordo e porcalhão Dr Nícias, a dormir com o jovem apaixonado, Calímaco, coadjuvado pela repugnante sogra. É destes personagens que se percebe plenamente que a moral em vista dos fins pode passar a letra morta. O enredo da hipocrisia redunda na conclusão do autor, Niccolò Machiavelli, ao dizer: «no mundo só existe o vulgo», e é necessário saber-se que para tal vulgaridade «todos os homens são culpados» e que a perversidade e a maldade destes se revelarão «sempre que se lhes apresentar ocasião e liberdade para isso» (ver folheto informativo da peça). A nossa Democracia, quando desvirtuada, resulta nesta miséria inconcebível.
Como se percebe, estamos perante uma mensagem que se reveste de uma actualidade muito grande. O tempo que nós vivemos mergulhado na vulgaridade e na moral hipócrita, que leva os povos, as sociedades ao descalabro do «maquiavelismo» dos interesses pessoais, sem que os meios sejam questionados para alcançar os fins. Nada disso importa, basta que os apetites individuais encontrem satisfação absoluta, mesmo que sejam enviados às urtigas valores como, dignidade, fidelidade, compromissos e, especialmente, o bem de todos.
Dado que a peça será resposta entre os dias 14 a 20 de Abril, quem poder não deixe de assistir a este momento alucinante de mensagem muito interessante e actual.
Nota: Para quem não saiba, Mandrágora na peça, é uma poção para despertar o apetite sexual...
JLR

domingo, 3 de abril de 2011

Há-de vir o tempo…

.
Há-de vir o tempo do mútuo respeito,
assente no diálogo e na abertura à diversidade.
..
A encruzilhada e a dúvida
hão-de ser vencidas
e chegará o tempo da permanência,
da serenidade quanto baste.
...
Reinará um dia
o diálogo dos saberes:
a sabedoria será então rainha.
....
À fragmentação sucederá a unidade.
E na comunhão seremos felizes.
Eugénio Beirão, In “Rosa-dos-Tempos”.
Tirado do blogue «Pela Positiva»

sábado, 2 de abril de 2011

Deus Mãe e Pai

O papa João Paulo I, no seu brevíssimo pontificado afirmou que “Deus é Pai e Mãe”.
Esta afirmação do papa sorriso, impõe uma mudança radical da mentalidade judaica e patriarcal, que é a fonte do cristianismo. A figura de Deus – Pai, não está teologicamente errada. Mas é muito salutar começar a olhar de outro modo o amor maternal de Deus. Deus é o Pai e a Mãe que nos corrige e derrama a Sua misericórdia sobre nós, num gesto de profundo amor materno. Precisamos cultivar a dimensão feminina de Deus. A teóloga Maria Clara Bingemer, professora de teologia (PUC – RJ) vai além, e estende a dimensão materna às três pessoas da Santíssima Trindade, dizendo “Cada pessoa da Trindade é uma harmonização de características masculinas e femininas”.
A doutora em religião sugere algumas passagens que fundamenta a sua tese, vejamos: “Como a uma pessoa que a sua mãe consola assim eu vos consolarei”. (Is 66,13). “Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem eu não me esquecerei de ti”. (Is 49,15).
Outra expressão do amor materno de Deus pode ser experimentada com Maria. Ela não é Deus nem Deusa como diz a música Senhora e Mãe “Não és deusa, não és mais que Deus. Mas depois de Jesus, o Senhor. Neste mundo ninguém foi maior”. Maria é expressão do amor de Deus para com a humanidade.
A maternidade sempre foi uma bênção para Igreja. E na fecundidade de uma gestação expressa de alguma forma o amor de Deus para com os seres humanos.

Márcio Alexandre da Silva, formado em filosofia e educador
Agora vejamos o famoso quadro, o Regresso do Filho Pródigo, de Rembrandt:
O quadro, o Regresso do Filho Pródigo, que está no Museu Ermitage, em San Petersburgo, cujo foco, o centro dramático onde a luz incide, é o contacto entre o pai e o filho acabado de chegar. A cabeça do filho encostada ao peito e aquela posição de sujeição ao pai, perante a contenção dos outros elementos-testemunhas presentes, que aguardam, expectantes, são factores que falam com eloquência do momento do regresso a casa. Curiosamente não há palavras, apenas gestos. E aqueles silêncios que por vezes se tornam ensurdecedores.
Roto, meio descalço, abatido, arrependido, surpreso pelo acolhimento paternal, está lá tudo.
As mãos do pai/mãe (curiosamente uma mão feminina e outra masculina) repousam cuidadosa e delicadamente nas costas do filho que regressou. Estão abertas, como que a acalmar o seu coração e a garantir-lhe, pelo toque, a sua intenção inequivocamente de perdão e o desejo de ver este filho que estava perdido, agora restaurado, de novo “encontrado” para o pai/mãe.
Com o desejo grande que Deus Mãe/Pai dê a todos um feliz fim de semana...

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Muita parra e pouca uva

O jornalista Mário Gouveia no programa da RTP-Madeira, Dossier de Imprensa, do dia 31 de Março de 2011, fez eco do que se pensa e diz sem fundamento acerca dos padres. Dizia o seguinte ilustre pensador, são todos ricos e não se sabe o que eles fazem ao dinheiro: «será para comprar batinas…; eles não fazem igrejas…; basta ir às missas para ver o que eles recebem de dinheiro…».
Este pensar é revelador de imensas coisas, vamos listar algumas.
Primeiro, alguma culpa destas «bocas» de mau gosto radica na falta de transparência da Igreja em geral, que entende não prestar contas a quem faz as ofertas, os seus fiéis. Diz que o faz «a quem de direito». Ora tendo em conta que muito poucos são os que sabem desse «a quem de direito», o povo desconfia, pensa sobre o que vê de forma errónea, injusta sobre todos, generaliza e coloca tudo no mesmo saco.
Segundo, a um fazedor de opinião exige-se mais fundamentos, para que as suas opiniões não sejam eco simplório daquilo que é dito na rua.
Terceiro, confunde-se bens que são de todos (Igreja) com bens pessoais.
Quarto, os dinheiros dos ofertórios das missas são na maioria esmolas em trocos, que em tempos de crise financeira, são de valor cada vez mais baixo.
Quinto, são esmolas que quase não chegam para a manutenção dos templos que temos em mãos. Todos sabem que manter e conservar um edifício é muito difícil e se são construções antigas ainda se revestem de maior dificuldade. Por isso, não admiro um padre por ter feito um templo com dinheiros estatais, admiro sim aquele que vem a seguir que terá a responsabilidade de conservar o que foi feito com pompa e circunstância.
Há a ideia generalizada que os padres são todos ricos e que cada igreja é um manancial de riqueza fabulosa. Não desculpo alguma hierarquia e alguns padres em particular, porque deram e dão razões para que se pense desta forma. Muito bem.
Porém, será importante destacar que o trabalho social que a Igreja realiza, muitas vezes sob muitos sacrifícios, levaria a sociedade ao caos se não fosse feito. Não será em vão, com imensas falhas é certo, a atenção que a Igreja denota a famílias carenciadas, a filhos rejeitados, a idosos abandonados, a jovens alienados com o desporto, com as drogas, com a falta de oportunidades… Outro aspecto é o da educação escolar. É imenso o trabalho social que a Igreja realiza em prol da sociedade. Trabalho que o Estado devia assegurar, mas que se demite frequentemente e quando o realiza, é feito com a maior das insensibilidades humanas e espirituais.
Noutro domínio esquece-se o trabalho espiritual e a importância para o equilíbrio das populações. Como seriam os povos sem palavras de esperança em relação ao futuro, de conforto na doença e na morte?; Quem faz os diversos serviços para congregar as pessoas – a catequese e as festas; o serviço do voluntariado em prol dos outros que as comunidades religiosas organizam e etc, etc… O Santo Cura D’Ars dizia: «Deixai uma paróquia vinte anos sem padre: ali se adorarão os animais". Neste sentido a sociedade ainda seria muito mais violenta, mais desequilibrada e quem sabe caótica se este aspecto espiritual e social não fosse realizado pelas Igrejas.
Quanto aos dinheiros. A minha experiência diz que quanto mais transparência melhor. É o que faço frequentemente nas paróquias onde sou pároco. Neste sentido, tomo como exemplo uma das paróquias. As ofertas mensais rondam os mil euros. Desta oferta cerca de metade some-se com gastos comuns (luz, água, telefone e outros) e o restante que sobra vai para pagamento de alguns serviços realizados por pessoas que se dedicam ao cuidado e asseio dos templos. Penso que quem tem a responsabilidade de gerir a sua casa e que se preocupa com tudo o que ela necessita para estar asseada e conservada compreende perfeitamente do que falo.
Perguntamos, como vivem afinal os padres? – Do salário fictício que as Dioceses criaram para que nós pagássemos IRS nalguma base. No meu caso, quando me perguntam digo que vivo de esmolas, o que é perfeitamente verdade. As ofertas das intenções das missas que andam pelos 10 euros, ofertas de alguns sacramentos (casamentos e baptismos) que embora estejam taxados pela Diocese não recorro a essas taxas, fica ao critério de cada pessoa. Cada um dá consoante a sua possibilidade e generosidade, caso não reúna essas condições, não dá nada, mas não fica sem receber o sacramento que pediu.
Mas, há padres que aparentam serem ricos? – É verdade. Alguns terão bens de família e naturalmente que haverá paróquias melhores de que outras neste aspecto do dinheiro. Pena que os bens não sejam canalizados para um fundo comum, de onde todos receberiam de forma mais justa. Mas, não funciona assim, cada um que se desenrasque, daí os desníveis e os sinais desiguais que transparecem, porque também dentro da Igreja a solidariedade entre os seus membros anda pela rua da amargura. Muita pregação para fora, pouca prática no seu interior. Salva-nos o seguinte, os padres no geral são pessoas sóbrias, com vidas regradas e não têm família de sangue para alimentar.
Como se vê muita parra e pouca uva. Porém, salvaguarde-se a importância da Igreja e papel crucial que os padres exercem em prol da fixação das populações e no acompanhamento espiritual das mesmas. Trabalho essencial, cada vez mais reconhecido e valorizado pelas entidades ligadas à saúde física, psicológica e social.
JLR