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domingo, 3 de junho de 2012

A Madeira Velha e a Madeira Nova

Nota: Texto de opinião publicado no Diário de Notícias na secção «Sinais dos Tempos» (03/06/2012). Alguns escribas do regime da dita »Madeira Nova» em decadência, não gostam do que digo e escrevo. Paciência. «Não há machado que corte a raíz ao pensamento» e por muito que se tenha feito ou  faça pela nossa querida Madeira, ninguém é dono de nada deste mundo. Morremos todos e levamos só a roupa no corpo...

Destaque do Dnotícias:Deixemos esta música entre velha e nova e concentremo-nos numa Madeira única para todos...

Este contra pesar entre «velha» e «nova» aplicado à Madeira está a tornar-se gasto demais e irritante. Já não suportamos mais este discurso que pretende ensaiar um maniqueísmo que empacota uns dentro da caixa velha e outros dentro da caixa nova. Esta música está gasta e já cansa.
A Madeira merece mais do que estar apenas entre esta dicotomia. O povo que a habitou e habita merece mais do que apenas estar entre estes binómios depreciativos que a desqualificam. Foi a política partidária pura e dura que inventou estes pobres e reles adjetivos para a nossa amada Madeira. Sim, porque o conceito mais frustrante de política está mais que concretizado entre nós. Repare-se, «Politicus est professio ex sumo currrency ex los uber quod suffragium ex los pauper, gratia servo ut los unos ex los alius» (Política é a arte de obter dinheiro dos ricos e votos dos pobres, com o fim de proteger a eles e os outros). Onde é que já vi isto?
Mas vamos ao que admiro das duas Madeiras. Não deixarei de elencar também o que repudio em ambas. Apenas alguns exemplos para ajudar a reflexão. Obviamente, que deixamos espaço para o rol de cada um.
A maioria da população ativa da Madeira de hoje é filha da Madeira velha. Esta dita Madeira velha, criou-nos a todos, fez a história possível dadas as circunstâncias, mas quiçá alicerçou muito daquilo que hoje nós podemos contemplar e saborear. Admiro desse tempo o respeito, a união familiar, a fidelidade à palavra dada e aos compromissos, a fé em Deus e nas capacidades humanas, as regras que se acertavam de boca em boca quanto à lavoura e à convivência comunitária, o amor ao trabalho mesmo que fosse duro e cruel, a persistência e paciência diante dos desafios da natureza, a veneração pela vida em todas as suas etapas, a solidariedade entre famílias e vizinhança, a revolta perante as injustiças e tanta outra coisa que esta tal Madeira velha tem para nos ensinar.
Mas, repudio dessa Madeira velha, a injustiça que foi o poder que endeusava alguns (o vigário, o professor/a, o senhorio, o político, o médico…) e a submissão do vilão, que carregava às costas o que lhes imponham em nome de um Deus que «amava» a pobreza, a paciência e a vingança. Não se louva a emigração que destroçava as famílias e empobrecia ainda mais a comunidade madeirense. Tudo isto que fazia da vida «um vale de lágrimas», deve ser repudiado e desejar-se que nunca mais exista entre nós.
Vamos agora à dita Madeira nova. Admiro e saboreio exaustivamente desta Madeira, a qualidade de vida que podemos usufruir. As vias de comunicação que nos aproximaram uns dos outros, a luz elétrica e a água canalizada que chegou a todas as casas, a educação que se tornou um direito de todos, o bem-estar em geral que a todos beneficiou…
Mas, ao lado disto repudio, algumas coisas que se perderam. O respeito é o principal deles. Mais educação e esclarecimento deviam ter feito homens e mulheres mais empenhados no trabalho e na luta pelo bem comum. A mentira e o atropelo dos outros não deviam ser regras para ter sucesso. A luta desenfreada pelo dinheiro não devia existir tanto e não devia ser o principal da vida. Então temos comunidades pouco solidárias, famílias divididas, jovens deprimidos e sem horizontes de futuro que se entretêm com atividades inúteis, consumir álcool e promiscuidade sexual. A emigração voltou em força e lança para fora de nós o melhor do nosso futuro, os mais qualificados e a gente mais nova…
Por fim, repudio, toda a política da partidarite que dá mau exemplo no lugar mais nobre da Madeira nova, eufemisticamente apelidado de «Casa da Democracia» (Assembleia Regional da Madeira). E deixemos esta música entre velha e nova e concentremo-nos numa Madeira única para todos.
José Luís Rodrigues

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