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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Passeios irritantes e insultuosos

Terça-feira, farpas à Madeira Nova no Banquete...
 

Como são impressionantes as imagens de destruição que nos chegam do norte da nossa Ilha. A força da água varreu tudo o que estava à sua frente. Mais uma tragédia, mais sofrimento, mais lágrimas, mais pessoas sem os seus bens e, sobretudo, mais uma lição, uma grande lição da natureza.
Somos um povo extraordinário. Como dizia o outro, o melhor povo do mundo, de facto não se vê outro povo no mundo que se refaça tantas vezes das tragédias que vão caindo todos os anos sobre si nem muito menos vemos um povo tão rijo que suporte tanta irresponsabilidade, corrupção e desmandos de políticos que se instalam no poder, como acontece no nosso país e na nossa região. Um povo bom, porque se vai habituando, mas lutando com bravura contra os incêndios nos tempos de calor e com os dilúvios no tempo das chuvas. Esta resistência é notável e tanto ou mais impressionante que as consequências da capacidade destrutiva das chamas e das águas quando se abatem sobre as nossas terras.
As várias tragédias dos últimos anos entre nós são verdadeiras lições que poucos aprendem com elas. Com estas lições todas, já temos mais que tempo para pensar e procurar prevenir. É com este povo que se aprende muita coisa. Seria mais útil aos governantes escutarem as nossas gentes ao invés de se guiarem por alguns doutorzecos/engenheirados que as Universidades vão produzindo cheios de peneiras teóricas que estão a dar cabo do nosso ambiente e do equilíbrio da natureza.
Então, ensina o nosso povo que «o que é das ribeiras e do mar não se mexe, porque vêm buscar sempre o que é seu...» e «com o tempo não se brinca...» «não é o tempo que abana as canas»... Estes  exemplos apenas entre tantas máximas que o nosso povo pronuncia quando confrontado com a arrogância teimosa e com os desmandos da classe que se toma por todo-poderosa e que acha que tudo quer, pode e manda. Com estas máximas a nossa terra foi construída durante cinco séculos com grande respeito pela natureza e pelas forças que em cada sazonalidade o ambiente vai proporcionando. Podem dizer, a Madeira não cresceu, não se desenvolveu, o nosso povo não passava de uns vilões submissos, o atraso era grande a todos os níveis... Muito certo tudo isto! Mas, que adianta enfrentar a natureza, violando os espaços que pertencem às ribeiras e ao mar construindo debaixo do perigo, para que depois venhamos a lamentar a perda de bens e de vidas? - Há por aí uma série de abusos que já deviam ter sido sancionados e quem os tem praticado devia sentir vergonha de aparecer nestes momentos de lágrimas e de tragédia.
Podemos também alegar nesta ocasião que, dado o carácter acidentado da nossa ilha, é inevitável que não estejamos sujeitos a estas desgraças. Muito bem, ninguém nega isso, mas surpreende-nos que não estejamos a ter situações destas de década em década ou mais, mas tenhamos tragédias ora no Verão ora no Inverno todos os anos. É isto que nos deixa boquiabertos e inquietos. Por isso, não pode ser só a natureza em si que deve acarretar com as culpas, mas tudo o que se tem feito em obras sem planeamento, licenças que se tem passado a particulares para construirem onde lhes apetece, as centenas de garimpeiros da brita e do betão que vasculham as nossas ribeiras, que as empurram e afunilam comos llhes apetece, as terras que são lançadas ao mar e nas nossas encostas ao desbarato sem que ninguém seja chamado à responsabilidade... Como se constata uma série de actividades humanas que fazem enfurecer a natureza quando em cada época do ano ela se manifesta com as suas forças um pouco acima do normal. Temos que estar preparados para isto. Mais vale prevenir que remediar. Faz pena que quem tem a principal responsabilidade de o fazer não o faça quando deve e se pavoneie agora de botas de água a contemplar os estragos dizendo meia dúzia de asneiras  carregadas de arrogância contra Deus, a natureza e todos os outros que estão fora da ilha.
Na costa norte da ilha da Madeira nestes dias de intempérie anormal, por muito pouco não tivemos outra vez vítimas mortais. Mas ficaram mais alguns sem nada, mais pobres ainda do que aquilo que já estavam. Neste sentido, esperamos que não comecem outra vez com o chorrilho de promessas e com a anarquia da solidariedade/caridade, porque, mais do que tudo para tapar os olhos, precisamos que cada entidade assuma a sua responsabildiade e tudo faça para resolver os problemas das pessoas com base no cumprimentos dos mais elementares direitos humanos e com entrega radical ao respeito pela dignidade humana. Não se admiram que ainda estejam a entregar casas às vítimas do 20 de Fevereiro? E que outros a quem se prometeu mundos e fundos ainda não tenham recebido uma migalha?
Ai como se torna irritante e insultuoso ver esta derrocada de políticos a se passearem pelo meio dos estragos... Esperemos que não sejam só as botas de água que se lhes vê enfiadas naqueles corpos de gabinetes, mas que arregassem as mangas para o trabalho para ajudarem as pessoas a verem menorada a sua desgraça nesta hora de tristeza. Porém, tudo com a máxima dignidade e respeito, sem instrumentalização de ninguém, chega de servir-se da desgraça alheia para mais arrogância e prepotência infantil. 

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