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Convite a quem nos visita

quinta-feira, 31 de maio de 2012

A Santíssima Trindade - o Mistério sem definição


Comentário à Missa do próximo domingo
3 de Junho de 2012

 Santíssima Trindade
Quem é a santíssima Trindade? - Quando falamos da Santíssima Trindade, é do nosso Deus que falamos. E quer dizer essencialmente três. O Deus dos cristãos é trinitário, isto é, constituído por três pessoas: Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
O Deus Filho, é o Deus enviado pelo Pai, revela o Pai plenamente e envia o Espírito Santo, que é o resultado do amor entre o Pai e o Filho. Isto é, mostra-nos o rosto verdadeiro do Pai. Um Pai amoroso que não desiste de salvar toda a humanidade (podemos lembrar aqui a famosa Parábola do Filho Pródigo).
O Filho, foi enviado pelo Pai para anunciar a Boa Nova da justiça ou da salvação de toda a humanidade, Ele é o rosto visível do amor que informa a Trindade. Será da boca do Filho que recebemos a promessa do envio do Espírito Santo, o outro Deus da Trindade.
Este Deus, o Espírito Santo, é Aquele que vem depois de Jesus para acompanhar todas as Ações humanas em favor da causa de Deus. Ele é o Espírito da verdade e da justiça. Ele nos guiará para a verdade plena. Porque o Espírito Santo pode ser definido como aquele que unifica as três pessoas da Trindade, Ele é o nome do amor de Deus.
Mas, nunca serão os pensamentos e as palavras humanas que traduzirão este mistério. Porque a Santíssima Trindade, é o nosso Deus. E se falamos de Deus, falamos de um grande mistério. Um mistério, que nos acompanha e abraça constantemente em todos os momentos da vida. Todas as tentativas para a açambarcar este absoluto, redundaram em asneira terrível contra quem experimentou essas investidas. Este Deus é e basta. Já Moisés desejou uma definição concreta, mas não a teve. Basta o mistério e a definição indefinida, «o Eu sou Aquele que sou envia-te…». Face a esta vontade de Deus, contemplemos o mistério e deixemos a nossa vida mergulhar neste mistério indizível, único que nos é dado acolher.
Por isso, conta-se que alguém ao passear sobre um caminho de muita poeira reparou que se formavam atrás de si dois pares de pegadas na poeira, mas, nalguns momentos reparou que estavam atrás de si apenas um par de pegadas. Na sua oração, confidenciou esse episódio da sua vida a Deus. Deus respondeu-lhe que um dos pares de pegadas era Dele que o acompanhava sempre. Mas esta pessoa diz a Deus: "Mas para onde foste quando eu mais precisava de ti"? Porque, o segundo par de pegadas desaparecia quando ele sentia mais dificuldades e quando tinha mais problemas na sua vida. Deus respondeu-lhe: "Nessas ocasiões, Eu carrego-te ao colo"! Deus é essa realidade que está sempre presente e que nos carrega ao colo quando as contingências da poeira da vida se tornam mais difíceis de suportar.
José Luís Rodrigues
(Imagens Google)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Os padres e a política partidária

O Papa Bento XVI disse o seguinte falando sobre o não envolvimento dos padres na política ativa/partidária, insistindo que tal tarefa deve ser destinada especialmente aos fiéis leigos: «é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos». Em ambos os campos sempre se encontra gente mais papista que o papa.
Muito bem. Estou muito de acordo com a proibição da Igreja Católica que impede os padres de se candidatarem a cargos públicos à boleia dos partidos políticos, quando tal aconteceu entre nós, os padres tomaram a opção de abdicar da função clerical para assumirem a candidatura com clareza…
Tudo isto é aceitável e penso que há um consenso muito grande em todos os quadrantes sociais e religiosos.
No entanto, a Igreja Católica não impede ninguém de exercer a sua cidadania, participando a todos os níveis na vida da cidade. O padre, pelo facto de ter assumido esta condição ou função, tem direito a voto, paga impostos, está inserido na vida da cidade como qualquer cidadão, por isso, assiste-lhe o direito de participar com a sua reflexão, a sua opinião e o seu contributo para uma melhor convivência social.
Muitos entre nós admiram-se quando alguém se destaca a este nível. Porque, simplesmente pensa e partilha o seu pensamento com os demais. Não parece ter direito a tal, se reflete em sentido contrário ao pensamento geral, se não vai com o que dita a maioria e não subscreve o poder dominante, então, mete-se na política partidária. Uma lógica totalmente errada e sem sentido nenhum.
Assim sendo, então afira-se a mesma bitola para o Papa quando fala, os bispos. E não se descure tantas outras situações de colagem clara com os poderes dominantes. Por exemplo, o que será entre nós a Igreja Católica Diocesana conviver em parceria com o poder político partidário atual dominante para publicarem um jornal? A presença dos representantes políticos partidários em cerimónias religiosas e representantes de figuras religiosas em atos públicos com bênçãos e até algumas vezes utilizando a palavra para louvarem os feitos realizados pelo poder político? O que dizer das meias palavras, os silêncios estudados, os gestos calculados para não melindrar suscetibilidades políticas? – Apenas estas questões para nos fazer pensar e nos obrigar a não ver as coisas só e unicamente num sentido...
Para sermos honestos com o pensamento coloquemos, então, a verdade em todas as vertentes para que não sejamos injustos, não prejudiquemos a liberdade de expressão e a assunção do pensamento que pode revelar-se de importância crucial para uma sociedade mais humana e mais justa.
A título de curiosidade este blogue, «O BANQUETE DA PALAVRA», registou ontem uma fasquia bastante generosa em termos de visitantes: 898 visitas. Obrigado a todos os que vieram ao banquete, se degustaram com prazer o «alimento», muito bem, se não se «alimentaram» ou se não vos satisfez este alimento, tudo bem na mesma, passem adiante, há mais blogues com «alimentos» de toda a ordem, neste domínio passa fome quem quer.
José Luís Rodrigues
(Imagem Google)

terça-feira, 29 de maio de 2012

Madeira masoquista

A sondagem de opinião do Diário de Notícias, devia revelar-nos, se as eleições fossem por estes dias que o PPD-PSD, perdia em toda a linha e quiçá votado ao desaparecimento aqui na Madeira. Porém, apesar do povo eleitor saber quem são os responsáveis de tamanha desgraça de dívidas e de estar a sofrer terríveis sacrifícios por causa da irresponsabilidade quanto ao governo do bem comum, continua a votar neste partido.
Pois, então, não somos uma democracia a sério, não temos noção nem maturidade nenhuma quanto ao poder e utilidade do voto. Assim, venham os sacrifícios, as dificuldades, a sobrecarga de impostos, as taxas moderadoras em toda a linha, o fim da saúde gratuita, a educação e todos os direitos que a Democracia/Autonomia nos concedeu.
Queixas, lamúrias e outros ais... Levem esses suspiros para outros adros, que já estou perdendo a paciência para queixumes, as quintas das angústias dos governantes que «vocês» adoram também têm terreiros vão todos para lá fazer queixas e fazer a vossa pedincha... Só pode ser, a Madeira gosta de sofrer? - Há um masoquismo coletivo preocupante. Embora não me comova nada nem me encha de penas, antes de revolta e com vergonha de fazer parte de um eleitorado inconsciente, imaturo, sem noção nenhuma do que está em jogo, afinal, terrivelmente, masoquista. E se não for masoquista, sádico em toda a linha, porque sabe dos fardos que carregamos e pouco se importa com isso. É caso para dizer-se: perdoai-lhes, Senhor, não sabem o que fazem!
José Luís Rodrigues

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Diálogo entre o polícia e o mordomo do Papa

Muito engraçado... Humor muito criativo.


Paolo Gabriele servindo sumo de laranja, o preferido de Bento XVI

- Paolo Gabriele, Via Porta Angélica. n.º…, é você?
- Lc 23,3.
- Lc 23,3? O que significa isso?
- “Tu o dizes”. Sou eu, sim, Paolo Gabriele, e moro na Via Porta Angélica. Onde mais poderia morar alguém com este nome?
- Deixe-se de brincadeiras. Sabe porque estamos aqui, não sabe?
- Sim. Lc 4,40.
- Lá está você. Pensa que está falar com os seus superiores? Os nossos conhecimentos bíblicos não passaram de Adão e Eva e dos Reis Magos. O que quer isso dizer?
- “Não está o discípulo acima do mestre”. Ora, se prenderam o Mestre, porque não haveriam de me prender?
- Está a colar-se a Jesus? Olha que você fez coisas muito feias. Revelar documentos secretos…
- Mc 4,22.
- Bolas! Não há nenhuma citação que o mande calar?
- Pelo contrário, mandam falar, e por isso é que passei os documentos para a imprensa. Mc 4,22: “Porque não há nada escondido que não venha a descobrir-se, nem há nada oculto que não venha à luz. Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça”.
In blogue Tribo de Jacob

Parece até profecia

Curiosidades filosóficas para hoje...

Frase da filósofa russo-americana Ayn Rand (judia, fugitiva da revolução russa, que chegou aos Estados Unidos na metade da década de 1920), mostrando uma visão com conhecimento de causa:
"Quando você perceber que, para produzir, precisa de obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sua sociedade está condenada".
Resposta Fantástica ....
Perguntaram ao General Norman, do Exército dos Estados Unidos, se ele perdoaria os  terroristas do 11 de setembro de 2001.
A resposta:
"Eu creio que a tarefa de perdoá-los cabe a DEUS.... A nossa é de simplesmente arranjar o encontro".
O melhor ditado do mundo (António Aleixo): «Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que ás vezes fico pensando, se a burrice não será uma ciência».
Frase actualíssima por Barra da Costa, criminologista, “Jornal de Notícias”, 30-08-2008: “Portugal é hoje um paraíso criminal onde alguns inocentes imbecis se levantam para ir trabalhar, recebendo por isso dinheiro que depois lhes é roubado pelos criminosos e ajuda a pagar ordenados aos iluminados que bolsam certas leis”.
Já dizia Ho Chi Minh:
"(...) Não há nada mais importante do que a independência e a liberdade".
Frase motivacional da semana... «Os amigos são como os diamantes... eternos! Os inimigos que vão para o (!?)»
Citando Augusto Cury:
"Não podemos esquecer que os professores de todo o mundo estão a adoecer colectivamente. Os professores são cozinheiros do conhecimento, mas preparam o alimento para uma plateia sem apetite. Qualquer mãe fica um pouco paranóica quando os seus filhos não se alimentam. Como exigir saúde dos professores, se os seus alunos têm anorexia intelectual?
UM DOS MAIS BELOS TRAJES DA ALMA É A EDUCAÇÃO
Recebido por mail
(Imagem Google)

sábado, 26 de maio de 2012

Pentecostes - 50 dias depois

26 de Maio de 2012, Véspera do domingo de Pentecostes

Nessa manhã intemporal do dom
Veio o milagre das línguas no entendimento
Da paz que se encontra no diálogo do amor
Mesmo que o ruído de trovões soem nos céus
Quando a luz do fogo dos relâmpagos verte o dia
Que se inala dom no fumo da sabedoria
Quando a fortaleza dita o sismo do temor de Deus
Que na liberdade informa a responsabilidade
Pois se fez ciência do dom da paz
Quando na piedade Deus fez a liturgia da serenidade
Do encontro que amo na vertigem da inteligência
Que me revela nesta manhã a plenitude da fé.
Ó jornada sublime da diversidade
Que Deus rega nos socalcos do coração dos povos
Sinal da paciência da esperança que nasce do mistério
Que a presença da criação
Fecunda no seio desta terra do mundo.
Mais não digo senão da alegria que contemplo
Na ousadia do Mistério que Deus disse Paráclito.
E tudo numa festa que a Palavra Viva diz
Pentecostes - 50 dias depois. 

José Luís Rodrigues
(Imagem Google)

Os dons do Espírito Santo – A Sabedoria e a Inteligência

Nota: Para melhor celebrarmos este domingo de Pentecostes, deixo aqui para reflexão os últimos dons do Espírito Santo que faltavam, somam-se sete... Valores importantes para este tempo onde a crise de valores resulta na tragédia que se abateu sobre o mundo e sobre a humanidade. Que os Espírito Santo nos ilumine a todos para com os bens essenciais para a construção da vida cheia de felicidade. É isto que Deus nos pede e que o Espírito Santo revela no coração de cada mulher e homem, para que sejam capazes de edificar esta beleza.  

A Sabedoria
O termo sabedoria era mais usado na Antiguidade co que hoje em dia. Ele designava a busca do filósofo que tinha encontrado o sentido da sua vida. Na Escritura, a Eucaristia aparece como o bem mais precioso, ela está na obra da criação sem deixar de invocar o Espírito Santo.
Compreendemos, então, que o dom da sabedoria coroa os outros dons. É sinónimo de repousar em Deus, como desejava ardentemente Santo Agostinho, e escreveu nas suas Confissões: «O nosso coração não descansa enquanto não repousa em Vós». Ora, este repouso é-nos dado no fim da nossa procura, como nos é dito Jesus no Evangelho de São João (15, 5): «Aquele que permanece em mim e eu nele, esse dará muito fruto». É a inabitação divina, da presença de Deus em nós, da comunhão com Deus que está em questão. Os místicos fizeram esta experiência, mas este dom da sabedoria é-nos igualmente proposto como uma amizade e uma comunhão com Deus.
A Bem-aventurança que lhe corresponde é a sétima: «Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus». O fruto do Espírito, que lhe está associado, é novamente o da fé. Pala ilustrar este dom da sabedoria, poderíamos evocar Martin Luther King, o apóstolo da não-violência. Se Martin Luther King optou pela não-violência até dar a sua vida, não foi por capricho pessoal, mas como consequência de uma forte experiência religiosa, por uma leitura incessante da Escritura e por um desejo de fazer existir o povo negro como povo amado de Deus e digno de direitos humanos. Sem querer falar do dom da sabedoria para o caracterizar, Benjamin E. Mays assemelhou-o aos profetas no seu elogio fúnebre, que é uma outra maneira de invocar este dom: «Se Amós e Miqueias foram profetas no século VIII antes de Cristo, Martin Luther King, foi um profeta do século XX […]. Se Oseias foi enviado a pregar o amor e o perdão no seu tempo, Marthin Luther King foi enviado para espalhar a não-violência e o perdão no terceiro quarto do século XX.» A sua ação foi decisiva. Também podemos juntar o dom da sabedoria e da fé autêntica.
 

A Inteligência
O dom da inteligência é sinónimo de plenitude da fé. Ele faz-nos compreender as Escritura e nos faz entrar no mistério de Deus. O texto da Transfiguração é um bom exemplo. No Tabor, Jesus manifesta-se aos discípulos, tal como é, ou seja, Filho de Deus, eterno, como exprime o seu diálogo com Moisés e Elias, que representam a Lei e os Profetas, que estão mortos, mas que vivem em Deus. Os apóstolos ficam deslumbrados, estarrecidos com esta visão. A este dom corresponde a sexta Bem-aventurança: «Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus». Na verdade, o dom da inteligência purifica o olhar e o coração, ele penetra no mais profundo do nosso ser e dá-nos um conhecimento autêntico de Deus e dos outros.
O fruto do Espírito, associado a este dom, não é outro senão a fé, que aumenta cada dia. E ainda mais, o dom da inteligência ganha toda a densidade concreta, quando é revestido pela sabedoria, como diz o salmo 32, 9: «Provai e vede como o Senhor é bom». Depois da iluminação, vem a união com Deus que nos é dada pela sabedoria.
In blogue Aliis Tradere

Nuvens sobre o Vaticano


Responsável do Banco do Vaticano demitido por lavagem de dinheiro….
 Ettore Gotti Tedeschi, o chefe do IOR( Banco do Vaticano), foi professor de Ética da Universidade Católica de Milãoe é autor do livro “Denaro e paradiso. I cattolici e l’economia globale” (“Dinheiro e paraíso. Os católicos e a economia global”). Próximo da Opus Dei. Ontem chegou a notícia de que Paolo Gabrielle, ou “o corvo”, um homem identificado por fontes pontifícias como o mordomo do Papa Bento XVI, foi preso porque está envolvido em artimanhas pouco católicas e tinha em sua casa uma grande quantidade de documentos da Santa Sede. Face a tudo isto é caso para lembrar as palavras de Jesus no Evangelho de São Mateus derigidas a Pedro: «Tu és para mim um estorvo...» (Mt 16, 23).

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Os dons do Espírito Santo – O Conselho

Nota: Continuamos com os dons do Espírito Santo... São valores para este tempo sem valores que se atravessa sobre nós.
O dom do conselho permite, com efeito, ver como orientar as nossas ações: o que é preciso fazer e evitar. «Pelo dom do conselho, o Espírito Santo age sobre a nossa inteligência, da mesma forma que o dom da força age sobre a nossa vontade». Ele previne toda a espécie de precipitação, e dá a palavra ou a ação apropriadas, no momento que convém. As respostas de Jesus a Herodes, ao longo da sua Paixão, são disso um bom exemplo.
Pelo dom do conselho, é uma sabedoria prática que nos é dada pelo Espírito. No nosso mundo onde temos de decidir e de agir rapidamente, em particular no domínio dos empreendimentos, este dom é um dos mais importantes. Ele toma a forma do discernimento, a quem Santo Inácio de Loyola dá um papel decisivo. De fato, é verdadeiramente uma graça do Espírito que ajuda a evitar os erros, a tomar a justa medida dos acontecimentos. Lembrando os Padres do deserto, João Cassiano, um monge do século V, que se estabeleceu em Marselha, diz que o discernimento é a maior das virtudes.
É neste sentido que devemos compreender a frase de Santo Agostinho: «Ama e faz o que quiseres». Esta frase, tirada do Comentário de Santo Agostinho, sobre a primeira carta de São João (7, 9), tornou-se um slogan para um grande número de adolescentes, que viram um apelo à liberdade, uma liberdade desvairado. Ora, esta frase diz outra coisa: uma pelo à liberdade e à responsabilidade e mesmo, poderíamos dizer: o alvará da vida no Espírito. Com efeito, aquele que está animado pelo Espírito Santo vive desta caridade que é o próprio Espírito Santo e, pelo dom do conselho, ele é verdadeiramente livre, ele sabe como orientar a sua ação, no que diz respeito aos outros e ajudando-os a ver a sua verdadeira dimensão. Como dizia São Paulo (2 Co 3, 17): «Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade». Sem dúvida que há um ideal incessante a tomar e a receber na oração, mas não é menos cheio de esperança e conduz à misericórdia autêntica.
Compreende-se, então, que ao dom do conselho esteja associada a quinta Bem-aventurança: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» e que um conhecimento prático lhe corresponde como fruto do Espírito.
Tendo visto o papel decisivo dos dons do conselho e da força, podemos poderíamos pensar que seriam suficientes. Ora, há dois outros dons do Espírito Santo: a inteligência e a sabedoria que preparam a ação e nos introduzem na familiaridade com Deus.
In blogue Aliis Tradere
(Imagem Google)

Os dons do Espírito Santo – A Fortaleza

Nota: Continuamos com os dons do Espírito Santo... São valores para este tempo sem valores que se atravessa sobre nós.
Às vezes, criticam-se os cristãos por não terem força, de terem um comportamento acanhado. Sem dúvida que esta crítica de Nietzsche não contemplava os mártires que, nos primeiros séculos, testemunharam a sua fé até aceitar morrer e mais recentemente os monges de Tibirine que nos deram um testemunho semelhante.
A força, de que eles são prova, está longe de ser uma força cega ou brutal; é, ao contrário, uma força pacífica, um domínio de si e dos acontecimentos, a prova de que a vida é mais forte que a morte. Esta atitude é verdadeiramente um dom do Espírito Santo. A este dom está associada a quarta Bem-aventurança: «Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça» e o fruto do Espírito que dele resulta é a paciência.
In Aliis Tradere
(Imagem Google)

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O que é o Pentecostes?

Comentário à Missa do Próximo Domingo de Pentecostes
27 de Maio de 2012
A origem do Pentecostes está intimamente ligada à Páscoa, celebrando-se sete semanas depois da Páscoa, quer dizer, no 50º dia após a Páscoa e, por isso, a tradução grega chamou-lhe Festa do Pentecostes ou festa do Quinquagésimo Dia.
No Antigo Testamento hebraico era designada festa das (sete) Semanas. Era a festa da colheita do trigo, enquanto a da Páscoa era a das primícias da cevada. "Depois, contarás sete semanas, a partir do momento em que começares a meter a foice nas searas. Celebrarás então, a Festa das Semanas, em honra do Senhor." (Dt 16,10-12).
Inicialmente, tal como a Páscoa, o Pentecostes ligava-se à fertilidade dos campos. Com a história de Israel passou a ligar-se ao dom da Lei no monte Sinai, daí os rabinos lhe chamarem a Festa do Dom da Lei (mattan Torá).
No tempo da primeira comunidade cristã, Jesus enviou o Seu Espírito (o Espírito Santo) precisamente na semana em que se celebrava a festa do Pentecostes. A descida do Espírito sobre os Apóstolos aconteceu no meio de fenómenos semelhantes à "descida" da Lei no monte Sinai, com o ruído de trovões, o fogo dos relâmpagos, fumo, sismo (Act. 2,1-4 e Ex 19,16-19). O Espírito de Jesus, que desce sobre o novo povo, é a nova Lei dos cristãos, mas este Espírito só desce depois do conhecimento da Palavra de Jesus. Concluindo, o Pentecostes é a festa do Espírito de Jesus, que nos vem da Sua Palavra conhecida, vivida, anunciada.                 
Para nós cristãos, a vida não teria sabor se não fosse a dinâmica do Espírito Santo. A Igreja seria uma simples organização de homens e mulheres com interesses mundanos. As celebrações litúrgicas seriam manifestações de diversão ou para entreter os tempos livres. Os diversos grupos que formam a Igreja seriam estruturas sem alma que promoviam a rivalidade e a concorrência. Os membros da Igreja, seriam apenas funcionários que buscavam o poder pelo poder. A sede de protagonismo ou a fama do mundo seriam as únicas motivações pelas quais todos corriam de forma desmedida e sem escrúpulos. As palavras da Igreja seriam iguais a todas as palavras pronunciadas pelas outras organizações do mundo. A caridade seria solidariedade sem alma e sem abnegação desinteressada que só o Espírito Santo enforma. O diálogo Igreja mundo seria pura diplomacia interesseira com vista a ser pura propaganda.
Uma infinidade de coisas que a Igreja é e faz que sem o dinamismo do Espírito Santo seriam puro ativismo concorrencial mais interessado na promoção de alguns e pouco aberto ao bem comum, isto é, sem interesse nenhum pela salvação de toda a humanidade.
Assim sendo, no dia de Pentecostes, descobre-se a universalidade do projeto de Deus - o milagre das línguas nos Atos dos Apóstolos e a proclamação de São Paulo sobre a diversidade, são provas dessa pretensão de Deus.
A mensagem da Igreja, com a força do Espírito Santo, é o eco profético atento à realidade da vida da humanidade, que denuncia e apela para a paz e para a libertação de tudo o que violenta a dignidade da vida. E a vivência cristã de cada batizado, com a força do Espírito Santo, torna-se sinal e luz para o mundo, empenhada na construção de uma realidade cada vez mais justa e fraterna para todos. Tudo o que não seja isto dentro da Igreja e em cada crente peca gravemente contra o dinamismo do Espírito Santo.
José Luís Rodrigues
(Imagem Google)

Os dons do Espírito Santo – A Ciência

Nota: Continuamos a publicar uma breve reflexão sobre os dons do Espírito Santo, porque, nos aproximamos do Domingo de Pentecostes...

A palavra ciência pode levar-nos, hoje em dia, à confusão, na medida em que pensamos imediatamente nas ciências da natureza ou do universo, ou ainda nas ciências exatas ou nas ciências humanas, a um conhecimento que tem por critério a objetividade.
Ora, é de uma outra ciência que se fala aqui, o conhecimento que Deus nos dá e que não é subjetiva, mas que vem, ao mesmo tempo, à inteligência e ao coração. Poderíamos encontrar um exemplo na Madre Teresa que via, no rosto dos leprosos e dos moribundos que cuidava, o rosto de Cristo sofredor. Nem todos chegam a esta conclusão. A Madre Teresa via estes doentes com os olhos do coração, ela compreendia até que ponto eles viviam em Deus.
O dom da ciência está habitualmente associado à terceira Bem-aventurança: «Bem-aventurados os que choram», porque, por este dom, nós tomamos consciência do nosso afastamento de Deus e do mal que existe no mundo, e tendo em conta a infinita misericórdia de Deus. Isso faz-nos sofrer, mas dá-nos igualmente a esperança em Deus. Às vezes, podemos mesmo dizer que ao dom da ciência está ligado o dom das lágrimas, a uma compaixão profunda pela infelicidade do próximo, um pouco como São Domingos que pedia incessantemente a Deus pela salvação de todos.
In blogue Aliis Tradere
(Imagem Google)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Taxas moderadoras nas urgências para já

Belo eufemismo «Taxas Moderadoras na Saúde na Madeira». Notícia terrível para nós madeirenses. Mais uma carga vinda em má hora. Agora nas urgências e seguir na educação. Proposta cinco pontos e uma nota.

Proponho:
1. Corte em 50% do famoso jackpot dos partidos representados na Assembleia Regional da Madeira.
2. Fim do Jornal da Madeira e que os trabalhadores sejam indemnizados com um subsídos vitalício, ficará mais barato ao erário público e ficamos livres da vergonha em que nos mergulha cada edição deste pasquim que enche o ego de meia dúzia com ofensas graves a uma larga maioria de madeirenses.
3. Corte em 30% dos salários dos governantes e a todos os que continuam intocáveis na administração de empresas e serviços ligados ao Governo regional da Madeira.
4. Cortes radicais em todas a regalias que os nossos políticos auferem e que se limitem a receber o salário a que têm direito. Fora disso devem ter única e apenas o que têm os restantes trabalhadores.
5. O fim de todos os subsídios para festas e festanças que não benefíciam a generalidade do povo da Madeira, mas algumas entidades ligadas ao turismo e às famílias que enriqueceram à conta da política que não se preocupa com o bem comum.

Nota: Chegou a hora da ética e deviam os que governam tomar atitudes que sejam exemplares. Não levará a nada oprimir desta forma o povo. Até quando suportará esta canga de impostos, taxas e cortes salariais? - Advinham-se sofrimentos terríveis e, sinceramente, espero que a revolta tome forma e salte para a rua como combate sem violência contra todas estas injustiças que alguns intentam levar adiante contra o povo que deviam defender até à morte se tal fosse necessário... Chega de atirar as culpas a Lisboa. Chega de enganos. Chega de pretender passar por entre os pingos da chuva. Chega de nos considerarem totós. Chega de nos envergonharem. Chegam de contradições. Chega de prometer milagres. Chega de violação de promessas. Chega de tanta coisa que nos aborrece solenemente...
José Luís Rodrigues
    

Os dons do Espírito Santo – A Piedade

Mesmo se este dom foi acrescentado, ele lembra a unidade necessária da vida cristã (unidade que existia nos primeiros séculos e que pouco a pouco veio a perder-se), a sua dimensão de oração pessoal e litúrgica. Com efeito, tudo o que nos dá o Espírito Santo não vem de nós próprios, mas é importante que o levemos à oração, que é o seu autor.
Ao dom da piedade está associada a segunda Bem-aventurança: «Bem-aventurados os mansos» e o fruto do Espírito que lhe corresponde é justamente a doçura, não a doçura no sentido de pieguice, mas a doçura que resulta da força que manifesta a paz interior e que ajuda os outros a se realizarem, esta «ciência de Amor» que falava Santa Teresa de Lisieux.
In Aliis Tradere
(Imagem Google)

Os dons do Espírito Santo – O Temor de Deus

Comecemos pelo temor de Deus. É o primeiro sentimento diante do sagrado. O homem sente-se ultrapassado pela grandeza de Deus, ele sente-se com medo, estonteado. Este temor não é a do homem primitivo que teme a tempestade e todos os fenómenos naturais, não é um temor servil por medo a uma punição, mas sim uma espécie de perceção intuitiva da grandeza de Deus e dos nossos limites, uma atração e um recuo, um convite a exceder estes limites para nos juntarmos ao nosso criador. Compreendemos, então, porque é que este dom do Espírito que é o temor de Deus, se aproxima da primeira bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5, 3). É uma mesma atitude que está implicada nos dois casos e que nos leva a compreender e a testemunhar que recebemos a nossa vida do nosso criador, que nos recria sem cessar.
A humildade, como dizia o Mestre Eckart, um místico do século XIV, torna-nos recetivos à vida que Deus nos dá. Tendo consciência dos nossos limites, descentramo-nos de nós próprios para reconhecer o dom de Deus e fazer brotar em nós esta «pequena centelha da alma», de que falava também Eckart, que não é outra senão a vida de Deus em nós. É no momento em que o homem se acha perdido que se encontra, se constitui e se torna plenamente livre.
In Aliis Tardere
(Imagem Google)

Preparando o Pentecostes – Introdução 2

A sinergia entre os dons e as virtudes…
Uma outra questão surgiu igualmente na Idade Média que vai marcar toda a tradição posterior: a relação entre os dons e as virtudes. Se a distinção entre os dons do Espírito Santo e as virtudes morais são claras, o mesmo não acontece com as virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade. Há então entre os dons do Espírito Santo e as virtudes teologais uma sinergia, uma espécie de complementaridade dinâmica, que permite ao ser humano viver plenamente no dinamismo deste Dom que é o Espírito Santo que «derramou nos nossos corações o amor de Deus» (Rm 5, 5).
… e entre os dons e os carismas
Falta, finalmente, uma questão, antes de abordar cada um destes dons do Espírito Santo: a relação entre os dons e os carismas. É por isso que, por exemplo, Louis Lallemant, retrata nesta passagem os dons, e onde se refere ao mesmo tempo dos carismas. Escreveu assim: “os dons são, de fato, poderes, capacidades que tornam o ser impressionável aos impulsos do Espírito Santo. São como antenas que captam (…), como asas abertas ao sopro do Espírito. Daí a comparação clássica: com as virtudes nós avançamos com um remo. Com os dons, nós caminhamos com uma vela («somos como um navio que avança com as velas abertas, de vento em popa»). Se isto parece muito simples e demasiado passivo, ainda nos falta içar a vela”.
Os dons do Espírito Santo e das Bem-aventuranças Na mesma linha, os Padres e os medievais relacionaram, igualmente, os dons do Espírito Santo com as Bem-aventuranças.
Santo Agostinho colocou em paralelo o temor de Deus e a pobreza de espírito, a piedade e a mansidão, a ciência dos «que choram», a força dos «que têm tome», o conselho e a misericórdia, a inteligência e a pureza de coração e a sabedoria da paz. Ele pretendia mostrar assim que, quer pelos dons quer pelas bem-aventuranças, o
ser humano é chamado a elevar-se.
In Aliis Tradedere
(Imagem Google)

terça-feira, 22 de maio de 2012

Preparando o Pentecostes - Intodução 1

Reflexão tirada do blogue: Aliis tradere... Que por sua vez é uma tradução feita pelo Frei Filipe, Op, autor do blogue, de um artigo da teóloga Marie-Anne Vannier, da Universidade de Estrasburgo. Até domingo irei publicar uma curta reflexão sobre cada um dos dons do Espírito Santo. Desejamos que o Espírito Santo ilumine o nosso mundo que bem anda precisado de luz para se encontrar na paz e na fraternidade. Sem estes valores não é possível o Bem-Comum...
Santo Ireneu insistia em mostrar, na Igreja de Lião, que esta presença septiforme do Espírito Santo em Cristo é condição necessária para que nós possamos receber os sete dons do Espírito Santo. Ele explicava que “É precisamente este Espírito que desceu sobre o Senhor, «Espírito de sabedoria e de inteligência, Espírito de conselho e de força, Espírito de ciência e de piedade, Espírito de temor de Deus». E é este mesmo Espírito que o Senhor deu à sua Igreja, enviando dos céus o Paráclito sobre toda a terra (…). Porque o Senhor confiou o homem ao Espírito Santo, o seu próprio bem, que tinha caído nas mãos dos ladrões, este homem de quem se compadeceu e ele próprio curou as suas feridas, entregando dois denários para que, depois de ter recebido do Espírito Santo a imagem e a inscrição do Pai e do Filho, nós façamos frutificar o denário que nos foi confiado e o entreguemos multiplicado ao Senhor”.
A sua reflexão sobre os dons do Espírito Santo não estava ainda elaborada, mas realça que estes dons repousam em plenitude sobre Cristo que, pela sua parte, no-los comunica, de diversas formas, ao longo da nossa vida, e nos sacramentos. Nos séculos seguintes, acentua-se mais a questão do número dos dons e desenvolve-se toda uma reflexão sobre o número sete, número perfeito, acrescentando o dom da piedade (que não aparece no texto de Isaías) aos outros seis dons do Espírito, para que o total chegue ao número sete. Os dons do Espírito Santo estão em ligação, então, com os sete dias da Criação, com os sete pedidos do Pai-nosso, com as Bem-aventuranças (reduzidas para o número de sete), com as sete etapas da vida espiritual, com os sete sacramentos… Foi santo Agostinho o primeiro a fazer a esta reflexão sobre o número sete e, depois dele, os autores medievais que a desenvolveram largamente, como testemunha, por exemplo, São Boaventura.

Preparando o Pentecostes

Sem teoria de tudo

Nota: Para quem não tenha lido, destaco os aspectos que mais me tocaram no texto de frei Bento Domingues do domingo 13 de Maio de 2012 no Público... Um texto muito bom!

«Não me importa nada que na Física se procure “a teoria de tudo”, mas não gostaria que o modelo transitasse para outros campos e, sobretudo, para as práticas sociais, éticas, políticas e religiosas. As vítimas de certezas absolutas e de previsões pseudocientíficas de progresso infinito já foram tantas, que talvez seja aconselhável alguma modéstia. A Sabedoria não é inimiga da ousadia, mas cultiva o sentido da boa medida. A boa medida não é o abandono à mediocridade. Todos os impérios foram e são filhos da loucura que tudo sacrificam por amanhãs que cantam. Ser grande, tornando os outros pequenos, é preparar a própria ruína. No entanto, ainda vai levar tempo a compreender que dominação não é poder. O verdadeiro poder é uma especial capacidade de servir, de tornar as pessoas mais pessoas e não as reduzir a números ou mercadorias. Os seres humanos não podem ser usados como meios. Não têm preço, têm dignidade a respeitar e a promover. Reduzi-los a mercadoria é praticar, de forma clara ou encapotada, a escravatura e rasgar a célebre Declaração dos Direitos Humanos».

«O desígnio da Igreja é universal, mas passaram-se décadas a sublinhar as raízes cristãs da Europa. Com razão. É verdade que as Igrejas, depois da separação no século XVI, não deram bons exemplos de respeito mútuo e de colaboração. Até à guerra recorreram. Cada uma pensava que tinha a “teoria de tudo” acerca de Deus, da verdadeira Igreja e do mundo».

«50 anos depois do Vaticano II, muita gente se queixa de que a união da Igreja Católica não é procurada nem promovida pelo respeito do pluralismo e do diálogo, mas pelo centralismo e pela exclusão das vozes e dos movimentos discordantes. Em vez de uma Igreja de todos e para todos, desenvolvem-se esquemas, preceitos e medidas que levam à pergunta: E nós, deixamos de ser Igreja?
Os movimentos cristãos dispõem de uma energia espiritual, de uma experiência junto dos mais pobres, dos doentes e dos excluídos, que devem contagiar aqueles que têm a “teoria de tudo”, mas não sujam as mãos na acção concreta».

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Conversa fiada que me deixa zonzo

Lá estamos nós a utilizar a internet… Não fora alguém importante desta terra, lembrar-se, num intervalo das jantaradas e almoçaradas, regadas com vinho tinto e fechadas com aguardente velha, que a internet é um meio importante de comunicação. Mas, pressupõe-se que este meio é importante se for utilizado para divulgar orações piedosas, discursos sobre o sexo dos anjos e elogios balofos sobre o ativismo vazio que norteia muita instituição desorientada que temos entre nós. Se for para anunciar o Evangelho de um «tal» Jesus de Nazaré e com essa luz, denunciar e apontar caminhos de diálogo com a cultura e com o mundo, já não serve e torna-se um dos meios mais perigosos da atualidade. Andamos fartos de conversa fiada, e temos razões para tal!
E falando de conversa fiada, gostaria de fazer um apontamento sobre os espetáculos deprimentes denominados de «esclarecimentos» às portas das nossas igrejas.
Para a visita a São Roque, que se realizou neste domingo, 20 de Maio 2012, parece que existia algum receio e quem sabe medo pelo que viesse a passar-se.
Da Câmara Municipal do Funchal ficou alguém encarregue de me telefonar para me informar que estava prevista a vinda ao adro da igreja de São Roque, mas que tinha sido cancelada. Afinal, mais uma mentira que me pregaram, assim funciona este regime, com a mentira e só pela mentira. Porque a verdade, que liberta, dói quando os interesses são mais que muitos para poucos que se apoderam desta terra. A visita realizou-se.
Uma informação nada inocente, mas patética e absurda, nada me interessam esclarecimentos de gente que já deu o que tinha a dar e teima com uma lógica política que já não resolve nada nem vem ao encontro das necessidades terríveis que sofrem as nossas populações. Estes senhores, sumidades de inteligência rara, pensaram que se eu soubesse antecipadamente desta ilustre visita podia eventualmente dizer alguma coisa nas missas para afastar o público que eles desejavam ter para escutar tão doutas palavras. Meu Deus, longe de mim conspurcar a belíssima mensagem da Palavra de Deus do dia da Ascensão com misérias deste mundo que merecem o maior dos desprezos.
Sim, não perco mais tempo nem muito menos serei instrumento de propaganda barata sobre um descalabro que se abateu sobre nós. Seria uma ofensa ao povo simples que nós respeitamos. Um povo sofrido, enganado e manipulado pelos políticos com comes e bebes. Coisa fácil, quando a pobreza comanda as nossas populações e a incultura uma realidade constante. A Igreja da Madeira ajuda à festa neste momento, para não perder o hábito que a tem comandado nestes 500 anos de história que já conta. As festas e festanças que se fazem e as que estão previstas fazer-se são reveladoras desta conivência. As várias capelinhas em que se tornou a «nossa» igreja da Madeira, serve apenas para amaciar a lã de um poder à deriva.
Meus senhores, o vosso temor é inútil, desnecessário. Não perco mais tempo com atividades, patéticas, ridículas. Reparem, o público que fica para ouvir balelas, são os mais pobres dos pobres nas freguesias, ontem divertiram-se com os engravatados que os visitaram, bateram-lhes palmas, riram com as ofensas desferidas contra os adversários e com os nomes horríveis que se aplica contra quem mostre que já perdeu o medo e experimenta agora o sabor lindo da liberdade. Ora, este público desempregado, triste e que passa fome, hoje, bate à porta das igrejas e dos padres a pedir esmola pelo amor de Deus, porque tem fome e tem os filhos em casa sem nada sobre a mesa para se alimentarem. É por isso, que estes são os mais pobres dos pobres e não têm nada a perder, têm tempo disponível para qualquer género de divertimento, venha de onde vier. São pobres, desempregados e a maioria reformados com pensões de miséria, sem dinheiro para comida, para os medicamentos e para todos os gastos essenciais à sobrevivência.
Mas, estes esclarecimentos seriam muitos úteis se fossem feitos com a verdade e pela verdade. Estes senhores engravatados deviam dizer ao povo como fizeram para nos carregar este fardo da dívida escondida e revelada. Estes senhores deviam dizer como se aufere salários astronómicos nos cargos que ocupam. Como se pode dizer uma palavra que seja, ensaiar um esclarecimento, fazer uma promessa… Assumindo sem vergonha salários brutais, alguns em duplicado e pensões juntamente com o salário violando a lei em vigor... Não há ética nenhuma. Alguns até são ouvintes da Palavra de Deus, são católicos praticantes. Também poderiam dizer como nos fizeram pagar impostos altíssimos e taxas ao Estado que nos tiram o pão da boca. Podiam também dizer nos adros das igrejas a verdade e só a verdade, batendo no peito, pedindo perdão a Deus e ao povo que instrumentalizam com espetadas, vinho seco, cerveja do regime e música rasca (dita pimba)…
Bom, e tendo conta que já me sinto um pouco zonzo com toda esta conversa fiada, por agora fico-me por aqui…
José Luís Rodrigues
(Imagem de Rota dos Miradouros)

sábado, 19 de maio de 2012

A quem estiver a ler-me

Nota: com votos de bom fim de semana para todos...

 Tu és invulnerável. Não te deram
Os números que te regem o destino,
Certeza da poeira? Não será
Teu tempo irreversível o do rio
Em cujo espelho Heraclito viu símbolo
Do que é fugaz? Aguarda-te esse mármore
Que não lerás. Sobre ele já estão escritos
Uma data, a cidade e o epitáfio.
Sonhos do tempo são também os outros,
Nem firme bronze nem oiro fulgente;
O universo é como tu, Proteu.
Sombra, irás para a sombra que te espera,
Fatal, na conclusão dessa jornada;
Pensa que de algum modo já estás morto.

in Jorge Luis Borges, O Outro, o Mesmo, 1964.
(Imagem Google)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Imagem de São Roque - Funchal

Até Setembro, no Museu de Arte Antiga em Lisboa, há uma exposição dedicada a Machado de Castro, o escultor do barroco que sempre quis fazer estátuas. Hoje é Dia Internacional dos Museus. A imagem de São Roque, padroeiro desta Paróquia do Funchal, dizem os especialistas, ter autoria de Machado de Castro. Um orgulho para o povo desta Freguesia. Realmente, trata-se de uma belíssima imagem, está no centro do Altar Mor da Igreja de São Roque. Um espectáculo de beleza.

Aquele que preenche tudo em todos

Domingo da Ascensão - dia 20 de Maio 2012
O que é a Ascensão de Jesus? - Tem a ver com a ideia difundida em todo o Evangelho, «Jesus subiu aos céus». Quer isto dizer o seguinte: «Jesus ressuscitou, foi glorificado e entrou na glória de Deus». Por outras palavras diríamos que Jesus voltou de onde tinha vindo.
O mistério da Ascensão, é o momento em que Jesus volta à casa do Pai, mas é também o momento em que toda a humanidade com ELe e Nele se vê elevada ao mais alto da dignidade. Isto é, em Jesus elevado ao céu toda a humanidade é tomada por Deus para se divinizar. E com esta ideia fica confirmada a palavra de Santo Ireneu quando diz o seguinte: «Em Jesus, tornamo-nos todos deuses». Parece forte esta expressão, mas revela-nos a densidade do amor de Deus encarnado na história concreta do mundo. Por isso, mais claro se torna para nós a visão de São Paulo: «Aquele que preenche tudo em todos». O todo de Jesus torna-se oferta para tudo e todos. Desta forma, participamos efectivamente da divindade de Jesus e tomamos parte da mesa do banquete da plenitude da graça que Deus concede a todos os que se deixam envolver pelo Seu amor.
O mistério da Ascensão revela-nos que toda a realidade da terra, amor e desamor, sucesso e insucesso, graça e desgraça, aventura e desventura, justiça e injustiça, alegria e tristeza, esperança e desesperança, saúde e doença, ausência de dor e sofrimento e até os factos mais absurdos, como uma morte cruelmente realizada, não está fora do plano de Deus. Tudo se eleva para Deus seja bom ou mau, negativo ou positivo. Em tudo podemos sentir que a mão de Deus está presente, para que o nosso ser se eleve para a realidade que tudo pode e tudo deseja redimir verdadeiramente.
A Ascensão de Jesus, é outra manifestação solidária do amor Deus, que confirma plenamente o desejo de Deus Pai através do Seu Filho Jesus Cristo. Ele é o Messias que veio ao mundo manifestar o Plano de Salvação de Deus em relação a toda a humanidade. Embora seja também este o Messias que «havia de sofrer» o tormento da Paixão e da Morte, mas sempre com total abnegação ao serviço de uma causa de vida sempre ressuscitada. Esta oferta é para todos os que desejam acolher a vida não apenas com a limitação deste mundo, mas com a plenitude que Deus oferece como sentido maior para a existência de todos nós.      

José Luís Rodrigues

Os quatro elementos do trabalho

Nota: Poema dedicado ao meu grande amigo Nélio, que num dia destes num terrível acidente em cabos de alta tensão ficou sem vários dedos das mãos. A labuta pelo BEM-COMUM tem custos altíssimos...

Sei de umas mãos que fazem os dias nos raios do sol
No risco do trabalho fizeram a vida do barro
Que os dedos enformam na massa amolecida pelo suor
Que o engenho disse na vontade que faz a BONDADE.

Sei de umas mãos que dizem na articulação de uma fé
Não temem a dor e não sabem do egoísmo que se abatem
Face às mãos da preguiça e da inatividade do tempo
Pois disse: ó que desejo de ver na paz o fruto da BELEZA.

Mas no fim na ausência dos dedos pensaram o melhor de tudo
E quando os dias fizeram o acidente as mãos choraram
Sangue e vazio na solidão de uma perda incontida de vergonha
Que a incúria dos homens ditou na crueza da VERDADE.

Agora na frieza da verdade cantamos todos apesar de tudo
O milagre que se diz na densidade da ESPERANÇA.

- Para ti já não podemos dizer nunca mais:
«Vão-se os anéis ficam os dedos».

José Luís Rodrigues

(Imagem Google)

quinta-feira, 17 de maio de 2012

CARTA ABERTA

Nota: Mais um contributo interessante e importante do Padre Mário Tavares. Para que conste na crónica do tempo que vivemos e para o futuro, publicamos aqui na íntegra esta sua «carta aberta» às várias entidades abaixo nomeadas... Uma belíssima reflexão e chamada de atenção a quem de direito sobre todas as opções que estão a ser tomadas que põem causa não a regra da natureza que faz o sol nascer todos os dias, mas  que não nasce, tristemente, para todos... Bom, inquietações de um cidadão interessado que nos provoca a todos.  

Ao Senhor Presidente da República Portuguesa,
Ao Senhor Primeiro Ministro,
A todos os Senhores Ministros e membros do Governo,
Aos Governos das Regiões Autónomas e Autarquias,
Aos Partidos Políticos
A Todo o Povo Português

Excelentíssimos  Senhores
Como cidadão eleitor, súbdito português e da globalização, perante o quadro político social de que sou membro e vítima, de modo algum consigo ficar calado. 
Apresento este texto anexo, num profundo desejo de incomodar os gestores políticos e de inquietar as consciências de todos, para que se faça luz em toda esta mescla de obrigações, oportunismos, vítimas e privilegiados.
O sol nasce todos os dias. Mas os oportunismos, instalados por baixo, deixam o mundo à sombra e ao frio. Desfazer as nuvens produzidas pelas conveniências privadas, por poderes instalados e pelas injustiças é um trabalho que precisa de acontecer.
O povo não pode continuar subordinado, passivo, explorado e posto em fila, à espera da sua vez. E o governo terá que acertar e exercer as suas corretas funções.
Isto não é patrocínio nem de confusões nem de conflitos. Mas é uma pretensão para que haja conteúdo e transparência na construção de uma cidadania justa, saudável, partilhada e distribuída por todos, contemplando cada um.
O texto está assim organizado:
A Construção da Grande Cidade Planetária do Desenvolvimento
              1º O insucesso do capitalismo desenfreado,
              2º A resposta desonesta dos grandes do capital
              3º O Nosso Portugal
·           E como é feita a recolha de todos estes valores
              4º Que significa Governar Portugal
·           Este  Governo da Nação
              5º O crime do dinheiro concentrado, como senhor absoluto
·           O assalto à riqueza, Património da Humanidade
·           Inversão ao valor da função de mercado e a comercialização da Vida
              5º A Dignidade Humana e a Cidadania dos Povos
              6º Conclusão
Com o maior respeito e consideração
Câmara de Lobos, 16 de Maio de 2012

                                      Mário Tavares Figueira
                                      BI nº 002 112 037     Contribuinte nº 105 743 410
                                      Mariotavares@netmadeira.com

A Construção da Grande Cidade Planetária do Desenvolvimento
  O insucesso do capitalismo desenfreado
Os senhores do capital, em razão dos muitos dinheiros acumulados nas suas mãos, resolveram construir a grande cidade planetária do desenvolvimento. A sua edificação foi parcelada e dispersa por todo o Globo Terrestre, de um modo concatenado, em razão dum sonho de domínio organizadamente globalizante.
Foram construídos os grandes monumentos bancários e da gestão, as grandes catedrais do comércio e do turismo, a multiplicidade de vias, portos e aeroportos e seus meios de circulação e transportes e a multidão de estruturas empresariais de apoio.
Ao nível da informação, do diálogo, da condução, da gestão e do controlo utilizam a internet e todo o seu mundo. E, neste mundo coordenador e condutor, surgem imensas personalidades e órgãos de gestão e controlo virtuais, os quais delineiam horizontes. Muita riqueza circulante é um mundo de jogos sem rosto, mas em contínua actuação. Não há a quem pedir contas. Contudo não faltam as operações activas. Estamos perante um mundo de riqueza especulativa a ser conduzido por um poder virtual, mas com muitas entidades privadas por dentro.
Historicamente estamos informados de que o desenvolvimento do comércio, da indústria e a acumulação das riquezas adquiridas foram acontecendo, através dos séculos, subordinadas a gestões independentes e autónomas. Contudo a sua instalação sempre foi a Comunidade Humana e todo o seu espaço geográfico, um bem sem título, fruto apenas de uma tolerância geral. Das riquezas da Terra recolhem a matéria-prima e a transformam; das populações recolhem o trabalho de que necessitam. Depois, das pessoas economicamente capazes, fazem delas os seus clientes.
O capitalismo, a partir do século XIX, ganhou muita presença nas lideranças governativas e, depressa, tornou-se adulto, crescendo muito em parceria de poder com os governos. Hoje já se faz patrão das nações.
 Também não ficaram esquecidas as tendências naturais das pessoas. A atração pelos grandes centros urbanos e a absorção de muitos e muitos milhões de trabalhadores para tarefeiros na construção do grande projeto concentraram a maior fatia da Humanidade à volta das cidades. E as multidões, encantadas pela grandeza, comodidade, beleza e fartura, de boa vontade se fizeram clientes, aplicando nas compras todos os dinheiros que ganharam nas tarefas em que foram absorvidos. Depois foram até convidados para se endividarem em investimentos e consumos.
Talvez se pensasse que o projecto se manteria autónomo, sustentado pela circulação dos viveiros humanos à sua volta. Mas não aconteceu. Os lucros não se multiplicaram na proporção dos cálculos previstos.
E a aventureira arquitectura de utilizar os dinheiros aplicados mas ainda não retornados, um activo em função passiva por atraso, como um novo capital para novas iniciativas e novas fontes de riqueza, faliu. Esta aventura, o mesmo dinheiro aplicado em duas ou mais operações, muito publicitada e utilizada pelos bancos como um dinheiro de fartura e barato, está arrastando consigo muitas pequenas e médias empresas e atirando para o desemprego milhões de trabalhadores.
Foi uma machadada profunda na família humana. As pessoas são vivas. Em cada dia precisam de assistência na alimentação, saúde, educação e que o seu meio humano não se degrade. E tudo foi adiado. Foi um parar a vida à espera do equilíbrio bancário.

  A resposta desonesta dos grandes do capital
Apesar do desastre, um verdadeiro tsunami a nível económico, não se desfez nestes «senhores» a energia da continuidade. E força-se um novo passo para superá-lo. A crise tem mesmo esse significado.
Eis os seus princípios básicos:
·           Toda a parte sã do sistema capitalista é considerada modelar e intocável, incluindo os offshores e os elevadíssimos ordenados e bónus para diretores e adjuntos. Esta é a cúpula da nova sociedade super dirigida por «bolsos gordos», não por sócio intelectuais, comprometidos com as comunidades humanas.
·           Todas as entidades que, embora falidas, depois de recuperadas poderão tornar-se úteis, ganham proteção. Assim bancos, como o nosso nos custos e prejuízos, o BPN, e todos os outros sem liquidez, são revitalizados;
·           Ainda personalidades, que surgem inexplicavelmente muito enriquecidas, não poderão ficar à parte, em razão dos valores de que dispõem.
Uma explicação para este oportunismo de recurso: Os tsunamis, pela sua natureza de ondas avassaladoras, destroem as pegadas que foram o percurso de recolha da riqueza. Também a muita burocracia à volta da legislação faz desaparecer trilhos informativos. Por isso, nestas circunstâncias, fazer justiça e esperar pelas suas decisões é inoportuno, infuncional e desmobilizador. A justiça não sabe ser «atleta» nas correrias de avanço económico-financeiro.  

  O Nosso Portugal
Portugal, vítima do tsunami económico, uma tempestade que, neste último século, tem posto à prova e em perigo muitas nações, tornou-se território a recuperar. A troika entrou com a receita, que foi logo aceite e posta em execução. Expressa-se assim:
·           Arranjar liquidez para que os bancos funcionem conforme as regras da retoma;
·           Pagar todas as dívidas produzidas pela má gestão e desmandos das governações anteriores;
·           Cobrir, na medida do possível, através dos bens privados dos empresários, os prejuízos bancários provocados pelas falências das pequenas e médias empresas, vítimas dos empréstimos dos dinheiros abundantes e baratos publicitados pelos bancos.
 Curioso. Para estas situações a mesma «justiça não atleta» é boa e é usada para apanhar todos aqueles que, dobrados pelas dificuldades, não têm hipótese de fazer frente e reclamar o seu património familiar. E o suicídio tem andado muito presente numa série de casos.

E como é feita a recolha de todos estes valores?
A recolha é feita indo sugar todas as “gorduras” ao Estado e ao Povo Português, o povo simples que trabalha, que fez a História Nacional, que vive nas cidades e disperso pelas Autarquias, dando-lhes nome, vida, dignidade e protegendo o seu património. Ao mesmo tempo encarecem todos os serviços e aumentam as contribuições:
·         Privatizam-se as fontes e os recursos que garantem o sustento da nacionalidade, as chamadas empresas públicas: energia, águas, transporte, comunicação, etc.. A EDP já está. Explicando: Portugal, no seu território, fica cada vez mais em aluguer. O sustentáculo da Nação passa para privados, instalados em offshores, mas circulando na nossa terra e à nossa custa;
·         Forçam-se os trabalhadores a serem mais produtivos, com ordenados mais baixos e aumenta-se o desemprego;
·         Reduzem-se os subsídios em favor dos carenciados o mais possível;
·         Reduzem-se as despesas na educação, na saúde, na segurança social o mais possível. Tudo deve passar para produto de marca branca;
·         Encarecem-se os impostos diretos e indiretos;
·         Tornam-se todos os serviços mais dispendiosos: luz, gás, transportes, etc.
Numa palavra: estamos todos a ser conduzidos para um Estado e um Povo modelares em «esqueleticismo».

  Que significa Governar Portugal?
O Artigo 1º da Constituição da República Portuguesa diz assim: “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária.”
Este Artigo expressa: a identidade de Portugal, as bases da sua conduta e o projecto na sua concretização.
Identidade: República soberana, com autoridade suprema no seu território.
Bases de conduta:
Dignidade da pessoa humana. Significa o valor supremo na cadeia da vida e o fermento da cidadania. A pessoa é um ser unipessoal, individual, autónomo e responsável. Por isso exige que o seu meio humano e social lhe garanta espaço e condições de realização. A pessoa nasce por direito. Não é um pedinte nem um intruso. E sua vida é um projeto.
Vontade popular. Nas eleições pretende-se que cada eleitor escolha aqueles que mais se coadunam com o seu projeto de vida e que os eleitos sejam a expressão mais generalizada das inquietações para o futuro nacional.
Mas as eleições têm funcionado mal. Têm sido como quem vai à pesca: procura-se o cardume e utilizam-se os engodos. As pessoas ficam nas redes como o peixe. As liberdades eleitorais têm-se transformado em liberdades emaranhadas em jogos de oportunismos.

Projeto: construir:
Uma sociedade livre. Isto significa uma sociedade com rumo, autonomia, produto da consciência concreta do povo, um povo que deve viver acordado e em contínua elaboração do seu futuro.
A impressão que existe é que, em Portugal, tem funcionado de modo bem visível uma caça livre à sociedade, não numa linha de conflitos, mas sim numa linha de influências e oportunismos, um escavar por dentro à semelhança do caruncho nas madeiras. Não se favorece o bom ambiente para proteger as estruturas de autodefesa. Até os governos consideram-nas inimigas e optam pelas oficiais, sempre subservientes.
Justa. É um conceito de distribuição de igualdade de oportunidades.
Neste aspeto, Portugal tem sido um desastre. A vala entre os mais ricos e os mais pobres é das mais profundas e em progressão. O postal mais representativo é a realidade do nosso povo, cada vez mais de idosos. E convidam-se para emigrar as pessoas produtoras de riqueza e de futuro, os trabalhadores jovens e não só, gente intelectualmente e tecnicamente bem preparada, mas, desempregada. Se trabalhassem de borla!... E o nascimento de crianças escasseia cada vez mais.
É amargo ver Portugal, débil e de bordão, caminhar subordinado a uma disciplina de austeridade. Até se fala em “trincar a língua”. Mas ninguém explica como é que isto serve de ensaio para um futuro de esperança.
Solidária. É o exercício de dar as mãos, o incorporar a sociedade nas riquezas do território e do seu dinamismo. É o desenvolver as habilitações do entendimento, entreajuda e ambiente de partilha, porque o pão é de todos e para todos, devendo ser distribuído por cada um.
Encanta-nos o comportamento solidário do povo no matar a fome e amparar do frio os que vão sendo empurrados para a berma. Mas a verdadeira solidariedade é fazer com que todos estejam de pé, com sustento garantido, fruto do seu suor ou da sua reforma, um corpo social em plena saúde, função e, de fronte erguida, caminhando em frente.

Este Governo da Nação
O nosso governo é o grupo que recebeu do povo esta responsabilidade. É o timoneiro. Não conduz um comboio ou barco em direção ao mercado. Mas conduz um povo no seu território, utilizando e desenvolvendo o seu património económico na concretização do seu projeto
O governo está todo preenchido. Não tem falta nem de instalações, nem de quadros, nem de vencimentos. Mas está muito ocupado em disfarces e envenenamentos de função.
Infelizmente não estamos a ser governados pelos eleitos. Estamos sim a ser conduzidos pela Troika, que se colocou acima e faz do governo o seu serviçal controlador do povo. Nós, os eleitores, sentimo-nos postos de joelhos perante o cofre que reclama a satisfação do seu apetite: encher-se.
Isto inquieta e faz pensar que os membros do governo estão a fazer simplesmente um tirocínio de promoção. Após o período de governar serão avaliados pelo valor das empresas que passaram do bem público para mãos de privados e receberão um bom “valor profissional de mercado”, talvez a gestão de algumas dessas mesmas empresas. 

  O crime do dinheiro concentrado, como senhor absoluto
O dinheiro concentrado em poucas mãos de privados, os quais se consideram os donos absolutos do mesmo, acrescidos do direito de circular em busca das novas fontes de riqueza e de impor ordens às nações, transporta em si profundas ofensas ao Direito Natural (direitos ambientais do Planeta) e à Dignidade Humana:
·           É um assalto à riqueza, Património da Humanidade;
·           É uma inversão ao valor da função de mercado e uma comercialização da Vida;
·           E é uma autoridade sem título, como acima foi exposto.

Assalto à riqueza, Património da Humanidade
Sabemos que o viver dos povos, desde há muitos milénios, foi sempre um “vale de lágrimas” em opressões, perseguições e guerras nos conflitos entre si. Ao mesmo tempo, na subjugação interna das comunidades, cuja organização assentava sempre na escravatura humana, funcionavam rígidas disciplinas com muitas flagelações, mutilações e mortes. E os poderosos, controlando o povo pela trela curta e vigiada, sempre dispuseram de toda a riqueza.
Mesmo depois da abolição da escravatura, depois da implantação das democracias e do reconhecimento da Dignidade da Pessoa Humana, as riquezas desenvolvidas pela inteligência e labor humanos existentes continuaram presas e possuídas por quem as detinha. E o povo, o senhor do Direito, o continuador da Vida, foi mantido à distância.
Agora, no jogo desta crise, as poucas riquezas que os trabalhadores conseguiram conquistar através das lutas sindicais, são arrebatadas como “gorduras”. É o retomar do passado. A Dignidade Humana e a Cidadania estão sendo substituídas por uma ambição globalizante e centralizadora, que tenta absorver e anular o valor monetário do trabalho, como expressão e modo de vida dos povos.
A revista “Visão”, de 7 de Julho de 2011, dizia que “1% da população mundial detinha 57% da propriedade global”. Isto diz-nos que 99% da Humanidade vive enclausurada na fatia de 43% da riqueza existente. Pela documentação disponível é uma verdade científica. E a inquietação cresce na medida em que o aperto se torna maior.
Segundo a FAO, actualmente 75% dos alimentos mundiais são gerados por apenas 12 plantas e 5 espécies de animais. A restante riqueza vai desaparecendo, porque, segundo o capital, não dá lucro. O mundo dos Reinos Vegetal e Animal vai sendo reduzido aos produtos lucrativos de  mercado.
A 19 de Janeiro último a TVI, no noticiário das 24 horas, dizia que a Europa tem 79 milhões de pobres e desperdiça metade dos alimentos.
Como aceitar que 1% da Humanidade, gente do nosso tamanho e do nosso tempo, que não têm mais vida do que nós, (somos um simples elo de ligação entre a geração dos nossos pais e a dos nossos descendentes), se armem em proprietários da realidade planetária, a Terra, o estojo da Vida, e o triture tanto?
A Vida tem milhões e milhões de anos e está atrelada ao Tempo, que avança pressuroso e pujante em direção a um Futuro, continuamente atraente e cheio de esperança. O Futuro sempre foi um espaço aberto de sonho, projeto e confiança.
Porém, agora, o futuro apresenta-se cinzento e opaco, porque estes «senhores» sentaram a sua economia globalizante no agora, a parte mais fresca do Tempo, e colocaram os seus olhos aferrados à balança, por onde entendem que tudo tem de passar.
A que título? Com que Direito? Como aceitar milhões de anos de vida, de trabalho e de dignidade postos nas garras de um pequeno grupo de pessoas que se consideram «os alguéns» do agora?!...
Parece que este neoliberalismo não é mais que uma praga na Humanidade, à semelhança do escaravelho dos palmares, que vai matando as palmeiras pela cúpula. Também assim vai acontecendo às comunidades humanas. Em cada cidade crescem grandes grupos de empobrecidos que, cada vez mais, se sentem empurrados para o desfiladeiro da marginalização e exclusão social.

Inversão ao valor da função de mercado e a comercialização da Vida
O mercado tem por função fazer circular os produtos de consumo e de convivência para que o desenvolvimento e a solidariedade social se façam. São as pessoas e as pequenas e médias empresas a interligar-se. O dinheiro circula, vivifica e mantem-se. É a vivência autárquica ou regional de pé na geografia habitacional. O mercado é um serviço, não uma entidade superior.
A opção pelas grandes cidades sob o domínio dos grandes negócios, na ideia de concentrar a riqueza e de ganhar poder de domínio, está transformando o tecido humano em formigueiros de súbditos, despersonalizando e despromovendo as pessoas, destruindo tudo o que é cidadania de cariz humano em favor da cidadania dos centros comerciais, onde o consumo ganhou a primazia.
Socialmente está sendo anulada a conhecida classe média, de espírito criativo, proprietária e condutora das pequenas e médias empresas, exercendo as grandes profissões de apoio e promoção das pessoas na educação, na saúde, na ciência, na arte, cultura e música, e sendo responsável por imensos encargos sociais.
Os dinheiros que alimentavam como fundos de maneio as cidades, as empresas, a vida familiar e social das pessoas, foram absorvidos e canalizados para os grandes shoppings das multinacionais.
Ao mesmo tempo, com chorudos investimentos, o mercado promoveu a comercialização na área da vida das pessoas. A alimentação, a saúde, a educação, a casa e o ambiente são espaços de vida, cujos benefícios não são lucros económicos, mas sim direitos e condições para as pessoas disporem da saúde social e se realizarem como pessoas habilitadas, funcionais, rentáveis e responsáveis. Tudo isso, porém, entrou na linha dos investimentos do capital, na procura de lucros, juros móveis, que, não cobertos, entram em penalizações arrepiantes. Nem a perda da saúde, nem a perda do trabalho ou um desastre na estrada travam esta progressiva exploração.
Dói muito ver o povo de cara sombria, respirar dúvidas, angústias, frustrações e até desesperos, porque vivem sem dinheiro e sem trabalho, cercados de dívidas e com a vida e a família à sua responsabilidade.
Estamos perante um problema social gravíssimo e é o criminoso quem lidera a situação. Será que pretende que o Planeta funcione à semelhança da colmeia, onde uma multidão de abelhas, solteironas e estéreis, trabalham intensamente ao serviço da rainha e, após umas semanas de vida, morrem extenuadas?!
 
  A Dignidade Humana e a Cidadania dos Povos
Vivemos no Planeta Terra, o planeta vivo, casa e horta da Humanidade.
A riqueza significa a inteligência criativa das pessoas em mistura com o suor dos trabalhadores e em parceria com os bónus naturais que o Planeta fornece. Pela sua natureza múltipla tornou-se no pão das pessoas, no sustentáculo da Dignidade Humana e no promotor da Cidadania.
A riqueza nunca é individual. É sempre um elo entre as pessoas e a Natureza. E, pela sua caraterística histórica, incorpora em si um veio de imensos valores, património das inúmeras gerações que a antecederam.
O dinheiro tem muita analogia com o sangue humano. É o sangue social das pessoas como membros das comunidades, o qual se transformou no sustentáculo da sua vida, mobilidade, desenvolvimento e promoção.
O dinheiro é um bem comunitário com a liberdade fresca que a vida tem. Não significa irresponsabilidade, mas recusa senhorio.
Cada terra tem um valor económico concreto, fruto de todo o seu desenvolvimento, o qual deve ser tido e mantido como património local e fundo de maneio vivencial.
Nós, enquanto pessoas, somos indivíduos autónomos. Por essa razão surge o respeito pelo direito à propriedade pessoal ou familiar, o poder de acumular algo para proteção do futuro e descendentes.
Após a família surge o crescimento social. Primeiro as comunidades locais e autárquicas, depois as comunidades regionais, nacionais e, por fim, a Comunidade Humana no Planeta.
Esta hierarquização no crescimento social é o enquadramento natural de todas as realidades na sua articulação e expressividades vivas, situadas no espaço e no tempo.
Temos de ter a consciência muito bem desperta para que os fundos de maneio das famílias, das comunidades e autarquias, das comunidades regionais ou nacionais não se transformem em reservas a favor de governos, nem em bens que poderão ser armadilhados por grupos económicos, que se arrogam o direito de se instalarem onde melhor lhes convém e fixarem os seus apetites num pleno à-vontade liberal.
A Vida e a Natureza têm estatuto próprio natural e com exigências de comportamento obrigatório. O desenvolvimento não pode ser feito por via da violação dos grandes princípios que a Vida e a Natureza nos impõem.

  Conclusão
A Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana, no seu Artigo 2, recusa qualquer privilégio, benefício ou prejuízo em favor ou contra a pessoa, em razão da sua origem social, da sua fortuna ou nascimento.
A Constituição da República Portuguesa, depois de afirmar, no Artigo 3º, que ”a soberania, una e indivisível, reside no povo”, no seu Artigo 13.2, expõe a mesma doutrina: “ ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever, em razão da sua ascendência…situação económica, condição social…”
Infelizmente estes direitos, liberdades e garantias encontram-se sem trânsito perante as redes de outras atividades em circulação. E o povo, súbdito, serviçal, continua sendo um manancial de riqueza numa retratada e desonesta exploração.
As reclamações que as pessoas fazem, por mais justas que sejam, na sua grande maioria morrem sufocadas.
As contribuições e impostos que pagamos poucas vezes beneficiam a defesa dos direitos de cidadania. As legislações são preparadas com brechas, por onde se escoam o bem público e os direitos base das comunidades.
Votar tem significado, não poucas vezes, escolher o novo inimigo oficial. Isso tem ficado bem expresso na percentagem dos não votantes nas eleições. Votar para quê? Para o empobrecimento das pessoas e a degradação das comunidades?
Governar não pode reduzir-se a trepadeiras sufocantes sobre a sociedade, apoiadas em maiorias absolutas. A doença das maiorias absolutas nos governos apaga sempre as reflexões mais profundas. E os problemas do povo ficam sempre adiados. Ao contrário, exigem-se sacrifícios enormes aos mais débeis, para favorecer privilegiados. Somos tão tolos que até consideramos “passos acertados” virem entidades, que não nos pagam contribuições, explorarem as nossas tarefas lucrativas.

Governar é um serviço obrigatório, não um benefício. E a função da “coisa pública” tem que acertar na sua resposta.
Há que dinamizar os direitos e as defesas do povo, não para dispensá-lo das suas obrigações, mas para repor a sua dignidade. É preciso desfazer regras, disciplinas, burocracias e jogos em funções de assembleias, que simplesmente consertam e reforçam as redes que aprisionam as pessoas, mas que lhes cortam os acessos aos benefícios.
Doí-nos pertencer a um pais de velhos, sem trabalho e sem crianças, importando 70% dos produtos que consumimos e exportando os trabalhadores. Será isto, por ventura, um postal que se apresente? Basta de borrar o nosso Portugal.
Queremos o nosso povo acordado, vivo, de mãos dadas no trabalho e confiante. Temos que acertar no sucesso.

Câmara de Lobos, 16 de Maio de 2012
Mário Tavares Figueira
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