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sábado, 30 de junho de 2012

O SILÊNCIO DOS LOBOS


Pense em alguém que seja poderoso...
Essa pessoa briga e grita como uma galinha, ou olha e silencia, como um lobo?
Lobos não gritam.
Eles têm a aura da força e do poder.
Observam em silêncio.
Somente os poderosos, sejam lobos, homens ou mulheres, respondem a um ataque verbal com o silêncio.
Além disso, quem evita dizer tudo o que tem vontade, raramente se arrepende por magoar alguém com palavras ásperas e impensadas.
Exatamente por isso, o primeiro e mais óbvio sinal de poder sobre si mesmo é o silêncio em momentos críticos.
Se você está em silêncio, olhando para o problema, mostra que está pensando, sem tempo para debates fúteis.
Se for uma discussão que já deixou o terreno da razão, quem silencia mostra que já venceu, mesmo quando o outro lado insiste em gritar a sua derrota.
Olhe.
Sorria.
Silencie.
Vá em frente.
Lembre-se de que há momentos de falar e há momentos de silenciar.
Escolha qual desses momentos é o correto, mesmo que tenha que se esforçar para isso.
Por alguma razão, provavelmente cultural, somos treinados para a (falsa) idéia de que somos obrigados a responder a todas as perguntas e reagir a todos os ataques.
Não é verdade !
Você responde somente ao que quer responder e reage somente ao que quer reagir.
Você nem mesmo é obrigado a atender o seu telefone pessoal.
Falar é uma escolha, não uma exigência, por mais que assim o pareça.
Você pode escolher o silêncio.
Além disso, você não terá que se arrepender por coisas ditas em momentos impensados, como defendeu Xenocrates, mais de trezentos anos antes de Cristo, ao afirmar: "Arrependo-me de coisas que disse, mas jamais do meu silêncio".
Responda com o silêncio, quando for necessário.
Use sorrisos, não sorrisos sarcásticos, mas reais.
Use o olhar, use um abraço ou use qualquer outra coisa para não responder em alguns momentos.
Você verá que o silêncio pode ser a mais poderosa das respostas.
E, no momento certo, a mais compreensiva e real delas.
Texto de Aldo Novak

Sinais de tempos tristes


Por José Luís Rodrigues
«A paz começa no nosso interior», disse Maria de Lurdes Pintasilgo, dias antes de morrer. Obviamente, que estou profundamente de acordo com esta afirmação. Não é de todo original. Mas serve para nos lembrar que a paz no mundo só é possível quando cada um e cada qual descobrir esse valor no seu interior. Ninguém pode ser agente de paz com os outros se não vive em paz consigo mesmo.
Os tempos correm tristes. A depressão toma conta de muita gente. A situação económica do país contagia os estados de alma de toda a gente. As medidas de austeridade provocam sobressaltos em muitos sectores. Ninguém escapa a um certo desânimo e parece não ter lugar o sentido da esperança. Porém, cabe-nos recordar que em cada manhã a vida volta a ressuscitar e a dádiva de sabermos que os nossos olhos se reabrem para a luz da manhã deve ser um dom maravilhoso que todos devemos saber contemplar.
Mas, não pode esta certeza privar-nos de denunciar que os tempos estão tristes, não só porque continuamos a ouvir palavras sobre o terrorismo, a violência, a miséria, os refugiados, o sida... Mas também, porque ouvimos em todo lado, palavras ofensivas, palavrões, de pessoas que se esperaria elevação e dignidade. As ofensas roçam a linguagem do calhau e poucos se indignam com isso. Parece já não existirem pessoas que merecem respeito. A linguagem estala o verniz, manifesta má educação, falta de respeito...
A linguagem estalou com o verniz dos tempos que correm, porque a mentira vale muito mais, mas mesmo muito mais do que toda a verdade. São poucos os que são escravos da palavra e muitos os que se limitam a dizer palavras ocas que depois não induzem à fidelidade do seu cumprimento. Já não conto, porque seria impossível contar, as vezes em que sou aliciado com o rol de palavras, palavras e mais palavras.
O que terá levado, a que as pessoas durmam descansadas, mesmo que enganem meio mundo com as suas mentiras descaradas e com o seu palavreado oco? Porque se tornou tão fácil viver sem qualquer sombra de peso na consciência? Porque se tornou tão fácil viver de igual modo mesmo que de manhã se diga verdade e à noite se enfie ouvidos dentro a mais descarada mentira?
No meu singelo observar, considero que os tempos correm tristes, porque são poucos os lugares da vida e do mundo que escapam a esta triste realidade. Por exemplo, a política (reparem, refiro apenas a política, mas podia referir todas as estruturas da nossa sociedade) é o que todos muito bem sabem, não há respeito por ninguém. Vejamos o que se passa numa sessão de debate parlamentar, vejamos como são as campanhas eleitorais e vejamos como se tratam as questões da economia, da educação, da saúde e todas as questões sociais.
Por fim, o povo é o bombo da festa. Está satisfeito. Basta-lhe vegetar à sombra da ignorância e comprazer-se com os arrotos da abundância de festas, passeios e todo o género de presentes. Os tempos estão tristes e o país atravessa uma grande crise. Ainda estou para crer nessa crise que se chama défice. Porque só acredito verdadeiramente na crise dos bolsos vazios das pessoas. A pobreza toma conta de muitas das nossas famílias. Os tempos estão tristes e ninguém se importa nada com isso. É pena! 
Mesmo assim, desejo um bom fim de semana para todos! 

sexta-feira, 29 de junho de 2012

As cerejas


Nobre vermelho da paisagem
Que me ensinam na encosta.
Um poio
Um galho partido
Uma morte enfim sem fruto para nunca mais.
Quem disse do trabalho?
Ou da brutalidade que faz essa faina?
- Ó se não fora o gosto…
O prazer de uma festa
Quando se despega
Um pé
Da cereja nobre
Que testemunha o sumo.
Eis o mistério
Que vejo no paladar das mãos
Enrugadas na hora da colheita
Feitas pela ternura de uma mãe.
José Luís Rodrigues
Uma homenagem a todos os que fazem a colheita das cerejas. Um trabalho irreversivelmente duro...

Celebrar o quê?


Interessante reflexão a pretexto das celebrações do dia 1 de Julho, dia da «Autonomia» ou da Madeira... Fica esta frase como pensamento do dia.

«Mas que Dia da Região é que se vai celebrar?
É um dia duma Região do "faz-de-conta" onde não faltarão discursos "inflamados" em defesa de algo que deixou de existir na realidade e que se chamava Autonomia Fiscal e Administrativa! (...)
É um dia duma Região onde não faltarão lindos discursos cheios da palavra "Autonomia" para disfarçar que os que assim falam, usaram e abusaram da Autonomia, fazendo coisas positivas é certo, muito por força das exigências das populações e dos trabalhadores, mas acabando por espatifar essa mesma Autonomia porque a transformaram em instrumento ao serviço do "desenvolvimento" de alguns!»
Paulo Martins, in Dnotícias, 29 de Junho de 2012

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A generosidade

Comentário à Missa do Próximo domingo
XIII Tempo Comum
Se a generosidade acontece, então, "somos ricos em tudo: na fé, na eloquência, no conhecimento da doutrina, em toda a espécie de atenções e na caridade que recebestes de nós". Citei esta passagem de São Paulo tirada do texto da Missa deste Domingo, para que sejamos despertos para este sentido da generosidade. O nosso tempo precisa de encontrar este valor, porque o mundo actual, necessitado de tantos outros valores, em especial, precisa do valor da generosidade como do pão para a boca. Porque se repararmos bem vamos encontrar um imenso deserto, porque faltou a generosidade no coração da humanidade.
Por isso, é cada vez maior o número de pobres e de indigentes no mundo; o individualismo ou o salve-se quem puder é regra que comanda a vida; a mentira faz uma multidão de vítimas; a dependência de substâncias alienantes brada aos céus; a procura de vida fácil é o principal desejo de tanta gente; o hedonismo ou o prazer momentâneo são o pensamento geral; a fuga dos sacrifícios e de tudo o que seja ter algum sofrimento comanda a vida; o medo do futuro e das coisas de Deus faz escola em tantos lares; o medo de assumir compromissos para a vida toda também está presente por todo o lado; a irresponsabilidade face aos actos que se realizou é o mais comum; o fazer da vida um desregramento total, é pão quotidiano; termino o elenco com esta conclusão, tornou-se muito familiar o não acreditar em nada e em ninguém, porque nada garante fidelidade e hoje as coisas são e amanhã já não serão e vice-versa. A vida não está fácil para ninguém. O mundo precisa da generosidade nem que seja num pequeno grupo, para ser o fermento no meio da massa.
O mundo precisa nem que seja de uma mulher ou um homem, que diga "não vou por aí…", quando todos dizem seguir por onde não devem, como ensinava o poeta José Régio.
E o mundo precisa que nem que seja uma mulher ou apenas um homem que digam: "vou por aqui..", pelos lugares que ninguém quer ir ou não está na moda caminhar por aí. Dando lugar à justiça, recusando tudo o que não seja digno de ser recebido, mesmo que a lei seja porto de abrigo. As pensões vitalícias que alguns políticos auferem ao abrigo da lei, são um tentado à miséria que tantas famílias portuguesas neste momento atravessam, deve ser um acto de elevada generosidade acabar com leis injustas que promovem direitos altamente abjectos que conduzem ao recebimento de privilégios que bradam aos céus no que toca à injustiça que representam. A recusar estes bens que se recebe em duplicado como acontece com tanta gente que se considera iluminada e privilegiada perante os seus semelhantes, seria um gesto de elevada ética que nos tornaria nobres diante de Deus e do bem comum...  
O valor da generosidade é um caminho importante que salva quem o segue e contribui para a salvação de todos os que beneficiem desse valor. A generosidade é a bondade ou a compaixão pelos outros, que emerge da vida que se inquieta com o mundo, não apenas para alguns, mas para a felicidade de todos. Para quem pratica a generosidade não lhe falta nada. Afinal, torna-se diante de Deus o mais rico de todos. A generosidade enriquece a vida com tudo o que ela precisa para ser feliz. A maior fortuna do mundo é a generosidade.
José Luís Rodrigues

E a vida continua... O que não queremos ser...

Fim do Euro 2012, voltamos à crise e chegou o tempo de nos concentrarmos na construção de um país mais justo, por isso, deixemos algumas vozes nos falarem para que a euforia nem a tristeza nos façam mergulhar na letargia. Adiante, porque todos temos um país para construir...


UM POVO IMBECILIZADO E RESIGNADO...
"Um povo imbecilizado e resignado,
humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo,
burro de carga,
besta de nora,
aguentando pauladas,
sacos de vergonhas,
feixes de misérias,
sem uma rebelião,
um mostrar de dentes,
a energia dum coice,
pois que nem já com as orelhas
é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante,
não se lembrando nem donde vem,
nem onde está,
nem para onde vai;
um povo, enfim,
que eu adoro,
porque sofre e é bom,
e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso
da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro
de lagoa morta (...) Uma burguesia,
cívica e politicamente corrupta ate à medula, não descriminando já o bem do mal,
sem palavras,
sem vergonha,
sem carácter,
havendo homens
que, honrados (?) na vida íntima,
descambam na vida pública
em pantomineiros e sevandijas,
capazes de toda a veniaga e toda a infâmia,
da mentira à falsificação,
da violência ao roubo,
donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral,
escândalos monstruosos,
absolutamente inverosímeis no Limoeiro (...) Um poder legislativo,
esfregão de cozinha do executivo;
este criado de quarto do moderador;
e este, finalmente, tornado absoluto
pela abdicação unânime do país,
e exercido ao acaso da herança,
pelo primeiro que sai dum ventre
- como da roda duma lotaria.
A justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara
ao ponto de fazer dela saca-rolhas; Dois partidos (...),
sem ideias,
sem planos,
sem convicções,
incapazes (...)
vivendo ambos do mesmo utilitarismo
céptico e pervertido, análogos nas palavras,
idênticos nos actos,
iguais um ao outro
como duas metades do mesmo zero,
e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento,
de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

Guerra Junqueiro, in "Pátria", escrito em 1896

Surge janeiro frio e pardacento 
Surge janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno “sacrifício”
De trinta contos – só! – por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

José Régio


"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons."
Martin Luther King

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sentir o silêncio


As flores testemunharam um sol
Naquele aperto sentido no vapor
Da visão sublime à porta do ser.
Quando as vozes cantaram a serenidade que vejo
Na delicadeza do toque
Que os amantes vivem no silêncio da noite.

Neste invólucro cósmico
Gritam estrelas e mais não digo do segredo
Que só o inquieto mistério pode guardar mais uma vez
Na certeza da felicidade que a ternura do gesto desvela.
José Luís Rodrigues

Vamos todos por Portugal

terça-feira, 26 de junho de 2012

O efeito da propagação do erro

No DN de hoje. Nenhuma novidade. Problemas novos e anda a Igreja Católica sempre com as mesmas soluções, os mesmos apelos e as mesmas teimosias. Até quando vai durar esta insistência? - Não seria melhor, face aos terríveis escândalos de pedofilia (e outros tidos como escândalos, mas que não passam de expressão de afectos normais entre seres humanos, que alguns chamam falhas, pecados, desvios... Não serão estes eufemismos uma barbaridade?). Não seria melhor abrir um debate sério em toda a Igreja para que se encontrassem caminhos que melhor servissem a Igreja Católica e a Igreja mostrasse de si mesma uma imagem mais humana e mais aberta quanto a estas questões sobre a sexualidade e a vida?  Agora reparem nesta história deliciosa...

Um jovem noviço chegou ao mosteiro e deram-lhe a tarefa de ajudar os outros monges a transcrever os antigos cânones e regras da Igreja.
Ficou surpreendido ao ver que os monges faziam o seu trabalho a partir de cópias e não dos manuscritos originais.
Foi falar com o abade e explicou que, se alguém cometesse um erro na  primeira cópia, esse erro propagar-se-ia em todas as cópias posteriores.
O abade respondeu-lhe que há séculos copiavam da cópia anterior, mas que achava bem relevante a observação do noviço.
Na manhã seguinte, o abade desceu até as profundezas da caverna na cave do   mosteiro, onde eram conservados os manuscritos e pergaminhos originais, que não eram manuseados há muitos séculos.
Passou-se a manhã, a tarde e depois a noite, sem que o abade desse sinais de vida.
Preocupado, o jovem noviço decidiu descer e ver o que tinha acontecido. Encontrou o abade completamente descontrolado, com as vestes rasgadas,  a bater com  a cabeça ensanguentada  nos veneráveis muros do mosteiro.
Espantado, o  jovem monge perguntou:
- Abade, o que aconteceu?
- Aaaaaaaahhhhhhhhhh!!!  CARIDADE....CARIDADE!!!
Eram votos de "CARIDADE" que tínhamos de fazer e não de "CASTIDADE"!!!   

Chamar por Deus


Naquele tempo vinham ter com Jesus de toda a parte e abeiravam-se pessoalmente...
Em linguagem moderna, Deus prefere os encontros pessoais ao uso de telemóvel.
Que sucederia se Cristo instalasse uma central de telemóveis no céu?
Imagine-se alguém a rezar e ouvir a seguinte mensagem: "Central Celeste, por favor marque uma das seguintes opções: para pedidos marque 1; para queixas marque 2, para outro assunto marque 3... "
Ou então: "Neste momento os nossos anjos estão ocupados. Por favor deixe a sua mensagem no serviço de espera. Se deseja falar com o Anjo Gabriel marque 5, com outro Anjo marque 6." O pior seria: "A sua alma apresenta um saldo de tantos méritos. Deverá ser recarregada no próximo Domingo nas missa das 09H00."
Por fim imaginemos outra resposta: "O número que marcou não está atribuído. Por favor, certifique-se da sua intenção ou então marque de novo sem distracções..."
Graças a Deus que nada disto acontece.
Podemos chamar a Deus quantas vezes quisermos que somos sempre atendidos. A Sua linha nunca está ocupada. Ainda bem que nos responde pessoalmente e nos conhece antes mesmo de nos apresentarmos. Deus não deixa recados no gravador mas estende-nos imediatamente a sua mão.
Pe. José David Quintal Vieira, scj

segunda-feira, 25 de junho de 2012

a voz que ouvimos

Uma voz que nos interessa ouvir e a leitura desta entrevista retempera o nosso interior para ganharmos força e coragem para levar adiante a luta pela justiça... Muito boa esta entrevista que está no Publico de hoje, 25 de Junho de 2012. Não percam.

Quando Desmond Tutu chegou ontem a Portugal, uma das notícias a correr mundo era a expulsão de imigrantes negros de Israel, insultados pelo próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyau de serem "um cancro do nosso corpo".
Sinal de que o mundo está pior ou igual àquilo que era quando o arcebispo da Igreja Anglicana, conhecido como "a voz dos que não têm voz", lutava pelo fim do apartheid a África do Sul? Nesse tempo, Tutu comparava a situação nos territórios palestinianos à vivida no seu país. 
Na África do Sul, lutou pacificamente contra o regime segregacionista do apartheid. Foi Nobel da Paz em 1984, antes de Nelson Mandela e do Presidente De Klerk, em 1993. 
Pouco depois, presidiu à Comissão da Verdade e Reconciliação, que juntou vítimas e agressores, numa tentativa de virar a página da violência, longe dos tribunais.
Questionado sobre essa sua experiência, disse-se "horrorizado com o mal que fora destapado". Numa entrevista à BBC, acrescentou: "Talvez um dia, a pensar em todas estas coisas, nos sentemos e choremos." 
Desmond Mpilo Tutu nasceu em 1931 em Klerksdorp, no Transval. Completa 81 anos em Outubro. Está no Facebook e no Twitter. E foi neste último que escreveu quando Mubarak caiu em Fevereiro: "Irmãos e irmãs do Egipto, deram ao mundo a prenda mais preciosa: a crença de que, no fim, o direito prevalece." 
Não foi militante de nenhum partido. Talvez a Bíblia, que vai invocando, seja a sua política. Continua, como no passado, a levantar a voz contra todo o tipo de injustiças: pelo fim do casamento de menores na Índia e pelo direito ao casamento dos homossexuais, pelas vítimas do HIV, e outros. Continua a ser uma voz crítica, também do seu próprio país. E uma voz que todos ouvem. A.D.C.

A reconciliação na África do Sul vai demorar tempo

Por Ana Dias Cordeiro (texto) Pedro Cunha (foto)

O perdão "não foi um instrumento perfeito, mas foi um instrumento muito útil", disse ao PÚBLICO Desmond Tutu. O arcebispo que presidiu à Comissão da Verdade e Reconciliação da África do Sul ainda hoje é visto como um ícone de esperança para lá da Igreja Anglicana e do seu país

O azul-cinzento dos olhos só é perceptível de perto. Torna-se mais azul e menos cinzento quando ri. E isso acontece várias vezes, mesmo numa curta entrevista. Desmond Tutu, arcebispo da Igreja Anglicana e Nobel da Paz em 1984 pelo papel que desempenhou na luta contra o apartheid no seu país, a África do Sul, chegou ontem a Lisboa. Hoje, participa, ao lado de Jorge Sampaio, alto-representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, na conferência pública Diálogos sobre a Paz e o Desenvolvimento Sustentável, às 18h30, na Fundação Gulbenkianem Lisboa.
Anunciou que se ia retirar da vida pública em 2010 para abrandar o ritmo e ver mais cricket. Não o fez. São muitas as solicitações num mundo a precisar de paz e justiça social?
Há um grande apelo no mundo por um modelo diferente de sociedade: vemos o movimento Occupy Wall Street, as manifestações [dos indignados] na Europa. Em todo o lado, as pessoas estão a dizer: "Não é assim que devíamos estar a viver." Devia haver mais igualdade. Não devia haver de um lado os muito ricos e, do outro, os outros tão pobres. Mil milhões de pessoas vivem com menos de um dólar por dia e isso é muito aflitivo. Estas disparidades são uma receita para a agitação.
As pessoas chegaram a um ponto em que estão à procura de uma sociedade mais equilibrada.
Quando olha para a Primavera Árabe, vê pessoas com menos medo para protestar nas ruas?
As pessoas estão a tornar-se mais conscientes de que lhes foram negados direitos inalienáveis, no Egipto, na Líbia e em todos esses lugares, as pessoas estão a dizer que isso não está certo. Cada vez mais, as pessoas estão a envolver-se umas com outras, através da Internet e outros meios de que antes não dispunham. Muito basicamente, estão a fazer o que Deus há muito tempo disse: vocês pertencem a uma família. Não é só no sentido figurado. É no sentido real. Vocês são uma família, e há a família humana. E quando se pertence a uma família, sabe-se como as pessoas partilham mesmo as quantidades mais pequenas do que têm.
Tem página no Facebook e escreve no Twitter. As redes sociais ajudam a concretizar essa noção de pertença a uma mesma família?
As pessoas estão a descobrir que podem estar em contacto. Podem ser chamadas. Foi assim que se fez nas manifestações da Primavera Árabe. As pessoas juntaram-se. Se houvesse poucos, teria sido perigoso para eles. Mas agora saem porque sabem que têm força nos números. Não parece ser o caso na Síria, mas noutros lugares as pessoas estão a dizer: "Têm que nos levar a todos a sério."
Por que não resulta na Síria?
Aprendemos da História que não aprendemos nada com a História, disse-me uma pessoa uma vez. Mubarak pensava que ia ficar no poder para sempre, Kadhafi também... O Presidente da Síria pensa que, por alguma razão, é invencível e tem os que o apoiam, e esses têm medo que se as coisas mudarem também terão de pagar o preço da repressão que as pessoas sofreram.
Se tivesse que apontar um caso no resto de África onde seria previsível uma Primavera Árabe, qual seria?
Temos o Zimbabwe como o caso principal. Mas há muitos países onde a voz das pessoas não é ouvida: Mali, Guiné-Bissau e outros. Talvez tenham aprendido com os maus exemplos dos seus mestres coloniais! [risos] Somos todos africanos. Mas por que pensamos que é melhor ser um ditador do que alguém que está lá pela vontade do povo?
Durante anos denunciou a situação nos territórios ocupados da Palestina e fez paralelos com a situação vivida na África do Sul, sob o regime do apartheid. Ainda faria essa comparação hoje?
É algo que nos salta à vista, ainda hoje. As coisas que acontecem aos palestinianos lembram-nos tanto as coisas que costumavam acontecer na África do Sul. Para mim, olhar para estes jovens israelitas e pensar no que estão a fazer a si próprios é profundamente entristecedor. Felizmente, há muitos israelitas que se opõem a isso e que tentam defender uma situação mais justa. Mas para o próprio bem deles [dos israelitas], vemos que quando uma pessoa executa políticas injustas, isso, sem dúvidas, vai deixar-lhe marcas. Vimos isso quando tivemos a Comissão da Verdade e Reconciliação na África do Sul. Quando se desumaniza o outro, quer se queira quer não, nesse processo, a pessoa desumaniza-se a si própria.
Foi presidente da Comissão da Verdade e Reconciliação e o perdão foi a base da reconciliação. Foi uma boa opção para a África do Sul?
Reconhecemos que não foi um instrumento perfeito, mas foi um instrumento muito útil, na medida em que os sul-africanos conseguiram fazer essa transição de um sistema opressivo para uma democracia e são capazes de viver juntos. Não tenho dúvida de que, sem uma coisa assim, teríamos incendiado o país. Muitas pessoas acharam que teríamos tido um banho de sangue racial.
Perdoando os agressores faz-se justiça às vítimas?
Uma das coisas que costumamos pensar é que só existe um tipo de justiça, a retributiva. Mas há também outro tipo de justiça: a restauradora. Quando um mal é cometido, o equilíbrio na comunidade é perturbado, as relações estão feridas e precisamos de algo que restaure o equilíbrio na relação. Não estamos tanto à procura de punir, mas de sarar, e vê-se. Os agressores, para serem amnistiados, tiveram de confessar em público os actos que tinham cometido.
O país está reconciliado?
Não! As coisas não se passam dessa forma, assim de repente. É um processo. Em muitos lugares, vai demorar algum tempo chegar ao ponto em que as pessoas deixam de usar a raça como algo com que agredir o outro. Mudanças aconteceram e estão a acontecer. Quando vimos, no passado, crianças obrigadas por lei a frequentar escolas diferentes e hoje vemo-las a frequentarem as mesmas escolas. Estamos a fazer coisas que antigamente eram ilegais. E o céu ainda está onde estava. Vai demorar algum tempo para as pessoas se tornarem normais. Mas estamos a mover-nos nessa direcção.
Depois do fim do apartheid, continuou a lutar em defesa dos oprimidos e das minorias.
Não é algo que escolho fazer. Se continua a acreditar no Deus em que acredito, não tenho escolha.

É isso que o move quando defende o casamento homossexual ou o aborto, questões sensíveis para a igreja?
Acho que não se deve penalizar as pessoas por algo que não foi a sua escolha - como a raça, o género ou a orientação sexual.
E o aborto?
Na Igreja Anglicana, somos a favor da vida. Mas podem surgir situações em que uma mulher é violada e engravida. E obrigá-la a ter essa criança, será colocá-la perante a lembrança constante da enorme ofensa que viveu. Como vai olhar para essa criança, e educá-la? Penso que temos que pesar, de forma muito sensível, os prós e os contras.
Tem, relativamente ao aborto, uma posição mais liberal do que a da Igreja Anglicana?
Digo que temos que ser um bocadinho mais sensíveis - e não tão legalistas.
Quem é, para si, Nelson Mandela?
Um ser humano fantástico. Quando vai para a prisão, é uma pessoa zangada, revoltada. Acreditava na violência como meio de conquistar a liberdade. E quando sai, emerge como uma pessoa extraordinariamente magnânime. O sofrimento por que passou ajudou-o a suavizar a sua posição. O sofrimento nem sempre faz isso, pode tornar as pessoas muito amargas. Mas a ele, ensinou-o a querer compreender a posição do outro. Ele acreditava convictamente que se é líder pelas pessoas que são lideradas e não em benefício próprio. Fomos incrivelmente abençoados por termos Madiba [Mandela] aos comandos, num momento da história do nosso país. Obviamente que temos de prestar tributo ao senhor De Klerk por ter tido a coragem de começar este processo. Mas é muito difícil ver quem teria alcançado o que foi alcançado, se não fosse Mandela.
Quando Mandela morrer, como vai a África do Sul reagir?
Vai ser um momento traumático para todos nós, mas o facto de ele estar longe do olhar público há tanto tempo ajudou a preparar o país e os seus dois sucessores [Mbeki e Jacob Zuma].

O regresso


Feita a descoberta que se adivinhou na incerteza do dom
O regresso à faina da soberba beleza dos dias anteriores
Faz-se naquele momento quando parti seduzido pelo reflexo
Das mãos leves da ternura mesmo fria quando as nuvens
Tocam o baloiçar das aves no voo quente do sangue
Que verte as veias do vento na turbulência dos dias.
Então vimo-nos a pensar na paixão
No caminho. No futuro. No projecto. No enlace. No desejo...
E em tudo o que o coração desperta nos encantos
Da mais fina ternura da vida que desliza
Na insegurança da viagem deste ponto principal
Que o mistério criou no primeiro encontro da festa.
Nesse espelho embutido nas calendas do antigo
Já senti a proximidade da procura inquieta
Que as musas diziam quando as palavras testam
A mais sublime verdade que se reflecte a medo
No salpicado da erosão que o vidro mostrou
Quando me vejo perdido no desalinhado sentimento
Que a projecção revela na sequência das cenas do sorriso.
Nesta certeza do incerto vislumbro um futuro
Uma festa que já aqui e agora saboreia na esperança
Destes afectos que o diálogo desfaz no prazer da paz.
Nada pode quebrar este consciente apego de uma alma
Que repousa nos campos da existência do amor
E na vocação de ser gente doce na construção
Do edifício do valor que tem o simples gesto
Do afago de umas mãos que se enlaçam no carinho
Da vida... Quando sempre se faz o regresso
Ao encontro primeiro quando todos viram
A mais ténue visão do cosmos no centro do universo.
Neste mundo. O nosso mundo.
José Luís Rodrigues

sábado, 23 de junho de 2012

Bento XVI pede aos católicos para se oporem à cultura da «mentira»


Bento XVI pediu esta segunda-feira aos católicos para se oporem a uma cultura que se reduz ao «sentimento», «espírito de calúnia» e «destruição», e onde «a mentira se apresenta com as vestes da verdade da informação».
Diante de uma «cultura do mal» centrada no «bem-estar material» e na negação de Deus, o batismo é um «“não” dito e realizado todos os dias» com os «sacrifícios» que implicam a oposição ao pensamento dominante, disse o papa, citado pelo jornal italiano Avvenire, num encontro da diocese de Roma.
Rui Jorge Martins, SNPC | 13.06.12

Nota: Interessante leitura e consequente apelo no contexto social e político em que está mergulhado o mundo, especialmente, a Europa, o nosso país e a nossa região. O «ser católico», radicado verdadeiramente na doutrina cristã, implica uma luta incansável pela verdade do Evangelho de Jesus o Nazareno. Felizmente, perdeu-se a vergonha de se anunciar alto e bom som a condição de se «ser católico». Boa, admiro quem o faz, porém, sempre fico com a seguinte inquietação: o «ser católico» que se apregoa é mais uma capa, uma corneta estridente para defender-se figuras humanas e doutrinas que nada têm que ver com compromisso activo na Igreja e no mundo, que implique a sua transformação e libertação. Não se lhes vê militância católica relevante que liberte os pobres e que integre os sem lugar e sem vez na sociedade injusta que católicos e não católicos criaram. Dispensam-se estes ditos de católicos, que não se empenham na justiça e defendem o indefensável ou o que está à vista de todos como errado e injusto. Conclusão, precisamos menos de catolicismo e mais de cristianismo... 

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Quando Manuel Alegre estava preso e escreveu um poema ao papa


O poeta e ex-candidato à Presidência da República, Manuel Alegre, contará esta sexta-feira, 22 de junho, perante bispos e responsáveis da cultura da Igreja, como um seu pedido à polícia política fascista o levou a escrever um poema dedicado ao papa João XXIII.
Foi no verão de 1963, conta o escritor ao jornal “Público”, antecipando a sua participação na 8.ª Jornada da Pastoral da Cultura, da Igreja Católica, em Fátima. Alegre tinha sido preso em Angola, então colónia portuguesa, depois de participar num levantamento contra o regime. Detido em Luanda, na cadeia da PIDE, a polícia política, Alegre ouviu falar de uma encíclica do papa João XXIII, sobre a paz no mundo, a Pacem in terris, publicada em abril de 1963.
«Pedi para ler a encíclica mas os carcereiros não permitiram», conta Manuel Alegre. «Pelos vistos era um texto subversivo.» O texto do papa dirigia-se «a todas as pessoas de boa vontade» - uma fórmula que era utilizada pela primeira vez nos documentos pontifícios. Nele se falava de liberdade, justiça, de anticolonialismo, direitos culturais, económicos e sociais, bem como da participação das mulheres na sociedade, conta o ex-deputado socialista.
«Para quem lutava pela liberdade, a encíclica foi uma inspiração», diz o autor de Praça da Canção. Por isso, Alegre acabou por escrever o poema Para João XXIII: «Porque não sei de Deus não trago preces./ Sou apenas um homem de boa vontade./ Creio nos homens que acreditam como tu nos homens/ creio no teu sorriso fraternal».
«A encíclica dizia que ninguém tinha a verdade toda. É algo que continua a ser de grande atualidade nesta época de pensamento único, em que nos querem tirar tantos direitos sociais e políticos», diz Manuel Alegre sobre aquele documento.
António Marujo

Claraboia


Num qualquer horizonte abre-se uma visão
Que ilumina uma face que se busca
Entre as paredes do escuro deste desejo
E se eleva bem alto no pequeno clarão da vontade.

Depois o azul do alto disse um segredo sentido
Nesta passagem interior do olhar curto
Que fizeram em pedra na vertigem do tempo
No momento em que este salto diz da paz dessa luz.

Pois já sei do ser supremo da consciência
Que me anima sempre no calor entrecortado
Desta luz que o sol antigo projecta neste chão.

Então cantaram as mulheres em solene alegria
A canção que os reflexos disseram na ponta dos raios.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Raça de víboras


Comentário à missa do próximo Domingo XII Tempo Comum
Solenidade de São João Baptista
A habitação de João Baptista era o deserto. Mas, não será isso impedimento para João descobrir Deus nem muito menos para que ele não permitisse a existência de Deus na sua vida. Na aridez do deserto percebeu e vemos nós que a sua missão é ser um sinal de Deus no meio da humanidade.
Deste habitante do deserto salta à vista o seguinte no Evangelho de S. Lucas, escutemos com atenção: «Dizia pois João à multidão: raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi pois frutos dignos de arrependimento e não comeceis a dizer a vós mesmos: temos Abraão por pai, porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos de Abraão» (Lc 3,7-8). Eis o grito de quem não pode calar, a injustiça e toda a exploração dos fortes sobre os mais fracos da sociedade. Já dizia o antigo Bispo do Porto, profeta do século XX, que há maneira de João Baptista dirá forte e bom som contra os poderosos deste mundo, que se acham donos da verdade e das pessoas para manipularem como muito bem entendem. Dizia o bispo: «não vejo vantagem nenhuma em afogar um grito de dor.»
Face a esta convicção somos levados a ler e anunciar um João Baptista para hoje, o tempo concreto em que vivemos. Muito longe do João assexuado dos altares, com barbichas celestiais, popularizado com comes e bebes por todo o lado. Este João não nos serve.
Toda a tradição bíblica demonstra uma predileção de Deus pelo «povo eleito», porém, também se descobre que Deus toma a sério o Seu amor por todos os povos e não deixa de desejar para toda a humanidade a salvação, caso fosse ao contrário deixaria de ser o Deus da misericórdia e da justiça anunciado por todos os profetas.
Esta compreensão nem sempre esteve presente no coração do povo de Israel, assim sendo, uma parcela deste povo, fez-se empedernido ao ponto de merecer de João Baptista o epíteto de «raça de víboras». Pois, será desta «raça» que muitos amigos de Deus conhecerão a morte e até o próprio «Messias» morrerá às suas mãos.
Os escribas e fariseus presenciaram ou tomaram conhecimento de todos os feitos do Nazareno, sem que isso lhes servisse de incentivo para o abandono das muralhas do orgulho e da intolerância, dentro das quais estavam encastelados, preferindo antes conspirar sorrateiramente contra o Filho de Deus, levando-o à cruz.
Estas «raças de víboras» consideravam-se «filho de Abraão», tomando foros de santidade, facto que lhes daria o pretenso «direito» de malbaratar os mandamentos e explorar o povo. Estas «raças de víboras» de antes tal como as de hoje, pensando que o simples facto de se pertencer a determinada escola religiosa, estão desobrigados dos deveres fundamentais exigidos pelas leis de Deus.
A crença de que bastando apregoar os currículos celestiais são acesso fácil e garantias para entrar no Reino dos céus, mas descuram-se estas «raça de víboras» os seus próprios deveres elementares de justiça e de amizade pelos mais pobres e fracos da sociedade, vivem vida de ricos à custa do bem comum e no seu egoísmo, tornam-se orgulhosos, intolerantes e obstinados…
Esta «raça de víboras» de Jesus e de João Baptista, constituem também aqueles que «não entram no reino dos céus nem deixam que os outros entrem», os que «atam pesados fardos nos ombros dos mais fracos não lhes tocando, sequer, com a ponta do dedo», os que insuflam fé cega, os que sobrepõem os seus interesses mais imediatos acima dos ditames da consciência, os que comercializam as coisas de Deus, os que «honram Jesus com os lábios mas têm longe dele os corações», os que «têm Deus na boca e o diabo no coração», e ainda aqueles que delapidam os talentos de tanta gente amavelmente cedidos por Deus aos seus filhos.
O mundo de antes e de hoje, está fatalmente corroído por «raças de víboras», por isso, revistemos o nosso coração com a lucidez e a coragem de João Baptista.
José Luís Rodrigues

Um euromilhões para as igrejas? E os outros?


Feito este anúncio (ou denúncia?).
Que sem dúvida é astronómico. E quiçá se seria necessário em todos os casos…
Na maioria, sim. No entanto, quem sabe também se não poderíamos ser mais sóbrios na construção e restauro dos templos...
O homem passa a obra fica, dirão quem nada questiona ou quem tudo engole assim sem mais.
No entanto, seria agora interessante sabermos dos gastos não menos astronómicos aplicados ao desporto, nas festanças e nas obras inúteis que enfeitam a Madeira Nova. Muito desse valor para pagar salários astronómicos aos amigos e amigalhaços do regime. Muito desse valor para alimentar grandezas de dirigentes desportivos e comprar/alimentar jogadores estrangeiros, entre tantas asneiradas que se fizeram por aí sem critério e sem nenhum sentido da responsabilidade quanto ao descalabro de dívidas que tudo isto nos fez mergulhar.
Salvaguarde-se o seguinte aspecto, este valor dado às comunidades religiosas (paróquias da Madeira), obviamente, que tem o seu quê de caça aos votos e serve também para apadrinhar muitas megalomanias. Faltou a sobriedade e alguma lucidez. Ainda assim, todo este dinheiro está aplicado em obras que servem as populações, na sua vertente sócio religiosa, claro que para muitos esta vertente não conta nada. Mas, em que se converterá um aglomerado de pessoas se não tem espaço de encontro, se lhe tiram a dimensão espiritual e a convivência social? – Os pobres ainda seriam mais pobres e muitos deles seriam esquecidos totalmente.
A termos que enveredar por este caminho maniqueísta, então, que se diga a verdade toda e não apenas uma parte da verdade, que se levada adiante sem esclarecimento, vicia a opinião pública num sentido único e isso prejudica a verdade no seu todo.
José Luís Rodrigues

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma Santíssima Trindade


Sei de ti meu Deus Grande e Omnipotente
Na encosta amiga de uma vontade
E como Ti vi no sorriso terno da criança
Que recebeu uma roupa
Um pão
Um beijo de um amigo
No impulso solidário.

Mas estava o Outro Deus em Jesus
Na fome saciada
No trabalho empregue no bem
Na sentida paixão pelo abraço fraterno
Na prisão do crime
Na prisão do sofrimento
Na prisão da solidão e do abandono
Na prisão da má sorte
Daquela vida que tinha tudo para ser certa
Mas falhou o juízo
E o mistério fez a miséria deste mundo
Que sem Jesus ainda seria mais órfão de tudo.

Porém, senti o terceiro Deus em Espírito
Que dizem Santo na oração da paz
No perdão que mata a distância
E fecunda a alegria de uma festa 
Porque diz do fim da divisão
Gera vida em terra boa
Em abundância
Em verdade
Em beleza
Nos caminhos que se engalanaram
Para o encontro do amor
Dos passos em volta
No canto alegre deste momento
Amparado pelo dom antigo
Que os anjos anunciam
Na caridade dos carismas
Que vejo nas mãos e nos pés
Que se soltam do egoísmo.

A vida neste mundo só faz sentido
Se fazemos alguma coisa pelos outros.
- Se não for assim pouco vale a pena ter vindo para aqui! 
José Luís Rodrigues

Clero de Rottenburg defende o diálogo e a reforma

Nota: Seria possível uma união destas entre nós. Tenho muitas dúvidas? Porém, fica o exemplo, a minha solidariedade e comunhão total com estes ideais.
Eis o manifesto do grupo católico Aktionsgemeinschaft-Rottenburg, da Alemanha, publicado em seu sítio (www.aktionsgemeinschaft-rottenburg.de), maio de 2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Somos um grupo de padres e diáconos da diocese de Rottenburg-Stuttgart, na Alemanha:
- que se sente comprometido com as solicitações do Concílio Vaticano II, do Sínodo de Würzburg e do Sínodo Diocesano de Rottenburg;
- que toma posição por uma ação decisiva de verdade e de liberdade na Igreja;
- que quer acompanhar de forma construtiva e crítica a vida eclesial na diocese e nas comunidades e colocar em marcha as necessárias reformas.
Retomamos aqui breve e concisamente algumas importantes demandas, que nos afligem enquanto responsáveis da pastoral e que ainda estão à espera de respostas convincentes desde o Concílio Vaticano II, o Sínodo de Würzburg e o Sínodo Diocesano. Sobre esses temas, os membros da AGR (Aktionsgemeinschaft Rottenburg – ação comunitária de Rottenburg) discutiram e concordaram diversas vezes.
A AGR foi fundada no dia 5 março de 1969, em Esslingen-Pliensau, por 170 padres. Hoje, a AGR tem 154 membros.
Membros do Conselho Diretivo:
Hermann Barth, Dunningen
Karl Böck, Suttgart
Stefan Cammerer, Ulm
Klaus Kempter, Öhringen (porta-voz)
Andreas Krause, Murrhardt
Paul Magino, Wendingen
Dr. Wolfgang Raible, Stuttgart
Martin Sayer, Reute
Frank Schöpe, Oppenweiler
Ulrich Slobowsky, Bad Mergentheim
Stefan Spitz nagel, Ludwigsburg
Escritório:
Klaus Kempter
Am Cappelrain 2
74613 Öhringen
Nós queremos uma Igreja:
- que anuncie o Evangelho de um Deus próximo do ser humano, que queira a salvação de todas as pessoas e que, portanto, seja a favor da liberdade e da justiça, da misericórdia e do amor ao próximo;
- que se conceba como povo de Deus a caminho e, por isso, esteja disposta a acolher a vida das pessoas de hoje e a se adaptar aos desenvolvimentos e às transformações sociais;
- que, por amor à credibilidade do seu anúncio, renuncie a estruturas autoritárias e torne possível em todos os níveis e para todas as decisões uma participação e corresponsabilidade mais intensas dos seus membros.
Por isso, nos comprometemos:
- a que os divorciados em segunda união não sejam excluídos dos sacramentos.
Esperamos que a Igreja encontre regras que sejam adaptadas à difícil situação de vida dessas pessoas, como era a prática de Jesus, que se sentou à mesa justamente com os pecadores, os fracassados, os proscritos. Não podemos assumir a responsabilidade do fato de que pessoas cujo casamento se rompeu tenham também que suportar a rejeição da sua Igreja. Justamente elas precisam de uma ajuda especial para o seu caminho de fé.
- a que os cristãos não católicos, que conscientemente celebram a Eucaristia conosco na fé, sejam convidados para participar da nossa mesa eucarística.
Esperamos que a Igreja leve a sério as concordâncias na fé descritas em muitos documentos e o ecumenismo crescido na comunidade. Oferecemos a todos aqueles que trazem no coração a unidade dos cristãos a hospitalidade eucarística. E não vetamos os cristãos católicos a aceitar o convite à ceia do Senhor dos evangélicos.
- a que sejam provadas e desenvolvidas múltiplas formas de comunidade.
Esperamos que a Igreja pare de fazer com que as estruturas pastorais dependam apenas do número dos padres e pare de formar unidades pastorais cada vez maiores. E esperamos que se comece a se interrogar sobre os lugares de vida e sobre as necessidades das pessoas e que, para isso, prepare e dê cargos para os serviços pastorais adequados. Hoje precisamos de uma multiplicidade de formas de comunidade, de uma pastoral da "vizinhança aos lugares de vida" e de uma pastoral da "rede orientada ao ambiente". Enquanto portadoras e sujeitos da pastoral, as nossas comunidades precisam de uma estreita ligação entre anúncio e serviço, entre sacramento e atuação na vida.
- a que as estruturas diretivas da Igreja sejam fundamentalmente repensadas e reformadas.
Esperamos que a Igreja esteja pronta a dar uma nova forma às suas estruturas hierárquicas e a possibilitar novas vias de acesso a tais estruturas: o acesso às estruturas hierárquicas na Igreja, como serviço ao povo de Deus, deve estar aberto a casados e a não casados, a mulheres e a homens, a quem desempenha na Igreja a sua profissão principal e a quem trabalha voluntariamente.
Obrigado Henrique Dias... 

terça-feira, 19 de junho de 2012

O esplendor da vida




Duas mundividências que aparentemente parecem contraditórias, mas ensinar-nos-ão que esta vida também tem o seu lado de beleza e de esplendor. 
- Álvaro de Campos diz assim: 
«Ó enigma visível do tempo
o nada vivo em que estamos!» 
- Rainer Maria Rilke - a qual gosto mais - que nos ensina de uma forma magistral o seguinte: 
«Estar aqui é um esplendor…»
- Estas duas citações contradizem-se, mas são duas visões do mundo que se completam. Seria um crime grave contra nós e contra Deus sair daqui sem apreciar também tudo o que esta vida nos dá de bom e de belo.
Mas, penso sobre a surpreendente frase de José Saramago: «que há coisas que nunca se poderão explicar por palavras». De facto, há coisas do outro mundo que as palavras sempre ditarão ainda mais o mistério que elas encerram. Mas, haverá sempre as conturbadas contingências desta vida que sempre ficarão as palavras à quem do absurdo que representam ou até às  vezes do ridículo que nos revelam. 
José Luís Rodrigues

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Se eu Fosse um Padre


- Ora nem mais,  coisa que fazemos às vezes...

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...

Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Mário Quintana