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terça-feira, 19 de março de 2013

Insultuosas alegrias

A Madeira, refere o Ministério das Finanças em comunicado, «realizou um esforço notável no sentido de alcançar as metas definidas, estando o Ministério das Finanças em condições de revelar que foram cumpridos os limites do Programa para 2012».
Por sua vez, por parte dos governantes da Madeira, o melhor que lhes apraz dizerem também nesta hora, é que a Madeira cumpriu o Governo da República não.
Estas declarações são magníficas e revelam uma insensibilidade impressionante em relação ao nosso povo espremido. Para estas entidades excelentíssimas há um desplante impressionante para dizerem semelhante coisa e por elas nós percebermos como estão felizes. Será que não há tempo e lugar para pensar um pouco à custa de quem, do quê e do como chegamos a estes resultados?
Então eu lembro algumas coisas. Não vou entrar com números de deficits, dívidas e outros números de caris económico e financeiro. Isso pouco me interessa e nessa área devo reconhecer que sou um completo ignorante e quando assim é devemos deixar tudo isso para quem estudou e sabe dessas matérias, por isso, tem autoridade para falar nesses dados.
Apresento o que sinto e vejo por todo o lado. Eis então. Este «esforço notável» e a alegria porque se cumpriu resultam, porque tínhamos alguém que entrou nos cuidados intensivos de qualquer hospital. Este doente foi um maroto, andou a viver acima das suas possibilidades e não cumpriu com todas as obrigações que a lei prevê. Adoece gravemente, mas os responsáveis do hospital confrontados com a obrigação da contenção, tirarem a ficha da tomada elétrica que o mantinha vivo, obviamente, que o doente coitado morreu, resulta que todas as partes interessadas no doente vieram a público e disseram todos, conseguimos, os valores da poupança estão todos abaixo do previsto. Porém, esqueceram-se que deviam ter salvo uma pessoa, mas pouco importa que essa poupança tenha resultado também no afogamento de alguém que acaba na morte.  
Outra comparação. Alguém mais que farto com o mau cheiro e com o barulho dos galos no galinheiro do seu vizinho, um dia perde a cabeça vai ao galinheiro e torce o pescoço às inocentes aves. O dono das galinhas fica feliz porque deixou de gastar dinheiro com as malditas das galinhas que estavam habituadas a comer muito. Ainda agradece ao vizinho assassino pela feliz iniciativa.
Bom, fora a brincadeira, se tivéssemos governantes a sério amigos do povo, diziam logo e sem pestanejar este «esforço notável» resulta do estrangulamento das pessoas, mais e mais desemprego, uma baixa horrível de salários, cortes terríveis na educação e na saúde. E todos os cortes que sabemos ao nível das ajudas da Segurança Social às famílias. Neste sentido, podemos dizer que tudo isto resulta de mais pobreza, mais fome e da vergonha de vermos filhos a pedirem ajuda porque os pais estão desempregados e não têm dinheiro para dar de comer aos filhos. Mais ainda resulta de imensas famílias a entregarem as suas casas ao banco e vergonha das vergonhas, um brutal rol de reformas penhoradas.
Ao lado disto continuam as despesas habituais, algumas obras desnecessárias, as festas de Natal, Carnaval e outras por essa Madeira dentro, apoios incríveis para alimentar e manter o que todos sabem, os salários e pensões para alguns e todas as mordomias que a maioria dos governantes não abdica descaradamente só porque a lei prevê, mesmo que a ética seja violentada severamente. Uma série de coisas que nos escandalizam e uma insensibilidade geral que põe em causa a justiça e acentua o fosso entre ricos e pobres entre nós. 
Estes são alguns aspetos de caris humano e social. E os custos psicológicos e da qualidade de vida? – Disso quase ninguém fala. Numa palavra «o esforço notável» e alegria porque «a Madeira cumpriu e a República não» resultam de uma tragédia horrível que deixa a população da região à beira de um ataque de nervos que ameaça consequência imprevisíveis.
Se tivéssemos governantes responsáveis nunca fariam pronunciamentos deste calibre e ao menos teriam uma palavra de simpatia e de consolo em relação ao povo que eles espremem com a mais fria insensibilidade com pesados sacrifícios.

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