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Convite a quem nos visita

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Pregar em casa não é fácil

Mesa da palavra                                            Comentário à Missa do próximo domingo
                                                                               IV Tempo Comum, 3 Fevereiro de 2013
Lc 4, 21-30 
Podemos imaginar Jesus a chegar à sua terra, a terra da sua infância. Aí encontra os seus companheiros, os seus amigos, os familiares, os seus vizinhos, os seus conhecidos. Aqui em Nazaré todos o conhecem e sabem ele de quem é filho. O seu pai é José. 
Jesus está ficando famoso. Todos falam dele. Uns dizem que pronuncia palavras extraordinárias sobre um reino que se edificará sobre a sua pessoa, outros dirão que diz palavras estranhas porque não se compreendem, outros ainda afirmam que ele faz milagres e perdoa pecados. Ora, em Nazaré, porque sabem bem quem é Jesus, essas coisas não são olhadas com simpatia. E parece que destes que conhecem bem a pessoa de Jesus, os insultos não se farão esperar.
“Não é este o filho de José?” - que se arma em milagreiro e que diz ser o messias filho de Deus? - Mas, afinal, não conhecemos bem esta pessoa? - Por aquilo que o texto do Evangelho testemunho, Jesus teve necessidade de se afastar dali, afirmando uma verdade terrível: “nenhum profeta é bem recebido na sua terra...” Por essas e por outras expulsaram Jesus da cidade e levaram-no até ao cimo de uma colina para o deitarem dali abaixo.
Muitas vezes é difícil escutar as pessoas que vivem connosco. Parece que todos nós somos mais solícitos a escutar um estranho ou alguém que venha de fora do que alguém que conhecemos e com quem convivemos. Outras vezes só damos valor às palavras pronunciadas por pessoas que não sejam da nossa convivência.
Quantas vezes escutamos os pais queixarem-se que os seus filhos não escutam os seus conselhos ou não ouvem as suas palavras? Porque será que custa tanto acreditar nas pessoas que conhecemos? Ou porque será que os jovens mais depressa escutam os amigos e companheiros do que seus os pais e irmãos? Não sabemos bem porque tal acontece. Porém,  podemos ensaiar alguma explicação.
A tendência humana mais frequente, é para reconhecer desde logo que o que é de fora é que é bom. Não valorizamos o que somos e o que temos dentro da nossa casa. Quantos filhos só se dão conta que realmente amavam de verdade os seus pais só depois de eles terem morrido? E quantas coisas só são realmente importantes quando não as temos? A vida parece ser um pouco estranha e cada um de nós ainda mais estranho que a própria vida.
As palavras que nos dizem ou os conselhos que nos transmitem muitas vezes têm uma recusa imediata porque não temos vontade nem paciência para receber nada que venha de pessoas nossas conhecidas. Quando sabemos da vida de cada um é difícil escutar as suas palavras.
Assim sendo, será importante que cada um procure viver com esta convicção: ninguém é perfeito. Todos temos as nossas falhas e as nossas limitações. De que vale não receber as palavras de carinho daqueles que são da nossa casa e depois escutar aqueles que não nos conhecem e que muitas vezes não estão interessados no nosso bem mas na nossa perdição completa. Esta situação acontece muito com os jovens do nosso tempo.
É muito importante que nos deixemos conduzir por este Jesus próximo, amigo e companheiro que vem à nossa terra, à nossa casa e à nossa vida para nos mostrar o caminho da eficácia salvadora. 

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Porque estamos no Ano da Fé (15)

O que a fé não é 
A fé não é para condenar mas para salvar sempre
Não é legítimo que sejamos muito exigentes com os outros e que não sejamos capazes de viver isso que se exige. Ninguém tem autoridade para pedir aos seus semelhantes aquilo que não é capaz de fazer. De que nos vai valer manifestamos muitos escrúpulos e intolerância diante das atitudes dos outros se depois realizamos os mesmos atos despreocupadamente e sem pudor absolutamente nenhum?
Há uma história que nos dá uma lição interessante. O lobo pôs-se a repreender o rato dizendo-lhe que era um mau animal. E isto porque não fazia outra coisa senão roer sacos, caixas, pão, queijo e tudo o que encontrava.
O raro, depois de ouvir, respondeu: - Por que me falas assim, se tu és muito pior? Se eu como queijo, tu devoras um cordeiro; se eu me ponho a roer um saco, tu bebes o sangue de muitas ovelhas. Lembra-te de tantos pobres e inocentes animais que tens matado e não queiras dar lições de moralidade aos outros.
Conta-se que o lobo inclinou a cabeça e se retirou envergonhado dizendo para consigo: «Se me tivesse calado, não teria ouvido o que tive de escutar»!
No Evangelho, Jesus radicaliza o seu discurso para nos mostrar claramente que a nossa salvação só acontece mediante o amor com que aferimos a relação com os outros. A medida com que seremos julgados não será apenas numa vertente pessoal, isto é, não nos perguntará Deus qual a quantidade de missas que rezamos, os terços que percorremos e as promessas devotas que realizamos. A medida será de outra ordem. A pergunta que melhor define o nosso cristianismo será esta: «que fizeste ao teu irmão?...» Sim, porque a religião que Jesus nos oferece é a da relação e do encontro com todos como irmãos.
O cristianismo que nós professamos não é uma religião de simples seguidores de um plano ou projeto político ou social. É antes uma forma de vida que nos toca por dentro, porque nos convoca para o seguimento de uma pessoa concreta que nos fala e nos desafia para atitudes de amor, isto é, os outros deixam de ser apenas semelhantes, mas irmãos que devemos acolher e amar desmedidamente.
A linguagem de Jesus no Seu Evangelho serve para nos despertar para a dimensão essencial de Reino novo, que assenta numa irmandade, porque todos são filhos do mesmo Pai e abraçados pela mesma força espiritual que imana do coração de Deus, que se define por amor desmedido pelos corações abertos a esta possibilidade redentora.
Quer Jesus ensinar-nos, que diante de Deus mais vale não condenar e não julgar ninguém, porque no mundo não existe pessoa nenhuma que seja perfeita ou que não tenha defeitos. Devemos sim estar atentos às atitudes dos nossos irmãos e sempre que seja necessário procurar fazer o bem mesmo que a troca seja desagradável.
Não vale estar à espreita a ver quando acontecem falhas ou pecados para censurar e murmurar uns com os outros sobre a vida deste ou daquele. Pede-nos Jesus que sejamos misericordiosos e que não nos deixemos levar pelos instintos primários das emoções mais fortes, condenando e desprezando logo à partida tudo o que venha daqueles que estão à nossa volta, como se cada um de nós fosse o mais perfeito do mundo.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O mistério do bem e do mal

É só isto e apenas isto que me apetece partilhar hoje convosco...
A raiz de todos os males não está em Deus, mas no facto da humanidade prescindir de Deus e abdicar de construir o mundo a partir de critérios de justiça, paz e solidariedade. O egoísmo e a auto-suficiência são caminhos que conduzem a humanidade à desgraça, ao sofrimento e à morte.
O mistério do mal é o que provoca o maior questionamento na cabeça dos homens e mulheres em todos os tempos. Este tempo não podia ser exceção. É normal que assim seja, ninguém deseja o mal, mas pouco fazemos para o evitar. Ele existe por todo lado.
O mal resulta das escolhas erradas, do orgulho, do egoísmo e da ganância. O viver orgulhosamente só, mais tarde ou mais cedo conduz à tragédia, porque os caminhos humanos sem Deus e sem o amor, constroem enormes cidades de egoísmo, de injustiças, de pobreza, de marginais, de prepotência, de sofrimento, de desgraças de toda a ordem…
A palavra Deus e todos os valores que esta palavra implica são hoje colocados de lado e a ideia de que é possível fazer caminho fora de um projeto de salvação, conduzem ao confronto, à hostilidade com os outros e ao desrespeito total pela dignidade e valor absoluto da vida. A seguir emerge a injustiça, a exploração, a insegurança, a desconfiança, a pobreza, a violência que cerceiam a vida da forma mais barbara possível. Os outros deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao bem-estar e aos interesses pessoais. Tudo isto conduz a guerras terríveis, que há muito manietaram a felicidade, a alegria e a festa que se devia desejar sempre para todos.  

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O que dizer de um domingo trágico?

27 de Janeiro de 2013, ficas gravado.
Uma paisagem de estragos incompreensível, porque semeou a morte, o sofrimento, a solidão, a impotência e tudo regado com as lágrimas da dor. Tudo condimentado com o falhanço do iluminismo que parecia tudo resolver, o fim dos limites limpava a inteligência de todo o incenso, mas parece que o fumo também se pode tornar mortal e mata todo o sinal de vida que seja trancado entre portas feitas para salvar e se teimosamente trancadas matam como qualquer outra arma feita para semear a morte.
Copérnico e Galileu disseram que a harmonia da natureza era reflexo do Criador. Nesta senda Newton acertou os seus cálculos os ponteiros dos relógios das catedrais. A chuva caiu sobre os telhados do mundo e inundou os claustros provocando humanidade no pensamento e cerceou a liberdade, autonomia humana e a condução do Espírito.
Mas, a razão emergiu pujante e nobre colocando tudo o que é dito de Deus e da religião pura superstição, porque não era experimentável no crivo das regras elementares da ciência. Porém, curioso é sabermos hoje que o mistério sempre lá esteve e hoje mais presente do que nunca, para nos tomar de luto perante as tragédias que impiedosamente matam e fazem verter lágrimas de sofrimento, de raiva e de revolta.
Para que serviam as perguntas quanto dizíamos possuir todas as respostas?
Voltaire e outros quiseram só e unicamente a inteligência como explicação para autonomia e libertação humana. Porém, Baudelaire, Rimbaud entre tantos outros, quiseram beber em Deus a sua sede de absoluto e descansar das suas inquietações. Nessa procura foram dizendo o que queriam, o que desejavam como sentido último para a existência. Por isso, lembro Dostoiévski que olhando para Jesus despiu os eclesiásticos e escancarou-lhes a alma revelando quanto os demónio nela habitavam. Nietzsche disse, o homem é livre, nada que o faça sobrenatural, transcendente, ele é o super-homem, deu no que deu e todos nós sabemos. Sartre solenemente proclamou o inferno são os outros e a morte é o último limite humano que destitui a existência de qualquer sentido.
E neste subir e descer, temos sempre diante de nós o maior dos enigmas, Jesus. Ele o eleito da inquietação de tantas mentes, por exemplo: Claudel, Simone Weil, François Mauriac, Chesterton, Péguy, Graham Greene, Alberto Schweitzer; entre nós destaque-se Fernando Pessoa, Sophia de Mello Breyner, José Saramago, José Carlos Ary dos Santos, Natália Correia, Júlio Pomar entre tantos outros autores/artistas que por cá e por todo o mundo fazem do coração inquieto o lugar do mistério e nele produzem palavras como sombras onde se refresca o descanso da paz para que a serenidade da vida se retempere na esperança e nalgum sentido.
Por nós, mesmo assim, no descampado do incenso mortífero e da ravina assassina e em tudo o que seja violência que mata, descobrimos o Deus de Jesus que não é um velho Narciso, que à socapa de adoradores submissos nem muito menos um tirano assassino que anda constantemente irado com os pecadores. É o Abba, o pai/mãe cheio de amor (e a meu ver «mais mãe do que pai» como diria o Papa João Paulo I), cuja oferta maior que tem para nos dar é a vida. Contraditório? – Dirão perante a desgraça e a tragédia, mas «se o grão de trigo não morrer fica só»... 
O que nos deu este domingo 27 de Janeiro de 2013 não foi uma grande guerra que inquietou tanta gente e tantas figuras proeminentes como Tolstoi, Camus. As notícias do incendio na discoteca em Santa Maria (o nome mais curioso que nos poderia ser dado), Rio Grande do Sul no Brasil, o autocarro que se estatela pela encosta na Sertã com excursionistas que iam visitar um presépio e outros tantos mortos resultantes da violência no Egipto… Tudo, é muito horrível e trágico para um dia só.
Hoje, tropeça-se na rua com tantas almas feridas na sua dignidade. Há uma multidão sem pão e o sistema salva a auréola cristã e exclui o pão partilhado, não se importando nada que as mesas estejam vazias. Por isso, Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein - 1891-1942), carmelita, mártir, co-padroeira da Europa, no Poema «Am Steuer» / «A Tempestade», 1940, fez-nos germinar na alma flores que se chamam esperança, fé… Num amanhã que será alegre e feliz no oásis de um novo tempo onde secaram para sempre as lágrimas deste tempo de tragédia, de dor e de sofrimento. Escutemos então:
«Sou Eu. Não temais»

- Senhor, como são altas as ondas,
E tão escura a noite !
Não poderias dar-lhe alguma claridade ?
É que velo solitária na noite !

- Segura o leme com mãos firmes,
Tem confiança, mantém a calma.
A tua barca é-Me preciosa,
A bom porto a levarei.

Mantém, sem desistires,
Os olhos na bússola.
É ela que ajuda a chegar ao destino
No meio de noites e tempestades.

A agulha da bússola
oscila mas mostra segura a direção.
Ela te indicará o cabo
Aonde quero que arribes.

Tem confiança, mantém a calma :
Por noites e tempestades
A vontade de Deus, fiel, te guiará,
Se vigilante for teu coração.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Má sorte de ser pobre


Os campos falam o que desponta
Na bênção da chuva enorme
Que os sem-abrigo condenados
Na solidão da injustiça da fome
Quando os ossos se vitimizaram
Sobre a pedra fria do calvário
- De uma cidade
Que vagueia na noite e no dia da indiferença.
Não vejo em silêncio
Neste ensaio de pedincha soberba
Ou quase feroz compadecida
Numa não solução incontida
Que vejo neste desejo revoltante
- Porque se arrebata os olhos nus
A crueldade da pobreza.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Aquele que está para além de todos os nomes conhece o teu nome


Há uma lenda do Oriente sobre um viajante que se dirigia para uma grande cidade. Uma noite conheceu dois outros caminhantes. Um chamava-se Medo e outro Calamidade. Calamidade explicou ao viajante que, quando chegassem ao destino, esperava-se que matassem 10 mil pessoas. O viajante perguntou à Calamidade se iria encarregar-se sozinho de toda a matança.
“Não, de todo”, respondeu Calamidade. “Eu só vou matar umas centenas. O meu amigo Medo acabará com os restantes.”
***
Quanto da nossa vida é morta ou roubada pelo medo? Não aqueles medos de coisas como um holocausto nuclear, mas medos pequenos e insignificantes que lentamente devoram as melhores partes da vida: Será que o novo professor me vai detestar? De certeza que eles vão gozar com o meu discurso? Vou reprovar no exame!
Mas o medo não é o único ladrão que se esconde dentro de nós. Há um exército inteiro de pequenos parasitas que nos podem enganar: ressentimentos causados por desfeitas ocorridas há muito tempo; zangas originadas por disputas fúteis; competição cruel por coisas secundárias; cortes de relações motivadas por teimosias acerca de questões irrisórias; deceções que debilitam toda a existência.
Como é que podemos escapar das garras deste ardiloso bando de gatunos? Podemos começar por fazer algo muito simples: levantar os olhos e olhar para o céu. Há 50 biliões de galáxias no espaço, algumas afastando-se de nós a milhões de km por hora! Com o telescópio Hubble podemos ver a luz que as estrelas mais distantes emitiram há 12 biliões de anos! Algumas já morreram há milhões de anos mas só agora é que a sua luz chega até nós. Parece que este imenso universo não tem fim, não tem margens, não tem limites! E ainda assim, com toda a sua vastidão e idade, não passa de uma criação, de algo feito por alguém.
E sobre este alguém, o Criador? Chamamos-lhe “Deus”, mas na verdade Ele é demasiado grande para ser nomeado ou sequer imaginado. Diante do Criador deste imenso e antigo universo, parecemos apenas pontinhos minúsculos. Mas mesmo assim Ele diz-nos que o nome de cada um de nós está escrito na palma da sua mão e que conhece todos os cabelos da nossa cabeça. Para além de toda a compreensão, chama-nos “filhos” e quer que façamos parte da sua família para a eternidade.
O que é que devemos temer? Se deixarmos que Deus seja Deus para nós, de que é que devemos ter medo? Quem nos pode tirar a vida? Ou a alegria? Ninguém, a não ser nós próprios!
Somos feitos à semelhança de Deus, com o poder de amar e dar vida e felicidade. O nosso trabalho para toda vida, cada um à sua maneira, é este: darmos a vida uns pelos outros tal como Deus no-la dá continuamente.
O nosso destino está para além de todas as expetativas humanas. Que neste dia e para sempre Deus nos ajude a ser fiéis a esse fim último.
P. Dennis Clark, in Catholic Exchange

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A Boa Nova de Jesus é a libertação humana

Mesa da Palavra
Comentário à Missa deste domingo
III Tempo Comum
A acção de Jesus fica delineada neste momento através das palavras do profeta Isaías que o próprio Jesus lê ao abrir o livro da Escritura na Sinagoga de Nazaré. Diz o seguinte essa passagem: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Ele me enviou a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos, a restituir a liberdade aos oprimidos e a proclamar o ano da graça do Senhor».
Diante do programa que Jesus nos apresenta ao ler a passagem de Isaías, parece saltar logo à vista que a Sua acção se vai destinar em primeiro lugar aos pobres. Quem serão estes pobres? – Os pobres serão todos os que não têm lugar na sociedade; serão também todos os que não têm espírito para assumir a vida com radicalidade; serão todos os que têm muitos bens mas que não sabem o que é a solidariedade, a amizade e a caridade; serão todos os que esbanjam os seus bem de forma desregrada; serão todos os que são soberbos e arrogantes diante da sabedoria e até quem sabe diante da sua pobreza; serão todos os violentos; serão todos os que promovem a inimizade; serão todos os que foram roubados e maltratados pelos outros; serão todos os que nunca tiveram oportunidades na vida; serão todos os que roubam; serão todos os que não são sérios com os seus negócios; serão todos os que não sabem o que é a fidelidade à palavra dada e a compromissos; serão todos aqueles que devíamos ter ajudado e não ajudamos... Os pobres serão tantos e tantos.
Jesus com a proclamação de Isaías, revela que veio para todos e que a sua acção mediante a força do Espírito Santo será sempre em favor do bem de todos. Porque a Boa Nova que Ele anuncia é algo que vem ao encontro dos pobres e dos desprezados da sociedade. Qual será a sociedade de homens perfeitos? – Nenhuma, todos temos um pouco de algo que nos torna também pobres. 
Este aspecto da opção preferencial pelos pobres, revelar-se-á uma constante ao longo do Evangelho de Lucas. Porque aos ricos Jesus exigirá um programa de vida que se pareça com a proposta do Reino que Ele apresenta. E para Deus as riquezas pouco ou nada contam. 
A evangelização de Jesus (a Boa Nova), requer uma sociedade nova, onde todos são irmãos, pois, a Sua proposta não consiste apenas em palavras ocas sem conteúdo salvador, em doutrinações frias que não levam a nada, em conceitos sem consistência real, a dogmas desumanos que não olham a cada realidade em si mesma, a documentos burocráticos que não servem a vida na sua autenticidade... mas consiste a Boa Nova de Jesus numa prática humana, religiosa e social que conduz as pessoas à posse da vida plena.

Traídos pela mente - o drama da doença mental


A reportagem da RTP-Madeira, "Traídos pela mente", passada ontem dia 23 Janeiro de 2013, deu-nos conta de um mundo "escondido" sobre os doentes mentais. Uma realidade inquietaste e preocupante se as vítimas são votadas ao abandono, ao desprezo e se têm que viver com o estigma da doença que provoca medo e olhares esguios que induzem intolerância e repugnância. Um drama, que a maior parte do tempo passa ao nosso lado.
A doença, qualquer doença faz vítimas, porém, a doença mental revela-se a pior de todas e se não fosse essa "vocação" tão nobre e interessante que é a Ordem Hospitaleira dos Irmãos de São João de Deus, a desgraça ainda seria muito maior para todas as pessoas tomadas pela horrível doença das perturbações mentais.
Outro dado curioso, que refere muito bem esta reportagem tem a ver com o consumo dos antidepressivos, as bebidas alcoólicas, o bloom ou drogas legais e todas as formas de dependência que levam aos estragos fatais da mente. Gostei muito da reportagem do Angelino Câmara. Serviu para nos relembrar que esta fatalidade das doenças mentais existe e que cada vez mais afecta imensas pessoas. 
A crise e austeridade não podem justificar tudo, com toda a certeza que deve ter alguma influência, porém, outros valores esquecidos no domínio da educação e arredados dos seios familiares também vão contribuindo para que cada vez mais as depressões, o desespero e tudo o que influencia na perda do sentido da vida vai ajudando a desestruturar a mente. 
É importante que trabalhos deste género vá despertando a sociedade para os sub mundos que vão existindo por aí, porque a cegueira da austeridade vai contribuindo imenso para que as pessoas sejam cada vez mais esquecidas, especialmente, as mais frágeis ou afectadas por qualquer anomalia quanto ao seu bem estar em saúde. 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Porque estamos no Ano da Fé (14)

O que a fé não é 
A fé não é um fanatismo religioso

O que é o fanatismo religioso? - Fanatismo religioso é uma forma de afunilamento em sentido único, absoluto, baseada na rejeição de qualquer outra ideia que não a da interpretação religiosa particular de quem o possui e depois considerando-se quem diverge ou pensa de modo distinto como inimigo. Não é próprio de nenhuma religião em particular, distingue-se de outras formas de fanatismo (por exemplo, o político e o ideológico) apenas por envolver uma religião ao invés de uma ideologia ou opção política. Devemos ser em absoluto contra qualquer forma de fanatismo...
O zelo intransigente mata a relação e é responsável por muito sofrimento causado pela marginalização e pelo abandono. A Igreja deve ter sempre a coragem de ser um espaço aberto onde a pluralidade e a diversidade são a sua maior riqueza. Por isso, não pode nem deve estar fechada sobre si mesma como se de um «ghetto» se tratasse nem muito menos alimentar para si o espírito de seita muito zelosa quanto ao número dos «mais fiéis» e «os restantes» são paisagem que se ignora.
Ninguém é dono de Cristo nem muito menos ninguém é dono da Sua Igreja. Todos os que formam a Igreja de Jesus Cristo convivem numa ideia comum, colocar as funções e os carismas ao serviço da comunhão e do bem comum para todos. Esta ideia é essencial para perceber que a diversidade não é para a Igreja uma fatalidade, mas antes um valor que a enriquece e a torna o verdadeiro Corpo de Cristo encarnado na história do mundo e da vida.
Neste mundo actual onde reina uma confusão geral de ídolos e de vícios que inferiorizam a pessoa humana, o melhor é compreender a fé não como um monopólio mas como um testemunho de felicidade. Se antes a fé se torna um refúgio de frustrações e uma mediação de combate de ideias ou de formas estereotipadas de ver as coisas da vida, não seduz mais ninguém nem muito menos será causa de felicidade e caminho de partilha das funções e dos carismas.
A fé verdadeira, aberta à diferença, nasce da percepção clara sobre a palavra de Jesus que anuncia um coração cheio de amor e de misericórdia para todos os homens e mulheres em todas as circunstâncias. Muito longe de qualquer fanatismo.
Em muitos momentos da nossa existência manifestamos intolerância e má compreensão face às atitudes e às palavras que os nossos irmãos utilizam. Tudo isto é fruto da prepotência que teimamos em cultivar no exercício dos cargos e das funções que nos compete assumir. Melhor seria que tudo fosse acolhido como dom de Deus, como serviço e sem qualquer sombra de interesse pessoal.
O Evangelho atesta muito bem que Jesus veio mostrar mais fez que ninguém tem o direito de se apossar de nada que pertença ao Espírito Santo. Todos os caminhos que a humanidade segue deve ser motivo de reflexão misericordiosa por parte dos cristãos com a maior das aberturas. Todas as manifestações humanas, por mais aberrantes que sejam, devem ser motivo de procura e de meditação para todos os que oram a Jesus pela salvação do mundo.
Não conduz a nada repudiar e recusar logo sem pensar e sem ternura nenhuma o que este mundo nos quer dizer. A nossa atitude deve ser antes a da escuta e a do acompanhamento para salvar e não para condenar logo de imediato. O exemplo de Jesus de Nazaré revela o quanto Ele é um Mestre na arte de compreender e de ensinar com amor. 
Porque, a religião ou liberta a pessoa humana, sem ferir ninguém, da sua miséria ou então não serve para nada. E todas as formas de religiosidade que impliquem sacrifícios de sangue ou de apagamento de quem quer que seja, está contra o Deus de Jesus Cristo, em quem nós depositamos a esperança de libertação até ao momento em que a felicidade será total e plena para toda a eternidade. 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Falar de idosos está na moda. Porque será?

Terça-feira farpas no Banquete...
A Igreja Católica, à qual pertenço com muito orgulho, porque é a melhor herança que recebi da minha família, tem a doutrina ideal sobre todas as coisas e sobre a dignidade das pessoas então nem se fala. Uma mensagem extraordinária.
Mas, quanto a alguma acção prática dessa mesma mensagem já há muito a ser dito. Verificamos que há quilómetros de distância entre a teoria e a prática. Os discursos sobre as crianças são tão bons, sobre os casais (o matrimónio), sobre os jovens, sobre a mulher e a feminilidade, sobre os idosos e sobre tudo o que é e pertence à humanidade, porém, não é feito imenso contra aquilo que é proclamado. A título de exemplo, duas situações. A mais bela doutrina sobre o trabalho e os trabalhadores está na doutrina católica, mas há imensas situações em várias instituições católicas onde os trabalhadores são desconsiderados ou quiçá sofrem alguma exploração. A doutrina sobre os idosos que é apresentada pela Igreja Católica é extraordinária, mas alguns membros da hierarquia passam a sua velhice no abandono e na maior solidão. Há exemplos concretos, mas por respeito e amizade às pessoas é melhor não os referir aqui.
A Igreja Católica ao lado do Estado serve-se nas devidas proporções dos idosos. Uma e outro sabem muito bem como «tratar» dos idosos para levar a cabo com eles os seus intentos. A hipocrisia quanto a este aspecto é muito grande em todos os quadrantes. Ambos fazem favores mutuamente neste aspecto e em tantos outros.
D. Teodoro de Faria, bispo emérito do Funchal, acusou por estes dias o Estado de só se interessar com os idosos na hora dos votos. Eis, então, que na terra de povo superior, com um consequente governo superior, a Secretaria Regional dos Assuntos Sociais, veio a público com um ridículo comunicado corroborando as declarações do bispo emérito, como se esta secretaria não fosse Estado. Como se não fosse da sua responsabilidade os vários dramas porque passam os idosos entre nós. Há imensos totalmente abandonados nas suas casas, mergulhados na porcaria, na solidão e no sofrimento. A novela sobre o Atalaia ainda não teve o seu epílogo. Aliás, alguns já o tiveram, porque já sabemos dos que já estão no cemitério. Este aproveitamento político é indecente, hipócrita e procura esconder a miséria que nos assiste actualmente no que diz respeito aos idosos. Os culpados por esta miséria não estão fora de nós, mas aqui dentro e nenhum comunicado nos tapa a vista.
Os idosos tornaram-se assunto da moda. Uma riqueza para tantos. Umas pedrinhas que se usa e abusa ao capricho de belos figurões, que se aproveitam da infelicidade dos frágeis e deles pronunciam belos discursos e têm belas atitudes de altruísmo que não passam de capas bem montadas que escondem os seus interesses mercantilistas ou quisera eu, que fosse uns acessos de remorso de consciência por causa do que deviam fazer quando podiam fazer e não o fizeram. Mas, dado o desplante com que se diz as coisas, infelizmente, não é. Por isso, deixem estar o que está quieto. Vieram tarde. Porque com defensores destes os idosos passam bem.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cerimónia ecuménica na Igreja de São Pedro

Ao fim do dia de hoje, 21 Janeiro 2013, na Igreja de São Pedro, Funchal realizou-se a celebração Ecuménica pelo maior eufemismo que acompanha as Igrejas Cristãs actualmente, a Unidade. Um desejo que se fosse verdadeiro, era concreto, provocava a unidade na diferença e nessa base procuravam mais aquilo que nos une do que aquilo que nos separe. Mas, vamos à nossas impressões desta cerimónia. Todos os representantes da Igrejas parecem estar a fazer um frete.
Sim, isso disse fretes para os vários que representam as igrejas na Madeira. Rostos pesados, sorumbáticos, agarrados ao livrinho-guia da celebração como tábua de salvação, cada um vai lendo umas coisitas sem nexo nenhum, vinda de uma tradução abrasileirada mal feita, onde chocam palavras como "engajado", sem que se tivesse o cuidado de alterar para uma palavra mais simpática para o nosso português, por exemplo, "empenhados" (mas, isto sem ofensa para os nossos irmãos brasileiros, é só porque a aqui entre nós esta palavra soa um pouco mal e faz lembrar um desqualificativo que usamos na linguagem do calhau). 
Bom, lá estávamos todos rezando, rezando e rezando, porque isto da unidade de cristãos ficamos por isso mesmo, reza... A assembleia vai ficando cada vez mais reduzida cada ano que passa, porque se ninguém acredita nisto a começar pelos principais representantes das igrejas, é normal que os adeptos se vão dispersando, preferindo o quentinho do sofá a ver as telenovelas. Este ano faltaram, os representantes máximos da Igreja Anglicana e da Igreja Católica. Revelador da importância que dão a esta oração sobre a unidade.
Vá lá que a Palavra de Deus fez presença, elemento comum a todos, pensamos, juntamente com uma recolha de ofertas monetárias para ajudar na compra de uma cadeira de rodas para um jovem que bem precisa dela. Salve-se estes elementos, os únicos importantes neste não-encontro para a maioria dos cristãos, que há muito se deram conta do desinteresse dos representantes máximos das igrejas cristãs e por isso puseram-se fora do redil...
Uma questão, porque não se envolvem grupos de todos quadrantes para este encontro? Mobilizam gente de toda a Madeira para coisas menos importantes... Incompreensível tão pouca participação.
Vamos às pregações:
- Ilse Berardo, representante da Igreja Luterana, fez uma pregação sem nada de concreto. Falou do distante. Nada disse, também nada tenho para dizer.
- Pastor Jorge Gameiro, representante da Igreja Presbiteriana, falou da situação social do país. E reclamou, porque as igrejas não podem ficar em silêncio perante a injustiça, a pobreza e a exploração que o Estado faz contra os cidadãos acusando-os de vadios e de terem vivido acima das suas possibilidades. Não basta a caridadizinha, a solidariedade... Mas "reclamemos do Estado, a equidade, a dignidade e as condições condignas para todos", isso compete ao Estado realizar a favor dos cidadãos. Para que a dimensão profética das igrejas esteja bem presente nos tempos que correm.
- Pároco de São Pedro, Cón. José Fiel de Sousa, Vigário Geral da Diocese do Funchal, suponho, que representante da Dioceses. Vamos ver o que disse...
Citou Miquéias (6, 8) no seguinte: «(...) Foi-te dado a conhecer, ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti: nada mais que respeitar o direito, amar a fidelidade e aplicar-te a caminhar com teu Deus». A a seguir considerou, não sabemos se reconhecendo se apontando para os outros... «Não será que estamos mais empenhados a defender mais a nossa imagem do que os Direitos Humanos? - Todos unidos a defender os Direitos Humanos. Fica bem no discurso, mas a prática quanto a este aspecto fica muito a desejar a história das igrejas.
Logo depois não percebei bem, «amar a fidelidade é a amar a Aliança, a vida...», não explanou. Muito embrulhado ficamos então com a seguinte conclusão, pouco perceptível... Mas, deficiência nossa, não do insigne pregador.
Resumindo e concluindo, uma mensagem banal, que acrescenta pouco... Chega.
Por fim, se os passos da unidade se resumem a isto, não digo mais nada e que a força do alto nos faça crer neste engano que brada aos céus. Não se estrague o que pensam estar bem... Continuemos a rezar e para o ano se Deus nos emprestar a vida neste mundo, faremos novamente o esforço para voltar a este não-encontro de oração sobre a maior falácia que acompanha as igrejas hoje, um eufemismo chamado UNIDADE.

O que exige Deus de nós?

SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS
e para todo o ano 2013
O que Deus exige de nós?
(Cf Miquéias 6,6-8)
A «Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos», está decorrendo (18 a 25 de Janeiro de 2013), sob o lema «O que exige Deus de nós» (Miqueias 6, 6-8). Adiante apresentamos uma breve reflexão para cada dia da semana que tirei do documento subsídios do PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A UNIDADE DOS CRISTÃOS. Hoje, segunda-feira (21 Janeiro) às 19.30 horas na Igreja de São Pedro no Funchal, realiza-se uma celebração ecuménica com a presença dos vários representantes das Igrejas Cristãs existentes na Madeira.

Dia 1: Caminhando nas conversas. Refletimos sobre a importância das práticas de diálogo e conversação, como meio de superar barreiras. Tanto no ecumenismo como nas lutas pela libertação de povos em todo o globo, as habilidades de falar e escutar são reconhecidas como essenciais. Em conversas realmente autênticas podemos vir a reconhecer Cristo mais claramente.
Dia 2: Caminhando com o corpo ferido de Cristo. Reconhecendo a solidariedade entre o Cristo crucificado e os “povos feridos” do mundo, como os dalits, buscamos, unidos como cristãos, aprender mais profundamente a viver como participantes dessa mesma solidariedade. Especialmente isso se mostra na relação entre eucaristia e justiça e os cristãos são chamados a descobrir maneiras de viver na prática a experiência eucarística.
Dia 3: Caminhando para a liberdade. Hoje somos convidados a celebrar os esforços das comunidades oprimidas de todo o mundo, como os dalits na Índia, quando elas protestam contra o que escraviza os seres humanos. Como cristãos comprometidos com a mais ampla unidade, aprendemos que a remoção de tudo o que separa as pessoas umas das outras é uma parte essencial da plenitude da vida, da liberdade no Espírito.
Dia 4:Caminhando como filhos da terra. A consciência do nosso lugar na criação de Deus nos leva à união, na medida em que vamos percebendo a interdependência de uns com os outros e com a terra. Contemplando os urgentes apelos de cuidado com o meio ambiente e com a necessidade de adequada partilha e justiça no uso dos frutos da terra, os cristãos são chamados a dar efetivo testemunho, no espírito do ano do Jubileu.
Dia 5: Caminhando como amigos de Jesus. Hoje vamos refletir sobre as imagens bíblicas de amizade e amor humanos como modelos do amor de Deus por todos os seres humanos. Compreender nossa situação de amados amigos de Deus tem conseqüências nos relacionamentos dentro da comunidade de Jesus. Dentro da Igreja, todas as barreiras que geram exclusão são incoerentes numa comunidade na qual todos são igualmente amados amigos de Jesus.
Dia 6: Caminhando além das barreiras. Caminhar com Deus significa ir além das barreiras que dividem e prejudicam os filhos de Deus. As leituras bíblicas deste dia contemplam várias maneiras pelas quais as barreiras humanas são superadas, culminando no ensinamento de São Paulo: “ vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. Não há mais nem judeu nem grego, já não há mais nem escravo nem homem livre, já não há mais o homem e a mulher; pois todos vós sois um só em Jesus Cristo.” (Gálatas 3, 28)

Dia 7: Caminhando em solidariedade. Caminhar humildemente com Deus significa caminhar em solidariedade com todos os que trabalham pela justiça e pela paz. Caminhar em solidariedade traz conseqüências não apenas para os crentes individualmente, mas para a própria natureza e missão da comunidade cristã inteira. A Igreja é chamada e fortalecida para partilhar os sofrimentos de todos, através da defesa e do cuidado oferecidos aos pobres, aos necessitados e aos marginalizados. Isso está implícito em nossa oração pela unidade dos cristãos nesta Semana.
Dia 8: Caminhando em celebração. Os textos bíblicos neste dia falam sobre celebração, não no sentido de celebrar um sucesso já completo, mas apresentando a celebração como um sinal de esperança em Deus e na sua justiça. Do mesmo modo, a celebração da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é nosso sinal de esperança de que nossa unidade será conseguida no tempo e pelos meios que pertencem a Deus.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Envelhecer com a Bíblia e com a sua história pessoal

Conferencia de D. Teodoro de Faria, «Envelhecer com a sabedoria da Bíblia»:

- «Envelhecer com a sabedoria da Bíblia é envelhecer com Deus, é envelhecer com esperança e felicidade e, ao mesmo tempo, rodeado pelos seus familiares e por uma grande colectividade de forma a que não se verifiquem problemas como os que acontecem hoje, nomeadamente idosos a viverem sós e até a morrerem em casa sem ninguém se aperceber».

- «Quem nunca foi jovem nunca aprende a ser velho».

- «Não temos possibilidade em atender a uma terceira idade que cresce cada vez mais devido aos avanços das medicina. Os Estados preocupam-se com as famílias, os jovens e as crianças, e ainda bem. Mas a terceira idade serve alguma coisa para o Estado senão para votar... De resto não produz e a ideia de quem não produz é que não serve».

Aconteceu esta tarde de domingo 20 de Janeiro de 2013, no Auditório da Universidade da Madeira, na Rua dos Ferreiros.

sábado, 19 de janeiro de 2013

O chapéu

Singelo momento inquietante que se diz em poesia... Um bom fim de semana cheio de vida com saúde.
Cobre sobre mim o que quiser sem licença
Da liberdade incontida do sol que nasceu
Em círculo para todos.
E os raios fulminantes encheram
Os poros da carne até ao fundo
Quando no Calvário verteu
Sangue e água para sempre.
Mas o amigo imaterial
Travou a fundo a incomodidade da morte.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

E eu creio (9)

E eu creio?
Olá amigos. Partilho convosco o contributo/partilha da nossa irmã e amiga do Brasil, Lúcia Andrade Souza Camposque deu largas ao seu coração e participa nesta secção do Banquete «E eu creio...». O convite mantém-se de pé para todos os que desejarem participar. Pode ser um incentivo a outros para acreditarem e reanimarem a riqueza da vida com o caminho da fé. Somos exemplo uns para os outros e a utilidade da nossa vida radica aí mesmo na capacidade que temos para partilhar o que somos e vivemos, sem isso a vida não tem sabor e servirá para pouco. Por isso, continuo a aguardar a vossa participação. Obrigado.
E eu creio...
            Eu creio, mas preciso acreditar que creio mesmo...
Me busco na crença de que Deus é Amor, mas me perco na mesma crença quando vejo tanto desamor entre homens e mulheres, tantas traições, abandonos e maus tratos a crianças e idosos.
Me busco na crença que Deus é Paz, mas me perco nessa mesma crença, quando vejo jovens serem mortos traiçoeiramente, vítimas dessa sociedade que não lhes oferece opções de futuro promissoras.
Me busco na crença que Deus é Justiça, mas me perco nessa mesma crença quando vejo a injustiça na aplicação dos Direitos Humanos, injustiça na má distribuição de renda e nos julgamentos dos que não tem como se defenderem.
Me busco na crença que Deus é Perdão, mas me perco nessa mesma crença quando em meio a comunidade de fé, não visualizo esse ato de perdoar entre os que se dizem irmãos e continuadores da obra de Deus.
Me busco na crença que Deus é Bondade, mas me perco nessa mesma crença quando vejo o pedido de ajuda suplicante dos marginalizados e a negação dos que deveriam ser a mão que acolhe, escuta e reinsere-os na sociedade.
Me busco na crença que Deus é Aceitação, mas me perco nessa mesma crença quando vejo enraizado o preconceito existente a respeito das novas relações familiares, nas opções religiosas e no racismo tão clarividente nesses pais miscigenado.
Me busco na crença que Deus é Humildade, mas me perco nessa mesma crença quando vejo o orgulho e a ambição dos que usam o nome de Deus para buscarem a realização pessoal.
Enfim, eu creio, mas preciso crer mesmo Senhor, e te peço insistentemente que me ajude a continuar crendo, para que eu não perca a capacidade de sonhar e de buscar no exemplo do Homem de Nazaré a coragem de lutar por uma sociedade justa, humana e fraterna! 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Não há outro Deus senão o da festa

Mesa da palavra
Comentário à missa do próximo domingo
II Tempo Comum
Bodas de Caná - Marten De Vos
Jesus não condena o vinho, não sabemos que o tenha recusado. Nesta festa de Caná fará com que ele não falte aos exigentes convidados e mais tarde o utilizará também para o tornar com as suas santas palavras sacramento do seu sangue. O vinho é um produto bom e saudável se for bem utilizado. Os excessos não servem para nada. Por isso, o vinho quando tomado com regra ou medida não prejudica a saúde nem prejudica as famílias.
Neste sentido, também descobrimos que Jesus prefere as pessoas felizes e alegres, às pessoas sorumbáticas e caídas de tristeza. O cristão, não pode ser uma pessoa triste, mas alegre e de cabeça erguida diante dessa luz salvadora que Cristo nos revela. Nós vivemos no tempo das bodas da eternidade. A Eucaristia que celebramos é um sinal forte dessa presença. Esta é a nossa fé e a nossa esperança. Assim sendo, como pode ser possível a tristeza fazer parte da nossa caminhada?
Jesus pôs um ponto final na religião que faz de nós pessoas tristes. Quebrou a imagem gélida que fazia de Deus uma pessoa severa sempre à espreita a ver quando falhamos para nos castigar com a maior punição possível. Deus era sério de mais, muito sisudo e sem abertura para o humor como se fosse o maior dos tiranos que exige temor e respeito sem piedade nenhuma.
Jesus não esteve com meias medidas e quebrou o jugo das leis que causam cansaço e oprimem. A sua vida histórica, no que se refere ao anúncio do Reino, será uma constante denúncia de tudo o que seja opressão da pessoa humana.
É preciso pôr um ponto final em tudo o que provoque angústias, preocupações e sofrimentos interiores desnecessários. Porque Jesus convoca-nos para a alegria e para a felicidade. E não encontramos em nenhum momento no Evangelho apelos que se reduzem a proibições, normas e ameaças de castigos.
O vinho que Cristo serve a partir da água é o melhor vinho da festa, tem sabor e alegra aqueles que o tomam. Sejamos também servidores deste vinho puro e bom que recolhemos da mesa do banquete de Cristo. E chega de sermos servidores de vinho azedo, que faz causar náuseas a muitos irmãos nossos. 

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Os Miseráveis

O enredo de "Les Miserables" (Os Miseráveis) é inspirado na clássica obra literária do escritor francês Victor Hugo. O enredo do musical desenrola-se em França, durante o Século XIX e acompanha Jean Valjean (Hugh Jackman), um ex-condenado colocado em liberdade, que torna-se Presidente da Câmara e dono de uma fábrica. Quando decide ajudar uma das trabalhadoras da fábrica, Fantine, o passado vem ao de cima, e Valjean terá de abandonar tudo o que tem para tentar fugir de Javert (Russell Crowe), um inspector da polícia que irá fazer de tudo para prende-lo. Nove anos depois, Cosette, a filha de Fantine, apaixona-se por Marius, um apoiante da Revolução Francesa. Com Javert a manter a sua intensa perseguição a Jean Valjean e uma revolução prestes a dividir a cidade, todos são forçados a questionar o que vale a pena sacrificar em nome do amor e da justiça.
Aqui está um momento interessante de cultura cinematográfica. E fica-nos um sentido de redenção para todas as opções da vida. O ódio mata, a vingança conduz à miséria. A vida só tem sentido quando assumida na luta pela justiça e morre em paz aquele que se entrega incondicionalmente a salvar a vida dos outros. Porque, afinal, «amar o semelhante é ver a face de Deus». Imperdível este filme.

Porque estamos no Ano da Fé (13)

O que a fé não é
A fé não é uma forma de exercer o poder
A ambição do poder, é um pecado que acompanha todos de alguma forma frequentemente. Muitas das grandes e das pequenas guerras têm por detrás esta ambição. A ambição do poder gerou nos discípulos a cegueira do entendimento, também muitas vezes a ganância de querer dominar e de ter a supremacia sobre os outros gera a cegueira do entendimento e a razoabilidade torna-se uma miragem perigosa.
Face à incompreensão dos discípulos sobre o que dizia respeito ao poder, Jesus recorre a uma explicação dramática sobre o seu futuro. O Filho do Homem vai ser entregue e vai ser morto, mas três dias depois de morto vai ressuscitar. O carácter dramático da explicação pretende ensinar que a lógica do Reino de Jesus é outra completamente distinta da lógica deste mundo. O maior no Reino de Deus deve ser o último. Isto é, aquele que tem mais autoridade ou poder deve considerar-se o menor, porque deve dar muito mais no que diz respeito ao serviço e disponibilidade.
A imagem da criança que Jesus coloca no meio deles (dos discípulos) é bem sintomática da Sua pretensão. Antes mais percebemos que a criança representa tudo o que há de pureza, de simplicidade e de humildade, por isso, todos devem procurar viver os valores que a criança representa. Ao acolher desinteressadamente, cada um contribui para que o Reino de Deus seja de verdade uma fraternidade que se vive no amor e na justiça.
Os males sociais que nos acompanham têm por base principal a ambição do poder. Muitas das brigas familiares são uma luta de poder, as empresas, os grupos sociais e políticos lutam entre si não porque desejam servir mais e melhor, mas antes para dominar tudo e todos com a força do poder. Daí que o slogan «servir o povo» se tenha tornado numa pura falácia ideológica e numa cruel demagogia política. Não convencem ninguém, as palavras associadas à ideia de serviço que muitos grupos políticos, económicos e sociais tentam fazer chegar até nós pelos meios de comunicação social. As palavras ligadas à ideia do serviço gastaram-se por causa dos contra testemunhos constantes.
A ideia do serviço devia enformar o coração de todos para que muitas das guerras e divisões que o nosso meio apresenta desaparecessem por completo. Por isso, chegou a hora de perceber que o poder cega a compreensão e não permite viver a misericórdia face às limitações da vida. As confusões desordeiras que muitas vezes levam às divisões terríveis entre as famílias, requerem uma lucidez constante para se aceitar as coisas com disponibilidade e com espírito de serviço com base no amor.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

As figuras e contextos da crise

Farpas...
A crise tem vários contornos e várias camadas sociais que se encaixam aqui e ali por todos os lugares. Vejamos então alguns contextos e as pessoas que os constituem.
Primeiro, os catastrofistas. Estes olham para a crise como uma desgraça fatal. Não há ponta por onde se e tudo está irremediavelmente perdido. Daí que os anúncios do fim do mundo sejam feitos hoje com uma frequência nunca antes vista. A crise é sinónima de caos. Não há soluções nem alternativas, crise conduz ao empobrecimento, à morte e ao fim das conquistas feitas com suor e lágrimas.
Para estes catastrofistas dizia o Papa João XXIII referindo-se à Igreja mas que vale para qualquer contexto: «A vida concreta não é uma coleção de antigui­dades. Não se trata de visitar um museu ou uma academia do passado. Vive-se para progredir, embora tirando proveito das experiências do passado, mas para ir sempre mais longe.»
A estes que afirmam que a crise precisa de uma tragédia ou de um inevitável abismo o filósofo e pensador suíço diz o seguinte: «Caracterizar a crise como sinal de um colapso universal, é uma maneira subtil e pérfida dos poderosos e dos privilegiados impedirem, a priori, as mudanças, desvalorizando-as de antemão». Nem mais. Os catastrofistas sabem bem para o que vieram e anunciam ideologicamente os intentos que pretendem levar a cabo, com base no quadro da desgraça e da tragédia.
Segundo contexto é formado pelos conservadores. Olham para o passado com saudosismo e pensam que os problemas novos têm solução com as orientações do passado. Neste, encaixam-se as troicas todas deste mundo, os nossos governantes, alguma Igreja Católica, alguma parte das religiões e algumas confissões religiosas.
Estes olham a realidade de hoje e procuram manter as formas e fórmulas do passado. Nada de inovação e quanto à criatividade deve ser logo manietada ou cerceada à partida. Os que eventualmente apontam outra visão das coisas e soluções mais de acordo com o que se está a viver são logo apelidados com os pires nomes e devem ser marginalizados porque pretendem destruir o poder e as suas visões que assentam na verdade absoluta que herdaram do passado. Preocupante este contexto e este grupo.
Terceiro, os utópicos ou os idealistas. Estes são os da fuga para frente. Estão em sentido contrário dos conservadores. Por isso, o que se diz para os anteriores diz-se em sentido contrário para estes. A fuga para a frente sempre, custe o que custar ou doa a quem doer. O povo, os pobres, os fracos e os mais débeis têm já a sentença de delineada pelos idealistas, o seu fim, a morte. Seguros e cheios de si, estes, pensam, o futuro é que conta mesmo que o rasto de sangue e morte sejam a paisagem que as suas soluções provocam.
Quarto, os irresponsáveis. São os que vão escapando, porque «empurram os problemas com a barriga», fazem ouvidos moucos dos que sofrem e pouco se importam com o que vem a seguir, quem vier que faça ou resolva. Estes fizeram dívidas astronómicas, tomaram decisões irresponsáveis, fizeram da inutilidade uma mais valia para ganhar eleições e manter o seu poder. Nunca se importaram nada com os outros, quem vier que feche a porta. Agora estamos todos entalados e com uma carga de impostos às costas que nos tiram os rendimentos quase todos. As nossas propriedades deixam de ser nossas, pagamo-las anualmente a peso de ouro ao Estado, que se tornou um polícia das nossas vida, porque fez de nós cidadãos uns terroristas, que mais nada fazem senão ludibriar o Estado com falcatruas. Impressionante tudo isto, porque cruelmente factual…
Os irresponsáveis, pouco se ralam com o fim do Estado Social, para que serve a educação, a saúde e o bem estar geral da sociedade se isso não rende votos nem muito menos rende dinheiro imediato para alimentar a clientela familiar e partidária? - Estes irresponsáveis são os principais responsáveis pela tragédia que se abateu sobre o nosso povo.
Quinto, os que não vêm, não ouvem e não falam. Destes também estamos cheios. Dedicam-se a ver, ouvir e falam do que está longe, acima das nuvens. Pouco se importam com o que devem denunciar e soluções zero, porque não se deram conta que estamos em crise, no fundo do poço e numa viragem importante para uma sociedade outra. Para quê meter-se em sarilhos se a vida pode ser levada em silêncio, sem problemas com ninguém e no comodismo que lhes foi presenteado… É fugir destes. 
Sexto, os conscientes. Estes são os que vivem aqui e agora. São responsáveis perante o que vai surgindo, olham a realidade com lucidez e apontam caminhos e mudanças importantes para transformar a vida de todos. Estes podem ser chamados de responsáveis, porque estão conscientes do que é importante mudar, não temem o presente nem muito menos o futuro. Daí que a sua luta se centre na procura da justiça e do bem comum.
Estes sabem verdadeiramente quem vive ainda e viveu acima das suas possibilidades. Agora, reclamam para que os sacrifícios sejam distribuídos com justiça e que os verdadeiramente culpados pelo colapso sejam chamados à justiça para retribuírem o que roubaram. Este grupo e contexto, ganha em cada dia que passa mais adeptos e o grupo engrossa cada vez mais. Devemos estar felizes com isso e lutar todos para que a consciência dos nossos males nos torne lúcidos lutadores daquilo que verdadeiramente importa construir quanto ao bem que se deseja para a sociedade em geral.