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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Os pratos da balança César e Deus

Comentário à Missa do domingo XXIX tempo comum, 19 outubro 2014...
Desafiado, um dia, a pronunciar-se sobre a legitimidade de pagar o tributo a César, Jesus pediu que lhe mostrassem um denário. Sabia claramente que tanto a moeda, cunhada com a efígie de (Tibério) César, como a inscrição, Tiberius Caesar divi Augusti filius Augustus, ofendiam a sensibilidade judaica de quem o interpelava.
À humilhação de ter em circulação, uma moeda duma potência estrangeira e de com ela ter de pagar imposto a um imperador gentio, havia a acrescentar a indignação religiosa provocada pelo epíteto de «divino» atribuído a outro que não ao Deus de Israel.
Jesus parece jogar todos estes elementos à cara de quem lhe colocou a questão. Por isso, Jesus pronuncia a frase que ficará célebre em todos os tempos com um rigor teológico exemplar: «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21).
O desejo de poder e de domínio nada são perante a sublimidade de Deus. A escolha não tem meio-termo na frase de Jesus: ou César ou Deus. Por isso, os «casamentos» entre poderes produzem amigalhaços e subjugam a verdade a favores mútuos que cerceiam a liberdade e a dignidade. Estão fora de Deus o poder temporal que manda rezar, mas também está fora o poder religioso que manda votar tendenciosamente ou acarinha preferencialmente esta ou aquela opção política.
A afirmação de Jesus é clara e não deixa margem para dúvidas. Dar a César o que é de César, é devolver-lhe uma moeda com a sua efígie, para que o poder imperial possa manter a administração e os laços de comércio que a moeda representa. Mas, dar a Deus o que é de Deus, é recusar a César o poder absoluto que de si mesmo se atribui, mas concentrar-se também no poder da justiça e do amor de Deus.
A moeda representa tudo o que de bom se pode construir, mas também representa tudo o que de mau se implementa nas relações sociais. Com a moeda constrói-se o bem, edifica-se tudo o que o homem precisa para se promover como tal, mas também com ela nasce o que não presta: os negócios comerciais com drogas e com toda a espécie de crime. Quanta morte indiscriminada e injusta por causa do dinheiro?; Quanta desordem nas famílias e nas comunidades por causa da moeda?; Quanta luta feroz nas empresas, na política e em todas as instituições sociais por causa do vil metal? …
A religião é desafiada a centrar o seu pensar e actuar na fidelidade a Deus e na prática da construção do mundo. Tarefa nem sempre bem clara para os mais responsáveis, mas que é essencial ser praticado, para que se faça jus à clareza que Jesus. Os pratos da balança chamam-se César e Deus, é preciso que o produto de um de outro não se confundam e cada um esteja no seu devido lugar para que o serviço de um e de outro não resultem em sério perigo para o bem comum do mundo e das sociedades humanas. 

2 comentários:

José Machado disse...

Estimo que o meu Amigo intreprete assim essa passagem do Evangelho mas não me causa admiração. Com franqueza, tenho já bastantes décadas a ouvir interpretações/pregações bem intencionadas dos Evangelhos mas a História da IC atira-nos à cara atitudes essencialmente diferentes...Diria que, como no tempo de Jesus (prefiro este nome ao do Cristo)a/s continuam a enfermar de um pecado capital: a hipocrisia e onde há hipocrisia não existe amor, compaixão, sequer compreensão, entendo eu.Ora,se Jesus voltasse hoje, ou em qualquer momento da existência da IC não teria razão para voltar a dizer, em relaçaõ aos responsáveis por ela,"sepulcros caiados de branco"? Com todo o respeito por si que ainda é capaz/pode "tocar nas feridas" da IC/hierarquia.Abraço

José Luís Rodrigues disse...

Obrigado amigo Jose Machado pelos seus excelentes comentários. Fico sempre feliz quando uma reflexão minha agita o pensamento e conduz à ressonância. Um abraço fraterno e amigo.