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terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fim de ano recheado de estátuas

Este ano ficará para a história entre nós como o ano das estátuas. Vamos daqui a alguns dias ouvir falar de dois monumentos inaugurados com pomba e circunstância.
A Diocese do Funchal oferece à posteridade um monumento que assenta sobre uma base circular uma cruz e uma nau que sai a partir da cruz, pretende assinalar os 500 anos da Diocese do Funchal, celebrados durante o ano de 2014.
Jardim do Almirante Reis 
e Praça do Mar
Este monumento da Diocese ficará situado no Centro do Jardim do Almirante Reis. Um local secundário da cidade, um pouco distante do centro da cidade. Não faz muito sentido ficar neste local. E não se invoque o argumento de que a cidade nasceu ali, porque é muito pouco. O que contou foi que o desgoverno da Madeira não ligou nenhuma a esta iniciativa da Diocese e preferiu concentrar-se numa estátua do Cristiano Ronaldo, por interposta entidade, Jornal da Madeira, ironicamente entidade ligada à Igreja Católica. Nem um cêntimo para o momento dos 500 anos da Diocese do Funchal, vê-se que é assim porque a Diocese sentiu necessidade de lançar um peditório dentro e fora das ilhas. Porém, não falta dinheiro para a estátua do Ronaldo por via do falido Jornal da Madeira.
Vamos então ter duas estátuas bem reveladoras do estado deprimente a que chegamos a enfeitar a cidade neste Natal 2014. O Jornal da Madeira sem gastar um cêntimo, até porque está falido, vai levantar no excelente local que é a Praça do Mar uma estátua do Cristiano Ronaldo. Discutível esta discrepância de critérios, aliás revelador do vazio a que estamos votados e o quanto estamos vergados à ditadura do futebol.
Esperemos que sirva o monumento da Igreja da Madeira para que a Câmara Municipal do Funchal cuide com mais zelo o Jardim do Almirante Reis que nos últimos tempos nos tem oferecido um estado de abandono tão deprimente, que mais parece um campo em fim de batalha.
Salvaguarda importante
Mas, antes que me chamem invejoso, vamos lá esclarecer. Não tenho nada contra o Cristiano Ronaldo e sinto orgulho do ser um madeirense que alcançou os píncaros do sucesso, é o melhor jogador do mundo e leva o nome da Madeira e de Portugal a todos os cantos do mundo. A coleção de prémios é fabulosa. Por isso, é uma mais valia madeirense que admiro sobremaneira, acho que deve ser perpetuada a sua memória e que seria tonta a Madeira se não investisse no Ronaldo e em tudo o que ao seu nome diz respeito para levar a marca Madeira longe e arrastar até nós boas porções de turísticas. Mais ainda admito e sinto orgulho pelo facto do Ronaldo sendo famoso e rico nunca ter desprezado a sua família e por ela ter feito tudo o que podia para que singrassem felizes na vida. Tudo muito admirável e que deve encher de orgulho a Madeira, o país, todos os madeirenses e todos os portugueses.
Porém, é preciso denunciar que a discrepância da localização destes monumentos é bem reveladora da importância que se dá a uma e outra coisa. O sr. Bispo não diz mas eu digo, a Diocese levou mais um pontapé no traseiro das entidades públicas que desgovernam esta terra. Não devia ter aceite esta localização, mas sim um local no centro da cidade bem próximo da Sé e do Porto, que em horas de movimento com a chegada dos cruzeiros dá imensa vida ao centro da cidade.
Inversão de critérios
O lugar onde vai ficar a estátua do Ronaldo, é um local excelente, passam por ali todos os turistas que visitam a Madeira, os madeirenses amam a marginal da cidade do Funchal e a Praça do Mar está situada à porta de entrada de muita gente que vem à Madeira pelo mar, em frente deste local atraca frequentemente um navio e próximo dali haverá mais um espaço para o mesmo fim. A estátua do Ronaldo ficará bem visível a partir do alto mar quando se aproximam os cruzeiros que entram no Porto do Funchal e obviamente, que de muitos pontos da cidade ficará bem visível. Esta relevância fica anos luz da relevância que se está a dar ao monumento da Diocese do Funchal.
Sugiro por esta via um local que me parece mais apropriado. Não sendo possível um espaço publico no centro da cidade, próximo do Porto do Funchal, dado que as várias forças políticas não se entendem, podia ser no adro da Sé, aliás o local mais adequado para um monumento deste género. O Papa João Paulo II como já foi declarado santo pode subir agora aos altares, no lugar do Adro da Sé onde está a estátua do Papa podiam colocar o monumento dos 500 anos. A zona da Sé sim, porque é o local da cidade mais frequentado por ilhéus e forasteiros. Não há nenhum turista que não visite a Sé. Mas ninguém parece estar para aí virado dado o desrespeito que se vive hoje em relação à Igreja Madeira. E pelos factos esse desrespeito vem de dentro e de fora. Já dizem que quem muito se acocora...
A inversão de valor quanto à localização destes dois monumentos revela como domina tudo e todos o futebol mesmo que isso implique abdicar da relevância do passado e do presente de uma instituição, no caso, a Igreja Católica da Madeira. É uma pena.
É dramático que esta inversão de critérios faça história. Tem mais valor um jogador, o melhor do mundo, mas que quando deixar de jogar passa ao arquivo morto da história e tem menos valor uma Instituição com 500 anos de existência, que acompanhou o povo madeirense em todos os momentos da sua história. É verdade que com virtudes e misérias, algumas vezes contra a beleza libertadora do Evangelho, mas esteve sempre aí para o bem e para mal, soma cinco séculos de vida, porque é uma realidade do céu. Ainda hoje mal e bem continua ao lado do seu povo desde o nascer até ao morrer, e porque é uma realidade de Deus vai continuar por muitos mais anos. Porque nesta Instituição as pessoas passam, mas perdura a obra e os ideais, enquanto que, nas coisas do mundo, entre elas o futebol, morrem todos os sucessos e a fama com a morte das pessoas.
Não há dinheiro
O desgoverno Regional para o Ronaldo inventa dinheiro e para a estátua dos 500 anos da Diocese nem um cêntimo, sabe lá Deus e suspeitamos nós que terá que ver com questiúnculas partidárias, porque o Jardim do Almirante Reis pertence à Câmara Municipal e a base do monumento será oferecido pela Câmara, por isso, sabendo-se do modus operandi do desgoverno Regional aí temos a explicação para a inversão dos critérios e o insulto contra a Diocese que é ser o Jornal da Madeira a entidade utilizada pelos desgovernantes da Madeira Nova para brincarem às estátuas à conta dos nossos impostos.
Nesta inversão de valores assim como em tantos outros está a prevalecer o deus do mundo, o dinheiro, e faz com que os representantes da Igreja da Madeira se acocorem mais uma vez perante a falta de hierarquia de valores, permita prevalecer o menosprezo e até a falta de respeito. Nada disto é novo. Há imensos casos de abusos entre nós. O Jornal da Madeira é o mais flagrante, mas há também expropriações por todo lado sem que a Igreja tenha sido ressarcida com dignidade.
A ver se prevalece algum bom senso em tudo isto, que daqui até à inauguração as pessoas da Igreja se mobilizem e que ao menos pensem que tanto dinheiro desbaratado em estátuas – aliás, coisa pouco aceitável em tempos de pobreza e de fome - não seja então em vão, mas que com o devido critério de valores as coisas se recomponham com dignidade e respeito.

2 comentários:

José Machado disse...

Caro Amigo Pe José Luís então ainda dá valor a coisas que nada valem!...Pior: aceita que se gastem nelas o que negam à vida de tanta GENTE/PESSOAS/SERES HUMANOS...seus conterrâneos!
Choro por isso.

José Luís Rodrigues disse...

Caro amigo, comungo inteiramente da sua inquietação.
Obviamente, que pessoalmente não dou valor nenhum a estátuas, ainda mais se andam semeadas pela rua. Mas já que muitos neste mundo dão, faço a minha leitura e reflito sobre a mensagem que as atitudes transmitem. Um abraço e grato ela participação.