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Convite a quem nos visita

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Um Cardeal sem medo ao lado do pulsar do seu povo

Magnífico. Eis um cardeal sem medo. Apesar dos seus 82 anos passou a noite nas ruas com o movimento estudantil em Hong Kong, o cardeal Joseph Ze-kiun, o bispo emérito da ex-colónia britânica. Não falo mais porque a imagem fala por si. Permitam-me só esta pergunta, quando teremos entre nós assim cardeais e bispos sem medo de sujar as purpuras? 

Jihadistas por todo o lado

Está a circular a notícia divulgada pelo «Observatório Romano», que o Papa Francisco se referiu aos rumores de um ataque contra a Santa Sé pelos jihadistas, na homilia do último sábado. O Papa Francisco disse aos polícias do Vaticano, em relação a uma suposta ameaça jihadista contra o Vaticano, «há bombas dentro», referindo-se ao que ele chamou de «fofocas», informou L'Osservatore Romano. Falou neste teor: «Eu quero vos dizer uma coisa triste, bombas no interior, há bombas muito perigosas dentro». E que «a pior bomba dentro do Vaticano são as fofocas» - Eis aquilo que entre nós designamos de «bilhardice».  
Não é a primeira vez que Papa Francisco se refere aos «rumores», «calúnias» ou «boatos». Já em fevereiro último tinha declarado aos fiéis reunidos na Praça de São Pedro, que «a fofoca pode matar, porque ela mata a fama das pessoas». O Papa disse na altura: «Pode parecer engraçado, mas depois a fofoca enche o nosso coração de amargura e envenena-nos a nós mesmos». Nem mais. Todos os rumores que se baseiam na calúnia e na boataria provocam sofrimento e tristeza.
O Papa Francisco tocou numa ferida que é transversal a toda a Igreja. Não é só o Vaticano que está armadilhado. Não é só o Vaticano que tem esta «bomba perigosa». São todas as Igrejas nacionais, todas as dioceses, todas as paróquias e todos os grupos dentro e fora das igrejas. A humanidade consome-se assim armadilhando-se na calúnia desenfreada porque a inveja comanda a vida e ocupa os corações de tanta gente.
Por isso, esta denúncia do Papa bate certeira no Vaticano e em todos os lugares do mundo onde há pessoas. Entre nós existe como «alimento» quotidiano. A mentira torna-se verdade à velocidade de um raio. A calúnia comanda a vida e é luz que ilumina a mente de tanta gente. O boato é regra para vencer na vida e ganhar dinheiro. O rol pode continuar. Fica-nos estes elementos entre tantas outras «bombas fofoqueiras» que se vão inventando por todo o lado, para fazer do mundo um verdadeiro inferno.
Afinal, Papa Francisco, jihadistas, há-os por todo o lado, infelizmente. 

sábado, 27 de setembro de 2014

O outono transmutado

Para o fim de semana. Sejam felizes sem prejudicar nada nem ninguém...
Temos caminhos em lombos e vales
temos passos que se fazem em volta
com encontros e desencontros
no sol intermitente dos homens
e temos luz quando permitem as nuvens
mesmo quando o pensamento
às vezes transparece na divisão lancinante
do poema.
Temos união no sorriso das flores
que aquela colina desvela
nas letras que generosamente
descrevem o sentido
que busco em cada pedra
da visão clara deste tempo da amizade.
Temos som mais em música divina
nas folhas mortas do outono triste
que alguma vez faz húmus fértil
na passagem da transmutação
antiga da água
que verte a emoção
nos dias da vida perene
da felicidade nossa e de Deus.
Temos o desencanto
que me molhou a face
porém quando fiquei seguro da mão
que nos dá em força o passado
serenei porque secou-me o pranto
o desassossego do mistério
que pergunta ao vazio
por uma réstia do que me fizeram.
Temos então aí o contentamento
firme no que me deram para ser.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Ninguém se salva sozinho

Comentário à Missa do Domingo XXVI tempo comum,
28 setembro de 2014 
Os outros são o verdadeiro desafio da vida. São Paulo considera que será preciso cultivar bons "sentimentos", isto é, os sentimentos de Cristo, para que o entendimento entre nós e os outros seja uma realidade.
Mas, já é antiga a denúncia de que a relação com os outros não é pacífica. O mito de Sófocles é claro, na magnífica "Antígona", ao proclamar no ponto alto do diálogo o seguinte: "A teimosia merece o nome de estupidez". E Hémon, um dos personagens da Antígona dirá alto e bom som: "Quem julga que é o único que pensa bem, ou que tem uma língua ou um espírito como mais ninguém, esse, quando posto a nu, vê-se que é oco". Toda a superioridade perante os outros merece esta resposta e não pode ser senão a pior coisa que a "louca" da imaginação de cada um inventa, destruindo assim o bem e a felicidade que Deus deseja para o mundo.
O estado de superioridade acontece nas coisas mais corriqueiras da vida. As relações profissionais estão cheias desta realidade. As famílias alimentam-se deste sentimento como do pão para a boca. As religiões ou as igrejas também vivem esta condição com a mesma frequência com que pronunciam orações. E dos que se consideram a si mesmos superiores, diz-se o mesmo que disse Ambrose Bierce, são uns cobardes. E cobarde para este autor era alguém que, numa situação perigosa, pensa com as pernas.
Este sentimento, é o que mais inimigos, produz. Os rancores que muitas vezes as pessoas expressam uns contra os outros estão associados à ao egoísmo e ao convencimento pessoal centrado no ego muito longe da partilha para o bem comum. E sobre estes sentimentos, Oscar Wilde ensinou que a melhor resposta, consiste em perdoar-lhes sempre, porque nada os aborrece tanto.
A sabedoria da vida está em saber acolher o mistério. Não são os desastres que libertam e fazem a felicidade, mas a descoberta da verdade e da paz ("os sentimentos de Jesus Cristo" - segundo o Apóstolo Paulo), como alimento essencial para a relação com os nossos semelhantes.
Consequentemente, Jesus no Evangelho ensina que não bastam palavras e declarações de boas intenções, é preciso viver, dia a dia, os valores do Evangelho, seguir Jesus nesse caminho de amor e de entrega que Ele percorreu, construir, com gestos concretos, um mundo de justiça, de bondade, de solidariedade, de perdão, de paz.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dois momentos duas reflexões a levar muito a sério

Dois momentos onde o pensamento sobre o pensar o Cristianismo hoje que nos deve relançar no caminho de uma verdadeira pastoral que vã ao encontro das pessoas, sem juízos de valor nem muito menos com imposições que marginalizam ou revoltam as pessoas ainda mais ao ponto de a «divorciar» por completo da Igreja Católica.

«O Cristianismo terá futuro»? – Perguntou o Padre Tolentino Mendonça, no Expresso do dia 20 de setembro: 
«Pois, o que será o cristianismo do futuro? O teólogo Karl Rahner escreveu, como uma espécie de testamento, três coisas que fazem pensar: 1) o cristianismo voltará a ser formado por pequenas comunidades, mas vivendo com maior entusiasmo e simplicidade a sua fé; 2) a adesão à crença não acontecerá por pressão sociológica, mas por um caminho pessoal, livre, maturado e esclarecido; 3) o cristianismo perdera relevância política e estratégica, mas reganhara espaço para afirmar o santo poder do coração». O Papa Francisco está na linha do grande teólogo Karl Rahner. É pena que outros ainda continuem a sonhar com um catolicismo (cristianismo) de massas e de cruzadas.  

O documento que nos falta estudar, pensar e concretizar na pastoral é a Evangelii Gaudium/ Evangelho da Alegria do Papa Francisco, diz o seguinte nesta passagem: «Há normas ou preceitos eclesiais que podem ter sido muito eficazes noutras épocas, mas já não têm a mesma força educativa como canais de vida. São Tomás de Aquino sublinhava que os preceitos dados por Cristo e pelos Apóstolos ao povo de Deus ‘são pouquíssimos’. E, citando Santo Agostinho, observava que os preceitos adicionados posteriormente pela Igreja se devem exigir com moderação, ‘para não tornar pesada a vida aos fiéis’ nem transformar a nossa religião numa escravidão, quando ‘a misericórdia de Deus quis que fosse livre’" (EG 43). “Estas convicções têm também consequências pastorais, que somos chamados a considerar com prudência e audácia. Muitas vezes agimos como controladores da graça e não como facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega; é a casa paterna, onde há lugar para todos com a sua vida fatigante” (EG 47). 
É só para retermos, pensar muito e delinear estratégias pastorais sob estas luzes...

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Na Albânia, contra a opressão e pela liberdade

O melhor resumo que encontrei sobre a visita do papa Francisco à Albânia no domingo passado 21 de setembro de 2014...
Francisco rumou à Albânia, numa visita-relâmpago, a 21 de Setembro. Conhecemos este país mais pelo 1-0 da seleção a Portugal, em Aveiro, a 7 de Setembro! Mas, até 1992, teve o comunismo mais duro e cruel, responsável por martirizar milhares de pessoas, católicos, ortodoxos ou muçulmanos, pelo simples facto de se afirmarem crentes. Sim, foram mortos em nome da sua Fé.
O Papa denunciou a crueldade terrível deste regime desumano, a contrastar com a coragem heróica dos crentes. Disse lá que tinha estudado a história dos cristãos da Albânia e que fora uma surpresa saber como o povo tinha sofrido tanto por causa da sua Fé. Por isso, mais que uma viagem foi uma homenagem.
Esta memória de um povo de mártires, Francisco sentiu-a melhor em dois momentos comoventes: quando ouviu o testemunho do P. Ernest (preso 18 anos, em trabalhos forçados), bem como junto ao muro do cemitério de Shkoder, local de fuzilamentos.
A Albânia antes de 1992 era símbolo de fechamento ao mundo e de perseguição aos religiosos, país de ‘sofrimentos atrozes e duríssimas perseguições’.
A ida do Papa foi, para o mundo, um chamar de atenção para as periferias pobres de uma Europa rica e desenvolvida. Ao mesmo tempo, pôde prestar homenagem aos mártires e mostrar ao mundo como muçulmanos, católicos e ortodoxos, de etnias diferentes, podem viver juntos, em fraternidade.
Francisco denunciou a crueldade das ditaduras: das que matam pela intolerância religiosa e política dos regimes; das que matam pela injustiça e individualismo. Disse: ‘Se o regime ateu procurava sufocar a fé, estas ditaduras, mais subtis, podem sufocar a caridade’.
Madre Teresa, albanesa, não podia ser esquecida. O Papa definiu-a como ‘uma filha humilde e grande desta terra’ e foi na praça que tem o seu nome que Francisco celebrou a Eucaristia, na capital Tirana.
No encontro com muçulmanos, sufis, católicos, ortodoxos, evangélicos e judeus, Francisco afirmou: ‘A religião autêntica é fonte de paz e não de violência. Ninguém pode usar o nome de Deus, para cometer violência. Matar em nome de Deus é um grande sacrilégio. Discriminar em nome de Deus é desumano’.
Lembrou ainda aos líderes presentes que ‘a liberdade religiosa não é um direito que se possa garantir apenas pelo sistema legislativo vigente, embora este seja necessário; a liberdade religiosa é um espaço comum, um ambiente de respeito e colaboração que deve ser construído com a participação de todos, incluindo aqueles que não têm qualquer convicção religiosa’.
Francisco continua a intervir na história, evocando alegrias e dramas, mas apontando caminhos de presente e futuro assentes na justiça e na paz.
Tony Neves, in facebook

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A liberdade religiosa que se deseja para o mundo inteiro

Passagem do discurso do Papa Francisco aos líderes religiosos neste domingo (21 de setembro de 2014) na Albânia… Essencial para a paz no mundo o que diz o Papa sobre a liberdade religiosa. Aliás, país elogiado pelo Pontífice pela coexistência pacífica entre religiões diversas. Que seja um exemplo para o mundo inteiro.

A liberdade religiosa não é um direito que se possa garantir apenas pelo sistema legislativo vigente, embora este seja necessário; a liberdade religiosa é um espaço comum, um ambiente de respeito e colaboração que deve ser construído com a participação de todos, incluindo aqueles que não têm qualquer convicção religiosa. Permito-me indicar aqui duas atitudes que podem ser de particular utilidade na promoção desta liberdade fundamental.
A primeira é ver em cada homem e mulher – mesmo naqueles que não pertencem à tradição religiosa própria –, não rivais e menos ainda inimigos, mas irmãos e irmãs. Quem está seguro das próprias convicções não tem necessidade de se impor, de exercer pressões sobre o outro: sabe que a verdade tem a sua própria força de irradiação. No fundo, todos somos peregrinos sobre esta terra e, nesta nossa viagem enquanto anelamos pela verdade e a eternidade, não vivemos como entidades autónomas e auto-suficientes – quer se trate de indivíduos, quer de grupos nacionais, culturais ou religiosas – mas dependemos uns dos outros, estamos confiados aos cuidados uns dos outros. Cada tradição religiosa deve conseguir, a partir de dentro, dar-se conta da existência do outro.
Uma segunda atitude é o compromisso a favor do bem comum. Sempre que a adesão à própria tradição religiosa faz germinar um serviço mais convicto, mais generoso, mais altruísta à sociedade inteira, verifica-se um autêntico exercício e crescimento da liberdade religiosa. Esta apresenta-se, então, não só como um espaço de autonomia legitimamente reivindicado, mas também como uma potencialidade que enriquece a família humana com o seu progressivo exercício. Quanto mais se está ao serviço dos outros, tanto mais se é livre!
Olhemos ao nosso redor! Como são inúmeras as necessidades dos pobres, quanto precisam ainda as nossas sociedades de encontrar caminhos para uma justiça social mais ampla, para um desenvolvimento económico inclusivo! Como tem necessidade o espírito humano de não perder de vista o sentido profundo das experiências da vida e de recuperar a esperança! Nestes campos de acção, homens e mulheres inspirados pelos valores das suas próprias tradições religiosas podem oferecer uma contribuição não só importante mas insubstituível. Este é um terreno particularmente fecundo também para o diálogo inter-religioso.

sábado, 20 de setembro de 2014

Sombras que falam

Para o fim de semana... Sejam felizes sempre sem prejudicar nada nem ninguém.
No caminho e na mão
é aventura e dom
que deslizam nos passos
pela terra fértil
que engravida do grão
que é sonho
é gosto solene
que se prepara
na mesa simples
onde as mães partilham o pão.

Neste encontro importante
não vejo fome nem choro
mas semente
e luz do mundo distante
que brilha em fogo
e alma inquietante
que nas sombras falam
o clarão desejado
no encontro
que que se faz aqui e agora
quando descansam na margem
os navegantes do som presente
perene e vibrante.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O congresso sobre os 500 anos da Diocese do Funchal

Nota prévia: Esta minha análise sobre o congresso apenas diz respeito ao que observei e senti nos vários momentos onde estive presente. Não deixei a cabeça em casa e a minha capacidade crítica esteve sempre comigo. E não me venham com essa ideia terceiro mundista de que tudo o que se faz na Madeira é logo atacado, querem alguns sempre deitar abaixo e dizer sempre mal. Não é disso que se trata. Mas antes trata-se de olharmos as coisas com espírito crítico e para que também não se alimente a ideia parva de que tudo o que fazem alguns é sempre perfeito e só pelo facto de serem eles a fazer devemos dizer sempre bem, mesmo que não seja assim na realidade. Não embarco nisso. 
Para mim já terminou o congresso dos 500 anos da Diocese do Funchal e com ele também espero que tenha terminado tudo o que diz respeito a esta comemoração dos 500 anos. Prometo ainda adquirir o livro das actas do congresso para guardar como recordação e consultar quando for necessário. Não fosse um evento de uma envergadura gigante que merece que tenhamos essa atenção.
Deixo aqui uma palavra de admiração pelo Professor José Eduardo Franco, madeirense de Machico, sítio dos Maroços, que se vai revelando um organizador de congressos gigantes. Mas falta ainda saber se são humanamente possíveis de serem acompanhados pela capacidade humana. Parabéns pela sua capacidade para mobilizar uma série de estudiosos do mais variado quadrantes da investigação, do pensamento e do saber.
É óbvio que a história da Diocese do Funchal merecia um acontecimento desta envergadura, resta saber se era isto mesmo que precisávamos neste momento. Um dado relevante que se tira como conclusão do congresso é que parece existir mais pessoas fora da Madeira a estudar a história da Igreja da Madeira do que cá dentro.
Desde muito cedo quando comecei a ouvir falar da preparação do congresso, pensei logo que poderia ser mais útil para o futuro da Igreja da Madeira um Sínodo diocesano, porque a Igreja tem uma longa experiência na prática do Sínodo (significa, «caminhar juntos». Em um sínodo diocesano, trata-se de uma «assembleia de eclesiásticos» e leigos «convocados pelo seu prelado ou outro superior» que se reúnem com o propósito de «caminhar juntos», seguindo um determinado plano) e uma metodologia própria para tal.
O congresso é mais grandioso, mais mediático, se quisermos, mais concentrado em tempo pessoas e lugar, por isso, fica-se em congresso muito pela história com pequenas pinceladas no presente e sem futuro absolutamente nenhum.
Sim, precisamos da história, com toda a certeza, e mau será que nos envergonhemos do nosso passado, mas para relançar a Igreja para o futuro precisávamos que alguma coisa provocasse um tufão de Espírito Santo. Não vi isso neste congresso. Aliás, faltou que víssemos a força transformadora e impulsionadora à volta dos eventos todos sobre os 500 anos da Diocese do Funchal. No congresso ouvi muito sobre um passado glorioso, algum menos bom, outro floreado e outro ainda adulterado, porque nem todas as pessoas convidadas para intervir pareciam estar abalizadas para o fazer. Mas isso são critérios que nos ultrapassam.
Face a tudo o que observei não me pareceu que daqui se inicie uma renovação da Igreja da Madeira. Porque numa reunião magna como esta sentirmos que se evita alguns assuntos, só porque pode não ser de bom-tom ou suspeitarmos que tenham pensado que podiam ferir suscetibilidades, não augura conclusões e linhas de ação determinadas para levar adiante uma postura que demonstre conversão e outra postura perante as injustiças, as interferências político partidárias e a denúncia contra a exploração dos poderosos sobre os mais fracos.
O congresso foi grande e teve o cuidado de tocar ao de leve sobre a maioria dos aspectos da história da Diocese do Funchal. Não quer dizer que não tenha imensas lacunas, a principal delas foi ter descurado a história da Igreja do Porto Santo, porque embora sendo constituído por duas paróquias idênticas às paróquias da Diocese do Funchal, não deixa de ter uma história muito específica. A história das viagens no mar da travessa trata-se de uma verdadeira odisseia. O isolamento daquela população, a pobreza que sempre a acompanhou e tantos outros aspectos muito peculiares do Porto Santo. Tais particularidades do Porto Santo mereciam uma mesa redonda ou nem que fosse uma intervenção em qualquer um dos enormes painéis.
A propósito de painéis. Foram muito grandes, aproveitávamos pouco deles. Muita gente para falar sobre temas que mereciam um semestre em qualquer curso universitário. Por isso, foi comovente e penoso ver como os intervenientes se viam constrangidos pelo presidente da mesa e de como ficavam perplexos perante o corte da palavra porque o relógio não perdoa. Este festim hilariante distrai sobremaneira a assembleia e corta o fio à meada. Foi pena.
O congresso foi o que foi. Esperemos que alguns propósitos ali debitados não caiam em saco roto, mas que da parte dos principais responsáveis da Diocese, permitam que as portas se abram à conversão dos corações e que sejam solícitos à criatividade que venha de onde vier para que a história da Diocese que hoje dizem ser «metade da história da Madeira», daqui a mais 500 anos não seja apenas uma nota de rodapé.
Como calculam de Papa Francisco não vi nem ouvi nada...

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Continua o desafio da comunicação para a Igreja Católica

Eco reflexivo do Congresso sobre os 500 anos da Diocese do Funchal...

O maior desafio da Igreja Católica hoje deve ser o da sua relação e convivência saudável com a comunicação social. Durante imenso tempo a Igreja através dos seus membros esteve convencida que podia impor ab eterno a sua reflexão sobre a visão apocalíptica dos meios de comunicação social. É óbvio que tal pregação falhou redondamente. Hoje continua a braços com este desafio. Anda à procura do modo como lidar com todos os meios de comunicação que proliferam a um ritmo estonteante e com contornos tão diversificados que quase se torna impossível acompanhar.
Quantas vezes andam alguns membros da Igreja Católica concentrados no mais primário, desejam que os órgãos de informação passem só o que é positivo ou então pretende que tais meios de comunicação sejam como que «uma carrinha para transportar Bíblias» (Padre António Rego), publiquem fotografias, façam reportagens e vídeos das festas ou mensagem cozinhada ao gosto de uma pessoa ou de um grupo. Esta postura completamente distorcida, soa a ridícula e é motivo de charadas com gargalhadas à mistura entre os profissionais dos meios de comunicação social.
Mais grave é que a meu ver, uma instituição que ainda não aprendeu a comunicar internamente nunca vai saber comunicar para o exterior. Jesus no Evangelho de Mateus sem revelar os métodos, porque os remeteu à inteligência e ao engenho humano, mandou: «O que vos digo na escuridão, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados!» (Mt 10,27). É preciso começar já internamente para depois ser feito com eficácia exteriormente sem qualquer medo nem muitos menos com a mania da diabolização mais o terrível maniqueísmo absurdo.
Um grande mestre da comunicação próximo de nós, o Padre Tiago Alberione, alertou: «Hoje não basta a pregação nas igrejas, é preciso usar todos os meios. Realmente, em poucos anos o mundo transformou-se e nós, para caminharmos com o mundo, precisamos atualizar-nos. É necessário usar o cinema, a rádio, a imprensa, a televisão e todos os outros meios que o progresso humano inventar, para podermos comunicar a Boa-Nova do Evangelho». Aqui está a lucidez de quem percebe que a necessidade de atualização deve ser uma postura constante na vida da Igreja Católica.
Todos nós como Igreja, não devemos ter medo da comunicação multifacetada e que nada nos trave quanto ao anúncio profético da mensagem da salvação. A Igreja é de todos e para todos, não vale que no seu interior se cultive direitos e deveres desiguais. Nada de segredos patéticos. Nada de continuarmos com a terrível mania de que alguns são mais iluminados do que os restantes. Por isso, aos mais diretamente responsáveis na Igreja por essa missão da comunicação que se deixem do segredo e do obscurantismo, anime-se com alegre esperança à riqueza enorme da ação do Espírito Santo que está em todo o lado, mesmo até naqueles lugares onde a comunicação algumas vezes não nos agrada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Somos trabalhadores e não donos de Deus

Comentário à Missa deste fim de semana
Domingo XXV tempo comum (21 setembro de 2014)
A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum, faz-nos lembrar que os caminhos e pensamentos de Deus estão muito acima dos nossos. Daí que resulte num insistente apelo à conversão dos esquemas deste mundo que por causa da injustiça que provocam estão muito longe da vontade de Deus. Mais ainda se converte este apelo à necessidade de andar alguém a pensar que pode dominar o coração e vontade Deus. Nenhuma criatura deste mundo tem poder para tal. O querer de Deus é um grande mistério, por isso, nada nem ninguém se pode dar ao luxo de considerar que pode impor, pelo domínio e pela força, um desejo que achou ter descortinado de Deus.
O primeiro texto tirado do profeta Isaías pede aos crentes que «voltem para Deus», isto é, que deixem todas a formas de pensar e de agir que estão contra um «querer» de Deus que radica sempre no bem universal contra todas as formas de poder que marginalizam e escravizam. A palavra do profeta insiste na necessidade de encontrar a lógica da relação de uns para com os outros baseada na lógica dos valores de Deus que são sempre de libertação contra toda a opressão que este mundo sempre vai impondo.
No segundo texto da missa deste domingo temos o exemplo de um cristão, Paulo, que confessa até onde já chegou a fé que abraçou: «Porque, para mim, viver é Cristo e morrer é lucro» (Fil 1, 21). Esta ideia representa que de forma exemplar o Apóstolo quer mostrar-nos como funciona em si a lógica de Deus, renunciou aos seus interesses pessoais, a todo e qualquer egoísmo e comodismo, e colocou no centro da sua vida Jesus Cristo, a Sua Palavra, os Seus valores, e o Seu projecto universal de salvação.
No Evangelho, Jesus inverte toda a lógica deste mundo que considera que quem mais dá mais deve receber. No campo da fé e da salvação, Deus concede esse dom como lhe aprouver, sem medida de peso nem muito menos de tempo, são uma intensidade que se descobre em qualquer momento da vida. A Deus interessa que todos cheguem lá.
Não conta a longevidade da fé, os créditos em depósito das muitas rezas e devoções cumpridas, as qualidades e os comportamentos realizados antes, interessa essencialmente para Deus é que cada um de nós se descubra no caminho do bem e por aí realize ações que sejam benéficas para a construção da beleza do mundo onde está a realizar a sua existência. Todos os lugares são «a vinha de Deus» e nós os trabalhadores desse vinhal, contratados para produzir o néctar saboroso da paz, da amizade, da justiça e da fraternidade.
A Deus interessa que cada um corresponda pelo melhor de si ao convite para se achegar a esse «trabalho» da vida, abdicando dos interesses puramente pessoais que se mal conduzidos redundam no egoísmo puro e duro. Também para nada serve estar neste «serviço» de Deus movido pela lógica da inveja que destrói a relação. Mais importa trabalhar em qualquer circunstância animado pela força do amor, para que na hora da recompensa a festa da felicidade possa sanear qualquer ponta de ciúme quando Deus conceder para todos sem descriminar o dom da plenitude da vida para todos.  

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Cancioneiro pela reconciliação e inclusão

 A «perigosa» Paróquia da Ribeira Seca lançou hoje no Teatro Municipal do Funchal Baltazar Dias, o seu «contributo autónomo» (aliás, devia ser em vez de autónomo, ostracizado), para a celebração dos 500 anos da Diocese do Funchal. Trata-se de um conjunto de canções em CD com o seguinte título: «A Igreja é povo, o povo é de Deus», junto acompanha um opúsculo, «Cancioneiro Breve (I)», com os textos e as quadras populares que foram musicadas. O autor/poeta principal é o povo da Ribeira Seca.
Os textos e as quadras pretendem fazer memória das «condições de vida, as carências, as reivindicações e as consequentes perseguições de que foi alvo um modesto agregado populacional localizado a nordeste da cidade e concelho de Machico». Enfim, um pequeno retrato, visto a partir do sentir das pessoas concretas desta localidade ostracizada pelos poderes político e religioso. Afinal, mancomunados para levar adiante os seus intentos de domínio e opressão, sob o pretexto de um pseudo episódio infantilizado por pessoas que se esperava serem adultas e mais ainda homens investidos da autoridade e da piedade da Igreja. Um retrato sujo, vergonhoso, pecaminoso, se quisermos radicalizar ainda mais a leitura que se faz desta triste realidade.    
A apresentação contou com a presença do Professor Anselmo Borges que dissertou sobre a ideia da memória que faz a Igreja povo de Deus, para que seja depois sacramento de inclusão e integração à luz do Papa Francisco contra todas as formas de exclusão que os condicionalismos históricos vão ditando. Nada pode ser mais forte, tanto fora tanto dentro da Igreja, que condicione esse sacramento essencial da Igreja que é a inclusão.
A doutrina da Igreja que se baseia no Evangelho de Jesus Cristo, não pode por sua natureza ser senão inclusiva e tudo o que seja marginalização levada à prática pelas atitudes daqueles que têm o «serviço» da autoridade redunda em contra testemunho evangélico e viola a verdadeira natureza da Igreja. Por isso, não se percebe, hoje, que face aos gestos enormes do Papa Francisco que quotidianamente apela à prática da misericórdia e demonstra com exemplos bem concretos como se deve realizar a reconciliação e integração daqueles que por qualquer circunstância estavam de fora.
A Igreja da Madeira carrega em si a «chaga» chamada Ribeira Seca e parece não fazer muito caso que uma porção do povo de Deus esteja fora do âmbito diocesano. É pena. A festa poderia ser mais autêntica. Assim fica coxa e não serve senão para encher o ego de alguns. Esperemos que os próximos 500 anos sejam iluminados pela sabedoria da inteligência e a graça do Espírito Santo faça brilhar a paz e o sonho de uma Diocese para todos sem que ninguém seja excluído na Ribeira Seca nem em mais nenhuma ribeira da vida desta nossa querida Ilha da Madeira.    

As 8 imperdíveis lições de liderança do Papa Francisco

 1. Dá o exemplo.
"Se uma pessoa é homossexual e procura Deus, quem sou eu para julgá-la?" (29-07-2013)
Quando o líder máximo age de acordo com o que pede aos seus colaboradores, torna-se muito difícil que estes não lhe correspondam e sigam as suas orientações, levando a um maior sentimento de equipa e a alcançar mais rapidamente os objetivos traçados para o negócio que sentem também como deles.
2. Conhece o valor de implementar a mudança.

"A Cúria tem um defeito: está centrada no Vaticano. Vê e ocupa-se dos interesses do Vaticano e esquece o mundo que o rodeia. Não partilho desta visão e farei tudo para a mudar." (01-10-2013)
Pelo Vaticano têm passado vários casos de corrupção, abuso de menores e membros da cúria que detinham mais poder que o Papa. Quem não conhece nomes como o do Cardeal Angelo Sodano, que foi durante dezasseis anos o Cardeal Secretário de Estado, abarcando dois pontificados, o do Papa João Paulo II e o do Papa Bento XVI.
Com a perda de rigor e a excessiva burocracia da Igreja enquanto organização, era fundamental proceder a uma reforma. Como refere Ray Hennesey, “o papa Francisco reuniu um grupo de conselheiros de todo o mundo para proceder à reforma da Cúria. Para tal, retirou poderes ao Secretariado de Estado e dividiu as responsabilidades entre os cardeais. Também recrutou diversos gestores sem qualquer relação com Roma.”

3. É claro e directo na sua comunicação.
"A fé não serve para decorar a vida como se fosse um bolo com nata." (18-08-2013)
"O [sem-abrigo] que morre não é notícia, mas se as bolsas caem 10 pontos é uma tragédia. Assim, as pessoas são descartadas. Nós, as pessoas, somos descartadas, como se fôssemos desperdício." (05-06-2013)
A comunicação, para ser eficaz e servir os seus princípios, tem de ser clara e direta, para que não restem dúvidas de que aquele a quem se dirige, percebe a mensagem.

4. Toma rapidamente decisões difíceis.
"Mas tivemos vergonha? Tantos escândalos [na Igreja] que não quero mencionar individualmente, mas que todos sabemos quais são... Escândalos que alguns tiveram de pagar caro. E isso está bem! Deve ser assim... a vergonha da Igreja." (16-01-2014)
Na sua reforma da Cúria, o Papa Francisco criou um novo departamento a que chamou Secretariado para a Economia, com o fim de tornar transparentes as finanças da Igreja.

5. Ouve e aceita diferentes pontos de vista.
"Amemos os que nos são hostis, abençoemos os que dizem mal de nós, saudemos com um sorriso os que provavelmente não o merecem, não aspiremos a fazer-nos valer, mas oponhamos a doçura à tirania, esqueçamos as humilhações sofridas." (23-02-2014)
O Papa Francisco está disponível para a sua comunidade e para todos os que queiram falar com ele. Não é elitista nem egocêntrico, mas inclusivo e focado nos outros.

6. Reconhece as suas fragilidades.
"Eu não queria ser papa." (07-06-2013)
 “O meu modo autoritário e rápido de tomar decisões levou-me a ter sérios problemas e a ser acusado de ser ultraconservador. Vivi um tempo de grande crise interior quando estava em Córdoba. Foi o meu modo autoritário de tomar decisões que criou problemas.” (19-08-2013)
Quem é Jorge Mario Bergoglio? “Não sei qual possa ser a resposta mais correta... Sou um pecador. Esta é a melhor definição. E não se trata de um modo de falar ou de um género literário. Sou um pecador. (…) Sou um indisciplinado nato”. (19-08-2013)
Segundo a religião católica, todos são pecadores e o Papa, sendo homem, não é exceção. Mas admiti-lo desta forma é inédito na boca de um Sumo Pontífice e, no mínimo, uma prova de grande humildade, tendo em conta o cargo que ocupa. Este está consciente da sua humanidade e das tentações e fraquezas que sente. 
Os religiosos não são seres divinos, mas humanos como todos os outros. Também os líderes são humanos e não seres perfeitos que nunca erram, nunca têm um dia mau e nunca se esquecem de nada. Assumir as falhas e responsabilidades não os torna inferiores, mas dignos do reconhecimento e da admiração dos seus seguidores.

7. Sabe que não vai conseguir atingir os objetivos sozinho.
"A Igreja não pode ser uma baby-sitter para os cristãos, deve ser uma mãe e é por esta razão que os laicos devem assumir as suas responsabilidades de batizados." (17-04-2013) 
“Como arcebispo de Buenos Aires, convocava uma reunião com os seis bispos auxiliares cada 15 dias e várias vezes ao ano com o Conselho de Presbíteros. Formulavam-se perguntas e abria-se espaço para a discussão. Isto ajudou-me muito a optar pelas melhores decisões. Acredito que a consulta é muito importante.” (19-08-2013)
O Papa Francisco aprendeu com os seus erros enquanto jovem líder e tem hoje plena consciência de que as conquistas são alcançadas não a solo mas em grupo, com e através das pessoas. 
Na liderança das organizações, deve passar-se de igual forma. Cabe ao líder desenvolver os seus colaboradores e integrá-los na sua visão e objetivos. Com eles nada o impedirá de lá chegar, sem eles poderá ser uma tarefa demasiado pesada e ingrata, sem hipóteses de algum dia saborear o sucesso.

8. Cultiva o humor.
"Não existe o marido perfeito, a mulher perfeita... não falemos da sogra perfeita." (14-02-2014)
"Não cedamos ao pessimismo. (15-03-2013)

É sabido que o humor é fomentador da boa comunicação, ao permitir prender a atenção do interlocutor, ao fomentar as relações, promover o bom ambiente de trabalho e proporcionar uma maior felicidade a quem a ele recorre.
O Papa Francisco cultiva o humor em quase todas as suas intervenções, aligeirando assuntos e mensagens mais pesadas, quebrando o gelo inicial em diversas reuniões, encontros e entrevistas, entre outros.
“É preciso viver as pequenas coisas do dia-a-dia com alegria. (…) Não se prive de ter um bom dia.”
In Portal da Liderança…

sábado, 13 de setembro de 2014

A viagem

Para o nosso fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar nada nem ninguém...
Como um som desliza no tempo da aventura
Na direcção do desconhecido.
Quando parece monótono
A paisagem revela mais outra certeza
Porque na infinita natureza
O pulsar criativo pintou
A beleza, o canto e toda a harmonia
Que os olhos embevecidos transmitem
À memória do espanto.
Porque o novo diz sempre mais do divino
Mesmo que teimem da vantagem do antigo.
Sim, mil vezes sim para quem se lança
No caminho para todo o sempre em viagem.
Neste espectáculo oscilante
A procura emerge todos os dias.
E essa busca ávida de muito mais
No meu encanto floresce em chama.
Alegra-se com a força que os campos de Deus
Nos permitem comungar da medieval definição
Da Bondade, da Beleza, da Estética.
Em viagem digo simplesmente a grandeza de Deus.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A derrota da cruz é a vitória da vida abundante

Comentário à Missa deste domingo
Domingo XXIV tempo comum, Festa da Exaltação da Santa Cruz, 14 setembro de 2014
Neste domingo celebramos a Exaltação da Santa Cruz, que nos convida a olhar para Jesus que se deixou elevar ao alto da cruz para revelar à humanidade que o caminho do egoísmo e de todas as formas estruturais de pecado que fazem vítimas inocentes por todo o lado não podem continuar.
Todo o mal foi vencido nesse quadro dramático de sofrimento que a cruz nos mostra, não apenas como derrota de um Deus, que pretendeu assumir tudo o que fazia parte da condição humana, mas como sentido de redenção de vitória da vida plena sobre todas as formas de morte que este mundo continua a construir escandalosamente.
A cruz é dom de amor, que nos mostra o sentido da vida, que tantas vezes implica sofrimento e morte, mas no fim está pujante de brilho para quem vive do amor, esta é a riqueza da vida plena contra todas as formas de violência.
É interessante a primeira leitura que nos mostra um Deus que caminha sempre ao lado do seu povo, fazendo perceber o quanto podem ser prejudiciais as suas opções erradas, daí que Deus se apresente com a Sua luz para que o povo nunca se esqueça que o caminho da felicidade está na busca constante pela vida e pela verdadeira liberdade, mesmo que isso às vezes implique sofrimento e morte.
A serpente de bronze levantada sobre um poste indica o quanto Deus deseja manifestar à humanidade a vida e o quanto a protege de todas as forças destruidoras deste mundo. O deserto da vida deste mundo, algumas vezes apresenta-nos os mais belos oásis, mas também revela o quanto há de perigo, de aridez e todas as investidas destruidoras que a solidão e a secura do deserto apresentam. Este sinal da serpente, é símbolo da Cruz de Cristo, onde se revelará em plenitude a salvação de Deus através da radicalidade do amor, que implicou sofrimento e morte, como preço da grande dádiva da vida em abundância que Deus manifesta para todo o mundo.
São Paulo na carta aos Filipenses, reflecte bem a ideia de que Cristo ao fazer-se carne igual à nossa carne, abdicou do orgulho e da arrogância, escolhendo o caminho da entrega a Deus Pai/Mãe ao serviço da humanidade inteira até ao dom total da vida. A Cruz é a expressão máxima desta escolha. É este o caminho e esta opção que os cristãos de todos os tempos, se quiserem converter o mundo para a justiça e para a visibilidade do bem comum, têm que assumir, prescindindo de toda a arrogância e de todo o egoísmo. Não há outro caminho que nos salve senão este.
O Evangelho de São João mostra-nos tudo sobre o grande amor que Deus revela em Jesus, ao ter enviado até junto de nós o seu próprio Filho, para nos oferecer a vida eterna. Faz-nos o convite a olhar para a cruz e tomarmos dela o exemplo do amor total, a percorrermos o caminho da entrega desinteressada em todas as tarefas que realizamos e a fazermos da vida, mesmo que seja o mais anónima possível, um dom total. Não há outro caminho para a profundidade da ética, que não deve esperar merecimento, agradecimento pelo que se deu ou fez. Fazer o bem sem esperar nada em troca e sem interesses pessoais egoístas. A isto chama-se generosidade, bondade e militância em favor da vida para todos.
É humano que tudo o que se faça neste mundo tenha uma retribuição, mas é cristão fazermos muita coisa sem que necessariamente venha daí um retorno, amar sem ser correspondido pode embelezar o mundo, emprestar desinteressadamente, amar os inimigos e rezar pelos que caluniam é a ética segura que emana de uma cruz que salvou o mundo, mesmo que aparentemente esteja envolta numa tremenda derrota.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

A profundidade da ética para um mundo sem ética

Vamos começar por ler o Evangelho da Misericórdia que é o texto da missa de hoje...
Evangelho segundo S. Lucas 6,27-38.
Naquele tempo, Jesus falou aos seus discípulos, dizendo:
«Digo-vos, porém, a vós que me escutais: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam.
A quem te bater numa das faces, oferece-lhe também a outra; e a quem te levar a capa, não impeças de levar também a túnica.
Dá a todo aquele que te pede e, a quem se apoderar do que é teu, não lho reclames.
O que quiserdes que os outros vos façam, fazei-lho vós também.
Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam.
Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo.
E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto.
Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus.
Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.»
«Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.
Dai e ser-vos-á dado: uma boa medida, cheia, recalcada, transbordante será lançada no vosso regaço. A medida que usardes com os outros será usada convosco.
O meu comentário:
Leio atentamente o texto: Lc 6,27-38, onde Jesus fala das relações fraternas do cristão.

Este discurso de Jesus parece estar cheio de imposições: «amem», «façam o bem», «emprestem», «façam». São imperativos que nos tiram o sono. Parecem regras para regular a vida. Mas não o são. Na verdade traduzem qual é que deve ser o espírito que anima a vida cristã a partir do seu interior. O cristão não «paga o mal com o mal», aplicando friamente a Lei de talião, que expressa aquela ideia do «olho por olho e o dente por dente», a vingança pela vingança. À medida do mal responde-se com o mesmo mal. Esta lei parece vir do Código de Hamurabi, em 1780 A.C., no reino da Babilónia. Jesus reformula ou até mesmo abolindo esta lei e propõe a lei do amor. Insiste no «fazer», para que o amor não seja apenas sentimento, mas acção concreta. Com isto vai à profundidade da ética, que não deve esperar merecimento, agradecimento pelo que deu ou fez. Fazer o bem sem esperar nada em troca e sem interesses. A isto chama-se generosidade, bondade e militância em favor da vida. É humano que tudo o que se faça neste mundo tenha uma retribuição, mas é cristão fazermos muita coisa sem que necessariamente venha daí um retorno, amar sem ser correspondido embeleza o mundo, emprestar desinteressadamente, amar os inimigos, rezar pelos que caluniam... Isto é ser cristão, isto demonstra que se é filho de Deus, que é Mãe e Pai misericordioso para com todos. É ser misericordioso. «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso», recomenda Jesus.
Este texto de hoje é tão importante e tão desconcertantemente actual que não o podia deixar passar em branco e fazer esta partilha convosco.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Aula de contabilidade a partir da família

Porque é preciso muito sentido de humor para continuarmos a vida com descontração e esperança. Divirtam-se...

Horroroso, e em tempo de férias!

Não se aconselha a leitura deste texto a crianças, nem a adultos e idosos doentes. Pode provocar náuseas, vómitos, pesadelos; e desculpem a ironia em tema tão sério.
O meu amigo veio contar: um horror o que fizeram àquelas crianças pequenas no Iraque! Cortaram cabeças. Tantas no chão a sangrar! E logo outro amigo enviou-me imagens. Chocante. Não deviam mostrar aquilo! E fizeram aquilo para agradar a um deus estranho.
Um terceiro amigo (Agostino Nobile) trouxe outras histórias reais, chocantes, com o seu livro Anti Cristo Superstar. Da Itália para ler em férias. Só uma história deste livro, documentada. Na Inglaterra chocou virem revelar que milhares de corpinhos desmembrados, triturados de crianças matadas antes e ao nascer servissem para produzir calor nas caldeiras do governo. O horror estava aí: revelar o horror é que era horror. Matá-las antes de nascerem, meias nascidas e após o nascimento parece que não é horror. Horror é revelar.
No Iraque foram mortas em nome de um deus ídolo da guerra jihad. Quem não aceita esse ídolo deve ser morto. No ocidente em nome do deus ídolo Anti-Cristo de Nietzsche matam-se milhões de bebés antes de nascer, meio nascidos, “defeituosos”, estorvos. Matar em nome de um deus cruel da guerra jihad é um horror. Matar em nome de um deus tecnicista do cientismo para arrumar um mundo de gente perfeitinha, será? Matar à facada, a machado, na rua e tirar fotos! Que grosseria. É mesmo crueldade. No Ocidente é diferente. Não se mata. Que horror! Só se interrompe a vida, só se ajuda o doente a matar-se, a ter “boa” morte. Nada de grosserias. E com instrumentos esterilizados de profissionais competentes, com técnicas aperfeiçoadas, em clínicas e hospitais. Trabalho limpo, civilizado. E nada de fotografias de bebés despedaçados, triturados, asfixiados, injetados de venenos, nada de vídeos. Fotos? Que horror! Trabalhitos limpos de trituração, desmembramento e de injeções, para interromper a vida tem “ética”, até vêm dizer que é uma obrigação científica.
O autor do Anti Cristo defende na linha de Carrles Darwin e outros que só os mais fortes, inteligentes e importantes devem viver. Doentes e fracos para quê? Os grosseirões do Iraque, francamente, crianças saudáveis, mortas sem higiene, na rua, à vista de todos! Que horror! E ainda deixam tirar fotos. Por cá nada de fotos; podia fazer desmaiar alguém, e perturbar o plano de limpar o planeta de gente impura, gente a mais. As doações de milionários a tecnicistas permitem melhor, matar com mais técnica e recato. E usar palavras soft: interromper, ajudar a morrer, melhorar a espécie...menos doentes, menos incapazes e inúteis é um serviço social à Nietzsche. Ele escreveu, agora a seita tecnicista endinheirada executa. Não é verdade, dirão alguns. Ai não? Não sejamos os “idiotas úteis”. De quem? Ah do Lenine. Então verifiquem a bibliografia. Ou abram a net com critério. Os nazis e os estalinistas, ajudados por milionários, também faziam tudo em segredo, para não causar náuseas nas pessoas decentes. Tinham bom coração...E muitos diziam: é mentira. Os horrores da seita jihadista e os das “seitas tecnicistas” serão assim tão diferentes?
Aires Gameiro