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Convite a quem nos visita

sábado, 29 de novembro de 2014

Soneto do vento

Ensaio de poema para o fim de semana. Sejam felizes sempre... Sem prejudicar ninguém.
Sopra o vento na solidão da verde encosta
quando todos anseiam a fraterna reunião
e o calor do abraço implora a mesa posta
porque estão todos com fome de união.

Mais fala estilhaçado o vértice do momento
que se esmaga sob olhar feroz do agoiro
apenas sei que diante do acontecimento
vejo a alquimia vil metal transmutado em oiro.

Nada é mais solene que o ruído do vento
que as árvores testemunham no embalo
sobre a beleza de ser gente fiz o meu intento.

Aqui e agora vejo o bom do passado já vivido
só para ouvir este grito vale a pena ter nascido.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A vigilância atenta às coisas da vida

Comentário à missa deste domingo, 1º advento, 30 novembro de 2014
Estar vigilante é o apelo que nos toma de assombro logo no início do tempo do Advento, palavra que significa vinda, chegada e que nos prepara para o grande acontecimento do Natal de Jesus no presépio de Belém.
Há uma pequena história que nos ajuda a pensar quanto precisamos de reconstruir o mundo e que essa reconstrução entraria desde logo em acção se a pessoa humana fosse reconstruída em cada dia da sua vida. O Advento alerta-nos para a necessidade da renovação da existência.
Escutemos. Um filho estava continuamente a incomodar o seu pai. Este, para distrair e se libertar dele, pegou numa folha de um velho atlas onde se encontrava todo o mundo; à escala muito reduzida, continha todos os continentes, países, cidades... Cortou-o em pequenos pedaços e entregou-o ao filho para que as compusesse. Pensou o pai: "levará muito tempo e assim deixar-me-á em paz". Passados alguns minutos, a criança regressou com o mundo perfeitamente ordenado. O pai, assombrado, perguntou-lhe: - Como é que conseguiste compô-lo tão depressa?
- Muito simples, pai. No reverso do papel estava desenhado um ser humano. Reconstruí primeiro aquela pessoa e o mundo foi-se articulando por si mesmo.
O Tempo do Advento, aquele tempo que nos prepara para o encontro com o homem empoeirado, de barbas raladas e grandes, passando ao lado de um rio, que está ali diante de mim. E Ele da outra margem faz-me um aceno afectuoso, certo que em mim existe abertura suficiente para acolher uma graça, um dom ou uma possibilidade de redenção.
Eis, o tempo que nos prepara para o novo, o sempre novo da vida. Por isso, chegou a hora para este mundo que parece andar perdido, nas entranhas tenebrosas do medo, da insegurança, da corrupção, da tristeza e toda a miséria que corrói a vida. Portanto, «vigiemos» para que possamos acolher o verdadeiro presente, Jesus Cristo, o Salvador do mundo.

Jornalismo terrorista

Todos nós estamos de acordo que o mundo actual está pautado pelo mediatismo e quase nada tem existência se não passar pela comunicação social. Até aqui tudo bem e estamos falados quanto a este aspecto. Porém, pede-se e desejamos que os agentes da comunicação social sejam honestos no anúncio das notícias.
De que falamos, quando falamos de «jornalismo terrorista»? - Falamos de um jornalismo resultado de um (sublinho um) telefonema de alguém descontente com qualquer situação, logo se aciona um jornalista de telemóvel em punho, para entrevistar o descontente, mais duas ou três pessoas (se as encontrar) e fotografar o que for para fotografar. Elabora-se a notícias como se fosse resultado de um vasto leque de entrevistas e como se de ambas as partes estivessem um batalhão de pessoas. A este jornalismo chamo de «jornalismo terrorista», porque irresponsável, sem o devido cuidado pela verdade dos factos e a dignidade das pessoas em causa.
Esta forma de jornalismo só cria injustiças e muito sofrimento. Por causa desta forma de fazer jornalismo, os meios de comunicação social caiem num descrédito muito grande. A credibilidade das notícias está na rua da amargura. A seguir esta rede de descrédito contamina toda a sociedade, como se fosse uma bola de neve que enrola a política, a religião e a sociedade em geral.
Alguns consideram que é disto que a sociedade se alimenta e que o público não prescinde de vítimas imolado pelo crivo do julgamento arbitrário sem provas e sem um aturada investigação pela justiça humana, mas não se deve descer ao nível do calhau para que se cumpra a missão de informar. Se quem deve elevar o nível não o faz, não contribui para o crescimento das pessoas nem muito menos ajudar a chegar ao fim da incultura que nos rodeia…  
Os assuntos tratados com esta ligeireza, ficam na mente das pessoas em geral só pela rama, porque são cada vez menos os que se preocupam com a seriedade e veracidade das coisas, basta que o jornal e a televisão tenham falado para ser verdade, não importa que tenha tomado o todo pela parte nem que tal inverdade tenha causado sofrimento e injustiça. As pessoas em qualquer forma de terrorismo pouco importam.
Esta comunicação social não serve, não educa e não informa. As notícias relacionadas com a Igreja são matéria incandescente, por isso, não são precisos muitos descontentes e muitos telefonemas para denunciar a coisa mais mínima, desde que meta padres ou algo com eles relacionado é suficiente para incendiar uma nação. Mas, é preciso mais seriedade e mais equilíbrio para que as coisas não se pareçam tanto com perseguição desenfreada nem muito menos com campanhas orquestradas para provocar a mais pura desordem e vitimar as pessoas tomadas no seu todo a partir de uma pequena e ínfima parte.
Penso que os jornalistas não precisam de ser tão pouco sérios e podiam obedecer mais aos valores e princípios éticos que qualquer actividade profissional acarreta. A bem do nosso mundo e a bem do jornalismo, é preciso mais verdade e cabe aos jornalistas procurarem todas as formas para dignificarem a sua classe. E, por fim, o jornalismo tem um papel importante na regulação da Democracia, porque deve ser denunciador verdadeiro de todos os abusos e atentados contra o sistema democrático e contra a pessoa humana. Se ao contrário for, lá teremos de concordar com os que dizem que muito do jornalismo actual é um «jornalismo de sarjeta».

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Precisamos de gente séria

O nome mais pronunciado hoje em Portugal é Sócrates. Mas que ninguém se esqueça que este nome hoje também significa na verdade a vergonha de um país corrompido de alto a abaixo. Aqui não escapam governantes de antes e de agora, bancos, financeiros, administração pública, comunicação social e agentes da justiça...
A nossa vergonha e tristeza hoje chama-se Sócrates, mas há bem pouco tempo chamava-se: falcatruas sobre submarinos, a roubalheira do BPN, BPP, BES, vistos dourados (gold) e todas as tramas que vão sendo notícia neste desgraçado país. Um atras do outro, como se não fossemos mais capazes de viver sem um caso mediático para alimentar a conversa quotidiana. Triste país o nosso que parece não saber viver mais sem que o assunto do diálogo não seja a incontornável corrupção. Temo que nos habituemos a isto, porque entrou no sangue a incontornável tendência para a desonestidade. Tudo isto é triste e humilhante.
E o pior problema que hoje nos assiste é esse mesmo, a falta de honestidade que graça por todo o lado. Só espero que este seja um fim de ciclo e que o nosso país se endireite no caminho da honestidade. Precisamos de gente séria…

sábado, 22 de novembro de 2014

O encontro é uma porta que se abre

Os teus olhos derramam tristeza
sob a pressão do mundo
onde verte a traição da inveja
mais os dias sombrios desta visão
incontida do aperto frio que aí dentro
sente um coração de carne
na sensibilidade da solidão que se ouve
no alpendre das sombras da paisagem
feita de nuvens, noite e horizonte.

Neste deambular sentido no choro
desvelam-se as mãos e a amizade
que faz glória interior aliviada pela libertação
porque se sabe aqui e agora
nos meandros esquisitos do tempo
que tudo na vida sabe a mel
quando os dias se contam na solidariedade
daquele momento que a vida fez espelho
de amor que se move e comove sem engano
na atenção segura do olhar da presença oblíqua
que o espelho da vida sempre multiplica.

Nada é difícil e insuperável nos percalços das sombras
da inverdade que comanda a relação quando
condimentada de falsidade torpe e torta
porém tudo se dissipa no alivio daquele que vem
e se escancara no encontro como se fosse uma porta.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A pouca vergonha não tem limites

A partir da tarde ontem até meia manhã de hoje (21 novembro de 2014) deu para percebermos mais uma vez que a pouca vergonha neste país não tem limites. Porque, havia «folga orçamental», toca privilegiar os políticos coitadinhos que ganham tão pouco e têm sido tão fustigados com a pesada austeridade.
Tudo bem que um político, deputado da nação, que não representa o povo, mas corre loucamente em nome do vil metal, tenha reparado nessa «folga orçamental», por isso, toca propor que as «subvenções vitalícias para os deputados» sejam repostas. Pois, porque não foi feita a proposta para distribuir por quem menos tem? - Não era isso que se esperava de partidos políticos responsáveis ao serviço do seu povo...  
O que surpreende e indigna sobremaneira é que os principais partidos da nação (PSD e PS) se unam como irmãos gémeos para votar a favor uma medida que os beneficia e que achem justa uma desigualdade destas, a votem favoravelmente, quando foram eles que aprovaram leis muito lesivas para todos os pensionistas, aumentaram todos os impostos para valores insuportáveis, fizeram atingir a taxa de desemprego até valores impressionantes, cortaram nas prestações sociais indiscriminadamente, condenaram o sangue novo da população para a emigração e para o desespero... Eis o retrato de Portugal de Norte a Sul e Ilhas.
Foram estes dois principais partidos que colocaram o nosso povo na miséria, porque estratificaram o povo desta maneira, uma parte é pedinte, a outra vai partilhando o pouco que resta com imensa dificuldade e meia dúzia cada vez mais podre de rica, incluindo a cambada de alguns políticos bens instalados na babugem do Orçamento de Estado e na cama do partido onde foram bafejados pela sorte. Sorte, vamos indo. Pelo que salivaram, lamberam botas e bajularam os chefes.
Não tem limites a pouco vergonha. Está a circular a notícia que o afanado deputado acaba de retirar a proposta da gamela do orçamento. A polémica rebentou na sociedade portuguesa, ainda bem, porque se a vergonha não anda pelos lados da Assembleia da República, é bom que seja a opinião pública a reclamar pudor e bom senso.
Aos partidos políticos mais uma vez se percebe como funcionam. São um grupo de gente com sorte, escrupulosa perante os seus proventos, que enriquece à conta dos nossos impostos e que perderam todo o sentido de Estado e que pouco ou nada se importam com o povo. Reina à mais crua insensibilidade. Uma podridão generalizada.
Mais uma vez ainda aludimos ao «Triunfo dos Porcos» de George Orwell: «Todos os animais são iguais, mas há animais mais iguais do que outros». Os políticos de hoje fazem jus a esta máxima de forma descarada e sem um pingo de vergonha.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O paradoxo da realeza de Jesus

Comentário à missa deste domingo
Domingo XXXIV tempo comum, Domingo de Cristo Rei do Universo
A solenidade de Cristo Rei coincide com o último Domingo do Tempo Comum ou com o último Domingo do Ano Litúrgico da Igreja. O Ano da Liturgia da Igreja não coincide com a organização temporal do Ano Civil. O início do ano, para a liturgia da Igreja não começa no primeiro de Janeiro, mas no primeiro Domingo do Advento, tempo de quatro Domingos que antecedem o Natal, como preparação efectiva desse grande acontecimento que é o Nascimento do Salvador.
O reinado ao avesso que Cristo assume encerra toda a vontade de Deus em querer salvar toda a humanidade. Este Reino é a herança de Deus dada aos homens desde que a fraternidade seja assumida com amor, sobretudo, em relação aos mais fracos da sociedade.
A realeza de Cristo, é totalmente diferente daquela que é assumida e exercida pelos reis deste mundo. Como podemos reparar Cristo não é em nenhum momento um rei todo poderoso, rodeado de exércitos ávidos de combate e de poder. Pelo contrário, dirá com veemência: «o Meu Reino não é deste mundo». Antes, é o Rei dos famintos, dos que têm sede de justiça, dos peregrinos, dos sem roupa, dos doentes e dos presos.
Como vemos Cristo Rei? – A nossa vida deverá estar em sintonia com esta realeza diferente que Cristo nos revela. Por isso, reparemos em que podemos realmente perceber e viver essa dimensão fundamental da fé cristã. Ele é Rei. Mas um rei que não se coaduna com as injustiças sociais, pessoais e institucionais. E a sua morte na Cruz é o resultado da sua acção contra tudo o que não promove a dignidade da vida e do amor entre os homens. É o preço a pagar pela sua radical preferência pelos desafortunados deste mundo.
Jesus é Rei de um Reino outro, onde o entendimento entre todos emerge como o resultado da fraternidade e da partilha. O Reino de Jesus não está de acordo com a mentalidade da cultura onde predomina o mais forte sobre o mais fraco. Neste Reino, não podem existir pacificamente os lugares da morte e do sofrimento nem podem ser tolerados os caminhos da pobreza e da miséria. Se ainda existem, então, será necessário fazer surgir outros valores e outros caminhos que proporcionem o bem estar igual para todas as pessoas.
O Papa Francisco, tem procurado iluminar o nosso coração e o nosso pensamento com a nova linguagem do amor e da misericórdia, de tal forma que daqui criou um verbo «Misericordiar»: «A misericórdia de Deus nos salva. Não nos cansemos jamais de anunciar no mundo inteiro esta mensagem de alegria», tuitou o Papa Francisco no dia 17 de agosto de 2014. A partir daqui faz todo o sentido a oração de S. Gregório de Nazianzo: «Enquanto nos é dado fazê-lo, visitemos Cristo, cuidemos de Cristo, alimentemos Cristo, vistamos Cristo, hospedemos Cristo, honremos Cristo. E não só com a nossa mesa, como alguns fizeram, nem só com os unguentos, como Maria Madalena, nem somente com o sepulcro, como José de Arimateia, nem só com as coisas que servem para a sepultura, como Nicodemos que amava Cristo só a meias, e nem só, finalmente, com o ouro, o incenso e a mirra, como já tinham feito, antes destes, os Magos. Mas, pois que o Senhor de todos quer a misericórdia e não o sacrifício, e uma vez que a misericórdia vale mais do que milhares de gordos cordeiros, ofereçamos-lhe precisamente esta nos pobres e naqueles que são abatidos até ao chão» (S. Gregório de Nazianzo, Discurso 14, 40).
A interpelação de Jesus insiste que a verdadeira realeza reside no paradoxo da grandeza do amor de Deus em nós que se partilha com os irmãos, sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta, o egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre, não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses critérios ficará à margem do Reino.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Decálogo sobre o que não se deve dizer às crianças

Um pediatra listou 10 coisas que não devemos dizer as crianças. Vale a pena ler, já que isto pode influenciar (e muito!) na personalidade delas.

1 – Não rotule o seu filho de pestinha, chato, lerdo ou outro adjectivo agressivo, mesmo que de brincadeira. Isso fará com que ele se torne realmente isso.

2 – Não diga apenas sim. Os nãos e porquês fazem parte da relação de amizade que os pais querem construir com os filhos.

3 – Não pergunte à criança se ela quer fazer uma actividade obrigatória ou ir a um evento indispensável. Diga apenas que agora é a hora de fazer.

4 – Não mande a criança parar de chorar. Se for o caso, pergunte o motivo do choro ou apenas peça que mantenha a calma, ensinando assim a lidar com suas emoções.

5 – Não diga que a injecção não vai doer, porque você sabe que vai doer. A menos que sejam gotas, diga que será rápido ou apenas uma picadela, mas não engane.

6 – Não diga palavrões. O seu filho vai repetir as palavras de baixo calão que ouvir.

7 – Não ria do erro da criança. Fazer piada com mau comportamento ou erros na troca de letras pode inibir o desenvolvimento saudável.

8 – Não diga mentiras. Todos os comportamentos dos pais são aprendidos pelos filhos e servem de espelho.

9 – Não diga que foi apenas um pesadelo e mande voltar para a cama. As crianças têm dificuldade de separar o mundo real do imaginário. Quando acontecer um sonho mau, pesadelo, acalme o seu filho e leve-o para a cama, fazendo-lhe companhia até dormir.

10 – Nunca diga que vai embora se não for obedecido. Ameaças e chantagens nunca são saudáveis.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Microclima eclesiástico

Papa Francisco, homilia Casa Santa Marta:

«Microclima» uma palavra muito bem conhecida de quem vive numa região como a nossa, a Madeira, onde ouvimos dizer com frequência esta palavra quando o assunto se refere ao clima. Porque considero esta expressão «microclima eclesiástico» muito bem aplicada, acho oportuno publicar a seguinte notícia da Agência de Notícias Aleteia.org, sobre a homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta do dia 17 de novembro, a propósito da cura do cego de Jericó do relato de São Lucas.
 
O Papa Francisco afirmou hoje que a Igreja vive em todas as épocas a tentação de olhar para Jesus esquecendo de ver Nele o pobre que pede ajuda, fechando-se em um “microclima eclesiástico”, ao invés de se abrir aos excluídos sociais. O Papa falava em sua homilia na Casa Santa Marta, comentando a passagem evangélica do cego de Jericó.

O cego – explicou o Papa – representa “a primeira classe de pessoas” que povoa a narração do evangelista Lucas. Um homem que não contava nada, mas que “tinha sede de salvação”, “de ser curado”, e que, portanto, grita mais forte do que o muro de indiferença que o circunda, “para bater à porta do coração de Jesus”. A este homem se opõe o círculo dos discípulos, que querem calá-lo para evitar que incomode e, assim afastar “o Senhor da periferia”.
“Esta periferia não podia chegar ao Senhor, porque este círculo – mas com muita boa vontade, hein – fechava a porta. E isso acontece com frequência entre nós, fiéis: quando encontramos o Senhor, sem que percebamos, se cria este microclima eclesiástico. Não só os padres, os bispos, mas também os fiéis: ‘Mas nós somos os que estão com o Senhor’. E de tanto olhar para Ele, não olhamos para as suas necessidades: não olhamos para o Senhor que tem fome, que tem sede, que está na prisão, que está no hospital. ‘Aquele Senhor não, pois é um marginalizado’. E este clima nos faz tão mal”.
A seguir, o Papa descreveu o grupo dos que se sentem eleitos pelo Senhor e que, por isso mesmo, querem afastar qualquer pessoa que posa incomodá-Lo – inclusive as crianças. Essas pessoas, observou, esqueceram e abandonaram o primeiro amor.
“Quando na Igreja os fiéis, os ministros se tornam assim... não eclesial, mas ‘eclesiástico’, de privilégio de proximidade ao Senhor, têm a tentação de esquecer o primeiro amor, aquele amor tão bonito que todos nós recebemos quando Ele nos chamou, nos salvou. Esta é uma tentação dos discípulos: esquecer o primeiro amor, ou seja, esquecer inclusive as periferias, onde eu me encontrava, e também me envergonhar disso”.
Há ainda o terceiro grupo nesta narração: o povo simples, que louva a Deus pela cura do cego. “Quantas vezes – afirmou o Papa – encontramos pessoas simples, quantas idosas que caminham, com sacrifício, para rezar em um santuário de Nossa Senhora”. “Não pedem privilégios, mas somente graça”. É o “povo fiel”, que “sabe seguir o Senhor sem pedir qualquer privilégio”, capaz de “perder tempo com Ele” e, sobretudo, de não esquecer a “Igreja marginalizada” das crianças, dos doentes, dos prisioneiros. O Papa então conclui:
“Peçamos ao Senhor a graça de que todos nós, que temos a graça de sermos chamados, de jamais nos afastar desta Igreja; de jamais entrar neste microclima dos discípulos eclesiásticos, privilegiados, que se afastam da Igreja de Deus, que sofre, que pede salvação, que pede fé, que pede a Palavra de Deus. Peçamos a graça de ser povo fiel de Deus, sem pedir ao Senhor qualquer privilégio que nos afaste de Seu povo".
(Rádio Vaticano)

sábado, 15 de novembro de 2014

Sonhos meus palavras nossas

Para o fim de semana. Sejam felizes, façam os outros felizes.
Palavras ditas e contadas como na reza do terço
agora e na hora da nossa morte
mas que entremeado retém a incerteza do sonho
assim na terra como no céu
e ambos são a memória dos dias
que este círculo fecunda no amor
e na viagem que se diz para sempre
na sublime entrega da eternidade.

Nisto as miríades das estrelas cintilantes
fizeram mais este céu infuso no coração
desta vida que se engrandece sobre a água
que faz cheias nos rios que serpenteiam
o coração da vida como as lágrimas de Ísis
quando chorava as cheias do Nilo impetuoso
desta visão oceânica que nos desvela
o horizonte sem fim da imensidão do tempo.

Mas são sempre as palavras que se buscam
e nos buscam para nascermos todas as manhãs
neste encanto desencontrado por vezes
e vamos saboreando os frutos
todos os dias sem que nos fique
a lembrança do gosto deles.

Ah! o que será todo esse percalço do mundo aqui
perante a glória de me ver rodeado
com muitíssimos céus por todo lado.
José Luís Rodrigues 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A ganância dourada corrompeu outra vez

Vistos gold
O que são estes vistos gold? – É isto: autorização de residência para investimento (ARI) em Portugal. Quer ainda mais dizer a meu ver que são um meio de entrada de gente rica em Portugal para fazer investimentos. Sim gente rica, porque se for um pobre coitado que venha para Portugal à procura de trabalho (coisa também muito rara entre nós), é tratado como um criminoso. 
Resumidamente, o visto gold é uma autorização para entrada e residência em Portugal, atribuído a cidadãos não naturais da União Europeia ou residentes fora do Espaço Schengen a troco de um investimento financeiro avultado ou criação de emprego. Aparentemente algo interessante e importante para economia do país. Mas o que dizer sobre o que anda na cabeça de quem pretende enriquecer facilmente, rapidamente e que se abancou na cadeira das decisões…
Eis então um mundo cão, feito do avesso, um país feio, que já foi sobejamente denunciado não ser para gente.
Por causa destes vistos gold, a Polícia Judiciária deteve esta quinta-feira 11 pessoas - incluindo altos quadros do Estado - por suspeitas de corrupção, branqueamento de capitais, tráfico de influência e peculato, no âmbito de uma investigação sobre atribuição de vistos gold. Quem desejar saber mais sobre este el doirado do investimento com base nestes vistos em Portugal que vá ler aqui.
Mais uma vez nos vemos confrontados com a desgraça de um país que se desmorona, não porque lhe falte vontade de andar para frente ou que lhe falte memória brava de gente que construiu uma história de mais de oito séculos, nada disso, falta-lhe hoje gente séria, gente honesta que não se deixa perverter por dinheiro fácil, dinheiro sujo que vem à mão sob as malhas da corrupção. É disto que se trata a vida de Portugal hoje.
Para onde vais país, onde a podridão parece ter-se generalizado, onde não parece encontrarmos almas puras, que se recusam entrar nos esquemas sujos da ilegalidade, da subversão da honestidade e da dignidade? – Não haverá ninguém que marque a diferença, que não se enlameie na fossa asquerosa da miséria humana que vai semeando estes mecanismos à conta da riqueza podre em nome da ignóbil corrupção.
Estamos perante a imagem de um país à deriva, onde o salve-se quem puder está à solta sem rei nem roque. As leis se existem não são para gente que rouba à grande, mas para os pobres coitados que agonizam à fome que os obrigou a roubar um pão em qualquer supermercado para matar a fome. Não há punição para gente gold, que se pavoneia em gravatas de marca pelas ruas onde escorre a vil miséria dos altos roubos.
Não vamos lá assim desta forma, precisamos de arrepiar caminho, combater a corrupção com todos os meios e com todas a forças, para que a dignidade seja restabelecida a este pobre país tomado de assalto por meia dúzia que se acha no direito de fazer o que bem entende mesmo que isso nos custe o sofrimento e a morte de um povo que foi enganado e que às vezes desgraçadamente se deixa enganar.
Este luxo de andarem impunes os senhores finos da corrupção tem que levar um travão e as leis devem ser aplicadas sem piedade nenhuma. É um país que está em causa, é um povo que merece dignidade e um futuro que esperamos que seja límpido e justo para quem escolher viver nesta porção de terra à beira mar plantado. 

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A vinda de Jesus e os nossos talentos

Domingo XXXIII do Tempo Comum, 16 novembro de 2014 
O ladrão, quando quer assaltar uma casa, nunca avisa em que dia ou hora vai chegar. Não diz nada e vem a horas escusas, que ninguém espera, para poder contar com o sono, a falta de prevenção e a guarda enfraquecida. Assim será também a segunda vinda de Jesus. 
O primeiro advento de Jesus foi bem badalado, pelas miríades de anjos celestiais, pelos pastores, pelos magos do Oriente, mas a segunda vinda será sem aviso prévio (Mt 24, 43; II Pe 3, 10; I Tes 5, 2-6). O Senhor Jesus virá como o ladrão de noite. Ninguém sabe quando, embora saibamos que, de certeza, Ele vai voltar. Dessa hora, dia e ano só o Pai do céu sabe.
Se alguém soubesse esse mistério, preparar-se-ia nessa altura e isso seria uma hipocrisia sem valor, e Jesus não poderia realizar o objectivo da surpresa.
Deus quer que não descuremos a guarda e estejamos preparados todos os dias e horas, portanto, não durmamos como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios.
Estaremos prontos para partir com Jesus, no dia e hora em que Ele voltar? Só os que estiverem preparados serão levados para estarem para sempre com Ele, no lugar onde não há mais dor, lágrimas, guerra e tristeza.
Preparemo-nos agora para nos encontramos todos um dia com Deus, hoje, amanhã ou quando Ele vier. Não importa saber o momento dessa vinda. O mais importante para Deus é viver preparado como se Ele viesse hoje e trabalhar com fidelidade como se Ele só viesse daqui a 50 anos.
Pois bem, como preparar-se para essa vinda? - Através de muitas formas e mediante as muitas atitudes positivas que podemos escolher para nossa vida. A vida material não pode resumir-se a uma preparação para a morte. Deus pede-nos muito mais. Não precisamos de andar constantemente com o pensamento na morte, mas devemos ocupar o pensamento e a vida com tudo o que ela tem de bom para nós próprios e para os outros.
A volta de Jesus será o clímax desta vida e o início de uma vida ainda melhor para cada cristão fiel. Presenciar essa volta e esse novo começo deve ser o objectivo de todo cristão - para si mesmo e para seus irmãos. Nós aguardamos esse acontecimento com alegria? Queremos realmente que ele aconteça? Devemos responder positivamente não só com os nossos lábios ou as nossas mentes, mas também com as nossas vidas. Devemos viver como filhos da luz e ajudar os nossos irmãos e irmãs a andarem connosco na luz de Deus. Esta esperança no futuro, que em Deus, será sempre glorioso, dá sentido à vida presente. Assim, os cristãos não são uns desesperados agora, mas contagiam o mundo para a esperança e para a certeza de que o futuro que nos espera não é de condenação, mas a alegria da festa do amor de Deus em plenitude.
Neste sentido Jesus no Evangelho manifesta claramente de como devemos esperar a vinda de Jesus. Em primeiro lugar não deve assistir-nos qualquer sombra de medo e depois fazer todo o empenho para fazer frutificar os «bens» que Deus confia a cada um, os chamados talentos. E a seguir «condena» aqueles a quem Deus entregou talentos, mas tomados pelo medo instalam-se no comodismo, na apatia e não foram capazes de fazer render os dons de Deus e privaram a humanidade dos frutos que tais bens vinham proporcionar.
Todos nós devemos ser responsáveis e com toda a honestidade assumir cumprir os nossos deveres com dignidade, com a consciência de que por mais pequena que seja a tarefa, ela contribui para a beleza do mundo e da vida. Já a Madre Teresa de Calcutá tinha ensinado assim que «por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota». Que a vida de cada um de nós seja um hino ao bem fazer em cada dia, para que aquilo que somos faça sorrir alegremente todos os que são bafejados com as nossas acções. Que nada nos faça enterrar os talentos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Incitamento à violência contra os católicos

«A única igreja que ilumina é a que arde. Contribua!», esta é a frase estampada na obra  «Cajita de fósforos». Além dessa bárbara incitação à queima de igrejas católicas, ofensas ao Papa, blasfémias e a defesa do aborto também fazem parte da mostra do grupo feminista argentino «Mulheres públicas», que participam na exposição «Um saber realmente útil», recém-inaugurada no Museu Rainha Sofia, em Madrid. Porém, há um importante pormenor, o museu é sustentado com verba pública.
Não serviram de nada os protestos de muitos católicos espanhóis. A direcção do Museu publicou no seu site uma nota cínica, dizendo que «as obras de arte que estão presentes nesta exposição reflectem unicamente as opiniões dos seus autores» e que, em nome da liberdade de expressão, o museu «não pode censurar a obra de um artista».
Assim fica legitimado que o dinheiro dos católicos tanto em Espanha e como em todo o mundo pode ser utilizado para os insultar e incitar à violência contra o seu património e as suas crenças. Eis um mundo louco. Ou antes uma maravilha onde alguns podem expressar os seus insultos em eufemismo chamado de arte e dessa forma usarem o dinheiro público contra uma porção do povo.
O cintilante «Estado laico» que deve servir os interesses do povo, usa o dinheiro dos impostos para impor a sua ideologia anti cristã e põem em causa as crenças de uma grande parte do seu povo. Assim andamos por todo o lado a alimentar tudo o que sejam elementos que provoquem guerra religiosa. Não basta o que está ser feito pelos jihadistas na Síria e no Iraque contra os cristãos?
Esperemos serenidade e que os Estados mantenham a sua laicizada, mas que não usam o dinheiro dos impostos dos cidadãos para incendiar sensibilidades sociais umas contra as outras. Devem os Estados promoverem e protegerem a liberdade de expressão, mas que em nenhum momento tal liberdade de expressão seja insultuosa, incite à destruição de património e muito menos uma mensagem que sugira violência contra quem quer que seja.
Entre nós, continua a perseguição pela calúnia e pela difamação desenfreada... Tudo normal se lermos com olhos de ler o Evangelho.

sábado, 8 de novembro de 2014

Transmutação

Para o fim de semana. Sejam felizes sem prejudicar ninguém...
Estavas todo despojado sobre uma pedra
que se levanta ante as nuvens no véu
mesmo que à solidão quando se verga
na pobreza daquele dia que não era meu
porque fez tudo em todos na luz do desassossego
mais as pobres ideias que se conjugam neste chão
que passo solene e rápido nas palavras
a frágil felicidade se Deus
no pensar não nos permite
a suave transmutação.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O templo de Deus é o coração de cada pessoa

Dia da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, Domingo XXXII tempo comum, 9 novembro de 2014
«Não sabeis que sois templo de Deus?» 1Cor 3, 9b-11, 16-17

O templo de Deus está no coração de cada pessoa. Sempre que este tema nos salta à vista, lembro-me da seguinte expressão: o coração de cada pessoa é o verdadeiro sacrário onde Deus gosta de estar.
Neste sentido, descobrimos que cada um de nós para Deus é como um edifício que Deus vai ajudando a construir. São Paulo nesta passagem da carta aos Coríntios, lembra-nos que todo aquele que crê e está na comunhão da Igreja é o templo espiritual de Deus, porque Deus habita no seu coração. Perante esta mensagem do Apóstolo São Paulo, nós pensamos que são muitos os abusos em relação à pessoa humana e que muitas das ocupações da vida estão centradas na procura de meios e formas para menosprezar a vida em todos os seus aspectos.
Santo Agostinho, pensando no vazio do homem sem Deus, escreveu: «O nosso coração não tem descanso, ó Deus, até que encontremos descanso em Ti». É razoável crer que Deus, na Sua ânsia por ter comunhão com o homem, diga: «o meu coração anela por ti, ó homem/mulher, até que tu encontres descanso em Mim. Eu amo-te e me comprazo na tua salvação e comunhão». O que concluímos através da razão coincide com a própria afirmação das Escrituras. Deus disse ao Seu povo: «Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo» (2Cor 6, 16). Referindo-se aos que seriam remidos e introduzidos nessa comunhão, Deus disse: «Serei vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas» (2Cor 6, 18).
Esta verdade sobre Deus habitar entre o Seu povo deve ser vista em conexão com a Igreja. Na nova aliança, a Igreja é o templo de Deus, uma casa espiritual (1Pe 2, 5), sendo cada cristão, uma pedra viva dessa casa (1Pe 2, 5) e todo o edifício, a habitação de Deus no Espírito Santo (Ef 2, 21-22). Esta consciência devia levar-nos a todos a ter um respeito muito grande uns pelos outros, porque cada pessoa é sinal da presença de Deus.
Assim, feita a explanação da doutrina sobre a vontade que Deus manifesta em fazer habitação no mundo. Este desejo de morar entre nós parece ser de duas formas, em comunidade e individualmente. São Paulo escreve: «Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?» (1Cor 3, 16). A palavra grega que Paulo usou para «vós» está, de facto, no plural. O Espírito obviamente tinha em mente um corpo de crentes, a Igreja, e não apenas o cristão individualmente. Mas, não será por isso que veremos a nossa interpretação inibida, pelo contrário, sentiremos melhor consolo saber que a habitação de Deus é a Igreja, a qual se enforma pela nossa adesão e presença constante. E também sentimos muita alegria por saber que o nosso interior também é templo da presença de Deus. Os crentes devem sempre saber que Deus habita entre nós, Ele mora em nós. E quando algum de nós passar fome, estiver nu, sem trabalho, sem pão, sem água, sem habitação condigna, sem cuidados médicos e remédios para tratar as suas doenças ou privado do cumprimento de qualquer direito humano, a habitação de Deus não está nas devidas condições. Por isso, urge que o nosso mundo se organize para que a humanidade se liberte de todos os escândalos que põem em causa a dignidade da pessoa humana. Este é o propósito de Deus e deve também ser o nosso.
Nota: Muitas pessoas pensam que a basílica de São Pedro é a principal igreja do Papa, mas na verdade é a de S. João de Latrão, a catedral da diocese de Roma, cuja dedicação os católicos evocam a 9 de novembro.
A primeira basílica edificada no local foi erguida no século IV, quando o imperador Constantino doou o terreno que havia recebido da rica família Latrão. Apesar dos incêndios, terramotos e guerras, permaneceu, até ao séc. XIV, o templo em que os papas eram consagrados.
A origem da actual basílica remonta a 1646, durante o pontificado de Inocêncio X.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os corvos do Vaticano intensificam a guerra

A onda «anti Francisco» intensifica-se. A vida do Papa não parece estar a ser fácil. Os cardeais identificados por «conservadores» estão a revelar em parangonas aquilo que o Papa Bento XVI denunciou quando apresentou a sua renúncia. O Vaticano era um ninho de corvos. As críticas duras que o Papa Francisco tem feito contra os bispos e contra os carreiristas vem também neste sentido. Daí que não surpreenda nada a violência das palavras e o estado de «guerra» em que parece estarem as coisas à volta do Papa Francisco.
No Evangelho em Mateus 24, 28 diz o seguinte. «Onde houver um cadáver ali se juntarão os abutres». Esta passagem cumpriu-se de forma perfeita na ocasião do funeral do Papa João Paulo II, quando do mundo inteiro os abutres chefes rodeavam o caixão. Abutres das nações e abutres que operam dentro da Igreja. 
O Papa Bento XVI falou em «corvos» e Evangelho fala em «abutres», a diferença está apenas no tipo de ave, há também o «abutre», a função de ambos é mexer em carne podre. Eis uma expressão terrível para designar o estado das coisas num determinado lugar ou situação.
Há pessoas que são piores que abutres ou corvos, são o diabo à solta, por trás detrás das atrocidades que vão acontecendo e que produzem imensas vítimas. No caso da Igreja, pelo seu descarado cinismo, pretendem «ajudar» o Papa, mas afinal o que pretendem é apenas e só manter o seu poder e as benesses que tal poder lhes oferece, daí que o Papa insista tanto com as críticas contra os bispos, que não se devem considerar uns «privilegiados» e que «não príncipes mas servos
Agora surgiu pela voz do cardeal da Austrália, George Pell, numa homilia escrita em latim, que o Papa Francisco pode ser o «falso Papa 38 e não o verdadeiro 266 da Igreja». Onde isto já vai. Neste mesmo pronunciamento o cardeal fala que já estamos em clima de cisma.
Quando se pretende criticar duramente o Papa invoca-se este argumento do falso Papa, que diz que num determinado momento o Papa se verá obrigado a deixar o Vaticano, a fugir, porque o quererão matar. Não têm faltado pronunciamentos a este respeito. Mas, se o Papa acaso fugir – portanto sai vivo e estará vivo – não será possível a eleição de um novo Papa, eis que as mesmas profecias avisam que um falso papa, ou um antipapa, apenas assumirá o comando da Igreja, nomeado pelos «maus cardeais», os tais aponta como o cancro putrefacto de onde parte tudo isto, a chamada Cúria Romana. Não da parte de todos, mas da maioria que a compõem. Esta, tem sido denunciada como a verdadeira fonte de poder maligno que age nas sombras do Vaticano, começou a ser denunciada com o Papa Bento XVI, que efectivamente, não fugiu, mas renunciou ao Papado, coisa que os ditos «conservadores» ainda não encaixaram e provavelmente não lhe perdoam ao ponto de virem outros o estarem considerar como sendo o verdadeiro Papa, para repudiarem e combaterem o Papa Francisco. Se se confirmar esta análise estaremos perante uma situação gravíssima.
Enfim, temos sempre de esperar para ver como Deus vai fazendo acontecer as coisas, porque um é o plano de homens que se acham donos da vida e do mundo, outra a forma como Deus permite que a realidade aconteça. Ele sempre guarda surpresas, o Papa Francisco foi uma agradável surpresa, age sempre pelo bem da humanidade inteira, mesmo que alguns façam tudo contra os intentos de Deus. 
Assim, tudo pode acontecer bem diferente do que planeiam as ditos «conservadores», e muito diferente do que nós imaginamos. Devemos também suportar calmamente as demoras de Deus, porque elas esperam a nossa conversão e paciência. Estou seguro que o Papa Francisco está em segurança em todos os aspectos e que não vencerá a besta que pretensamente deseja puxar para trás o impulso renovador da acção do Espírito de Deus. Rezemos pelo Papa Francisco insistentemente…

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Fim de ano recheado de estátuas

Este ano ficará para a história entre nós como o ano das estátuas. Vamos daqui a alguns dias ouvir falar de dois monumentos inaugurados com pomba e circunstância.
A Diocese do Funchal oferece à posteridade um monumento que assenta sobre uma base circular uma cruz e uma nau que sai a partir da cruz, pretende assinalar os 500 anos da Diocese do Funchal, celebrados durante o ano de 2014.
Jardim do Almirante Reis 
e Praça do Mar
Este monumento da Diocese ficará situado no Centro do Jardim do Almirante Reis. Um local secundário da cidade, um pouco distante do centro da cidade. Não faz muito sentido ficar neste local. E não se invoque o argumento de que a cidade nasceu ali, porque é muito pouco. O que contou foi que o desgoverno da Madeira não ligou nenhuma a esta iniciativa da Diocese e preferiu concentrar-se numa estátua do Cristiano Ronaldo, por interposta entidade, Jornal da Madeira, ironicamente entidade ligada à Igreja Católica. Nem um cêntimo para o momento dos 500 anos da Diocese do Funchal, vê-se que é assim porque a Diocese sentiu necessidade de lançar um peditório dentro e fora das ilhas. Porém, não falta dinheiro para a estátua do Ronaldo por via do falido Jornal da Madeira.
Vamos então ter duas estátuas bem reveladoras do estado deprimente a que chegamos a enfeitar a cidade neste Natal 2014. O Jornal da Madeira sem gastar um cêntimo, até porque está falido, vai levantar no excelente local que é a Praça do Mar uma estátua do Cristiano Ronaldo. Discutível esta discrepância de critérios, aliás revelador do vazio a que estamos votados e o quanto estamos vergados à ditadura do futebol.
Esperemos que sirva o monumento da Igreja da Madeira para que a Câmara Municipal do Funchal cuide com mais zelo o Jardim do Almirante Reis que nos últimos tempos nos tem oferecido um estado de abandono tão deprimente, que mais parece um campo em fim de batalha.
Salvaguarda importante
Mas, antes que me chamem invejoso, vamos lá esclarecer. Não tenho nada contra o Cristiano Ronaldo e sinto orgulho do ser um madeirense que alcançou os píncaros do sucesso, é o melhor jogador do mundo e leva o nome da Madeira e de Portugal a todos os cantos do mundo. A coleção de prémios é fabulosa. Por isso, é uma mais valia madeirense que admiro sobremaneira, acho que deve ser perpetuada a sua memória e que seria tonta a Madeira se não investisse no Ronaldo e em tudo o que ao seu nome diz respeito para levar a marca Madeira longe e arrastar até nós boas porções de turísticas. Mais ainda admito e sinto orgulho pelo facto do Ronaldo sendo famoso e rico nunca ter desprezado a sua família e por ela ter feito tudo o que podia para que singrassem felizes na vida. Tudo muito admirável e que deve encher de orgulho a Madeira, o país, todos os madeirenses e todos os portugueses.
Porém, é preciso denunciar que a discrepância da localização destes monumentos é bem reveladora da importância que se dá a uma e outra coisa. O sr. Bispo não diz mas eu digo, a Diocese levou mais um pontapé no traseiro das entidades públicas que desgovernam esta terra. Não devia ter aceite esta localização, mas sim um local no centro da cidade bem próximo da Sé e do Porto, que em horas de movimento com a chegada dos cruzeiros dá imensa vida ao centro da cidade.
Inversão de critérios
O lugar onde vai ficar a estátua do Ronaldo, é um local excelente, passam por ali todos os turistas que visitam a Madeira, os madeirenses amam a marginal da cidade do Funchal e a Praça do Mar está situada à porta de entrada de muita gente que vem à Madeira pelo mar, em frente deste local atraca frequentemente um navio e próximo dali haverá mais um espaço para o mesmo fim. A estátua do Ronaldo ficará bem visível a partir do alto mar quando se aproximam os cruzeiros que entram no Porto do Funchal e obviamente, que de muitos pontos da cidade ficará bem visível. Esta relevância fica anos luz da relevância que se está a dar ao monumento da Diocese do Funchal.
Sugiro por esta via um local que me parece mais apropriado. Não sendo possível um espaço publico no centro da cidade, próximo do Porto do Funchal, dado que as várias forças políticas não se entendem, podia ser no adro da Sé, aliás o local mais adequado para um monumento deste género. O Papa João Paulo II como já foi declarado santo pode subir agora aos altares, no lugar do Adro da Sé onde está a estátua do Papa podiam colocar o monumento dos 500 anos. A zona da Sé sim, porque é o local da cidade mais frequentado por ilhéus e forasteiros. Não há nenhum turista que não visite a Sé. Mas ninguém parece estar para aí virado dado o desrespeito que se vive hoje em relação à Igreja Madeira. E pelos factos esse desrespeito vem de dentro e de fora. Já dizem que quem muito se acocora...
A inversão de valor quanto à localização destes dois monumentos revela como domina tudo e todos o futebol mesmo que isso implique abdicar da relevância do passado e do presente de uma instituição, no caso, a Igreja Católica da Madeira. É uma pena.
É dramático que esta inversão de critérios faça história. Tem mais valor um jogador, o melhor do mundo, mas que quando deixar de jogar passa ao arquivo morto da história e tem menos valor uma Instituição com 500 anos de existência, que acompanhou o povo madeirense em todos os momentos da sua história. É verdade que com virtudes e misérias, algumas vezes contra a beleza libertadora do Evangelho, mas esteve sempre aí para o bem e para mal, soma cinco séculos de vida, porque é uma realidade do céu. Ainda hoje mal e bem continua ao lado do seu povo desde o nascer até ao morrer, e porque é uma realidade de Deus vai continuar por muitos mais anos. Porque nesta Instituição as pessoas passam, mas perdura a obra e os ideais, enquanto que, nas coisas do mundo, entre elas o futebol, morrem todos os sucessos e a fama com a morte das pessoas.
Não há dinheiro
O desgoverno Regional para o Ronaldo inventa dinheiro e para a estátua dos 500 anos da Diocese nem um cêntimo, sabe lá Deus e suspeitamos nós que terá que ver com questiúnculas partidárias, porque o Jardim do Almirante Reis pertence à Câmara Municipal e a base do monumento será oferecido pela Câmara, por isso, sabendo-se do modus operandi do desgoverno Regional aí temos a explicação para a inversão dos critérios e o insulto contra a Diocese que é ser o Jornal da Madeira a entidade utilizada pelos desgovernantes da Madeira Nova para brincarem às estátuas à conta dos nossos impostos.
Nesta inversão de valores assim como em tantos outros está a prevalecer o deus do mundo, o dinheiro, e faz com que os representantes da Igreja da Madeira se acocorem mais uma vez perante a falta de hierarquia de valores, permita prevalecer o menosprezo e até a falta de respeito. Nada disto é novo. Há imensos casos de abusos entre nós. O Jornal da Madeira é o mais flagrante, mas há também expropriações por todo lado sem que a Igreja tenha sido ressarcida com dignidade.
A ver se prevalece algum bom senso em tudo isto, que daqui até à inauguração as pessoas da Igreja se mobilizem e que ao menos pensem que tanto dinheiro desbaratado em estátuas – aliás, coisa pouco aceitável em tempos de pobreza e de fome - não seja então em vão, mas que com o devido critério de valores as coisas se recomponham com dignidade e respeito.

sábado, 1 de novembro de 2014

A santidade

A felicidade sempre. Procuremos não prejudicar ninguém...
Bem aventurado o pobre
o simples e o justo na distribuição do pão
da vida que se partilha no brilho
incandescente de um rosto
que sorri na saciedade
do amor e do dom.

Bem aventurado o caminho
as veredas e os trilhos desbravadas
que passam pela vida toda
quando as mães choram os filhos
mortos na loucura da injustiça
do tempo e do mundo.

Bem aventurado todos os passos
o círculo e o sangue que se derrama
para sempre na criação
do olhar que se apaixona pelo rosto
de cada gesto de generosidade
quando as palavras
vieram e disseram todo o amor
que se colhe na linha imaginária
do horizonte da fraternidade.

Bem aventurado o melhor do mundo
que não precisa de subir aos píncaros
das torres mais altas
mas que se deleita em cada paragem
da sabedoria que se encontra
em todas as fases da encosta da viagem.

Bem aventurado o mais belo olhar
mesmo que triste em solidão
mas às vezes brilha fervoroso o encontro
porque teima a certeza de viver
para sempre a esperança
e nenhum medo trava os juízos
por mais poderoso que seja
sabermos neste mundo
existirem paraísos perdidos.
José Luís Rodrigues