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Convite a quem nos visita

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Quaresma

Singelo poema alusivo a este tempo que estamos a viver, a Quaresma... 
Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém.
Vens no ano o convite na liturgia
para o aperfeiçoamento do todo que és
é um tempo de graça ofertada
que se prepara com total dedicação
pois é este hoje que nos desperta para amanhã
como dádiva generosa de um dom e mais nada
que se vive na comunidade sincera
se ali se encontra fértil a paz viva e irmanada.

Quarenta dias ditaram e fecundaram o deserto
de Jesus incomodado pelo demónio contra o ser
a luta perversa pelo poder dos dias não deixou de ver
pois tudo o que rezou e jejuou lucidamente
fez vencer a ardilosa e diabólica tentação
mesmo que sendo a cruz o destino que te espera
e foi feliz o final que se imolou no altar da salvação.

A radicalidade da existência lembra-te
o pó na imposição das cinzas em terra solidão
quando ainda és corpo e tempo neste mundo
que só Deus faz grande o tudo que nunca fostes
e na pequenez do princípio nos coube em sorte
que insuflou o povo no Espírito que nos destes
a vida sempre nova em toda a hora da nossa morte.

Na feliz abstinência se renúncia ao muito de nada
da soberba da carne que guarda o ódio e o rancor
então curva-te no silêncio da oração que anima
faz-te dom e pão da partilha mesmo que esmolada
para todos os que precisam porque não têm nada
no sentido do afeto mesmo que discreto do regaço
faz a confissão da injustiça do vil pecado
e logo reconciliado faz saber a toda a gente
que não tem preço o calor de um simples abraço.

Não será a cruz sem a glória que se busca
deste viver quaresmal sombrio intermitente
e também sem aleluia e penitente
mas certeza última recolhida espiritualmente
que na cor roxa do mistério é virtude
onde se antecipa o reino intemporal
quando todas as manhãs serenas do divino
serão luz celeste para nós da plenitude.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A transfiguração de Jesus é um convite ao essencial

Comentário à missa domingo II tempo da Quaresma, 1 de março de 2014
Transfigurar-se significa modificar-se ou passar por alguns poucos instantes por uma outra pessoa ou figura; significa passar por uma breve mudança instantânea. Seja essa mudança consciente ou inconsciente.
Ao tratar-se de seres divinos ou místicos a transfiguração é frequente na revelação do divino aos humanos. A ideia comum sobre a questão é de que durante o dia passamos por muitas mudanças físicas e mentais. Por isso, em cada minuto não somos a mesma coisa. Nós somos fruto do tempo e das circunstâncias. O ambiente quotidiano vai fazendo muito daquilo que somos e responsabiliza em muito as nossas atitudes. Quer dizer, somos fruto do momento. Assim se pode explicar um pouco o que é a transfiguração.
No texto do Evangelho de São Marcos que será lido neste próximo domingo nas missas, a transfiguração de Jesus, literariamente, a narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato vai colocar no quadro todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isto quer dizer o seguinte: não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese (construída de acordo com o imaginário judaico) destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos homens um projeto de salvação que vem de Deus, que convida à prática do amor incondicional.
A humanidade do nosso tempo não está virada para a transfiguração daquilo que impede a felicidade e a fraternidade, porque continua dominada pela lógica que este mundo impõe que viola a vida plena, porque não tem em conta o amor como dom total levado até às últimas consequências. As preocupações egoístas na base dos interesses pessoais continuam em força, não importa nada o serviço simples e humilde pelos outros, especialmente, os débeis, os marginalizados, os infelizes, os sem sorte, sem lugar e vez no banquete da vida. Importa assegurar para si o poder interesseiro, o domínio sobre os outros, que alimente o prazer de estar do lado dos vencedores, porque não importa a vida vivida como um dom, com toda a simplicidade e humildade, mas uma vida «enorme» a encher a vista, mesmo que emaranhada no jogo complexo de conquistas, de honras, elogios, palmas, glórias e sucessos a qualquer preço.
São Paulo, ensina-nos, afinal, que nada pode estar contra nós, porque Deus é por nós. Mas, o que mais há neste mundo é medo de Deus. A presença de Deus provoca medo a este mundo, porque os corações desta geração estão ocupados com coisas desnecessárias em relação à fé, isto é, em vez de acreditarmos de verdade no Seu amor e na Sua misericórdia, concebemos um Deus todo-poderoso que castiga e se vinga de nós. Esta visão de Deus é totalmente destorcida e não tem sentido diante das palavras e gestos amorosos de Jesus.
Neste sentido, chega de anunciar um Deus contra o que quer que seja. Vamos proclamar e viver um Deus simples e amigo de todos. Um Deus que não se compadece com a violência, a maldade, a inveja, a exploração, a fome e a nudez.
Neste meu singelo manifesto, quero proclamar um Deus que detesta e vomita, todas as formas de alienação ou ópio, todos os ritualismos desumanos que ainda subsistem na nossa Igreja, todos os apelos aos sacrifícios ou promessas, que mais não são exploração desenfreada dos fracos e dos pobres, todos os caminhos que levam à luta do poder pelo poder, todas as formas de dominação religiosa sem Evangelho, todos os caminhos que estão pejados de escárnio, de discriminação e ostracismo dentro da nossa Igreja e no mundo. Por fim, vamos estar com Deus, para que nada nos impeça de viver com felicidade, realizando a Sua vontade.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O Jejum e a Festa

Quaresma 2015
O título desta reflexão trata-se de um livro romance do escritor indiano Anita Desai, que descreve a situação da vida em família e da mulher em diferentes culturas. Um jejum na perspectiva cristã, dado que a tradição do jejum na Igreja sempre esteve associado à preparação de uma festa, a grande festividade da Páscoa de Jesus Cristo.
A Quaresma convida-nos ao jejum, hoje, não tanto ao simples gesto de deixar de comer carne ou outra iguaria, mas à renúncia perante o ódio, o rancor, a vingança que conduzem à violência e à barbárie. Neste âmbito, descobrimos o quanto podemos fazer pela paz e que devemos pensar no mundo em que vivemos onde a fome devasta vários milhões de pessoas anualmente, onde se esbanja de uma forma desmedida sem controlo nenhum e onde se produz uma abundância de lixo sem precedentes em nenhum momento da história humana.
O jejum não pode ser apenas uma renúncia barata, isto é, não pode ser apenas uma forma de renúncia de carne para comer peixe. Por isso, penso que pouco servirá um jejum que renuncia à carne para comer lagosta ou outro prato de peixe muito mais caro do que um de carne. Neste sentido, o jejum não se limita apenas ao cumprimento de fórmulas exteriores, mas é antes uma atitude interior de vida que promove o bem em favor de todos. Se o jejum se resume às atitudes puramente materiais ou materialistas não ganha sentido nenhum.
O jejum e a alegria da festa é uma serena luta em favor da paz em todo mundo. Muito melhor seria para a humanidade toda se os políticos de todo o mundo procurassem fazer um verdadeiro jejum das armas. Um mundo sem armas seria o resultado da verdadeira atitude do jejum.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Folha amachucada

Quaresma 2015
Um professor tinha numa das turmas, um garoto muito irrequieto que implicava frequentemente com os companheiros: discutia, insultava, agredia.
Certo dia, o professor quis dar ao pequeno uma lição especial. Chamou-o, entregou-lhe uma folha em branco e ordenou: vais amachucar esta folha o mais que puderes.
O rapazinho agarrou a folha, apertou-a na mão, amachucou-a com toda a sua força. A folha ficou amolgada, vincada, feia, quase inutilizável.
Em seguida, o mestre disse ao aluno que endireitasse aquela folha: desdobrando-a com todo o cuidado e alisando-a o melhor que pudesse. O pequeno desdobrou-a e alisou-a o melhor que pôde. Mas a folha apresentava sinais das amolgadelas que sofrera. Esticou-a ainda mais, mas sempre visíveis os traços das amolgadelas.
Então o professor explicou ao aluno: recebeste a folha limpíssima e lisa. Amachucaste-a e ficou irreconhecível. Tentaste pô-la como antes, mas, não obstante o teu esforço, ficou irremediavelmente marcada. Assim acontece quando desgostas alguém por palavras ou por acções, maltratando, ferindo e esmagando. Passado algum tempo, reflectiste e arrependeste-te. Tentaste limpar essas rugas, essas manchas que puseste na pessoa que ofendeste. Arrependido, tentaste voltar ao primeiro relacionamento com a pessoa ofendida: falaste com simpatia, trataste com amabilidade, mas por mais simpático que sejas, por mais desculpas que peças, por melhor que te comportes, as marcas das tuas ofensas continuam a fazer sofrer quem foi ofendido e a ti próprio que injustamente e ingratamente feriste. Folha amolgada nunca mais será igual...
Mário Salgueirinho

sábado, 21 de fevereiro de 2015

A luz de outro dia

Poema para o fim de semana. Sejam felizes sempre prejudicar ninguém...
Eu penso em tudo o que nesse passado já foi
Tudo o que poderia ter sido voou
O sofrimento que já não sinto
A fé inocente dos antigos
O dia de ontem que uma dor vergou
Mais o que se lembra da alegria
Não que se goste de memórias
Mas porque nesta luz imensa
É já outro dia que o mistério revelou.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Tenho pena que Portugal esteja a ser instrumentalizado

Muito bem dito... Só não ouvem os agachados dos desgovernantes portugueses que vão submissos beijar a mão da srª. Merker e do sr. Wolfgang Schäuble... A atitude de favor dos desgovernantes portugueses é indigno e vergonhoso para o nosso povo.

"Portugal está a ser instrumentalizado - pela Alemanha - para provar aquilo que não é susceptível de ser provado: que o programa de ajustamento é fantástico, é bom, o que é preciso é cumpri-lo. Do ponto de vista do país acho que efectivamente não é nada gratificante, é uma ideia que me perturba e me desgosta. Tenho pena que Portugal não esteja ao lado daqueles que pugnam efectivamente por outra situação e que - mais uma vez lhe digo - esteja a ser instrumentalizado, apresentando-se como um exemplo de sucesso".
No seu comentário no programa «Política Mesmo», a ex-ministra das Finanças de Cavaco Silva criticou a posição do Governo português relativamente à questão grega, que viu nesta quinta-feira uma recusa da Alemanha em aceitar uma extensão do empréstimo por mais seis meses.  
Ferreira Leite confessou também que não gostou de ver a ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque, sentada ao lado do homólogo alemão. Apresentado pelo ministro das Finanças Wolfgang Schäuble como a prova de que os programas de austeridade resultam, a comentadora lamentou que Portugal esteja a ser um instrumento nas mãos da Alemanha. «Tenho pena que Portugal seja apresentado como exemplo de sucesso», lamentou-se. E disse mais: «Não sei de onde vem a força moral da Alemanha para impor medidas»
A comentadora aplaude as palavras de Jean-Claude Juncker, considerando que o presidente da Comissão Europeia fez bem ao reconhecer que a austeridade é uma receita sem resultado e que não teve em conta os efeitos sociais de cada país. 
«Aquelas receitas, que eram postas de uma forma única, para tratar as doenças dos países estavam erradas. Nem sempre estavam ajustadas às especificidades de cada país [...]. Muito fundamentalmente, eram receitas que não atendiam em nada às consequências sociais das medidas que estavam a ser tomadas».
Fonte: TVI-24, Programa Política Mesmo de Paulo Magalhães.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O batismo e o deserto é o lugar da descoberta do que somos

Comentário à missa deste domingo I Quaresma, 22 fevereiro de 2015
O batismo é um dos vários requisitos indispensáveis para a salvação. São Pedro, compara o batismo ao dilúvio dos dias de Noé. O dilúvio salvou Noé da corrupção e da perversidade do velho mundo. O batismo salva-nos da corrupção e do pecado da nossa velha vida. Uma vez que o texto afirma que o batismo nos salva, a questão é indiscutível. Por isso, vejamos o que diz o texto: "Ser batizado não é tirar a imundície corporal, mas alcançar de Deus uma boa consciência…", isto é, pelo batismo alcançamos a salvação de Deus.
Depois de recebermos o batismo a nossa vida não entra num caminho tipo "mar de rosas", sem problemas, sem sofrimentos e sem as peculiaridades de qualquer história pessoal. Todos estamos sujeitos às contingências desta vida. Não devemos temê-las, mas antes devemos robustecer-nos com os ensinamentos de Jesus para as vencermos sempre. O batismo é o primeiro requisito desta força interior que Deus nos quer oferecer. O deserto pode ser toda a nossa propensão para a esterilidade do amor. Uma vida toda carregada de egoísmo, de violência e de ódio contra os outros é uma vida no deserto árido sem sombra de existência verdadeira.
As tentações fazem parte da vida e podem ser uma constante no nosso pensamento e no nosso coração. Porém, se, sob a condição de batizada, à maneira de Jesus, acreditamos de verdade na mediação fiel do Espírito Santo, nada nos pode demover daquilo que escolhemos para as nossas caminhadas pessoais.
Após o batismo de Jesus no Rio Jordão, por João Baptista, o Espírito Santo tomou conta de Jesus e conduziu-O para o deserto. O Espírito Santo, é a força do amor de Deus Pai que anima o Filho para o recolhimento do deserto ao encontro do silêncio, da oração e do encontro com o Pai. O deserto de Jesus é uma busca de reflexão como preparação para a missão. O Espírito Santo enche Jesus e protege-O das tentações diabólicas.
As tentações, fazem parte da vida e podem ser uma constante no nosso pensamento e no nosso coração. Porém, se, sob a condição de batizada, à maneira de Jesus, acreditamos de verdade na mediação fiel do Espírito Santo, nada nos pode demover daquilo que escolhemos para as nossas caminhadas pessoais. Assim, o batismo não é o único requisito para a salvação hoje, mas não podemos ser salvos sem ele. "Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3, 5). 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Oração a São Francisco, em forma de desabafo

Porque é Quarta Feira de Cinzas…
D. Pedro Casaldáliga
Compadre Francisco,
como vais de glória?
E a comadre Clara
e a irmandade toda?
Nós, aqui na Terra,
vamos mal vivendo,
que a cobiça é grande
e o amor pequeno.
O amor divino
é mui pouco amado
e é flor de uma noite
o amor humano.
Metade do mundo
definha de fome
e a outra metade
de medo da morte.
A sábia loucura
do santo Evangelho
tem poucos alunos
que a levem a sério.
Senhora Pobreza,
perfeita alegria,
andam mais nos livros
que nas nossas vidas.
Há muitos caminhos
que levam a Roma;
Belém e o Calvário
saíram da rota.
Nossa Madre Igreja
melhorou de modo
mas tem muita cúria
e carisma pouco.
Frades e conventos
criaram vergonha,
mas é mais no jeito
que por vida nova.
Muitos tecnocratas
e poucos poetas.
Muitos doutrinários
e menos poetas.
 - Que nos anime a fé e a esperança, como tão bem sabia disso o grande sábio Miguel de Unamuno:
«... se a Deus me agarro com todas as minhas forças e todos os meus sentidos, é para que Ele me leve em seus braços além da morte, fitando-me nos olhos com seu céu, quando eles se me apagarem para sempre... E engano-me? Não me falem de engano e deixem-me viver!» (Miguel de Unamuno, 1996).

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

O impulso renovador do Papa Francisco provoca tensão

O documento-reforma da Cúria Romana no número 13 é muito claro:
- «Evitar admitir pessoal proveniente de um ambiente eclesial que tenha uma linha de pensamento e de ação não equilibrada».
- «Acabar corajosamente com a tendência de associações, movimentos eclesiais e institutos religiosos para ocuparem ofícios e postos nos Dicastérios conseguindo assim vantagens particulares». O ambiente para os lados do Vaticano andam tensos. Temos nós de rezar e apoiar o impulso renovador do Espírito Santo que se personificou no Papa Francisco.
Os vários serviços do Vaticano estão pejados de gente vinda de grupos tradicionalistas e conservadores, que se instalaram ali para conseguir proveitos para os movimentos a que pertencem. O Papa Francisco parece determinado a pôr um fim nisso. Mais uma vez se confirma a denúncia corajosa do Papa Bento XVI a quando da sua resignação.
O enquadramento dessa tal denúncia do anterior para radica no Evangelho, em Mateus 24, 28 que diz o seguinte: «onde houver um cadáver ali se juntarão os abutres». Esta passagem cumpriu-se de forma perfeita na ocasião do funeral do Papa João Paulo II, quando do mundo inteiro os abutres chefes rodeavam o caixão. Abutres das nações e abutres que operam dentro da Igreja. E continuam bem vivos nas chefias dos povos das nações e outros bem instalados nos grupos ostensivamente rendados e seguros no comodismo do seu conservadorismo, porque a salvação não é universal, mas apenas e só para alguns, os eleitos, os chamados.  
O Papa Bento XVI falou em «corvos» e o Evangelho fala em «abutres», a diferença está apenas no tipo de ave, há também o «abutre», a função de ambos é mexer em carne podre. Eis uma expressão terrível para designar o estado das coisas num determinado lugar ou situação.
Assim, tudo pode acontecer bem diferente do que planeiam as ditos «conservadores», e muito diferente do que nós imaginamos. Devemos também suportar calmamente as demoras de Deus, porque elas esperam a nossa conversão e paciência. Estou seguro que o Papa Francisco está em segurança em todos os aspetos e que não vencerá a besta que pretensamente deseja puxar para trás o impulso renovador da ação do Espírito de Deus.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A globalização da indeferença

Estamos em período de Carnaval, cujo seu sentido se expressa por todo lado nos pequenos e graúdos com muita folia, brincadeiras de todo o género, máscaras e alguns/algumas, apesar do frio, não se inibem de algum desnudamento. Nada que me escandalize. Viva a festa.  Já é velho, mas hoje recebe uma atualidade impressionante: «tristezas não pagam dívidas». E como precisam os tempos hodiernos que se lembre este provérbio... Porém, passado este período entraremos num tempo de penitência e de recolhimento interior, a Quaresma, que nos deve levar a pensar sobre a nossa dimensão existencial, particularmente, para que estamos neste mundo e para onde vamos. O Papa Francisco escreveu uma mensagem belíssima para o tempo da Quaresma onde disserta sobre a «globalização da indiferença». E para que não falte alguma reflexão convido-vos a ler, rezar e refletir sobre esta importante mensagem. Vejam AQUI
Resumo:
 Apresentação da Mensagem do Papa para a Quaresma de 2015
O tema oferecido pelo Pontífice para servir de guia para a recoleção dos fiéis é «Fortalecei os vossos corações», um trecho extraído do Carta de São Tiago, capítulo 5, versículo 8.
Tema geral da mensagem:
No texto da Mensagem o Pontífice reflete sobre a «globalização da indiferença», «a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real», que pode atingir três esferas da vida eclesial: a Igreja, as comunidades e cada um dos fiéis. 
1. Quanto à Igreja, o Papa Francisco recorda que no corpo de Cristo não há espaço para a indiferença. Frases sintomáticas: «O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens; « tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n'Ele, um não olha com indiferença o outro»...
2. Nas paróquias e as comunidades, o Papa sugere que, para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções.
Em primeiro lugar, «unindo-nos à Igreja do Céu na oração»; «Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inactiva no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).  
Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os que se dizem descrentes. Diz o Papa: «Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens»; « A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. Act 1, 8)».
3. Por fim, o Pontífice dirige-se a cada um dos fiéis, pedindo que não se deixem absorver pela «espiral de terror e impotência» diante de notícias e imagens que relatam o sofrimento humano. Pergunta: « Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?»
Convite espiritual:
«Não subestimemos a força da oração!», escreve o Papa, citando a iniciativa «24 horas para o Senhor», que se celebrará em toda a Igreja nos dias 13 e 14 de março. Além da oração, Francisco recorda que todos podem contribuir para o fim do sofrimento com gestos de caridade, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja.
«A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal - mesmo pequeno, mas concreto - da nossa participação na humanidade que temos em comum».
Francisco recorda ainda que o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, «porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos».
Conclusão: «Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro».

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Regresso à infância

Par ao fim de semana. Sejam felizes sempre sem prejudicar ninguém...
Foi no zumbido do vento nos pinheiros
Nas tardes de inverno quando choram
As folhas, as pedras e os ribeiros
Que fez frio e medo que me devoram.

Vamos brincando juntos como irmãos
Na casa da avó sem regras marcar o tom
E no afago suave e rude de umas mãos
Vimos sorrindo a partilha alegre feito dom.

Nessa hora os cães ladram ao tempo
Porque me lembro do mistério em arte
Nada sei ler além do que diz o momento
Porque travei a ânsia da solidão que parte. 
José Luís Rodrigues     

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Acerca da homilia nas eucaristias

Não sei se cumpro tudo. Mas ainda vou a tempo de aperfeiçoar...
10 conselhos acerca das homilias, uma síntese do "diretório homilético”, elaborado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
1 – A homilia é preparada cuidadosamente, ancorando-a um profundo conhecimento das Sagradas Escrituras, especialmente o Evangelho. (Prop. 19, do Sínodo dos Bispos 2005).
2 – Não é um discurso qualquer, mas uma palestra inspirada na Palavra de Deus. Pode-se recorrer a imagens ou lendas para não aborrecer os fiéis. (Card. Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos).
3 – A homilia não é um show de entretenimento, mas deve dar sentido e fervor à celebração (Evangelii Gaudium, n. 138).
4 – A homilia não pode ser improvisada: ao contrário merece "um longo tempo de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral" (Gaudium Evangelli, n 145).
5 – A pregação deve ser positiva, pois fornece "sempre esperança" e não deixa "prisioneiros da negatividade" (Evangelii Gaudium).
6 – O bom homiliasta ajuda a “entender e apreciar o que sai da boca de Deus, a abrir o coração à ação de graças a Deus, a alimentar a fé, a preparar uma frutuosa comunhão sacramental com Cristo." Será um mau pregador aquele que, "embora talvez um grande orador, não seja capaz de provocar estes efeitos." (Mons. Arthur Roche, secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos).
7 – O pregador deve organizar a sua homilia, seguindo este caminho: escolher o que dizer, porquê dizê-lo, como dizê-lo a esta assembleia específica. As homilias diferenciar-se-ão de acordo com a celebração. Na missa ferial recomenda-se uma breve homilia. (Padre Corrado Maggioni, subsecretário da Congregação).
8 – A homilia eficaz desperta no ouvinte o desejo de conhecer ou reconhecer Deus, apresentando-O no modo mais direto e claro, não enrolado ou parcial (Filippo Riva, oficial do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais)
9 – A homilia eficaz põe em risco o que o ouvinte "já sabe" (Filippo Riva).
10 – A palavra de um sacerdote deve ser encarnada, testemunhar uma atitude perante a vida, uma posição humana (Filippo Riva).
ACERCA DO DIRETÓRIO HOMILÉTICO
O Vaticano apresentou um “diretório homilético”, elaborado pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, orientada, desde novembro, pelo cardeal Robert Sarah, da Guiné (Conacri), texto acelerado com o papa Francisco, publicado em dezembro e em preparação desde o pontificado de Bento XVI, quando à cabeça do dicastério estava o cardeal espanhol Antonio Cañizares Llovera.
Em 156 parágrafos e dois apêndices este prontuário dirigido a bispos, padres e seminaristas de todo o mundo indica como realizar uma boa pregação e os erros a evitar.
Na conferência de imprensa de apresentação da obra, no Vaticano, o cardeal Sarah explicou que o diretório «não nasce sem um porquê», tendo citado o que o papa Francisco escreveu na exortação apostólica “O Evangelho da alegria”, n.º 135: «Muitas as reclamações relacionadas com este ministério importante, e não podemos fechar os ouvidos. A homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo. De facto, sabemos que os fiéis lhe dão muita importância; e, muitas vezes, tanto eles como os próprios ministros ordenados sofrem: uns a ouvir e os outros a pregar. É triste que assim seja.»
O volume está articulado em duas partes. Na primeira, intitulada “A homilia e o âmbito litúrgico”, descreve-se «a natureza, a função e o contexto particular da homilia»; na segunda secção, “Ars praedicandi”, são assinaladas as coordenadas metodológicas e de conteúdo que o pregador deve conhecer e ter em conta ao preparar e pronunciar a homilia. Os dois apêndices são compostos por referências do Catecismo da Igreja Católica e textos de documentos da Igreja sobre a homilia.
As traduções nas principais línguas serão realizadas pelo Dicastério. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Chamados à vida com dignidade

Comentário à missa deste domingo VI tempo comum, 15 fevereiro de 2015
Ao tomar conta dos textos deste domingo para a missa, saltou-me ao pensamento o tema do racismo e da xenofobia, porque continuam a ser uma chaga horrenda dos nossos tempos.
Por isso, lá vão duas situações que se passaram na nossa cidade. Uma mulher de cor negra grávida entrou no autocarro a caminho da sua casa. Ao chegar ao interior do autocarro, duas ou três pessoas já de alguma idade, estavam sentadas junto das janelas, quando se aperceberam da chegada desta senhora saltaram repentinamente para os bancos da coxia para que a grávida não se sentasse ao seu pé. No entanto, alguém noutra zona do autocarro presencia a «cena de terror», fazendo prevalecer o bom senso e que repudia qualquer sombra de xenofobia, levantou-se de imediato e ofereceu o seu lugar para a senhora mais necessitada de assento, tendo em conta o seu estado de gravidez. A seguir não faltaram ofertas de assento para esta outra senhora que se prontificou amavelmente a oferecer o seu lugar. Obviamente que esta mulher recusou com um misto de prazer as prontas ofertas carregadas de racismo doentio.
Outra situação passou-se num lar de terceira idade, onde trabalha uma jovem de cor negra. Uma senhora de cor branca, cheia de salamaleques e muita dona do seu nariz, para não dizer de nariz empinado, outro dia caiu ao chão, sem conseguir levantar-se, foi de imediato socorrida por esta funcionária. (Repare-se na manifestação de racismo primário e doentio). Diz a idosa o seguinte: - «tira essas mãos pretas de cima de mim». Na mesma ocasião alguém de bom senso, ao presenciar a cena triste, dirige-se à idosa do seguinte modo: - «oh dona tal… não diga semelhante barbaridade, esta jovem tem as mãos mais brancas do que a vossa alma, que está preta de rancor e de ingratidão». O rosto da jovem ficou lavado em lágrimas. A idosa parece ter aprendido a lição.
Desculpem-me os qualificativos de «cor branca» e «cor preta» aplicados neste texto às pessoas, mas para vermos o quanto ainda existe de racismo motivado pela cor da pele. Esta lepra do nosso tempo que precisa do milagre da cura urgentemente. É triste que ainda assim seja…
São Paulo, aponta o caminho, Cristo a todos quer salvar, tenham a cor que tiverem. Tenham a doença ou a mazela que tiverem. Não importa. Basta que cada coração esteja cheio de amor e aberto ao acolhimento do outro de forma desinteressada. Esta é a religião dos irmãos, porque todos filhos de um Pai/Mãe comum. Por isso, dói saber-se que muitas manifestações de racismo e xenofobia ainda fazem parte das nossas sociedades. Esta é a lepra dos nossos tempos. Jesus demonstra claramente que não quer ninguém no chão, mas a todos deseja chamar à vida com dignidade.
Não pensemos que o racismo é só coisa de África ou da América, está muito bem implantado no nosso quotidiano. Silenciosamente provoca muitas injustiças e sofrimentos.
O apelo do Apóstolo dos gentios deve calar fundo no coração de cada um de nós: «não sejais ocasião de pecado…» Não podia vir mais a propósito este apelo, para que cada um deixe de pensar que se salva sozinho e que ser cristão não implica uma abertura aos outros incondicionalmente. A salvação de Deus, nunca acontece individualmente, mas vem ao encontro de todos. E Deus quer que nos olhemos como irmãos. 

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A maior e a mais convincente lição sobre o que é a fé

Para mim tem servido bastante esta pequena história. Devendranath Tagore, é pai de um dos grandes escritores da minha vida Rabindranath Tagore, indu, que escreveu várias obras de poesia, conto e romance. Li para nunca mais esquecer o belíssimo romance «A casa e o mundo»... Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1913 e tornou-se mundialmente famoso graças ao seu livro de poemas Gitanjali («Oferenda Lírica»).   
«O homem só ensina bem o que para ele tem poesia»
Rabindranath Tagore
Um Céptico perguntou a Devendranath Tagore: 
- Sempre falas de Deus, mas tens provas de sua existência?
Devendranath apontou para uma luz:
- Sabes o que é isto?
- É uma luz - respondeu o céptico.
- Como sabes que é uma luz? - perguntou Devendranath.
- Eu a vejo, portanto, não há necessidade de prova.
- Então o mesmo se dá com a existência de Deus. Eu O vejo em mim, e fora de mim, eu O vejo dentro e através de cada coisa. Portanto, não há necessidade de prova.
E continuou:
- Enquanto a abelha se encontra no exterior das pétalas do lírio e não experimentou ainda a doçura de seu suco, ela plana em volta da flor e emite um zumbido. Mas, logo que ela penetra no seu interior; ela bebe silenciosamente o néctar. 
Quando alguém ainda estiver discutindo e especulando sobre uma doutrina e os dogmas religiosos, é por que ainda não experimentou o néctar da verdadeira fé. Por isso, faz silêncio e compreenderás! Onde o Espírito Eterno vem com a sua Luz, a nossa lâmpada terrestre já não é necessária. Pobres homens que creem que as miseráveis lâmpadas do intelecto humano dão mais luz que o doce cintilar das estrelas divinas!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Papa exige às dioceses que não encubram casos de pedofilia

«As famílias precisam de saber que a Igreja está a fazer todos os esforços para proteger os seus filhos»
Uma carta muito clara do Papa Francisco, dirigida aos Presidentes das Conferências Episcopais e os Superiores dos Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica... Pode ser lida AQUI, está em espanhol, mas lê-se bem.
Frases mais significativas:
1. “Não há qualquer lugar no ministério da Igreja para aqueles que abusam de menores”
2. “As famílias precisam de saber que a Igreja está a fazer todos os esforços para proteger os seus filhos”
3. “Não deve ser dada prioridade a nenhuma outra preocupação, seja de que natureza for, como o desejo de evitar o escândalo”
4. “Deve ser feito tudo o que for possível para libertar a Igreja da praga dos abusos sexuais”
5. “Encorajar e ajudar todos os níveis da Igreja a adoptar os passos necessários para garantir a protecção dos menores”

sábado, 7 de fevereiro de 2015

O significado das tardes sombrias

Para o fim de semana. Sejam felizes sempre sempre prejudicar ninguém...
Vertiginosa doença que nos consome
os ossos, as mãos e o pensamento
nestes dias inquietos sem rumo
e indolentes nos caminhos da fé
porque se encontraram bestas
e outros tantos devoradores
bárbaros incendiários do medo
que estas ruas conjecturaram
desde sempre na frieza da injustiça.

Só por remédio se toma a capacidade
de ver presente mesmo em tardes sombrias
uma certeza, uma visão e um sonho
sem testemunhas e sem juízes
que provem do sombrio da morte
como anteviram os campos do mundo
na solidão deste momento
porque todas as coisas são o dom
sob a bondade infinita do sinete do criador.

Aqui somos aqui habitamos na vertigem
de um espaço ora solene ora tosco
sem que nos façam felizes tantos sem abrigo
e sem pão da vida e do céu que nunca viram
no jugo tenebroso da fome severa
desta solidão de vida que ditam os poderosos
de todos os lugares contra os fracos
sem sorte e sem vez no banquete
que muitos condimentam fervorosamente
na amargura da repelente pobreza.

Nos dias sorridentes com passos em volta
outros semeiam sob luz sempre nova
A certeza de que só o amor vence tudo.
José Luís Rodrigues

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O drama do sofrimento e acção de Deus

Comentário à missa deste domingo V Tempo Comum, 8 fevereiro de 2015
O sofrimento acompanha sempre a humanidade. É património universal de toda a humanidade. Porém, a fé esclarecida radica sempre em um Deus de vida e não em nenhuma realidade transcendente que deseje a morte para as suas criaturas. Daí que a liturgia deste domingo responda claramente a cada um de nós que o Deus de Jesus tem um projecto de vida verdadeira e não nenhuma forma de morte que ponha em causa o Seu profundo desejo para todos nós, a felicidade sem fim.
Mas, inquietamo-nos tanto com o sofrimento e com a dor que acompanham a humanidade sobre a terra. Qual será a «atitude» de Deus sobre os nossos dramas? – A Palavra de Deus dá-nos a resposta.
A primeira leitura apresenta-nos o crente Job que passa por um sofrimento terrível, daí a sua frustração perante a vida e todas as coisas deste mundo. Mais ainda lhe parece que Deus anda bem ausente e indiferente ao seu desespero, porém, face a isso é a Deus que Job recorre, como única brecha de esperança e finalmente percebe que fora de Deus não há nenhuma hipótese de salvação.
Interessante esta lição de Job, porque lembra-nos que destes exemplos temos o nosso mundo cheio. São imensas as pessoas que andam quase toda a vida guiados pelas possibilidades ilimitadas da razão humana, mas quando se vêm confrontados com a limitação e nulidade que é a materialidade acabam convertidos à dimensão espiritual da vida e nela repousam serenamente com esperança e alguns até com uma fé incomensurável.       
O Evangelho manifesta que a maior preocupação de Deus radica na felicidade da humanidade. Na acção de Jesus que se manifesta mediante sinais concretos de libertação, percebemos que Deus sonha com um mundo sem sofrimento, sem exclusão, sem desigualdades, sem injustiças dramáticas como as que estamos a viver ao nível das oportunidades iguais para todos, os dramas na saúde das pessoas, o abandono dos idosos, a violência doméstica, a violência dos governantes, o fundamentalismo e todas as formas de exploração humana que conduzem ao sofrimento e ao desencanto da vida neste mundo.
A acção de Jesus tem de ser continuada pelos seus discípulos, daí que Deus continue em todos os tempos a enviar homens e mulheres providenciais que se entregam à causa da felicidade para todos sem qualquer sombra de interesse pessoal, mas unicamente pelo amor a Deus, ao Evangelho e aos outros que consideram irmãos.
A exclamação Paulina «Ai de mim se eu não anunciar o evangelho» (1Cor 9, 16), é igualmente válida para todo aquele que, sendo leigo, presbítero, bispo ou Papa, recebeu das mãos da Igreja o Evangelho, esse mesmo Evangelho que deve propagar como se difunde «o perfume de Cristo» (2Cor 2, 15) entre aqueles que estão perto e os que estão longe.
Jesus não quer que acabemos por desvalorizar o Evangelho que foi depositado em nós como «um tesouro, em vasos de barro» (2Cor 4, 7), mas quer antes que arrisquemos tudo para o fazer atractivo e útil ao sentido da vida da humanidade inteira. Jesus Cristo em pessoa é o tesouro, achado no meio do campo, pelo qual vale a pena vender quanto possuímos e somos, a fim de o adquirir.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Os funcionários da caridade

«Em Portugal só passa fome quem quer», garante presidente da União das Misericórdias. Leiam AQUI
Perante estas declarações fico num misto de coisas. Sem palavras, boquiaberto, revoltado ou ainda com vontade de disparatar sobre esta triste figura, que se intitula de presidente da União das Misericórdias.
Este sr. Lemos deve andar nas nuvens e não toma conta do que se passa realidade. É um funcionário da caridade a tantos outros que sugam à conta dos pobres uma série de privilégios no quentinho das centenas de instituições destinadas à caridade neste país. Sr. Lemos, se não fome, se não pobreza e se não há necessitados neste país para que tanto «mamão» e «mamona» enfiados dentro de centenas ou milhares de instituições vocacionadas para o combate à fome e à pobreza? - Deixem-se de fretes e vão governar a vossa casa sem insultar ninguém.
Por isso, também estou mais que convencido de que é mais difícil combater a legião de privilegiados que o negócio da caridade foi produzindo do que combater a pobreza em si mesma. E que já vai faltando a paciência para suportar esta gente, lá isso vai... 

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O Papa um cristão igual a todos os cristãos

Frei Bento Domingues, no Público deste domingo, apresenta-nos uma reflexão brilhante sobre o paralelismo entre o Papa João XXIII e o Papa Francisco no que diz respeito à infalibilidade papal. Tanta proximidade. O Papa é um cristão igual a qualquer outro cristão. Destaco o seguinte e apresento AQUI o link para que deseje ler na íntegra. A não perder.

«Bergoglio também se esqueceu, como João XXIII, da ladainha dos títulos papais que os séculos inventaram para os distanciar dos pobres e para calar os outros membros da Igreja. Reteve apenas o de “pontífice”, o encarregado de lançar e reparar pontes para Deus e para todos os seres humanos, a começar pelos sobrantes e descartáveis, - vítimas de uma economia que mata, num mundo em que 1% da população possuiu mais de metade da riqueza mundial».

«O seu texto programático, E.G. não engana. Na Igreja, a hierarquia, as instituições e organizações, a liturgia e as doutrinas não são para ela e para a sua auto reprodução. São para a fazer sair para o mundo dos pobres, dos oprimidos, dos excluídos, das vítimas de doutrinas e práticas sociais e culturais que lhes negam o céu e a terra. Enquanto as populações não virem que o Evangelho é a alegria da libertação, não se podem interessar pela cozinha interna das instituições e organizações da Igreja».