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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Quando os pastores se transformam em lobos do rebanho

Este é um assunto que sempre me acompanha. Muitas vezes até se torna incómodo. Mas felizmente que não me deixa em paz este pensamento. Provavelmente, até me tem ajudado a «pecar» contra a instituição para fazer o bem às pessoas em concreto quando se apresentam com os seus dramas, as suas dificuldades, a sua pobreza… Nada nos deve deter quando podemos dar resposta em nome da compaixão, seguindo o exemplo do Evangelho de Jesus Cristo. Nenhuma norma, nenhuma regra, nenhum dogma, devem estar acima do consolo e do reacender da esperança no coração de uma pessoa.  
Os pastores convertem-se em lobos do rebanho quando são «funcionários de Deus», foi o que considerou o teólogo Eugen Drewermann de uma forma extraordinário quando analisou a vocação e a vida dos padres e das freiras.
É tempo de acabar com a confusão geral que perverte a natureza da Igreja, o ser povo de Deus em marcha. A sociedade, e sobretudo a comunicação social, frequentemente e rapidamente confunde a hierarquia, isto é, o Papa, os bispos e os padres, com a Igreja como se o resto da multiplicidade e diversidade que constitui a Igreja fosse paisagem irrelevante. Se um falha todos falham. Esta confusão do ramo com a floresta é o pão nosso de cada dia. Tudo isto é mau demais, porque empobrece todo o corpo e mancha a verdadeira natureza de uma organização que tem o dever de ser campeã da misericórdia e do amor de Deus no mundo.
Há uma forte busca de muitos que desejam ou imaginam com o Espírito de Deus uma maior comunhão no interior da Igreja. Não se pode recorrer à confusão e aos malabarismos do poder para atacar a mudança, ou então, abortar desde logo este constante, elementar e profundo sentir humano: o desejo de mudança. O Papa Francisco está a ser um vanguardista e uma luz para a Igreja e para o mundo. É triste persistam alguns pastores agarrados ao passado e às leis absurdas que salvavam o sábado contra a dignidade e o valor de cada pessoa.
Perante tudo isto, não se pode, isso sim, deixar que a Igreja se esvazie da sua riqueza: a diversidade de carismas e a multiplicidade de sensibilidades. Nem podemos deixar que a Igreja continue a ser um simples espaço onde apenas alguns mostram a sua soberba e o gosto pessoal pelo poder ou vontade de mandar uma multidão de gente adormecida. E muito menos não se espera que em nenhuma situação o pastor se transforme em lobo do rebanho. Salve-nos Deus do pastoreio legalista e insensível a cada situações concreta da vida onde predomina o sofrimento, a dor e angústia do desespero.
A Igreja é o espaço livre onde o Espírito de Deus age como quer e em quem quer, no sentido de criar uma dinâmica que alimenta a fé e a esperança na salvação. Nunca um dinamismo que cerce os direitos fundamentais como o da liberdade e o de pensar. A Igreja, é um espaço livre para gente livre. A religião, nunca pode ser vendida ou comprada por este ou por aquele. Na religião, não há lugar para donos. Cada um com a sua fé é senhor de si mesmo. E deixemos o resto à conta de Deus Nosso Pai.

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