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quinta-feira, 9 de março de 2017

A cultura do respeito pelas mulheres todos os dias do ano

1. Nada me move contra o «dia internacional da mulher», como nada tenho contra os outros dias internacionais disto e daquilo. Mas, tenho contra o que esses dias implicam de hipocrisia e artificialidade. O dia da mulher é bem revelador disso. Calava-me se não fossem tão dramáticos os números da violência contra as mulheres em todos os dias do ano. Por isso, admiro-me que sejam as mulheres as primeiras a se prestarem a isso.

2. Quanto ao dia Internacional da mulher, que teve uma origem muito interessante e foi necessário para que a mulher visse os seus direitos serem respeitados no trabalho, na vida social e na política. Mas, hoje está a converter-se em mais um dia carregado de hipocrisia e artificialidade, cujo centro das atenções são as mulheres. E pelo que vejo elas são as primeiras a tomarem a dianteira nisso. Gostam de receber jóias, flores, chocolates, participar em jantares só com elas, onde haverá strippers masculinos e bebedeiras. É o dia e a noite delas, começa a convencionar-se, pois até partilham «parabéns, é o teu dia»; «feliz dia da mulher» e «vivam as mulheres», entre outros mimos meio descabidos que o ambiente proporciona. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se prestarem a isto.

3. A maior parte das mulheres não sabe porque há um dia dedicado a elas. É como os outros dias mundiais, serve para receber prendas, andar com flores na mão que os homens lhes deram e participar numa jantarada, que em ano de eleições até dá jeito porque os partidos políticos aproveitam para fazer um comício. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se prestarem a isto.

4. A sociedade em geral é machista e patriarcal, institui e valoriza práticas sociais que desqualificam ou menorizam as mulheres. Estas práticas contribuem para que todos os dias do ano tenhamos uma cultura da violência contra as mulheres, particularmente, a violência doméstica e a violação, porque, por mais que se pinte de cor de rosa um dia do ano dedicado à mulher sempre haverá homens que são levados a crer que têm o «direito» de cometer diversos tipos de violência contra a mulher, inclusive a violência sexual. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se prestarem a isto.

5. Nada mudará enquanto se continuar a fazer dos dias assinalados, dias de carnaval hipócrita, maquilhados com flores e festanças. Neste sentido, os meios de comunicação social, as entidades públicas, a escola e a própria família, vão legitimando a desigualdade entre géneros, legitimando papéis que só pertence a uns e não aos outros e fazendo passar a ideia de que os papéis das mulheres são sempre subalternizados, só porque são da mulher. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se prestarem a isto.

6. O dia da mulher devia ser um dia de profunda reflexão, porque os dados da violência contra ela são absurdos e exigem de todos a consciência de que é preciso mudar tais comportamentos. A escola, as entidades públicas e a própria família precisam de acolher este debate, ajudando homens e mulheres, jovens e mais velhos, a compreenderem que não podemos continuar nesta guerra quotidiana onde o elo mais fraco é sempre a mulher, porque facilmente se converte numa serviçal, um objecto sexual ou num bumbo onde companheiros, namorados e maridos descarregam a sua agressividade. E reforço a ideia, as mulheres são as primeiras a se prestarem a isto.

7. Tomara que as mulheres acordassem e fossem as primeiras a não se prestarem a tanto acessório disparatado neste dia, para que não fossem também elas a legitimarem as investidas machistas e a ditadura da masculinidade que ainda impera na família, nas instituições e na sociedade em geral. A mulher deve ser a primeira a dar-se ao respeito para ser respeita. Tal como aconteceu há 200 anos, onde as mulheres foram as protagonistas do movimento emancipador, movidas por razões válidas foram elas que contribuíram prioritariamente para a criação do Dia Internacional da Mulher. Não me parece que hoje as correntes se quebrem só com jantaradas com strippers, flores e bebedeiras femininas. Nem muito menos seja esse o ambiente mais adequado para gritar-se vivas às mulheres. 

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