Comentário à missa do próximo domingo
III da Quaresma...
Neste domingo, somos confrontados com um
encontro, entre uma mulher e um homem. Jesus e a Samaritana. É o resultado de
duas pessoas que procuram o mais delicado e profundo da existência. Jesus encontra
fé onde ninguém espera que tal aconteça, no coração de uma Samaritana (uma
estrangeira repudiada pela religião e cultura judaicas). Lembro que os
samaritanos eram considerados de «cachorros» pelos judeus ao tempo de Jesus.
A mulher, que no desenrolar do diálogo,
descobre-se a si mesma, se sente livre, restaurada e encontra o Messias
esperado há tantos séculos. Este encontro fura todas as regras. Jesus nunca
poderia fazer diálogo fora de casa com uma mulher. Uma ousadia. Os samaritanos
eram considerados impuros. Qualquer aproximação entre os povos desavindos seria
considerada uma ousadia criminosa. Porém, o mais importante é que Jesus entra
em diálogo com uma pessoa de quem não se espera nada de relevante e pede ajuda
material, para logo depois conceder o mais importante para vida, alimento
espiritual. Jesus argumenta que todo aquele que beber da água do poço de Jacob,
voltará a ter sede, mas qualquer um que beber da água que Ele lhe der, nunca
mais terá sede.
O caminho que a mulher samaritana percorre
é o nosso caminho de cristãos em busca de Deus. Face à tentativa constante da
samaritana que regressa ao passado, Jesus faz olhar para o futuro e tomar
consciência de que ao mundo chegou uma novidade e que esta renova toda a
vida. A experiência desta mulher revela que cada um pode ter a sua experiência
pessoal com Jesus, basta acolher a água viva do amor que Jesus nos oferece.
Para que a nossa vida não se consuma na
depressão dos dias e para que tenhamos horizontes largos que nos façam ir mais longe
daquilo que nos rodeia apresento-vos a seguinte parábola: um homem sentia-se
continuamente oprimido pelas dificuldades da vida. Foi lamentar-se com um
mestre espiritual e disse-lhe: — Não posso mais! Esta vida é-me insuportável! O
mestre pegou então numa mão-cheia de cinzas e deixou-as cair num copo de água
límpida que tinha sobre a mesa, dizendo: — Estes são os teus sofrimentos. Toda
a água ficou turva e suja. O mestre entornou-a. Em seguida, pegou numa outra
mão-cheia de cinza, e mostrou-a ao homem. Depois, aproximou-se da janela e
atirou-as ao mar. As cinzas dispersaram-se imediatamente e o mar continuou
exactamente como era antes. O mestre perguntou-lhe: — Entendeste o significado
do que eu fiz? Ele respondeu: — Não. O mestre explicou: — Todos os dias deves
decidir ser um copo de água no mar.
Os nossos dias reservam-nos alegrias,
tristezas, desafios e dificuldades de toda a ordem. A questão está em saber
gerir as dificuldades, de modo a não nos deixarmos perturbar por elas. Deixemos
que o tempo seja como o mar onde elas se vão diluindo. Chico Xavier soube dizer
isso de forma interessante e completa: «A gente pode morar numa casa mais ou menos, numa rua
mais ou menos, numa cidade mais ou menos, e até ter um governo mais ou menos.
A gente pode dormir numa cama mais ou menos, comer um
feijão mais ou menos, ter um transporte mais ou menos, e até ser obrigado a
acreditar mais ou menos no futuro.
A gente pode olhar em volta e sentir que tudo está
mais ou menos... Tudo bem!
O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito
nenhum... É amar mais ou menos, sonhar mais ou menos, ser amigo mais ou menos,
namorar mais ou menos, ter fé mais ou menos, e acreditar mais ou menos. Senão a gente corre o risco de se tornar uma pessoa mais ou menos».
A mensagem que Jesus dirige à Samaritana
tem muito que ver com isto, a água da mulher, é água deste mundo, que mata a
sede humana e física - importante também - mas a água viva que Jesus oferece
preenche o sentido da vida e faz-nos voar até ao alto da plenitude da
existência, a eternidade que Jesus nos oferece. Sejamos lúcidos, acolhendo esta
realidade como sentido para a nossa vida enquanto estamos neste mundo para que
sejamos sempre muito felizes e com isso ajudemos os outros a serem também
felizes como nós.
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