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quarta-feira, 28 de junho de 2017

É preciso restaurar o valor do acolhimento

Comentário à missa do domingo XIII tempo comum...
1. A missa do próximo domingo oferece logo na primeira leitura uma ideia muito bonita, a salvação de Deus é universal. A hospitalidade deve fazer parte da vida de todos nós. Deus recompensa com grande generosidade quem pratica o acolhimento como valor essencial todos os dias. Neste relato aprendemos o quanto pode ser rica a nossa vida se a prática da hospitalidade ou do acolhimento dos outros fosse uma constante no mundo.
Não existiriam pobres nem marginais, porque todos encontrariam uns braços amigos cheios de amor pelo encontro da amizade e da solidariedade. Todos seriam cientes do Bem-comum.
A prática da dádiva não nos despoja, não nos empobrece, muito menos nos faz perder seja o que for, muitas vezes ouvimos dizer, «o que eu dou, nunca me faz falta». Na tradição bíblica o valor da dádiva é sempre uma bênção e fonte de vida, mais para quem dá e outro tanto, com toda a certeza, para quem recebe. Toda a dádiva deve ser o mais anónima e secreta possível, desinteressada e sem que se esteja à espera de qualquer recompensa logo à partida.

2. O nosso brilhante São Paulo, ensina-nos que temos uma vida nova depois de sermos cristãos. A jornalista Laurinda Laves definiu assim: «Uma só pessoa faz toda a diferença no mundo. Estamos demasiado habituados a falar dos outros e para os outros, mas "os outros" somos nós. E essa pessoa que sozinha muda o mundo é cada um de nós, pois toda a acção humanizadora ou desumanizadora, se conjuga na primeira pessoa».
Essa «vida nova» que nos fala o Apóstolo dos Gentios, tem claramente que ver com essa responsabilidade que devemos assumir uns pelos outros. O mundo é nosso, nós somos a vida e o mundo, por isso, cada um é chamado a assumir a sua responsabilidade sobre tudo o que se vai passando. Por isso, não dos descuidemos e livremo-nos do «veneno da indiferença» (Papa Francisco). O artista Pedro Abrunhosa no Meo Arena, no concerto solidário com as vítimas dos incêndios no Centro do País colocou a medida nesta frase curta mas sintomática: «temos de cuidar uns dos outros».

3. O Evangelho, parece, pôr em causa a legitimidade e, até, o dever de amar os pais (o 4.º mandamento continua em vigor...) ou os filhos. Não, nada disso. Jesus quer deixar bem claro que os laços familiares não são absolutos, podem chegar a ser um obstáculo ao seguimento e, em todo o caso, o discípulo deve dar sempre a primazia à opção pelo Reino e pelo Mestre. A proposta de Jesus é muito exigente. Porque a verdade com coragem e o amor incondicional, implicam radicalidade, que não tolera meias medidas nem muito menos opções com «paninhos quentes». O cristão ou é ou não é em todos os momentos da vida. Em casa e na Igreja sou cristão, na vida da cidade e no trabalho sou um igual aos outros.
Muitos andam preocupados que o caminho de Jesus deixe de ser de «massas», que tenha poucos adeptos, fiéis. A proposta de Jesus convida à adesão e ao seguimento de uma causa, uma lógica que não é deste  mundo, aliás, choca claramente com a lógica deste mundo. Aqueles que recebem o convite de Jesus, passam a ser discípulos de uma realidade e de uma Pessoa, que propõem uma lógica ilógica para o mundo, que exige uma aposta convicta a tempo inteiro e a «fundo perdido». Porque caso não seja, reduz-se a uma entrega à religiosidade que calhou ser esta, mas podia ser outra, porque é preciso exorcizar o medo da morte e ser um como os outros. Se a nossa adesão se reduz a um comodismo, a uma passividade e ao singelo cumprimento da tradição que alguém ofereceu, revela que estamos longe de perceber qual é o sentido do ser discípulo de Jesus de Nazaré.

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