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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Ano novo problemas velhos

2018-2019
A canga é grande de ano para ano. 2017, carregou 2018, este vai enfiar o barrete a 2019 e este também não vai fugir à regra e não terá também tempo suficiente para não sobrecarregar 2020. É assim ano após ano. Estupidamente interminável. Porque nunca será mais foguete ou menos foguete de artifício que vir a pôr cobro a esta fatalidade.

Se eu fosse o ano novo não aceitava senão coisas novas. Porém, felizmente, eu não sou o ano novo e não tenho o poder da solução para todos os problemas. Mas garanto que se eu fosse o ano novo, o ano velho piava baixinho e não me entregaria a carga de problemas velhos, que ele não encontrou tempo e vontade para solucionar.

Para muita boa gente o ainda saudoso Santo Papa João Paulo II, dizia o seguinte, provavelmente, num daqueles momentos de boa disposição, que também o caraterizava: «a estupidez também é um presente de Deus, mas não se pode abusar». Este prisma, que nos inspira sobremaneira, podemos aferir que muitos dos problemas derivam precisamente do abuso na prática da estupidez. Vejamos então…

- A guerra e todo o género de violências físicas e psicológicas que comandam o nosso quotidiano são estupidez (falo das guerras grandes feitas entre os estados, que derivam do negócio das armas que deliciam os capitalistas e os governantes do mundo inteiro, mas também falo daquela violência quotidiana das nossas casas, por exemplo, a disparatada e muito estúpida violência doméstica).

- As desigualdades ou a falta de equidade neste mundo é uma crua estupidez que alimenta o egoísmo e a maldade humana.

- A destruição do nosso serviço de saúde é o máximo da estupidez quando sabemos à partida que todos mais tarde ou mais cedo necessitarão de cuidados de saúde. A politiquice que o norteia também nos envergonha e o muito malabarismo para justifica o injustificável não nos ludibria.

- A irresponsabilidade dos governos que nós temos são a face visível da estupidez quando abusada, porque governam em função de interesses mesquinhos de alguns grupos económicos ou amigos do partido a que pertencem, mesmo que isso hipoteque a vida de toda a sociedade e das gerações vindouras. E a estupidez é tanta que não olha à destruição da «nossa casa comum», a nossa «mãe terra». Mais ainda quando tudo isso implica altos custos para o erário público, sobrecarregando todos os cidadãos com impostos que levam ao sofrimento à morte.

- A estupidez é ainda desmedida perante a bênção dos poderes que se acasalam pornograficamente para conseguirem os seus intentos mesquinhos. Para isso não falta água benta para lavar as vergonhosas «uniões de fato», que a este nível os poderes justificam na troca de favores mútuos. Resta a caridade que alimenta os pobres ainda a serem mais pobres ou então dependentes do beija mão senhorial desta sociedade obcecada por mordomias exclusivamente para alguns, aqueles que tiveram mais certo.

- A fome pelos tachos agudiza-se ano novo adentro. Um problema velho, mas que o famigerado ano de 2019, sobrecarregará devido à abundância de eleições. Já vemos a estupidez a marcar passo em função desse eldorado do emprego para os incompetentes, os lambe botas do costume que até venderão a alma se para tal for necessário, mesmo até antes de terem vendido a sua progenitora.

- A beatice patética perdurará ano novo adentro, qual problema velho, que se alimenta estupidamente do fundamentalismo, do anacronismo, da hipocrisia para combater quem eventualmente lembre que precisamos de respostas novas para os problemas sempre novos que todos os dias a diversificada humanidade coloca diante dos olhos. O Papa Francisco deve saber bem do que falo!

- A estupidez não terá limites na aplicação das leis e dos critérios para ajuizar e agir perante cada uma das pessoas. Porque, problema sobejamente velho, é que uns são filhos de Deus e outros, mesmo que esperneiem serão sempre filhos da outra... Enfim, as discrepâncias continuarão a existir, uns a acreditar que Maria de Nazaré é Virgem espiritualmente e fisicamente. Mas pode haver que alguns, mesmo assim, duvidem, mas logo serão metidos na ordem, porque o santo dogma do discurso não pode ser violado, a santa tradição não tolera inteligência e a ousada da criatividade. A abusada estupidez não tolera que os contextos tragam também sinais de Deus nos tempos que correm, Deus é estático, a acção de Deus não muda… Ah, perversa estupidez!

Enfim, a lista poderia ainda ser mais preenchida. Mas fiquemos com estes elementos, só para vermos como a passagem de um ano para o outro vem carregada de sofrimento para quem vem. Lutemos, para que o ano de 2019 seja bom.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A família e a sociedade

A família de Nazaré faz-nos pensar um pouco sobre todas as famílias de hoje. A família continua a ser uma forma de crescimento humano e de educação fundamental para a pessoa. E bem sabemos que a sociedade do presente e do futuro depende essencialmente da família.
Todos reconhecemos que a família atual está a atravessar dificuldades muito graves. É certo que assim seja, porque os problemas que advêm daí estão à vista de todos. Porém, requer-se uma acentuada intervenção na educação para que a família retome o seu lugar na sociedade. Mais reconhecemos que a família em crise arrasta consigo toda a sociedade. Cada vez mais, reconhecemos que se todos os pais e todas mães se fossem verdadeiramente responsáveis pelos seus filhos a nossa sociedade estaria melhor e os problemas não seriam tão graves no que diz respeito à convivência social. 
A todos é pedido que se empenhem na educação para que a família continue a ser a principal escola de crescimento e de educação de todos os homens e mulheres, dentro dos parâmetros que a antropologia a definiu. Caso não exista esta consciência entraremos no caos e na perversão geral que tanto nos comove ou escandaliza hipocritamente. O discurso sobre o respeito, a fidelidade e a castidade, é, hoje, muito complicado, porque facilmente se apelidam as pessoas que o defendem ou o vivam no seu dia a dia, de que são retrógradas, cotas e de tradicionalistas. Os valores estão em crise, é visível por todo o lado. Os mais novos não estão com o mínimo de aptidão para receber e viver com valores.
Hoje, o que dá é ser o que o momento proporciona, porque não interessa a estabilidade emocional e a fidelidade aos valores. Nem muito menos que os compromissos perdurem. O que importa é viver a ocasião intensamente. Toda a instituição, como valor perene e estável, sofre muito com esta forma de pensar e viver dos tempos atuais.
Porém, mesmo que estes considerandos sejam um pouco negativos no que diz respeito à família, gostaria de salientar que existe uma multidão de pais e mães muito responsáveis e preocupados. São estes que desejo homenagear e incentivar, manifestando que o seu trabalho dedicado à educação dos vossos filhos é a missão mais nobre e sinal de que o amor de Deus ainda está bem presente neste mundo conturbado. Pelo coração de cada um de vós, Deus revela a grandeza do Seu amor pela humanidade. Bem hajam por terem assumido esta missão de serem pais.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Postal de Natal - Fazer Natal 2018

Para todos os que me têm enviado mensagens de Natal (e também para os outros) aqui deixo o meu agradecimento e retribuo os mesmos sentimentos e desejos. Boa Festa e feliz Natal para todos...
 
Fazer Natal 2018
Fazer Natal acolhendo na terra a surpresa do céu
Fazer Natal vendo Jesus no coração dos desamparados
Fazer Natal é não falhar a festa com o festejado
Fazer Natal é levantar-se do chão e dar largas ao sonho
Fazer Natal é levantar o som do silêncio cada vez mais alto
Fazer Natal não é a tradição, mas a alegre novidade
Fazer Natal é acordar do sono da indiferença
Fazer natal é acordar do sono do ódio
Fazer Natal é acordar do sono da vingança
Fazer Natal é sair do túmulo da passividade
Fazer Natal é tomar a sério o mundo e a vida
Fazer Natal é ser luz no encontro do perdão frequente
Fazer Natal é ser sal condimentando o abraço da paz
Fazer Natal é dizer uns aos outros tu és «meu irmão/minha irmã»
Fazer Natal é humanizar-se para divinizar-se
Fazer Natal é abrir as portas a todos os que têm boa vontade
Fazer Natal é deixar entrar no mundo a lógica do perdão
Fazer Natal é gritar contra a fome
Fazer Natal é gritar contra a guerra
Fazer Natal é recusar a mentira que oprime
Fazer Natal é dizer sempre a verdade que liberta
Fazer Natal é sair das coisas habituais
Fazer Natal é dar azo à novidade criativa do amor
Fazer Natal é dizer não à indiferença 
Fazer Natal é ser fiel porque se deve o respeito
Fazer Natal é libertar-se da lamúria
Fazer Natal é deitar ao lixo o «dizer mal uns dos outros»
Fazer Natal é encontrar Deus não como uma singela tradição
Fazer Natal é encontrar Deus na alegria de ser pessoa
Fazer Natal não é correr como louco a consumir
Fazer Natal é ouvir o Pp Francisco «Por favor, não mundanizemos o Natal»
Fazer Natal é encontrar a luz pobre da gruta de Belém
Fazer Natal não é procurar a crista da moda que dita o mundo
Fazer Natal não é encher-se de presentes
Fazer Natal é não banquetear-se apenas com almoços e jantares
Fazer Natal é descobrir Deus pobre
Fazer Natal é ajudar e acolher ao menos um pobre
Fazer Natal é acolher todas as surpresas de Deus boas e más
Fazer Natal será, enfim, «como José, darmos espaço ao silêncio; se, como Maria, dissermos «eis-me aqui» a Deus; se, como Jesus, estivermos próximos de quem está só; se, como os pastores, sairmos dos nossos redis para estar com Jesus» (Papa Francisco, Audiência geral, 19.12.2018, Vaticano).
Fazer Natal é ser Natal com Deus e nunca fora de Deus…
Bom Natal!
JLR

sábado, 22 de dezembro de 2018

O Magnificat

É Natal. Sejamos Natal para que se renove em nós a esperança...
É visita e conceição,
Tanto é que superabundou a graça
Que me livra de tudo o que me magoa e me ameaça.

Ai o pecado e o desencanto!
Quanto mais sofro esta dor sentida,
Mais exalto o dom com espanto
De ter sido bafejado pela vida.

Esta perplexidade diária,
É humana,
De alguém fatigado
E pouco animado sem nada,
Mas a prescrever como o médico
A receita para a cura esperançada.

Ai, noite escura, salienta a lua cheia,
Almejada e conjugada,
Pelo tu e pelo eu
Oh que beleza de cenário 
E pela luz interior desta vontade, 
Eis o meu desejo solidário.

Meu Deus que momento,
Ditou o encantamento,
dos olhares em visita
Para quem é chegado,
Mas mais ainda para que é visitado.

Foi assim naquele tempo,
É hoje também concebido,
Se for seriamente recebido,
Para quem merece a vida.

Porque se a vê livre e sentida,
Em tudo o que lhe foi concedido,
Para o mal da dor sempre se  liberta, 
Pois para o dom que lhe é próprio, 
Saboreia-o e caminha agradecido.
JLR

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Os três pilares da vida na Igreja

Comensal divino
A Igreja Católica do Concílio Vaticano II, encarnada e reclamada pelo Papa Francisco, reúne três características (pilares) essenciais: a misericórdia, a sinodalidade e uma Igreja para os pobres. Vamos ver em que medida está a ser aplicado estes elementos na nossa Igreja da Madeira.

1. No que diz respeito à misericórdia. No discurso e na pregação estamos como naquele momento evangélico, quando os discípulos de Jesus de olhos bem arregalados, recolhiam os doze cestos de peixe e pão, após a milagrosa multiplicação no meio do descampando do deserto, algures nas montanhas da Galiléia. Quer dizer, muito sobra em discurso, mas escasseia em prática. A intolerância Católica domina, a inveja comanda os corações, a maledicência de uns contra os outros alimenta os egos, não sobra tempo para incluir os que vacilaram no caminho, são uns reles pecadores que não merecem nem segunda nem nenhuma outra oportunidade. Pecou morreu para sempre. Não pode ser. A vida não se faz assim com exclusivistas que se acham melhores do que ninguém, autorizados a sepultar os sentimentos e os valores que no meio da miséria podem emergir com luz renovada. Precisamos de uma Igreja misericordiosa, feliz e de bem consigo mesma para levar adiante um plano que contemple a vida inteira com todos os seus contornos e detalhes, sejam bons ou sejam maus.

2. A sinodalidade. O elemento mais difícil de levar à prática, mas o mais importante, porque com ele realizar-se-á a riqueza desconcertante do Evangelho de Jesus Cristo, o amor ao próximo e a fraternidade. Pediu o Papa Francisco, que este valor fosse vivido por todos os organismos da Igreja. Segundo ele “é impossível tratar o povo de Deus, que foi distinguido pelo Espírito Santo com o sensus fidei, que não se engana, e tem parte na missão profética de Jesus, sujeito meramente passivo a ser instruído por ministros”. A Igreja tem que sair da ideia de que é uma monarquia absoluta, para passar a ser uma fraternidade, onde o dever da transparência passa a ser uma normalidade quotidiana. Ninguém é dono de ninguém, todos por tudo e por todos. Falta-nos esta sensibilidade, para existir verdadeira Igreja vinda do espírito novo que nasceu do Concílio Vaticano II, inspirado pelo Evangelho de Jesus, que este Papa tão bem reclama e encarna. Ele tenta à saciedade experimentar no meio de imensos entraves, naquele Vaticano ensombrado pela poeira secular da teimosia e da «vã glória de mandar»... Os poderes absolutos corrompem absolutamente.

3. Os pobres. Não significa que tenhamos que ser uma Igreja de pobretanas, sem lugar onde cair mortos. Mas dar azo a uma consciência que ninguém precisa estar fora da mesa do pão. Uma Igreja profética que anuncia e denuncia todos os atropelos contra os mais indefesos. Procura contribuir com a sua autoridade para que as políticas sejam de emprego para todos. Uma Igreja a sério, não permitiria que os governos não fossem justos na distribuição da riqueza, muito menos seria pacífica diante da instrumentalização das populações indefesas ao fazer com elas ações partidárias e eleitoralistas. Obviamente, que na Igreja o serviço aos pobres deve ser primeiramente assistencialista, dando de comer a quem tem fome e vestindo quem está nu, mas depois tem que encaminhar para os serviços que cobram impostos, porque estes devem resolver efetivamente estas carências sociais. Mas o que temos, governos que embarcam no assistencialismo e uma Igreja totalmente silenciada perante a adulteração dos papéis. Pobres sempre os terão, mas podíamos, se a honestidade comandasse as instituições, ver a assunção honesta e verdadeira daquilo que lhes compete realmente fazer, fruto da sua natureza. Jesus reclama tudo isso de forma tão viva e tão urgente neste Natal para todos os dias do ano.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Escutar

Terceiro domingo do Advento...
Tudo era palavra verbo novo em comunicação
onde batia leve a criação para escutar
o que o sangue em luz ditava na casa do ser
iluminado pelas mãos e pelo coração.

Tanto cresceu em mim a profusão
da carne quando ouvia as cerejas batendo 
nos campos do poema que se ouvia
conjugado pelas letras soletradas do amor
que dormia no silêncio aconchegado no regaço. 
JLR

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A raiva vai fazer o Natal ser amarelo

1. A revolta dos coletes amarelos em França, marca a agenda destes dias. O Natal vai ser amarelo. Porque todos os problemas que nos acompanham o ano inteiro estão aí bem presentes, sem solução e alguns ainda se agravam mais.

2. As razões que justificam as revoltas são as razões de todos nós. A única de diferença, é que na França não fizeram como nós, saíram para rua e dizem não. Nós, mais acanhados e habituados a sermos «comidos» há muito tempo, ficamos pelo «pagar e calar», basta que fique um «troquinho para matar a fome», dizemos uns aos outros.

3. Vamos às razões que animam a revolta nestes dias. À cabeça relaciona-se com a raiva contra os políticos e contra a elite que domina a vida das sociedades. Estes famosos, mas escondidos, donos disto tudo, que impõem aos governos nacionais impostos desmesurados sobre os combustíveis e outros bens essenciais para vida quotidiana. Daí a reivindicação da subida dos salários, redução de impostos e o fim dos privilégios para a classe política, com uma forte exigência de que se leve a efeito a modalidade das consultas populares relativamente a assuntos que impliquem mudanças cruciais nos hábitos e comportamentos da sociedade em geral. Quem não concorda com isto?

4. Estes desejos são legítimos e estão perfeitamente de acordo com a vontade popular em geral. Caso estas reivindicações não encontrem resposta dos governos ou estes se manifestem totalmente insensíveis à vontade popular, vamos cimentar ainda mais o caminho dos extremismos. Os eleitores nutrem simpatias pelos grupos e políticos com discursos extremistas e fascistas. Em França muitos preveem uma votação ainda maior nas eleições de 2019 na extrema direita de Marine Le Pen, para o Parlamento Europeu. Entre nós não estaremos longe da mesma vontade e dos mesmos anseios…

5. Outra ideia que anda pelo ar e que faz palpitar a revolta prende-se com a confusão do Bréxit. Dizem que fazem bem fizeram os ingleses, que adivinharam vir a caminho uma intervenção da burocracia europeia ainda mais direta sobre os estados soberanos. Eles sabem que a União Europeia pretende «massacrar» ainda mais os Estados, por isso anteciparam-se e fugiram antes. Esta ideia sobre a União Europeia é grave e manifesta uma clara repulsa dos povos europeus em relação às políticas massacrantes, levadas a cabo sem escrúpulos contra vida das sociedades europeias, privilegiando os grandes grupos económicos e financeiros que dominam o mundo. Nós já sabemos bem o que isto significa e como dói!

6. Outro aspeto está relacionado com as alterações climáticas. Os governos parece quererem passar a fatura aos mais pobres, esquecendo as grandes fortunas e os que têm mais recursos. É mais que certo que as alterações climáticas, deverão ser uma tragédia de consequências incalculáveis para a humanidade, mas não podem ser um álibi, para explorar e fazer sofrer ainda mais os indefesos, as populações em geram.

7. A revolta dos povos e as consequentes manifestações nas ruas são a expressão da raiva que neste momento alimenta os povos em geral. As pessoas estão cheias de raiva contra a irresponsabilidade dos seus representantes, que não se olham, encheram-se de vaidades, vivem para o dinheiro, perderam a noção do bem comum e da justiça. As pessoas estão enraivecidas contra a incompetência que as rodeia, estão cheias da fuga aos impostos dos privilegiados e das artimanhas que inventam para ganhar dinheiro fácil, que depois deverá ser reposto com impostos sobre a sociedade em geral. Quem não sabe disto?

8. Este Natal vai ser amarelo outra vez, porque estamos todos amarelos de raiva e a revolta comanda os nossos dias que se seguem, porque a dignidade continua esquecida. Alguns - os mesmos privilegiados - acham que podem tudo e que os povos que os sustentam tudo suportam, como se fossem todos incautos, cegos, surdos e mudos. É verdade, que o povo esquece e até perdoa, mas sabe o que quer e como quer.
Também foi publicado no blogue GNOSE

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Uma Mãe que é nossa


Mãe nossa, que estás no céu!
Santificada sejas mulher mãe em todos os nomes deste mundo.
Venha para nós seres exemplo da força da vocação;
seja feita a nossa satisfação maternal,
nesta terra e nas águas revoltas do pensamento até ao céu.

O pão nosso do amor de mãe para hoje.
Um coração mole és mãe esquece os nossos doestos,
assim como devíamos relevar a quem nos ofendeu.
E não nos deixeis sucumbir à sedução,
mas como mãe abraça-nos perante o mal. Amén.
JLR

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

11 padres 11 exemplares de padres

Não deu para chegar a 12 como é a soma dos excelsos Apóstolos do Senhor Jesus, porque se fossem doze um «desgraçado» seria o pobre Judas. Por isso, para que as almas não invistam na maledicência e andem para aí a imaginar coisas, ficaram 11 padres a falar do seu sacerdócio, todos de famílias decentes, gente do bem, católicas até ao tutano, de corpo e a alma sempre virada para o reino dos céus.
Por isso, foram escolhidos a dedo. Para mim seria impossível escolher apenas 11, mas para quem teve essa nobre tarefa, parece que não foi nada difícil, olhou para os 99% dos padres de Portugal e deduziu logo, sob inspiração divina, nenhum presta, só sobram 11 padres para que a dona Zita Seabra, a convertida mais importante do século XX português, possa editar esta escritura magnífica sobre o sacerdócio, a vocação, o bom exemplo, a obediência à Santa Madre Igreja Católica Apostólica e Romana, entre outras particularidades divinamente inspiradas para que se reproduzisse tão mui nobre documento. Um mimo de literatura que tive a sorte de saborear nalgumas horas. Por isso, já estou safo…
Pudera, com 11 exemplares extraordinários que até faz pena fazerem parte da enxurrada de uma percentagem de 99% de padres energúmenos, cheios de imperfeições que preenchem os presbitérios das Dioceses de Portugal. Toma para aprenderes…
Mas, por favor, dona Zita Seabra, poupe-nos a estas investidas corriqueiras com testemunhos tipo alguma literatura de Paulo Coelho, Susana Tamaro e Alexandra Solnado… Tudo tão igual e mais do mesmo já cansa. Agora veja se coloca a sua editora Aletheia a publicar coisas que se vejam, pois que espelhem o saber e arte da elevada teologia, querendo enveredar pelo caminho das coisas sacras. 
Se alguém quiser ler o livro, não sei onde possam comprar... Mandem mensagem para a dona Zita Seabra.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Duas entrevistas, dois médicos e dois Pedros

Um Pedro é o Dr. Pedro Ramos, Secretário Regional da Saúde. O outro Pedro é o Dr. António Pedro Freitas, Presidente da seção regional da Ordem dos Médicos.
Sobre as conversas de ambos na comunicação social (as entrevistas para mandar picardias a um e a outro) tenho pena um deles não se chamar Paulo, porque podíamos utilizar o aforismo popular, «se Pedro me fala de Paulo fico mais, a saber, de Pedro do que de Paulo». Não sendo Pedro e Paulo, mas Pedro e Pedro, podemos na mesma considerar que quando qualquer Pedro fala do Pedro e do trabalho do outro Pedro, cada um na sua vez, fico sempre, a saber, muito sobre a realidade e sobre ela adensa-se em mim maior preocupação e perplexidade.
Se falar o Pedro, Secretário, a realidade na saúde na Madeira é um sonho, uma maravilha... Sim, certo, ninguém conhece este sonho dourado, mas ele diz que existe. Quando o outro Pedro, o da Ordem dos Médicos fala, ficamos super estragados e reforço o medo de um dia ter que ir bater ao hospital.
Passada a brincadeira sobre o nome dos Pedros, vamos ao que interessa que é o nosso sistema de saúde. Afinal, funciona ou não funciona? É a maravilha de um Pedro ou é aquela desgraça do outro Pedro?
Enfim, vamos ao que vejo e sinto. Há muito boa gente no nosso sistema de saúde. Gente com alma, competente e que faz das tripas coração para salvar os outros, os doentes. Gente que com pouco faz muito. Gente que se compadece dos pobres doentes, que chora com eles, que os ajuda e que os toma como razão de ser do seu trabalho e da sua entrega. Há gente nos nossos hospitais que não merece o que dizem os Pedros. Há gente que deve ser respeitada porque se entrega à causa da saúde com todas as suas forças, sabe o que é o peso da responsabilidade. Não foge aos desafios e dificuldades. Gente admirável e boa…
No meio disto tudo, no mar imenso do positivo e do negativo, a nossa saúde converteu-se num jogo partidário inqualificável e no meio desta desgraça toda, a saúde é um grande negócio cobiçado por muita gente que não se importa de ganhar dinheiro com o sofrimento e com a morte dos outros.
As recentes entrevistas vindas a lume nestes últimos dias de ambos os Pedros, a do Secretário e o da Ordem dos Médicos, recolhem adeptos a gosto e outros a desgosto. Uma recolhe adeptos se são afetos ao partido do poder político vigente e a entrevista do outro Pedro, o da Ordem dos Médicos, recolhe simpatizantes naqueles que se comprazem com a perspectiva de que as eleições estão ganhas e que já têm todos os trunfos na manga para dar solução a esta questão e a tudo o que mexe na Madeira. Tudo enganos, tudo «propaganda» para utilizar uma expressão de um dos Pedros.
A saúde é um problema difícil e cada vez será mais difícil ainda, porque a população envelhece e por isso requer maiores cuidados de saúde. Ninguém faz milagres, mas todos podiam contribuir para resolver os problemas na medida do possível, sem alaridos e muito menos com este ruído terrível que lança ainda mais preocupação e medo na população em geral em relação ao nosso serviço de saúde.
A meu ver, quanto a este assunto da saúde devia dominar a responsabilidade e a ponderação. Total ausência de propaganda. Nenhuma força deve servir-se desta realidade para fazer política partidária, mas todos em convergência e com sentido de responsabilidade, para que sintamos todos que a saúde estará, o melhor possível, garantida quando nos falte. Atenção senhores, vamos ao que interessa mesmo, tenham a humildade de se reconhecerem, encontrem-se e dialoguem. É o mínimo que vos pedimos e exigimos.
Também publicado no Gnose

sábado, 1 de dezembro de 2018

Aquele que vem pela luz das mãos


I Domingo do Advento Ano C – A vinda
Vinde bater à porta de um coração de água
uma fonte que brota entre as mãos do ser mãe
daquelas mães que amassam a vida e o sonho
sobre as pedras soltas da solidão dos dias
quando a sede e a fome são passos em volta
no caminho aberto pelo choro de uma criança.

Amo todas as sombras se são anúncios desencantados
sobre este chão do mundo que caiu em desuso
até se fundir completamente para sempre
naquele inesquecível pôr do sol na linha fervilhante do mar
era a hora de esperar o clarão da tua vinda Senhor
as pontas soltas de uma estrela, o teu anjo
os sons celestes que nenhum grito humano advinha
e os olhos das criaturas por muito amadas que sejam
fazem esquecer esta notícia da luz que vem pelas mãos.

Amo fortemente a ideia de um rosto que imagino ver
sorrindo inclinado para mim em todas as horas
como uma criança que se desprende do colo
desejando andar no chão pelo seu próprio pé.
JLR

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Se religião for apenas poder pelo poder

toda a religião tem doutrina a todos os níveis, que até pode ser a mais luminosa e teoricamente a mais lúcida do mundo. Mas, toda a religião com poderes, com hierarquias, com interesses, com vida comoda, com economia e finanças para gerir… Não se lhe distingue diferença alguma, porque tem uma lógica mundana e que se coloca ao mesmo nível de qualquer outra organização humana, viola descaradamente os seus princípios originários e esquece tudo o que ensinou e exemplificou o seu Mestre. Por aqui podemos deduzir, porque anda debaixo de fogo constante o Papa Francisco e tantos outros que em nome do Evangelho reclamam que a religião se torne verdadeiro serviço para todos. Assim, se percebe também que os verdadeiros inimigos do Evangelho não estão fora do âmbito religioso, mas dentro, particularmente em todos aqueles que não abdicam da vida principesca que a oportunidade da religião lhes confere. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A riqueza de ser cristão

ser cristãos não é fácil. Ser católico é mais fácil. Ser cristão implica estar sempre inquieto, requer uma força de vontade para seguir e pôr em prática o ideal de Jesus Cristo, que não é nada pera doce. Ser católico é mais fácil, porque aquieta a consciência com meia dúzia de orações, umas devoções, umas bênçãos, umas idas à missa algumas vezes no ano ou apenas quando lá tem que ser, a celebração de um baptismo, um casamento, um funeral e uma circunstância qualquer que num determinado contexto não permite a fuga. O Papa Francisco numa das suas missas em Santa Marta exortou os católicos a se tornarem cristãos a levarem «uma vida corajosa» contra a preguiça que invade tantos que estão «estacionados» na Igreja. E definiu o que são e o mal que fazem: «os cristãos preguiçosos, os cristãos que não têm vontade de ir avante, os cristãos que não lutam para fazer as coisas mudarem, coisas novas, coisas que fariam bem a todos se mudassem. São os preguiçosos, os cristãos estacionados: encontraram na Igreja um belo estacionamento». Não se cuidem que estas palavras sejam só para uns ou para alguns especialmente. São palavras que tocam a todos. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

A inteligência distingue as realidades

a fronteira entre o picante e o nojento é ambígua. Pode inevitavelmente variar de pessoa para pessoa, de situação para situação e cada um encontrará argumentos para defender-se diante das mentes mais puritanas ou sensíveis. A moral e a ética nem sempre se conjugam no mesmo sentido. É, por isso, que se a descontracção de uma história escandaliza, também repugna e fere a inteligência saber-se que a tentação de espreitar pelo buraco da fechadura e o deixar-se conduzir pela mentira descarada, a falsidade sem escrúpulos e a sujidade interior da inconsciência perante as artimanhas do pecado faz parte do quotidiano de muita gente. São estes mecanismos que pervertem as fronteiras e revelam outras falsidades contrárias à felicidade, esse bem tão ausente neste tempo que vivemos. O desejo rotineiro de contar uma anedota pode provocar reacções várias depende dos espíritos que as escutam. É sempre necessário inteligência para saber distinguir as situações, os momentos e os modos com que se fazem e dizem as pequenas histórias. Se é nojento contar anedotas que alguns consideram picantes ou porcas, também não é menos nojento, perverso e medíocre ver programas de baixo nível na televisão, onde o palavreado rasteiro, de calhau grosso é regra principal e as cenas de nudismo e de sexo são uma constante.

terça-feira, 27 de novembro de 2018

A partir de uma frase de Saramago

nas errâncias desta vida, encontramos segredos, que se desvelam em palavras orquestradas em frases magníficas que dizem tudo sobre o tudo. Aqui este tudo, é Deus. Esse, de quem nada pode ser dito, pensado, sonhado... É sempre o Outro, o Inominável, a Alteridade por excelência. Então fico-me na sublime frase de José Saramago, que define o máximo sobre Deus e o que nós somos diante dessa realidade que Deus é... Diz assim o autor de o "Ensaio sobre a Cegueira":  "Deus é o silêncio do universo e o ser humano é a voz que dá sentido a esse silêncio". Os ídolos, hoje, parecem desfrutar de uma saúde excelente, enquanto Deus parece suscitar menos fascínio no homem moderno. No entanto, são "ídolos mudos", que não podem salvar o coração do homem na sua mais recôndita necessidade de amar e ser amado. Quantas imitações, quantas distorções do verdadeiro rosto de Deus! Livre-nos, Deus, da crise moderna que é a crise de reconhecer Deus, há o eclipse de Deus, a ignorância de Deus, a aversão a Deus. Muita da esperança humana está a encontrar decepção quando busca respostas fora de Deus. Porque a humanidade subordina a sua vida, o seu futuro e tudo o que possui de bom a outros "senhores", procedendo assim sempre anda longe da felicidade. Faz-nos conscientes desta tragédia, para procurarmos encetar caminhos que nos humanizem de verdade, nos façam perder a vergonha de ter Deus no coração e sermos a voz do silêncio do "amor deste Deus" que nunca falha na Sua justiça.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A procura do centro da existência

neste albergue onde abrigamos a existência, precisamos de energia partilhável, de olhares que se cruzam, uma alma que nos toque (a nossa e a das outros), compreensão que nos abafe, a compaixão que nos console, o perdão que nos faça sorrir, a palavra que nos faça gente como toda a gente e tudo que anima o convívio e a amizade. Nesse pouco que somos, podemos ser muito se existir muita realidade à volta que nos preencha, nós compreendamos e que nos compreenda. Tudo tão difícil, mas tão nobre e enorme. Os tombos interiores são importantes e necessários, porque purificam a alma e fazem abrir os olhos da interioridade. Já vimos que só o material não chega, porque quando ele se impõe obsessivamente, só por si, faz nascer o vazio e o inútil, caso nunca tenhamos predisposição para a partilha de afetos com aqueles que nos rodeiam enquanto vivemos. Os olhos da cara desvelam muito, mas não nos fazem ver tudo.

domingo, 25 de novembro de 2018

Que reino é o reino de Deus

Nietzsche, no seu "Anticristo", proclamará que o "reino de Deus" é uma "lastimável mentira", que serviu para a Igreja fixar os seus valores que chama "vontade de Deus". Nisso consistia o domínio e o poder da Igreja. Neste sentido, para este autor o Cristianismo é uma religião da "decadência" e não da libertação da humanidade. Em muitos momentos da história da Igreja e ainda nalguns meios da Igreja Católica na actualidade, leva-nos a dar razão ao autor de "Assim falou Zaratrusta". Mas, vejamos como é o «reino de Deus» por Jesus. A aparente derrota de Jesus é a lógica do poder posta do avesso. Jesus é um Rei que não se coaduna com as injustiças sociais, pessoais e institucionais. A sua morte na Cruz é o resultado da sua acção contra tudo o que não promove a dignidade da vida e do amor. É o preço a pagar pela sua radical preferência pelos desafortunados deste mundo. Na escola de Jesus, só se ensina uma única matéria: o reino! Este reino que se aprende da vida e do exemplo do Mestre. O exemplo de Jesus e a Sua vida radicam na partilha que resulta na fraternidade, na amizade e no amor ao próximo. É este reino que sonhamos para o mundo, o nosso mundo. Urge acabar com a lógica do domínio do forte sobre o mais fraco, é preciso acabar com a ganância geradora de pobreza. Urge semear a vida para todos. Urge considerar cada um como um ser único e digno de ser amado, como fazia Jesus.

sábado, 24 de novembro de 2018

O mar imenso que é a existência

olhemos o mar que banha a terra e os nossos pés. Ele, evoca a imensidade e a sublimidade de um mistério que não é nosso, mas fazemos parte dele. Mesmo que tantas vezes a nossa vida seja "como o lírio entre os espinhos" (Cant 2,1ss; Mt 6,28). Porém, o lírio estoicamente nunca deixou de nascer e florescer todos os anos para nos alegrar a alma e fazer sorrir o pensamento. Uma manhã e outra manhã, uma vaga e outra vaga ondulante e fria, que sempre vem ao nosso encontro marulhando o silêncio que as encostas imponentemente geram quando me concentro com os olhos da cara fechados mas com os da alma bem abertos.  Nesta profunda oração consolei-me surpreendentemente com as palavras de Goethe "A man sees in the world, what he carries in his heart" (O homem vê no mundo o que ele carrega no seu coração). Como seria tão eficaz para a felicidade do nosso mundo, haver mais tempo e mais predisposição para olhar para "o mar imenso" - utilizando uma expressão de Fernando Pessoa - do coração e nele entrar com a barca da vida até ao porto seguro do amor, porque "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, / Mas nele é que espelhou o céu" (Fernando Pessoa, Mensagem. Poema X Mar Português. Edições Ática: Lisboa. 1959). Melhor sobre este mar da vida que o coração de cada um de nós tem, seria impossível dizer tão magistralmente como o nosso mestre da poesia.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A família que temos e as outras famílias

não há hoje uma antropologia subjacente no debate sobre o fundamento natural da família como veio a ser referido por Thomas Hobbes (1588-1679) quando afirma «que a aplicação da lei natural, conhecida como lei áurea consiste em, ‘Não fazermos aos outros o que não gostaríamos que fosse feito a nós’». A forte concorrência do nosso mundo, o relativismo radical e a luta frenética do mundo da economia e da finança desumanizou as pessoas e daí adveio um conjunto de contra valores que destruíram o fundamento natural da família e quiçá o equilíbrio psicológico e espiritual dos homens e das mulheres do nosso tempo. Dado que a família tradicional se desestrutura e surgem modelos tão diversificados de constituir e ser família, que precisamos de descobrir o sentido da vida na família que nos foi concedida pelo mistério da existência. E por que não alargarmos o ser família até aos colegas de trabalho que a profissão nos desvelou e todos os que o encontro fraterno no dia-a-dia nos vai proporcionando... Precisamos de ponderar todos os gestos e todas as tarefas que realizamos sempre com viva consciência para que nunca venhamos a fazer contra ninguém o que desejamos que nunca nos seja feito. Procedendo assim teremos já meio caminho andado para sermos instrumentos de boa convivência e de saudável transmissão da fraternidade, que, afinal, percebe-se hoje, ser a principal vocação do ser humano. Precisamos por isso de não vacilar perante o egoísmo e abrir o nosso coração à grandeza da vida partilhada no bem para que sejamos felizes e dessa forma possamos contribuir para felicidade de todos os que estão a viver connosco, seja a família de sangue ou seja família social/humana.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A crise da democracia

a democracia não está em crise. E de longe estão esgotadas todas as potencialidades da democracia. O jurista francês Dominique Rousseau, numa entrevista sobre a democracia, considerou que não é a democracia que está em crise, mas a sua forma representativa, porque os seus representantes trabalham muito para que a dita crise surgisse. Daí a inevitabilidade dos populismos, com as suas roupagens fascistas e todos os perigos relacionados com a pior forma de governo que é a ditadura. Dominique Rousseau considera que «o populismo é a doença senil da democracia. Não pode ser o seu remédio». O contexto de crise generalizado em que vivemos tem feito surgir figuras no espectro político que ao invés de nos garantir segurança e confiança no futuro tem feito surgir os piores receios. A crise da família, que sofre uma mutação sem precedentes a todos os níveis, por um lado desagrega-se e por outro ganha contornos nunca experimentados no passado e que augura uma enorme incerteza quando às mentalidades e comportamentos que daí advirão. A crise da escola, profundamente politizada e mergulhada numa confusão geral de burocracias, desconfiança, morte da autoridade e inversão de valores, para não dizer incapaz de acompanhar os ventos do tempo moderno que passa. A crise da cidadania, que se desumaniza e mergulha numa apatia cada vez mais acentuada quanto ao bem comum, as questões ecológicas e tudo o que faz parte da vida na cidade. A crise do Estado, que se converte cada vez mais num «estadão», uma máquina eficaz de controle da vida dos cidadãos, com uma eficácia impressionante a cobrar impostos, mas lento e desleixado na assunção das suas responsabilidades quanto às necessidades dos seus cidadãos (basta observar como está o sistema de educação e o de saúde). Este contexto, faz adoecer a democracia e desencanta os eleitores, que cada vez mais se cansam de votar na «desgraça» que os representa. Daí que tenha sucesso o líder paternalista, com discurso duro contra a democracia que ele aproveita para catapultar o poder, que depois menospreza com a sua ação. Tempos novos, que requerem atenção e clarividência dos homens e mulheres sérios que acreditam no futuro da democracia, na fraternidade e na inclusão de todos os seres humanos independentemente da sua forma de ser e pensar.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A mentira quotidiana

num tempo e num mundo onde se tornou normal mentir, parece, que a vida não tem graça sem uma mentira frequente. A sede e a fome matam-se com a água e com a alimentação respectivamente, a sobrevivência quotidiana mata-se com a mentira descarada, a mentira mais ou menos subreptícia, a mentira às vezes suave ou às vezes forte e a mentira mais ou menos construída, estruturada… Uma grande parte do mundo mente e muita coisa à nossa volta não passa de pura mentira que se reveste de ilusão utópica. O profeta Jeremias há muitos séculos constatou: «É a mentira e não a verdade que prevalece na terra» (Jer 9, 2). Neste sentido advertiu Mahatma Gandhi: «Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida». Mas delicio-me no pensamento de Pablo Picasso quando nos ensina: «A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade». Neste sentido, somos chamados cada dia a sermos mestres da verdade, a procurarmos todas as palavras que digam a verdade. Só a educação e a cultura instruem contra o engano fatal da mentira. Deus chama-nos a assumirmos todas as atitudes que enformam o nosso ser e são o reflexo da vida concreta, para nos tornarmos instrumentos da verdade que salva e mediação do amor autêntico que edifica todas as coisas em função do bem. 

terça-feira, 20 de novembro de 2018

O meu espanto com brincadeiras de gente grande

uma reportagem no JM  começa assim: “Exército 'recruta' crianças para mostrar como é a vida militar. O entusiasmo é grande” (JM - 19-11-2018). Quando vi escarrapachado tal brincadeira nas páginas em papel do jornal, espantei-me com tamanha barbaridade, mostrar trincheiras, metralhadores e outros instrumentos de guerra usados por adultos para ferir e matar. As crianças experimentaram brincando, daí a expressão “o entusiasmo é grande”. A coisa faz pensar, ainda mais se implica crianças que foram induzidas a brincarem com armas que matam. Comentei com algumas pessoas o que viam os meus olhos, não se admiraram tanto quanto eu, pensei, que devia ser coisa minha, por isso, decidir estar calado... Porém, felizmente, encontrei um amigo do facebook, Óscar Teixeira, a lamentar o sucedido desta forma: “O exército é, sem dúvida, uma instituição da maior relevância num país. Mas, infelizmente, pelos piores motivos do bicho homem. Poupem as crianças. Não se pode mostrar às crianças a vida militar como uma brincadeira, pois não se brinca com brinquedos que matam, como também já não se admite que se brinque com chocolates que ensinam a fumar. Pior, se o tabaco mata, a metralhadora foi feita para matar”. Fez acompanhar o seu comentário com a foto que apresento em cima. Corroboro plenamente estas palavras e acrescento apenas que gostaria de ver o nosso exército nos tempos de hoje a fazer actividades que promovam a vida e a paz. Todos devemos trabalhar para a paz. Admiro-me muito que pais e educadores destas crianças tenham aceite uma brincadeira do género de ânimo leve. Mas, enfim, provavelmente, os sentimentos belecistas entre nós parecem estar bem vivos no coração de miúdos e graúdos. Coisa grave quando se espera que a guerra seja um assunto bem arrumado nas calendas da história. A guerra mata e destrói, por isso, não se brinca com coisas sérias, porque a vida é importante de mais para que os resquícios da guerra venham atormentar-nos o bem estar, mesmo que seja por brincadeira.


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A confusão de valores

este domingo, II dia Mundial dos Pobres, fiquei marcado por muitas coisas, mas especialmente, por três frases que devem ser escalpelizadas e fazer-nos a todos pensar o quanto empobrecemos, isto é, o quanto perdemos a noção da hierarquia dos valores e que tudo não se justifica para travar argumentos a favor ou contra as causas, mesmo que estas causas sejam as mais nobres da vida. Recorro a La Palisse para dizer o óbvio, um animal é um animal, uma pessoa é uma pessoa. As duas realidades são distintas. Animais e pessoas merecem todo o respeito e deve ser cuidada cada realidade na sua condição. Não me encaixa bem quando se recorre à causa das pessoas para respeitar e cuidar dos animais. Não me soa bem quando se recorre aos animais para respeitar ou cuidar das pessoas. Precisamos de cuidar, respeitar as pessoas e os animais. Não se menospreza as pessoas quando cuidamos dos animais, não desrespeitamos os animais quando cuidamos das pessoas. Tudo faz parte da criação, tudo faz parte do ser e esse ser inteiro preenche o bocadinho do ser que me pertence. Tudo em tudo e todos com todos, é o que somos e o que devemos ser. Mas vamos às frases e convido os meus leitores a fazerem a vossa interpretação. Primeira: “Dia mundial dos pobres... povo, quem acha que o pobre deve ser mais defendido que gatos e cachorros?” (Por confusões deste género os pobres já foram espancados depois de serem denunciados à polícia e de terem feito pedidos às autoridades para os “limpar” da rua como se de cachorros se tratassem). Segunda, que afinal são duas, ditas por um “poeta”: “A questão das touradas é uma questão de liberdade”; “Mas sou pelas pessoas e sou por qualquer coisa de sagrado que há na corrida, qualquer coisa de sagrado muito antigo. Quem não percebe isso também não percebe a poesia, não percebe a literatura. É difícil explicar isso a quem tem uma posição sectária e fanática”. Enfim, coisas da vida... Aqui declaro que amo as pessoas e gosto muito de animais. Vou continuar a respeitar, a defender e cuidar de ambas as realidades sem que uma condição atropele a outra.

domingo, 18 de novembro de 2018

Os sinais dos tempos movem a vida

a linguagem estalou com o verniz dos tempos que correm, porque a mentira vale muito mais, mas mesmo muito mais do que qualquer verdade. São poucos os que são "escravos" da palavra e muitos os que se limitam a dizer palavras ocas que depois não induzem à fidelidade do seu compromisso. O povo é o bombo da festa. Algumas vezes parece satisfeito até certa medida. Basta-lhe muitas vezes vegetar à sombra da ignorância e comprazer-se com os arrotos da abundância de festas, quiçá, migalhas que caiem da mesa dos corruptos ou dos ditos democratas que este mundo vai gerando para nos desbaratarem a vida. Os tempos andam tristes. Dessa evidência nada nos livra. Ainda estou para crer nas crises que os governantes inventam, para fazer de pretexto para as piores artimanhas contra a vida e a dignidade das pessoas. Por isso, só acredito na crise dos bolsos vazios da generalidade das pessoas. Agora, apesar de tudo fica-nos a garantia (a esperança) de Jesus que, num futuro sem data marcada, o mundo velho do egoísmo, da ganância e do poder pelo poder vai cair e que, no seu lugar, Deus vai fazer aparecer pela nossa ação, coragem e vontade, um mundo novo, de vida e de felicidade sem fim. A nós seus discípulos, Jesus pede que estejamos atentos aos sinais que preanunciam essa nova realidade e disponíveis para acolher os projectos, os apelos e os desafios de Deus, que se assumidos com honestidade conduzem à justiça e à felicidade.

sábado, 17 de novembro de 2018

A alegre surpresa da liberdade em cada dia

o que está em causa e sempre na ordem dia, seja no facto que aponta em relação a Bento XVI seja no que se refere ao papa Francisco, é tão simplesmente a visão da Igreja que se pretende seja o mais próximo do que Jesus anunciou e viveu. Trata-se de uma igreja instalada nos seus privilégios e dogmas que não está em sintonia com a acção de Jesus: acolhimento aos pobres, aos marginalizados, aos rejeitados da sociedade política, social, económica, religiosa. O querer voltar às origens, bem adaptadas ao tempo presente, é o que “trama" o papa Francisco, há quem não queira o desconforto da procura e prefira a instalação no "status quo", o dogmático, o seguro, o cómodo... Dar largas à desconcertante surpresa quotidiana do Espírito Santo é muito desafiador, mas é esse o caminhos do Evangelho. É tempo de nos decidirmos por Jesus e pela Sua mensagem de acolhimento a todos, em especial aos que são mais desprezados.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Ao Padre Martins Júnior

Homem incansável da palavra
Comandante do sonho da fraternidade
Timoneiro do povo nobre da Ribeira Seca
É o «Senso y Consenso» da prestigiosa sabedoria
Indomável nos princípios e valores humanos e cristãos
É Prometeu da Madeira, solto dos grilhões do Tempo e do Templo.

É o padre da palavra profética
É a poesia no chão onde mora o povo
É o homem do mundo e da vida para todos
É a amizade incondicional
É a inquietude inesgotável
É o sonho para o seu povo
É a garantia da esperança
É a alegria da festa
É a luz que aponta o sentido do mundo
É a luz que ilumina «a Igreja é do Povo, o Povo é de Deus»
É a luz na injustiça que verga os pequeninos e os simples
É a luz na libertação da colonia insultuosa
É a luz contra os poderosos que minam tudo
É a luz desobediente na infantilidade «do quero, posso e mando»
É a luz de liberdade diante da opressão
É a luz debaixo deste pedaço de céu carregado de nuvens

- Amado pela simplicidade que pertence ao povo
Cuspido e vilipendiado pelos fascínoras instalados no poder.
Neste chão do mundo é Homem, é Padre, é Teólogo do Verbo
Feito carne no seu povo sujeito último da causa e da missão.
É o mais qualificado da sua geração
E hoje desperdiçado pelo oceano imenso
Deste anacrónio e ignorante incenso bafiento sacrístico
Que nos acompanha os dias. Até ver!

Bem haja por dizer não quando queriam que fosse sim e vice versa.
Parabéns, por mais esta já longa, mas lúcida, Primavera… (JLR)