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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A escravatura branca na Madeira

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1. Foi exibido ontem, 15 de Fevereiro, o documentário: «Colonia e Vilões», no Teatro Baltasar Dias no Funchal. Um registo muito importante sobre a história do povoamento da Madeira. Ninguém sabe a origem do «sistema de colonia na Madeira». Porém, no final do documentário seguiu-se um debate sobre o mesmo. Fiquei perplexo com a tentativa de explicação do historiador Alberto Vieira, que ensaia dizer que tendo em conta a orografia da Madeira, a produção agrícola requer investimentos avultados e para tal, consequentemente, só os ricos e grandes latifundiários é que tinham condições para patrocinar tais investimentos. Sim, até pode ser verdade, mas envolto numa injustiça tremenda e à conta de uma subsequente exploração que roça a escravidão dos pobres «vilões madeirenses».

2. O documentário «Colonia e Vilões» realizado por Leonel Brito entre 1976/77, o qual teve a antestreia a 16/05/1978 na Sociedade Portuguesa de Autores, registando-se a particularidade de nunca ter sido visualizado nos cinemas da Ilha da Madeira, local onde foi realizado. O documentário ganhou uma Menção Honrosa no Festival de Cinema de Santarém. Finalmente, chegou a um grande ecrã na Madeira. O documentário é uma «verdadeira enciclopédia sobre a história da Madeira». Esta é uma leitura interessante que devia fazer pensar todos nós, para que procuraremos sempre uma luta militante contra todas as formas de opressão. As escolas deviam estar atentas ao documentário, estudá-lo com os mais novos de forma muito séria. Nele podemos encontrar a história natural da Madeira, a sua orografia, o povoamento, a religião, a vida social, a cultura, a política, agricultura, a pesca, o turismo, a indústria, os homens e as mulheres, os ricos, os pobres miseráveis, o clero, os nobres e o povo domesticado pela religião e amordaçado pelas forças políticas… O seu dever, seria obedecer com paciência e trabalhar de sol a sol sem piar. 
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3. Mas afinal o que foi a colonia? - A definição da estrutura social e económica da Ilha da Madeira ficou traçada desde os tempos do povoamento. As Ilhas da Madeira e Porto Santo, foram divididas em três capitanias atribuídas a três capitães donatário, Bartolomeu Dias, Tristão Vaz Teixeira e Gonçalves Zarco. Estes, por sua vez, dividiram as terras entre os grandes senhores que as «arrendaram» aos colonos a troco da divisão dos produtos da terra entre o colono e o seu senhor. Normalmente, a produção era distribuída em partes iguais, mas não querendo dizer, que em muitos casos seria para os senhorios a melhor parte.

Facebook: Madeira Quase Esquecida
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4. Um sistema profundamente injusto. Se quisermos alguma explicação para a sua origem, deve concentrar-se na louca distribuição da riqueza que perpassa a história da Madeira. A exploração dos poderosos sobre os mais fracos, que fazem depender a sua ganância desenfreada na miséria dos pobres que produzem descaradamente. O povo paciente da Madeira revolta-se nos episódios conhecidos como a Revolta da Farinha (1931) e a Revolta da Água na Ponta de Sol (1962), tendo sido todas violentamente reprimidas pelas forças do Estado Novo. A ditadura salazarista não olha o povo na miséria, antes pactua com as elites no sentido de manter o camponês aprisionado à sua condição histórica. A colonia, foi das coisas mais tenebrosas que a Madeira viveu e o seu fim só veio em 1977. Este foi o maior grito de libertação que os madeirenses realizaram. E como referiu magistralmente o Padre Martins Júnior no debate, citando uma frase de um colono (se não me falha a memória, o sr. Ferreira): «a terra é de Deus e o seu fruto é de quem trabalha». Foi este espírito que permitiu uma luta pela libertação contra a opressão dos senhorios. Foi seguramente uma espécie de «escravatura branca», que poucos perceberam existir, pois foram necessário passar mais de 5 séculos para fazerem crer ao povo paciente quanto estava a ser explorado indecentemente. 

5. Nota final, o bispo Francisco Santana que aparece em vários momentos no documentário pregando ao povo, revela claramente que deve ter morrido sem perceber o que era o regime da colonia. Pior ainda nunca se deve ter dado conta o que esse sistema representava de pobreza miserável e sofrimento para o povo da Madeira. Um obrigado a quem teve a iniciativa para que esta visualização fosse realizada no Funchal. Quem desejar ver o documentário pode abrir AQUI.

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