Parece serem poucos. Vamos ver. Porém, estou ciente que são suficientes para me atormentarem o espírito e o cérebro.
Tenho medo dos silêncios cobardes e oportunos, que
cimentam relações, muitas vezes de vidas inteiras. Umas relações de
infelicidade consentida para sempre, mas salvas pelo «milagre», fruto do
silêncio e pela oportuna cobardia.
Tenho medo dos heróis do «primeiro lugar», dos
primeiros a chegarem à linha da frente, tantas vezes movidos pelas artimanhas da ganância e
pela sede desmedida de serem sempre mais do que um simples mortal. Mas também
tenho medo dos cobardes da retaguarda.
Tenho medo da dor do estilete cravado no peito sem
tréguas e sem que exista no mundo remédio nenhum que acalme essa dor.
Tenho medo dos que nunca encontraram motivo nenhum
para chorar. Nem muito menos tolerar conviver com as lágrimas alheias.
Tenho medo dos que perderam o entusiasmo pela luta de
uma vida melhor para todos. Onde o pão nosso de cada dia deva ser a paz
alcançada, mesmo que seja pelo preço mais elevado deste mundo, porque quem não
tem compaixão pelas atrocidades que a guerra provoca, mostra que já morreu.
Tenho medo de quem não aproveita cada dia e prefere
sofrer dia a dia.
Tenho medo daqueles que todos os dias ressuscitam o
princípio antigo do desprezo pela morte dos fracos.
Tenho medo dos que não distinguem a diferença entre
a dignidade e a chafurdice humana.
Tenho medo daqueles que logo que morrem os seus
próximos correm com a ponta dos dedos em riste apressados a apagar-lhes o
número do telemóvel.
Tenho medo daqueles que acham que podem vencer até
os mortos, quando está determinado, os únicos invencíveis, são precisamente os
que já morreram.
Tenho medo daqueles que não reparam nas nuvens de
tristeza que toldam a cor dos olhos, quando estes foram feitos para brilharem
habitualmente.
Tenho medo de quem vai morrer sem perceber que deve
lutar a todo o custo para sobreviver e que nunca permita ser tratado como um
animal.
Tenho medo do vírus da tristeza sem fim à vista.
Apostila: Não são assim tão poucos os meus medos… Talvez nenhum destes medos eu consiga vencer,
porém, espero que quase todos ou mesmo todos se afastem de mim e os que me
rondarem, que eu encontre forças para devotá-los à maior distância do meu terreiro.