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Convite a quem nos visita

quinta-feira, 31 de março de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

3 de Abril de 2011
Domingo IV Tempo da Quaresma
O cego de nascença
Santo Agostinho diz o seguinte: «As obras do Senhor não são apenas factos: são também sinais. E, se são sinais, para além do facto de serem admiráveis, devem certamente significar algo. E encontrar o significado destes factos é por vezes bem mais trabalhoso do que lê-los ou escutá-los». A cura do cego de nascença é um desses sinais. Este milagre revela que Jesus é a luz do mundo e vem libertar a humanidade de todo o género de cegueira. É óbvio que esta cura resulta da fé daquele homem, que nasceu com esta enfermidade.
O simbolismo do gesto de Jesus, radica no poder dos sinais e da palavra. É este o poder de Jesus ao contrário do poder deste mundo que se faz com armas e soldados. Por isso, o Seu poder liberta e salva porque radica na verdade e no amor a cada pessoa na sua situação concreta. Deve ser grande a nossa vontade de libertação quando a cegueira interior nos persegue e nos faz mergulhar na escuridão do sem sentido da vida. E a resposta para a cura interior da cegueira não está em nenhum poder deste mundo, mas na força da Palavra que Jesus nos oferece.
O mundo que nos rodeia não enxerga a verdade do bem que Deus quer edificar para todos. A humanidade cega-se com a ganância e o egoísmo que levam à injustiça, à falta de respeito pelos outros, em especial, os mais fracos.
Esta contingência do mundo traduz-se no abandono dos idosos, a violência doméstica, a exploração das crianças, o desemprego, a mentira, a calúnia, o desgoverno das autoridades públicas e, numa frase, ausência de valores em todos os domínios da nossa sociedade.
Assim, falta-nos a todos olharmos Jesus de Nazaré, o verdadeiro libertador e dizermos: «Eu creio, Senhor» para que a libertação das nossas cegueiras seja uma realidade e todos possam convergir para um mundo mais fraterno e justo.
JLR

Teilhard de Chardin: um filho do Céu e da Terra

Grande figura do século XX. Olhado com desprezo pela Igreja oficial. Mas depois acolhido com entusiásmo e todo o seu pensamento reintegrado e tomado como doutrina da Igreja. Morreu em dia de Páscoa. Só podia ter morte no dia mais belo do cristianismo, quem pensou a vida como explosão cósmica. Para nós cristãos a redenção cósmica acontece nesse dia maravilhoso de cada ano, o Domingo de Páscoa. E a morte de cada pessoa é a Sua Páscoa. Repare-se no que diz do Padre Teilhard de Chardin o Papa Bento XVI em 2009. Deveras curioso...

Jesuíta, teólogo e paleontólogo, o padre Teilhard de Chardin no livro a “A minha fé” dirá que «A originalidade da minha crença está em possuir as suas raízes em dois domínios de vida habitualmente considerados antagónicos. Por educação e formação intelectual, pertenço aos “filhos do Céu”. Mas, por temperamento e pelos estudos profissionais, sou um “filho da Terra”».
No dia 24 de julho de 2009 na sua homilia proferida na celebração litúrgica das Vésperas na Catedral de Aosta, o Papa Bento XVI evocava o padre Teilhard de Chardin, a propósito da função do sacerdócio ser a consagração do mundo, com as seguintes palavras: «A função do sacerdócio é consagrar o mundo a fim de que se torne hóstia viva, para que o mundo se torne liturgia: que a liturgia não seja algo ao lado da realidade do mundo, mas que o próprio mundo se torne hóstia viva, se torne liturgia. É a grande visão que depois teve também Teilhard de Chardin: no final teremos uma verdadeira liturgia cósmica, onde o cosmos se torne hóstia viva.»
O padre Teilhard de Chardin muda-se para Nova York em 1951, onde viria a falecer no dia 10 de abril, Domingo de Páscoa, de 1955.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Diocese do Funchal e o Jornal da Madeira

Os subsídios públicos ao Jornal da Madeira (JM) são um escândalo, uma ofensa aos pobres da nossa terra. Não são se trata de centenas nem milhares de euros, mas milhões desbaratados porta fora para alimentar salários gordos e pretensas crónicas jornalísticas para ofender toda a gente, exaltar um desgoverno regional e um partido político sem sentido nenhum no que diz respeito à Democracia.
Porém, mais escandalosos são os argumentos que se aludem para justificar tais subsídios. Pluralidade de informação. Direito ao contraditório. Combate aos comunas do Diário de Notícias. Entre tantas outras balelas fantasmagóricas que se não fossem patéticas ao invés de nos pôr a rir ponha-nos a chorar de vergonha.
A Igreja Católica da Madeira faz parte desta teia. Tem um suplemento chamado de «Pedras Vivas», caderno semanal que sai ao domingo. Nele dá-se conta das actividades episcopais quase em exclusivo, como se a Igreja da Madeira fosse só e apenas aquilo que o Prelado realiza. É certo que a Igreja da Madeira precisa de um espaço para publicitar e divulgar as suas actividades. Algo mais simples, mais barato, mais próximo das comunidades religiosas (Paróquias) e mais liberto de qualquer entidade política.
Alguns poderão acusar-me de já ter participado e colaborado nesse dito caderno religioso do JM, é verdade, colaborei durante 10 anos. Foram os meus primeiros anos de vida sacerdotal. Foi uma aprendizagem. Uma escola. Mas, porque não sou ingénuo, chegado o dia em que a censura aos meus textos se fez sentir, desisti imediatamente. Não podia colaborar mais com uma realidade que violava os meus princípios e, especialmente, a liberdade de expressão, valor essencial dos nossos tempos.
Hoje, tendo em conta todas as dificuldades que o mundo atravessa e, em particular, a nossa região, a Igreja devia distanciar-se daquele sorvedouro de dinheiros públicos que tanta falta fazem noutros domínios mais prementes da população da Madeira.
Acho quase indecente que a Igreja Católica da Madeira faça sombra moral de forma tão pacífica ao que se passa com o JM e o Governo Regional da Madeira. É preciso demarcar-se e corajosamente assumir que não pactuamos com um conluio injusto, que viola vários princípios da Democracia e, a consequente, pluralidade de expressão.
Porém, face a uma Igreja que se entretém com uma sobrecarga de actividades puramente religiosas e que vive de mão estendida perante o Governo da Madeira, esperando pelos subsídios para construir novas igrejas, não lhe fica muita margem de manobra, resta-lhe o silêncio face ao JM e contentar-se com as migalhas que daí advêm e ficar bem quietinha para que não lhe sejam cortados os «queridinhos» subsídios. É assim, e sempre foi, quem tem o dinheiro manda. Pois bem, a Igreja Católica enredou-se na teia que ajudou a criar.
O JM ofende, frequentemente muita gente sem que as pessoas a seguir tenham direito a resposta. Já se passou comigo. Ainda recentemente tive essa experiência. E mais, repito, os milhões públicos que o JM mói por ano são uma ofensa aos pobres da Madeira.
Ora face a isto a Igreja não pode pactuar com um órgão de informação que ofende uma parte da humanidade. Deve demarcar-se disso. E ainda, com que autoridade pede colaboração aos fiéis para darem dinheiro para ajudar os pobres, quando ao lado legitima uma forma tão gastadora de dinheiros públicos que podiam ser canalizados para a ajuda solidária? – Não se compreende e à luz do Evangelho está totalmente inadequado.
Na Madeira o princípio evangélico «Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus!» (cf. Mt, 22, 15-22; MC, 12, 13- 17), sai muito violentado no que diz respeito a este aspecto aflorado nesta reflexão. Que a oração e a conversão Pascal que se advinham nos façam pensar muito a sério sobre o que é melhor para o futuro da nossa terra.
JLR

terça-feira, 29 de março de 2011

Presidente ou presidenta ?

Mais uma com excesso de zelo...
Presidenta Dilma decretou:

QUERO SER PRESIDENTA! SUA EXCELÊNCIA, A SENHORA DONA PRESIDENTA DILMA
Agora, o Diário Oficial da União adoptou o vocábulo presidenta nos actos e despachos iniciais da Dona Dilma Rousseff.
As feministas do governo gostam de presidenta e as conservadoras (maioria) preferem presidente, já adoptado por jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão. Na verdade, a ordem partiu directamente da Dona Dilma: ela quer ser chamadade Presidenta. E ponto final.
Por oportuno, vou dar-vos conhecimento de um texto sobre este assunto e que foi enviado pelo leitor Hélio Fontes, de Santa Catarina, intitulado Olha a "Vernácula"!
Observem:
No português existem os particípios activos como derivativos verbais.
Por exemplo: o particípio activo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o demendigar é mendicante. Qual é o particípio activo do verbo ser? O particípio activo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade. Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a acção que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte. Portanto, à pessoa que preside é PRESIDENTE, e não "presidenta", independentemente do sexo que tenha. Diz-se capela ardente, e não capela "ardenta"; diz-se estudante, e não"estudanta"; diz-se adolescente, e não "adolescenta"; diz-se paciente, e não "pacienta".
Um bom exemplo seria:
"A candidata a presidenta comporta-se como uma adolescenta pouco pacienta que imagina ter virado eleganta para tentar ser nomeada representanta. Esperamos vê-la algum dia sorridenta numa capela ardenta, pois esta dirigenta política, dentre tantas outras suas atitude barbarizentas, não tem o direito de violentar o pobre português, só para ficar contenta."
Recebido por mail... Só para vermos como são os políticos que estão à frente do destino do mundo hoje.
E eu acrescento outro exemplo:
Lá vem toda eleganta a nova presidenta. Visitar o Portugal do Cavaco presidente todo sorridenta. Mostrará destas gentes a pobreza encantada ou envergonhada. Mais a cavaca engalada farão uma emparelhada. E no meio de tantos enganos presidente e presidenta. Vaidosos como são do poder e de saber em total jejum. Violentam o nobre valor que nos resta, a nossa língua comum.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Só como exemplo...

- Revelador... Ao contrário do que se apregoa por estas bandas.

Como exemplo, não dá para esconder que, actualmente, na Igreja Católica Maronita do Líbano há 1.200 sacerdotes. Destes, metade do clero (600 padres) pertence a ordens religiosas e fazem livremente a opção pelo celibato. A outra metade, isto é, 600 padres diocesanos são casados. De acordo com o bispo católico El Hage, esses sacerdotes não criam problemas e são excelentes sacerdotes. Aí, não se fala em problemas com homossexualismo ou pedofilia entre esses padres. Nos últimos dois anos, somente dois sacerdotes abandonaram a batina.
No Oriente Cristão, sejam para Católicos ou para Ortodoxos, os homens casados mantêm o direito de serem ordenados conforme o estado que se encontre (casado ou solteiro) e, somente os bispos e os patriarcas devem ser celibatários como sempre foi na tradição da Igreja. E o mais bonito: não faltam padres, há muitas vocações, diferentemente do mundo ocidental. Em suma, o celibato não tem nada a ver com dogma, mas é uma questão disciplinar, isto é, uma estratégia política e canónica da Igreja, podendo ser revogado por qualquer papa quando quiser.
In abiblia.org

Geração à Rasca - A Nossa Culpa

Nota da redação: Mais alguém reflecte sobre a geração à rasca. Temos, obviamente, de olhar este movimento em todas as suas vertentes. Este texto devia ser lido e estudado por todos os pais.
Um dia, isto tinha de acontecer. Existe uma geração à rasca? Existe mais do que uma! Certamente! Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos. Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor. Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada. Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes. Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou. Foi então que os pais ficaram à rasca. Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado. Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais. São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração. São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar! A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas. Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados. Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional. Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere. Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam. Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras. Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável. Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada. Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio. Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração? Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos! Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós). Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja!, que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida. E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!! Novos e velhos, todos estamos à rasca. Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens. Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles. A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam. Haverá mais triste prova do nosso falhanço? Pode ser que tudo isto não passe de alarmismo, de um exagero meu, de uma generalização injusta. Pode ser que nada/ninguém seja assim.
Recebido por mail...

sábado, 26 de março de 2011

A partilha de bens no divórcio

Nota da redação. Nada melhor que após um frutuoso entendimento uma das partes acolhe serenamente não desejar nada que pertença à outra parte... Tão belo o amor na hora da consumação da ruptura fraterna.
Um jovem de uma família abastada estava a divorciar-se da glamorosa mulher. O seu advogado telefonou-lhe com novidades acerca da partilha de bens. “A boa notícia é que ela não reclamada nada da sua herança.”
“Formidável!”, disse o jovem. “E qual é a má notícia?”
“Bom”, respondeu o advogado, “depois do divórcio ela vai casar com o seu pai!”
Imagem in «Rotinas de Pessoal»

Geração à rasca...

Vale a pena ler… Aí está… Uma parte do verdadeiro retrato.
- Então, foste à manifestação da geração à rasca?
- Sim, claro.
- Quais foram os teus motivos?
- Acabei o curso e não arranjo emprego.
- E tens respondido a anúncios?
- Na realidade, não. Até porque de verão não dá jeito: um gajo vai à praia, às esplanadas, as miúdas são giras e usam pouca roupa. Mas de inverno é uma chatice. Vê lá que ainda me sobra dinheiro da mesada que os meus pais me dão. Estou aborrecido.
- Bom, mas então por que não respondes a anúncios de emprego?
- Err...
- Certo. Mudando a agulha: felizmente não houve incidentes.
- É verdade, mas houve chatices.
- Então?
- Quando cheguei ao viaduto Duarte Pacheco já havia fila.
- Seguramente gente que ia para as Amoreiras.
- Nada disso. Jovens à rasca como eu. E gente menos jovem. Mas todos à rasca.
- Hum... E estacionaste onde? No parque Eduardo VII?
- Tás doido?! Não, tentei arranjar lugar no parque do Marquês. Mas estavacheio.
- Cheio de...?
- De carros de jovens à rasca como eu, claro. Que pergunta!
- E...?
- Estacionei no parque do El Corte Inglês. Pensei que se medespachasse cedo podia ir comprar umas coisinhas à loja Gourmet.
- E apanhaste o metro.
- Nada disso. Estava em cima da hora e eu gosto de ser pontual. Apanhei um táxi. Não sem alguma dificuldade, porque havia mais jovens à rasca atrasados.
- Ok. E chegaste à manif.
- Sim, e nem vais acreditar.
- Diz.
- Entrevistaram-me em directo para a televisão.
- Muito bom. O que disseste?
- Que era licenciado e estava no desemprego. Que estava farto de pagar para as reformas dos outros.
- Mas, se nunca trabalhaste, também não descontaste para a segurança social.
- Não? Pois... não sei.
- ….. E então, gritaste muito?
- Nada. Estive o tempo todo ao telemóvel com um amigo que estava namanif do Porto. E enquanto isso ia enviando mensagens para o Facebooke o Twitter pelo iPhone e o Blackberry.
- Mas isso não são aparelhinhos caros para quem está à rasca?- São as armas da luta. A idade da pedra já lá vai.
- Bem visto.
- Quiriquiri-quiriquiri-qui! Quiriquiri-quiriquiri-qui!
- Calma, rapaz. Portanto despachaste-te cedo e ainda foste à loja Gourmet.
- Uma merda! A luta é alegria, de forma que continuámos a lutar Chiado acima, direitos ao Bairro Alto. Felizmente uma amiga, que é muito previdente, tinha reservado mesa.
- Agora os tascos do Bairro aceitam reservas?
- Chamas tasco ao Pap'Açorda?
- Errr... E comeram bem?
- Sim, sim. A luta é cansativa, requer energia. Mas o pior foi o vinho. Aquele cabernet sauvignon escorregava...
- Não me digas que foste conduzir nesse estado.
- Não. Ainda era cedo. Nunca ouviste dizer que a luta continua? Econtinuou em direcção ao Lux. Fomos de táxi. Quatro em cada um, porque é preciso poupar guito para o verão. Ah... a praia, as esplanadas, as miúdas giras e com pouca roupa...
- Já não vou ao Lux há algum tempo, mas com a crise deve estar meio morto, não?
- Qual quê! Estava à pinha. Muita malta à rasca.- E daí foste para casa.
- Não. Apanhei um táxi para um hotel. Quatro estrelas, que a vida nãoestá para luxos.
- Bom, és um jovem consciente. Como tinhas bebido e...
- Hã?! Tu passas-te! A verdade é que conheci uma camarada de luta e...bem... sabes como é.
- Resolveram fazer um plenário?
- Quê? Às vezes não te percebo.
- Costuma acontecer. E ficaram de ver-se?
- Ha! Ha! Ha! De ver-se, diz ele. Não estás a ver a cena. De manhãchegámos à conclusão que ela era bloquista e eu voto no Portas. Saiuporta fora. Acho que foi tomar o pequeno-almoço à Versailles.
- Tu tomaste o teu no hotel.
- Sim, mas mandei vir o room service, porque ainda estava meio ressacado.
- Depois pagaste e...
- A crédito, atenção. Com o cartão gold do Barclays.
- ... rumaste a casa.
- Sim, àquela hora já não havia malta à rasca a entupir o tráfego.
Nota da redação: Recebido por mail, muito bem observado. Agradeço muito ao amigo que teve o cuidado de me enviar. Muitas das enrasquices tem coisas destas. E estas descredebilizam os verdadeiros enrascados....

sexta-feira, 25 de março de 2011

PEQ 4 - Plano Espiritual para a Quaresma

Mais um PEQ...
Prece:
Senhor, diante da falsa imagem de Deus, duro e justiceiro,
revelaste-te um Pai cheio de carinho, mãe de coração grande,
onde cabem todos os homens, justos e injustos, maus e bons.
Será, Senhor, a misericórdia o Teu lado fraco?
Pai consolador e origem de todo o consolo, ter entranhas de misericórdia,
perdoar sem medida, é privilégio dos fortes.
Senhor, neste mundo governado por homens e mulheres de coração duro,
por multinacionais sem rosto, faz circular nas nossas ruas, nos nossos escritórios,
hospitais eclínicas, homens e mulheres felizes por fazer da misericórdia
o exercício quotidiano da sua vida. Há pobres que pedem pão e azeite, doentes que
reclamam um médico, meninos que choram, oprimidos que clamam por justiça. Todos,
velhos e crianças, necessitam de uma mesa bem posta de misericórdia e de ternura.
Se temos de cair em algumas mãos, que caiamos, Senhor, nas Tuas, cantando sempre as
Tuas misericórdias. Amen.
Mas...
Falta-me, Senhor, paciência: para analisar e saborear as coisas e os sucessos,
para escutar as estrelas, as árvores… para compreender a história.
Falta-me paciência, Senhor, para confiar em que o meu irmão pode mudar,
que se está a estruturar, que também lhe é possível a conversão.
No entanto, quantos clichés impomos!
Quanta dor e quantos muros criados!
Como encerramos a confiança e a vizinhança,
afogados numa “fama” levantada!
Falta-me paciência comigo mesmo:
vou-me abaixo facilmente quando julgo que não avança.
O meu empenho tomba ao primeiro stop.
A chamada à conversão
torna-se-me pura ilusão,
puro slogan sem encarnação real na minha vida.
Tu, Senhor, convidas-nos à misericórdia,
que é muito mais do que a resignação,
muito mais do que a compaixão ou o conformismo.
É acolher o irmão para comungar com ele,
partilhar o irmão para crescer juntos.
Convidas-nos à misericórdia:
a confiar no crescimento do irmão,
na positividade do irmão,
na irmandade do irmão.
A confiar em que nos olhos do irmão há luz
e no seu sorriso há palavra;
a assumir que a dor do irmão é também minha,
que o seu sofrimento é meu.
Convidas-nos, Senhor,
a iniciar uma felicidade nova e paradoxal:
a felicidade de sermos nós sendo os outros,
a felicidade de ser feliz, felicitando-nos,
a felicidade da dor partilhada,
a felicidade da fome alimentada,
a felicidade de uma misericórdia universal e próxima,
concreta e aberta,
simples e atrevida.
Dá-nos, Senhor, a Tua misericórdia,
essa que nos torna família,
essa que limpa o nosso egoísmo e a nossa comodidade,
essa misericórdia que Tu viveste,
da qual nos disseste:
“Quem acolhe um destes,
os meus irmãos mais pequeninos,
é a Mim que acolhe”.
Por fim, ouvimos a oração poética:
A ti dedico-te:
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
De Sophia de Mello Breyner Andersen

quinta-feira, 24 de março de 2011

PEQ 3 - Plano Espiritual para a Quaresma

Nota da redação: Em tempos de PEQ's, proponho este humilde comentário à missa do próximo domingo nesse quadro. Precisamos de planos de conversão sinceros para que o nosso futuro seja mais justo e fraterno para todos.
Domingo III Tempo da Quaresma
27 de Março de 2011

A água viva

Neste domingo, somos confrontados com um encontro entre uma mulher e um homem. Jesus e a Samaritana. É o resultado de duas pessoas que procuram o mais delicado e profundo da existência. Jesus encontra fé onde ninguém espera que tal aconteça, no coração de uma Samaritana (uma estrangeira repudiada pela religião e cultura judaica). A mulher, que no desenrolar do diálogo, descobre-se a si mesma, se sente livre, restaurada e encontra o Messias esperado há tantos séculos.
Este encontro fura todas as regras. Jesus nunca poderia fazer diálogo fora de casa com uma mulher. Os samaritanos eram considerados impuros. Qualquer aproximação entre os povos desavindos seria considerada uma ousadia criminosa.
Porém, o mais importante é que Jesus entra em diálogo com uma pessoa de quem não se espera nada de relevante e pede ajuda material, para logo depois conceder o mais importante na vida de uma pessoa, alimento espiritual. Jesus argumenta que todo aquele que beber da água do poço de Jacob, voltará a ter sede, mas qualquer um que beber da água que Ele lhe der, nunca mais terá sede.
O caminho que a mulher samaritana percorre é o nosso caminho de cristãos em busca de Deus. Face à tentativa constante da samaritana regressar ao passado, Jesus faz olhar para o futuro e tomar consciência de que ao mundo chegou uma novidade e que esta renova toda a nossa vida. A experiência desta mulher revela que cada um pode ter a sua experiência pessoal com Jesus, basta acolher a água viva do amor que Jesus nos oferece.
JLR

quarta-feira, 23 de março de 2011

PEQ 2 - Plano Espiritual para a Quaresma

Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus: «Quanto a vós, não vos deixeis tratar por 'mestres’, pois um só é o vosso Mestre, e vós sois todos irmãos. E, na terra, a ninguém chameis 'Pai’, porque um só é o vosso 'Pai’: aquele que está no Céu. Nem permitais que vos tratem por 'doutores’, porque um só é o vosso 'Doutor’: Cristo. O maior de entre vós será o vosso servo. Quem se exaltar será humilhado e quem se humilhar será exaltado». (Mt 23, 9-12)
Citação comentário:
«Só curiosidade? Alguma forma de pressão? A dança das cadeiras episcopais e dos seus ocupantes ainda atrai público? Afinal, a Igreja continua com peso suficiente para despertar interesse social e político? Concretamente, no caso de Lisboa, não há dúvida de que, embora o patriarca não tenha jurisdição sobre os outros bispos e não seja o "chefe" da Igreja em Portugal, de facto, mora na capital, está mais próximo do Poder e, consequentemente, não é indiferente para a sociedade o nome que se segue.
Seja como for, embora as incidências políticas sejam inevitáveis, um bispo é tão-só um líder à frente de uma diocese, para cuidar do seu povo. Deve, pois, antes de tudo, ser alguém que se destaca pela fé no Deus de Jesus e no anúncio, por palavras e obras, do Evangelho enquanto notícia boa e felicitante para a humanidade. Não pode haver carreiras episcopais, disputando lugares. Jesus foi contundente: "Sabeis que os que vemos governar as nações as dominam, e os grandes as tiranizam. Entre vós não deverá ser assim: pelo contrário, aquele que quiser ser grande seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro, seja o servo de todos." Afinal, não é por falar de dentro do seu Mercedes que um bispo adquire autoridade!»
«Bispos Cristãos» por Anselmo Borges, in Diário de Notícias de Sábado, 19 de Março de 2011
Nota da redação: Lá vamos pela Quaresma dentro. O que vai ficar desta Quaresma em cada um e em cada qual. Nada, se o nosso coração não se abre à conversão e ao sentido da Boa Nova da Redenção que Jesus Cristo inaugura com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Os textos evangélicos quotidianos da Liturgia Quaresmal, abrem-nos caminhos e apontam-se como sinais para uma importante reflexão. O evangelista Mateus, pela boca de Jesus estabelece uma importante ruptura com as hierarquias e coloca-as na intenção original de Jesus. Não parece que Jesus tenha desejado uma hierarquia na Sua Igreja hermética e cerrada tal como a temos hoje. A sua intenção radica mais numa irmandade ou fraternidade, onde todos são uma família de amigos irmãos. A história não fez assim. Por isso, a existir hierarquia será para promover mais a fraternidade; melhor serviço do Evangelho; mais disponibilidade para acolher a diversidade e todos os contrários dentro e fora da Igreja... Daí o alerta do Padre Anselmo Borges, a propósito da dança de cadeiras entre episcopados e episcopáveis, que vem na senda do Evangelho de São Mateus. Retenho mais esta achega para os «apertos espirituais» que muita da religiosidade baseada na Papolatria, na bispofilia cega e no dogmatismo bolorente varrem a nossa Igreja nos tempos actuais. (JLR)

terça-feira, 22 de março de 2011

PEQ 1 = Plano Espiritual para a Quaresma

I
Prece
Senhor, Tu enviaste o Teu Filho
para "cumprir toda a justiça". Ele proclamou bem-aventurados
os homens e as mulheres empenhados
em que haja justiça para todos.
Pôs a lei ao serviço das pessoas
e não quis tornar o homem escravo da regra.
Pai justo e Deus da justiça,
nós, homens, criámos um mundo
de leis injustas, partilhas injustas.
Os pobres, os deserdados, os explorados
ficaram sempre com a pior parte na partilha.
As injustiças têm nome:
fome, dor, analfabetismo,
Desemprego, crianças sem pátria,
homens e mulheres sem terra e sem tecto.
Senhor, que chegue o Teu reino e a sua justiça,
para que saltem de júbilo:
Os que choraram lágrimas de rebeldia
sob o pé injusto dos poderosos.
Os povos explorados e as suas gentes
a quem temos negado o pão e o sal
na mesa comum preparada por todos
e por Ti generosamente abastecida.
Senhor, só cessará a fome de pão,
de igualdade, de humanidade e de cultura
quando os famintos e sedentos de justiça
saciarem a sua fome e sede e fiquem fartos.
II
“Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia”
Os que compreendem e perdoam de coração as falhas dos outros.
Os que estendem a mão ao abandonado,
ao pobre, ao doente e ao que sofre.
Os que respeitam o ignorante, o idoso, o deficiente, o drogado…
Os que se pegam mais ao que nos une do que ao que nos separa.
Os que rezam com sinceridade:
“… como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”
Os que compreendem e perdoam de coração as falhas dos outros.
Os que estendem a mão ao abandonado,
ao pobre, ao doente e ao que sofre.
Os que respeitam o ignorante, o idoso, o deficiente, o drogado…
III
Para recitar
Pai de misericórdia que salvas todas as dores, escuta os gemidos dos homens que Te clamam com um choro tão profundo. Pai bom e acolhedor, que perdoas as minhas culpas e os meus erros, escuta a minha humilde prece e concede-me o Teu perdão. Pai amoroso e optimista, que, apesar de todos os nossos males, confias em nós e nos dás a conhecer a alegria que nasce da conquista apaixonada da justiça. Já conheces as minhas condenações, já conheces a minha impaciência e a minha intolerância, vem salvar a minha impotência e animar a minha esperança. Já vives no meu coração debilitado e sofres com o meu pecado constante, enche-me do teu amor e dá-me forças para lutar. Já choras as minhas dores e doem-te as minhas maldades, deixa-me partilhar os suores e as penas dos peregrinos. Pai bondoso, que sempre nos dás oportunidades, torna o nosso coração generoso para que sempre comecemos a caminhar…

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ser Primavera

Um canto veio de longe sem que se saiba de onde
Era o mistério primaveril que anunciava vida nova
Todos se revestiram do contentamento desse som
Porque não pode ser feliz quem não goste do novo
Que se busca na luz que desflora nas árvores do mundo.
Nesse encantamento também se desvela outra face
Quando sorri a criança
Quando o abraço fraterno acontece
Quando os corações se amam até sempre
Quando a bondade faz caminho caminhando
Quando o amor disse sim amando
Quando a paz disse não ao conflito que mata
Quando o aconchego tomou conta do idoso
Quando o convívio soube ser fraterno em cada hora
Quando toda a vida dança ao som da música da festa
Quando tudo permite que o ciclo nunca se feche…
Ser Primavera…. - Está antes no que não se vê.
JLR

A confissão dos pecados (2)

Isaac o Sírio (século VII), monge perto de Mossoul, santo das Igrejas ortodoxas Discursos, 1ª série, n°34 (a partir da trad. cf Touraille, DDB 1981, p. 215)
«Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso.»
Irmão, recomendo-te isto: que a compaixão tenha sempre a supremacia na tua balança, até que sintas em ti a compaixão que Deus demonstra para com o mundo. Que este estado se torne o espelho no qual vemos em nós a verdadeira «imagem e semelhança» da natureza e do ser de Deus (Gn 1,26). É por estas coisas e por outras idênticas que recebemos a luz, e que uma clara resolução nos leva a imitar Deus. Um coração duro e sem piedade não será nunca puro (Mt 5, 8). Mas o homem compassivo é o médico da sua alma; como que por um vento violento, ele afasta para fora de si as trevas da sua mágoa.
Nota: Eis uma forma de reconciliação com Deus, consigo mesmo e com os irmãos...

domingo, 20 de março de 2011

A confissão dos pecados

Nota da redação: No Tempo da Quaresma, é recorrente o debate sobre a celebração do Sacramento da penitência ou a «confissão auricular» ou a celebração penitencial dita eroneamente de colectiva. Encontro o debate sempre inquinado, com acusações primárias contra quem pensa de modo diferente sobre esta questão. Pois é, como sempre discute-se o folclórico e o acessório perdendo-se o que se deveria falar com altivez, com sabedoria e sem papolatrias pelo meio. Assim sendo cada vez mais acelera o contra gosto em relação à reconciliação, por aí perdem não só uns, mas todos os homens e mulheres. Mais, continuarei a respeitar em absoluto a consciência individual de cada pessoa. E não deixarei de promover todos os espaços possíveis, onde cada pessoa se sinta bem e encontre o melhor caminho para se sentir reconciliada com Deus, consigo mesma e com os outros.
Deixo-vos um pensamento do Frei Bento Domingues sobre este assunto escrito em 2008, mas «no momento em que, de novo, na Igreja, se procura voltar a um certo dogmatismo e a um pietismo, ora rançoso ora pomposo», faz bem centrarmos o diálogo sobre o autêntico conteúdo das coisas, não se deixar enrascar e não enrascar os outros, é já um bom começo para não induzir ninguém à condição de pecador. Não parece honesto entender que Deus tem uma forma única de reconciliação com cada um dos seus filhos e impôr cegamente isso aos outros parece ser um contra senso em relação ao dom da liberdade que o Deus do amor e da misericórdia concede a todos.... O fundamentalismo neste domínio, está a marcar alguns pontos, o que é muito preocupante. JLR
«As orientações na evangelização e na pastoral devem ter em conta a diversidade cultural, a promoção dos direitos humanos e o respeito pela consciência inviolável de cada um. No campo propriamente sacramental, é preciso, antes de mais, respeitar a sua hierarquia. Se a porta é o Baptismo, o mais importante dos sacramentos é a Eucaristia, que é também o grande sacramento da confissão dos pecados, da misericórdia e do perdão de Deus. Esta dimensão, iluminada pela proclamação da palavra do Evangelho, percorre toda a missa. Quando não se ajuda a perceber isto, arruina-se o que se pretende salvar com a "confissão auricular".
Certas práticas da confissão não foram apenas grandes crimes do ponto de vista cristão, foram também uma constante e infame desvalorização da Eucaristia como sacramento do perdão.
A Igreja viveu cerca de 12 séculos sem a norma da confissão auricular e Santo Agostinho nunca se confessou».
Bento Domingues, O.P. In Público 13/01/2008
Imagem em «Anomalias»

sábado, 19 de março de 2011

Balada para os nossos Filhos

Um filho é como um ramo despontado
do tronco já maduro que sou eu
um filho é como um pássaro deitado
no ninho da mulher que me escolheu
Um filho é ver-se um homem prolongado
no mundo da verdade em que nasceu
um filho é ver-se um homem atirado
das raízes da terra para o céu
Meu filho minha vida és meu sangue e meu caminho
meu pássaro de carne meu amor
meu filho que nasceste do ventre do carinho
da minha companheira que deu flor
João é um botão de cravo rubro
Joana é uma rosa cor de Abril
dois filhos que eu embalo
e que descubro
que sendo só dois podem ser mil
Dois filhos do amor e da ternura
que sendo de todos não são de nenhum
e não há no mundo coisa mais pura
que a gente amar em todos cada um
Meu filho minha vida és meu sangue e meu caminho
meu pássaro de carne meu amor
meu filho que nasceste do ventre do carinho
da minha companheira que deu flor
José Carlos Ary dos Santos
Nota da redação: Agora fica mais esta homenagem ao meu pai, que no seu silêncio e aparente ausência, sempre permitiu que o prolongamento da sua criação encontrasse o seu caminho...

O primado da vida interior em São José

Nota: Em dia do Pai, invoquemos São José, Pai de Jesus e esposo de Maria de Nazaré. Desta forma, invoco a bênção de Deus para todos os homens que assumem esta missão da paternidade com todo o amor do mundo e se entregam incondicionalmente à missão de ser pai como a mais nobre tarefa que um homem pode realizar neste mundo... Parabéns a todos os pais.
No Dia do Pai, que se assinala a 19 de março, a Igreja Católica evoca a figura de São José. Em 1989, o Papa João Paulo II escreve a exortação “O guarda do Redentor”, sobre o esposo de Maria e pai legal de Jesus, da qual apresentamos um excerto.
«Também quanto ao trabalho de carpinteiro na casa de Nazaré se estende o mesmo clima de silêncio, que acompanha tudo aquilo que se refere à figura de José. Trata-se, contudo, de um silêncio que desvenda de maneira especial o perfil interior desta figura. Os Evangelhos falam exclusivamente daquilo que José "fez"; no entanto, permitem-nos auscultar nas suas «ações», envolvidas pelo silêncio, um clima de profunda contemplação. José estava quotidianamente em contacto com o mistério "escondido desde todos os séculos", que "estabeleceu a sua morada" sob o teto da sua casa. Isto explica, por exemplo, a razão por que Santa Teresa de Jesus, a grande reformadora do Carmelo contemplativo, se tornou promotora da renovação do culto de São José na cristandade ocidental.
O sacrifício total, que José fez da sua existência inteira, às exigências da vinda do Messias à sua própria casa, encontra a motivação adequada na "sua insondável vida interior, da qual lhe provêm ordens e consolações singularíssimas; dela lhe decorrem também a lógica e a força, própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como foi a de colocar imediatamente à disposição dos desígnios divinos a própria liberdade, a sua legítima vocação humana e a felicidade conjugal, aceitando a condição, a responsabilidade e o peso da família e renunciando, por um incomparável amor virgíneo, ao natural amor conjugal que constitui e alimenta a mesma família".
Esta submissão a Deus, que é prontidão de vontade para se dedicar às coisas que dizem respeito ao seu serviço, não é mais do que o exercício da devoção, que constitui uma das expressões da virtude da religião. (...)
Mais ainda, a aparente tensão entre a vida ativa e a vida contemplativa tem em José uma superação ideal, possível para quem possui a perfeição da caridade. Atendo-nos à conhecida distinção entre o amor da verdade (caritas veritatis) e as exigências do amor (necessitat caritatis), podemos dizer que José fez a experiência quer do amor da verdade, ou seja, do puro amor de contemplação da Verdade divina que irradiava da humanidade de Cristo, quer das exigências do amor, ou seja, do amor igualmente puro do serviço, requerido pela proteção e pelo desenvolvimento dessa mesma humanidade.»
João Paulo II
In O guarda do Redentor

sexta-feira, 18 de março de 2011

Pequeno ensaio para a via-sacra

Dirigindo a Deus a seguinte prece:
Senhor, Tu és o Deus justo e amas a justiça. Que busquemos, antes de tudo, a justiça, a justiça do reino,
seguros de que tudo o resto nos será dado por acréscimo.
Que sejamos homens e mulheres com paixão pelo respeito ao direito
das pessoas e dos povos,
pela justiça na partilha dos bens,
nas leis que regem as relações com os povos nas pessoas responsáveis
que os poderosos não esmaguem os humildes. Senhor, que os nossos egoísmos
e os nossos interesses pessoais
não afoguem a fome e a sede de justiça.
"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados"
Os que não pactuam com nenhuma mentira,
venha ela donde vier, nem se deixam subornar.
Os que não toleram que outros vivam na miséria.
Os que sempre e em toda a parte são honrados
e não permitem o roubo camuflado.
Os que não fazem discriminação de pessoas pela cor da pele, sexo, credo ou situação social.
Leitura para meditação: Is 58, 6-11
"O jejum que eu aprecio é este - oráculo do Senhor Deus: Abrir as prisões injustas, desatar os nós do jugo, deixar livres os oprimidos, quebrar toda a espécie de jugo; repartir o teu pão com o esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir o nu e não desprezar o teu irmão. Então a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; a tua justiça irá diante de ti, e a glória do Senhor atrás de ti. Então invocarás o Senhor e Ele te atenderá; clamarás e Ele dirá: Eis-me aqui! Se tirares da tua casa a opressão, o gesto ameaçador e o falar ofensivo; se deres pão ao faminto e saciares a alma do pobre, a tua luz brilhará na escuridão e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia. O Senhor te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos e serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis. "
Oração final:
Dá-me, Senhor,
a fome de Ti e a sede da Tua Palavra
para saciar outras fomes e matar outras sedes,
para que a justiça, a Tua,
se aninhe no meu coração
e dirija os meus passos e as minhas fomes.

A revelação da Transfiguração

Qual é o Filho que o texto nos revela? Revela-nos este Filho, como acentua a voz: “Este é o Filho”, o Jesus que se encontra entre vós, que vós conheceis, tão delicado, acessível, atraente e simultaneamente tão frágil, vulnerável, humilhado. O Filho é Jesus, que falou do sofrimento e da morte, cujo rosto apavorado contemplareis em Getsémani, empalidecido pela morte sobre a cruz. Este é o meu Filho; este é o ressuscitado, o luminoso, o glorioso. É difícil unir estes dois rostos, e, todavia, este único rosto é o Filho predilecto do Pai, que se aventura até á morte e que reflecte glória até ofuscar os próprios inimigos. É um mistério que nunca conseguiremos compreender completamente, a não ser no céu, e oscilaremos sempre entre os dois conhecimentos.
O Pai é-nos revelado como Aquele que diz “Escutai-O!” e que tem a coragem de revelar-Se neste Filho aparentemente contraditório para nós, porque débil e forte, frágil e poderoso, humilhado e glorioso. “Escutai-O”, isto é, suportai o duplo rosto do Filho, não vos deixeis desviar do seu rosto triste nem iludir pelo seu rosto glorioso. Somente na contemplação dos dois rostos, que na realidade é um, vereis o mistério do Pai que se revela na justiça e na misericórdia, no poder e na condescendência. Somos assim introduzidos naquele conhecimento sublime no qual a Igreja é chamada a progredir ao longo dos milénios mas que ainda não atingiu passados os dois mil anos. Espantamo-nos ao pensar como é possível que só nos últimos decénios a Teologia esteja a aprofundar o dogma da Trindade; é conhecido na sua história descritiva, mas continua escondido este rosto misterioso do Pai, do Filho e do Espírito.

Uma vida bela

Aprofundando o entusiasmo de Pedro, sentimo-nos solicitados a estender esta expressão a toda a vida cristã: “É belo estar aqui”, é belo pertencer a Cristo. (...) Descubro aqui o vosso carisma para o terceiro milénio: proceder de modo a que os outros achem bela a vossa vida e sejam levados a desejar participar da vida das vossas comunidades.
A outra reacção, de temos, de reverência pelo divino, impele-nos a manter o olhar fixo sobre Jesus ainda quando o seu rosto se esconde, como na noite da fé, noite que, provavelmente, estamos a viver na sociedade ocidental europeia. Manter o olhar fixo sobre Jesus com reverência, ainda que a nuvem se torne obscura. Por isso, devemos aceitar o entusiasmo e o temor, o alvoroço e a reverência, (...) sabendo que continuamos a contemplar o rosto de Cristo, presente mesmo na noite e na obscuridade.
Carlo Maria Martini, Cardeal

quinta-feira, 17 de março de 2011

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo II Quaresma
20 de Março de 2011
A Transfiguração
Domingo da transfiguração. Vamos ao encontro de alguns aspectos particulares que o texto de S. Lucas nos apresenta sobre este assunto. Primeiro, «Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago...», do grupo dos Apóstolos, estes eram os principais amigos de Jesus e destacam-se na sua intimidade. Hoje, à maneira desta ocasião Jesus, toma consigo cada um dos seus irmãos e mostra como o silêncio e a oração, continuam a ser os principais caminhos eficazes de intimidade com Deus Pai. E aí revela-nos plenamente qual a vontade do Pai. Parece irreal, mas também é possível escutar hoje nesse lugar da oração e do silêncio a voz do Pai, que nos mostra o rosto «refulgente» do Seu Filho muito amado, que veio ao nosso encontro para nos salvar da morte ou do sem sentido da vida.
Segundo, «subiu ao monte, para orar...», na Bíblia, subir o monte significa ir para mais próximo de Deus, estar mais intimamente ligado à transcendência. O Caminho da oração e do silêncio, requer espaços vazios de barulho, movimentos e azáfamas absurdas. Precisam de um monte, um lugar de paz, onde nos encontremos de verdade connosco próprios e com Deus Pai, que se aproxima sempre de todos, porque ama a todos com amor desmedido e não deixa de ser amor total derramado sobre os nossos corações aflitos.
Terceiro, «Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente...», a brancura significa que o lugar de onde é Jesus, é puro e santo. Tudo o que se refere à transcendência, à divindade de Jesus, apresenta-se com uma brancura refulgente.
Quarto, «Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias...», duas personagens do Antigo Testamento, que nos atestam claramente que tudo o que se está a passar com Jesus enquadra-se com o conjunto de toda a História da Salvação. São eles que falam da morte de Jesus em Jerusalém. Os personagens do Antigo Testamento, mostraram e viveram a expectativa do Messias, está Ele agora presente na humanidade para salvar a todos com a sua acção redentora que passa pela experiência da morte em Jerusalém.
Quinto, «o sono» de Pedro e dos companheiros. Este aspecto mostra-nos como todos nós facilmente nos deixamos levar pela sonolência e nos desligamos daquilo que Deus tem para nos mostrar.
No entanto, repare-se, que quando os discípulos despertaram, maravilharam-se com o poder e a glória manifestada em Jesus, que levou Pedro a pronunciar o seguinte: «Mestre, como é bom estarmos aqui!...», estar na presença de Deus é bom. Pedro revela-nos que esse calor de amor que emana da presença amorosa do lugar de Deus é sempre uma experiência que dá prazer e realiza plenamente as pessoas na felicidade.
Sexto, «veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra...», a nuvem simboliza a presença divina, que abraça todo o mistério da transfiguração que acaba de se dar neste lugar. A nuvem na cultura Bíblica tem a força da presença de Deus que envolve com o Seu amor a realidade onde deseja manifestar-se.
Sétimo e último ponto, «Eles (os Apóstolos) ficaram cheios de medo...», a presença de Deus, por vezes, provoca medo, porque o nosso coração se ocupa de coisas desnecessárias em relação à fé, isto é, em vez de acreditarmos de verdade no Seu amor e na Sua misericórdia, concebemos no nosso coração um Deus todo-poderoso que castiga e se vinga contra nós. Esta visão de Deus é totalmente destorcida e não tem sentido diante das palavras e gestos amorosos de Jesus. Repare-se na expressão que pronuncia a voz de Deus: «Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O». Deus apresenta-nos o seu Filho muito amado e pede a cada um de nós que se deixe envolver pelas suas palavras, isto é, que seja capaz de o escutar porque a Boa Nova que Ele nos trás, é uma notícia que nos salva do sofrimento e da morte. Saibamos, pois, ser bons ouvintes de Jesus porque a Sua vinda para junto de nós é sempre para nos transfigurar daquilo que é limitação deste mundo para a vida eterna.
JLR

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ouvir quem sabe do nosso país

António Barreto
Sociólogo, presidente da Fundação Manuel dos Santos, apaixonado por fotografia e viagens, fala sobre a vida e a morte, sobre viagens de comboio … e, evidentemente, de Portugal no momento presente.
António Barreto lançou há um ano a Pordata: uma base de dados sobre Portugal contemporâneo. Além da Pordata, dos livros low cost e de conferências, tem em mãos diversos projectos. Dois sobre Saúde, seis sobre Educação, seis sobre Justiça: “Estamos a estudar – explica o sociólogo – os manuais de matemática, os de português, os custos da saúde, o segredo de Justiça, a fazer um enorme inquérito sobre a relação entre valores culturais, religião, tradições, democracia, Governo e desenvolvimento económico, e a estudar o que renderam 30 anos de fundos europeus”.
A sua maneira de ver a escola é muito clara: “O que é uma escola? É um sítio onde as meninas vão a correr e os cavalos a saltar e coisas desse género. Isso é uma estupidez total. É um sítio onde se aprende por prazer? Isso é uma total estupidez. Aprender não é lúdico, é trabalho, é esforço”.
Sobre o desenvolvimento económico de Portugal, António Barreto não hesita em apontar caminhos: “Devíamos gastar milhões por ano com o desenvolvimento florestal, com o tratamento das doenças da floresta, do pinheiro, do sobreiro. Não fazemos nada disso, ou quase nada. Devíamos gastar com o mar. Há 30 anos que deixámos de investir no mar ou de gastar com o peixe. Há um único caso em que, em 30 ou 40 anos, Portugal conseguiu vencer em quase todas as frentes, que é o caso do vinho. E curiosamente, no vinho o Estado não meteu o bedelho. Foram os empresários, os técnicos, os enólogos que criaram dezenas de boas empresas, dezenas de bons vinhos que são vendidos no mundo inteiro, que ganham prémios”.
Ficou na memória de todos o discurso que pronunciou nas comemorações oficiais do 10 de Junho de 2009, em que afirmou sem meias palavras que o exemplo que damos na vida vale muito mais que as palavras que dizemos ou escrevemos. “O meu discurso – explica António Barreto - era especialmente para os dirigentes portugueses, para os líderes partidários, os dirigentes políticos, militares, empresariais e sindicais, porque é de cima que vem o exemplo. O bom e o mau. Tantas vezes ouço apelos desses dirigentes à população para que trabalhe mais, aperte o cinto, corra riscos, inove, chegue a horas, seja honesta, etc., e tantas vezes vejo os exemplos exactamente ao contrário... Não sei se fui ouvido, mas era essa a intenção”.
Não pretende ser moralista e muito menos apresentar-se como modelo. Mas custa-lhe assistir à dissolução de antigos valores morais, que eram sólidos e deixaram de o ser. Por exemplo, diz o sociólogo: “A palavra dada. A honradez. Hoje em dia pedir a alguém que seja honrado, que seja honesto, provoca geralmente sorrisos. As pessoas acham que é lírico, que é do século XIX. Sim. Mas a honradez é uma boa virtude. Tento sistematicamente ser honrado. Não sei se serei sempre, ou se poderei ser sempre, mas nunca deixo de o tentar. Por outro lado, assistimos a outra coisa mais arrepiante que é cada pessoa fazer a sua própria moral”.
Mesmo se para tanta gente é sinal de modernidade, cada um seguir critérios éticos somente à sua medida, António Barreto não tem receio de denunciar: ”É terrível, porque isto quer dizer que o princípio e o fim dos seus critérios de acção, pensamento e valores são eles próprios. Como se cada qual tivesse direito a ter a sua própria moral. Se uma pessoa rouba, mata, é responsável por fraudes, diz mentiras ou engana os outros mas diz: ‘Estou muito bem com a minha consciência e isso é o que interessa’, isso não pode ser verdade”.
Os valores comuns não são imutáveis, estão sempre ligeiramente em mudança, mas vão acompanhando a tradição filosófica, política e cultural ao longo dos tempos. Tudo isto vai criando novos valores morais e éticos que duram muito tempo. Não há valores definitivos, nem pode haver. A moral pública hoje é diferente do que era há 100 ou 200 anos, mas é uma construção colectiva dos povos, das nações, dos estados, das culturas, do pensamento. “Mas não pode resumir-se – insiste António Barreto - ao código moral de cada um. Todas as pessoas podem dizer que estão de acordo com o seu próprio código moral, até o Al Capone! Está a tornar-se comum a todos os dirigentes portugueses estarem bem com a sua consciência individual. Isto é aterrador!”.
Confessa que vive simultaneamente feliz e insatisfeito. A coisa que mais gostava no mundo era cantar, mas não tem ouvido. Voz até talvez tenha, mas falta-lhe talento. Também gostava de ser um grande fotógrafo. Para o ser precisaria de dedicar muito mais tempo à fotografia, mesmo se tem belas fotografias e muitas publicadas em livro. Gostava de ter escrito um romance. Fez a maior parte das viagens que desejava fazer. As melhores, para António Barreto, foram as de comboio: “É a melhor maneira de viajar que existe no mundo. Não há nada que se compare. Podemos estar de pé, sentados, passear, andar, namorar, dormir, entrar e sair várias vezes, comer, ler, fotografar, ver a paisagem, jogar, beber, conhecer pessoas... Muitas destas coisas não se podem fazer no carro nem sequer no avião. Tem muito de romanesco, claro. Há muitos livros e muitos filmes passados em comboios, com crimes, amores e desamores vividos em comboios”.
Confessa-se não crente, mesmo se cresceu num ambiente católico. Depara-se muitas vezes com a pergunta sobre o sentido da vida, particularmente quando a morte leva alguém que ama. Conta a experiência da perda do irmão: “Era o meu irmão mais próximo na idade e durante vários anos vivemos juntos ou muito perto um do outro. Fiquei muito triste e sinto a falta dele, mas tenho tão boa memória dele e da minha vida com ele que é isso que me faz viver bem. E posso dizer o mesmo do meu pai, da minha mãe e de todas as pessoas que amei. Tive a bênção de viver muitos anos com o meu pai e a minha mãe, e isso foi uma verdadeira alegria”.
N.M.
(Baseado nas entrevistas ao Jornal I de 17.04.2010, 22.08.2009 e ao Expresso de 05.03.2011)

terça-feira, 15 de março de 2011

Dois juízes encontram-se

Porque rir faz muito bem à saúde do corpo e da alma...

Coincidentemente, dois juízes encontram-se no estacionamento de um motel e, constrangidos, reparam que cada um estava com a mulher do outro.
Após alguns instantes silentes e de 'saia justa', mas mantendo-se a compostura própria de magistrados, em tom solene e respeitoso um diz ao outro:
-Nobre colega, inobstante este fortuito imprevisível, sugiro que desconsideremos o ocorrido, crendo eu que o CORRECTO seria que a minha mulher venha comigo, no meu carro, e a sua mulher volte com Vossa Excelência no seu.
Ao que o outro respondeu:
- Concordo plenamente, nobre colega, que isso seria o CORRECTO, sim... no entanto, não seria JUSTO, levando-se em consideração que vocês estão saindo e nós estamos entrando...

segunda-feira, 14 de março de 2011

O tempo...

O tempo desvela uma presença distante
O tempo encontra a renovação sublime em cada dia
O tempo refaz a cinza do fogo que se ergueu da chama
O tempo branqueia o verde da esperança
O tempo ergue colunas de frio nos montes
O tempo derrete o cinzento da tristeza
O tempo volta não volta monta o brilho do transcendente
O tempo destaca os montes e os vales nas águas cristalinas
O tempo converte chuva em flocos de amor
O tempo faz chegar a hora da libertação
O tempo em festa abraça o perdão
O tempo engravida o esquecimento
O tempo pariu na relação da amizade o nunca mais
O tempo dá o futuro mesmo quando o presente cala fundo
O tempo chega mesmo que a vontade não queira a realidade
O tempo já fez tudo o que o pensamento não permitiu
O tempo escuta toda a surdez do mundo
O tempo desvela o mistério escondido na noite
O tempo faz a festa da esperança quando a perdição fala alto
O tempo mostra o escondido no aterro do ódio
O tempo não sabe guardar para sempre a palavra não
O tempo rega a terra seca da fome
O tempo abre trilhos onde a natureza se féz agreste
O tempo faz do sonho a realidade aqui e agora
O tempo verte o bem nas ruas da tristeza
O tempo ensina a verdade das coisas
O tempo chegou antes da hora esquecida
O tempo converteu em graça a desgraça
O tempo brilhou no olhar da vida para sempre
O tempo chegou para alegria da festa.
JLR

Japão: um fenómeno, muitos actos distintos. E Deus?

Quem pode ficar insensível perante a catástrofe do Japão (11.03.11)? Um mal da natureza com muitos sofrimentos humanos. E Deus no meio disto? Permitiu? Foi sua vontade? Mas o quê? Deus criou os céus e a terra para o homem. Criou-os com natureza evolutiva sujeitos a mudanças, a movimentos, a fenómenos …São uma morada não definitiva para o homem. Ele quer a terra como morada instável; mas o homem apega-se a ela e quere-a como morada definitiva. Deus criou-a em evolução e em ebulição e assim a quer como morada a prazo incerto para cada homem, para todos os homens de todos os tempos(?). E avisa o homem, uma e muitas vezes que a terra e os céus da terra que lhe deu são assim: morada a prazo incerto, muito instável, mas o seu amor é estável. E avisa que é sua vontade que os homens e as mulheres se preparem com as suas boas obras para que mais hoje mais amanhã, de forma inesperada, mudarem de morada para mais perto dele. Ele deseja que a terra em evolução e ebulição sirva para o homem se preparar para sair dela em dia incerto. E o homem, por vezes, teima em viver nela, talvez mal, como se não tivesse que preparar-se para sair.
Os modos de sair são centenas, e poucos estão na mão do homem. O que faz parte dos actos e escolhas dos homens é o BOM aproveitamento do seu tempo de morada nela. Esses actos, escolhas e decisões do AGORA do seu tempo de morada, são da sua responsabilidade, são seus actos, que podem ser bons ou maus.
Não está na mão do homem evitar todo os sofrimentos que vêm desta terra querida por Deus nem os que vêm da liberdade dos seus semelhantes, mas estão na sua mão as atitudes e actos que assumir livremente relativos a esses sofrimentos. As escolhas e seus actos, se livres, bons ou maus, são sua responsabilidade. Deus deseja que a vida que ofereceu ao homem lhe permita momentos para decidir e agir bem antes, e eventualmente imediatamente antes, e durante os mais atrozes sofrimentos que a natureza ou os seus semelhantes lhe provocam. Esses seus actos podem ser bons ou maus e ser preparados por outros actos seus, bons ou maus. Deus quer uma terra assim e quer homens livres que possam escolher fazer o bem e não mal em tempos sem sofrimentos e em tempos com muito sofrimento, enquanto conservam um mínimo de capacidades humanas de escolha. E Deus? Nesses momentos, de segundos talvez, de sofrimento atroz na catástrofe, Deus está ali com cada um a oferecer o seu amor e perdão misericordioso e a dizer “hoje, se quiseres, como eu quero, estarás comigo nas moradas eternas” .
Os terramotos, tesumanis e outras calamidades naturais com sofrimentos, sem ou com morte, são vontade de Deus e não são perda definitiva nem impedem por si mesmos o amor de Deus por cada pessoa. Os sofrimentos estão anunciados. Pela Palavra, a Bíblia, Jesus Cristo no Evangelho, Nossa Senhora nalgumas aparições, e principalmente pelas experiências de todos os dias. Os homens estão avisados desses sofrimentos sempre iminentes, para estarem sempre alerta e escolher no AGORA o que querem fazer. O bem ou mal que os homens fizerem durante eles são actos deles e não de Deus. A vontade de Deus é que sejam actos bons. Os actos maus não são vontade de Deus. O que cada homem fizer de bom nesses sofrimentos ajuda a mudança de morada daqui para lá.
A vontade Deus é que um terramoto seja ocasião para milhares, milhões, de pessoas praticarem actos bons. Mas são, como a vida, ocasião para actos maus, mas esses não são vontade de Deus. Os actos pessoais maus são de quem os pratica e não de Deus. O maior cuidado de Deus é dar e respeitar a liberdade de acordo com a dignidade com que criou cada pessoa. No meio do terramoto o sofredor pode adorar a vontade de Deus ou decidir blasfemar.
O que aí fica resolve o problema do sofrimento? Não. Até à morte e ressurreição haverá sempre sofrimentos alternados com alegrias e tempos neutros quase sem sofrimento ou alegria. E haverá sempre questões. Para nós cristão que contemplamos Jesus Cristo no Jardim das Oliveiras numa situação de optar pelo seu acto livre de fazer a vontade do Pai aceitando o facto da sua morte, facto que vai ser causado por muitos actos maus de ódio e vingança de alguns, e que não são, não podem ser vontade de Deus. Mas ocasionará muitos actos bons de muitos à sua volta e estes são vontade de Deus.
Funchal, 13 (1ºDom. da Quaresma) de Março de 2011
Aires Gameiro

domingo, 13 de março de 2011

A provocação da Quaresma

Os dias mundiais ganharam uma rotina que costumamos dizer que são apenas um álibi para o esquecimento quotidiano do essencial. Para os tempos litúrgicos da Igreja Católica também se poderia dizer o mesmo, são fogachos que servem aos cristãos para se lembrarem de algumas coisas associadas a esses tempos, mas que logo de seguida se evaporam face à normalidade.
Neste domingo, iniciamos na liturgia dos cristãos, a Quaresma. É o tempo da renúncia e da penitência. Hoje, estes elementos têm pouco impacto na vida social e, se quisermos, até na vida dos cristãos. Na bolsa de valores, a cotação destes elementos está pelas ruas da amargura. Até podemos dizer que para a humanidade de hoje o roxo da penitência e da renúncia é preterido por outras cores garridas associadas à alienação do consumo, à preocupação da falta do dinheiro para fazer a tempo a devida prestação às instituições de crédito, à angústia do desemprego permanente, à falta de valores essenciais para que a vida seja uma graça e não uma desgraça, à solidão na velhice, à falta de pão para matar a fome e a tantas outras situações actuais dos homens e mulheres que se encontram no caminho das cores garridas do sofrimento e da morte.
Mas, a cor do roxo também é preterida aos tons berrantes da vontade de poder absoluto unipessoal ou de grupo. É o fascínio pelas cores fortes da ganância e da irresponsabilidade perante os bens deste mundo, que foram destinados a todos e não apenas para alguns.
A provocação da Quaresma está aí, apela à mudança pelo arrependimento e a privação, para que depois as atitudes sejam sensatas, conferindo prioridade ao despojamento. A Quaresma vem lembrar a esta cultura que o acolhimento da morte é um facto central da existência e a experiência desta vida tem como horizonte esse limite. Pensar nele e depois acolhê-lo será benéfico para todos.
Os tempos da globalização e da comunicação rápida trouxeram convicções, crenças cada vez mais fortes, algumas vezes arrogantes, cheias de um convencimento absoluto, irreversível. Este mundo das facilidades da comunicação trouxe a possibilidade do açambarcamento do longínquo e tornou possível o impossível. Esta crença levou as pessoas a uma cegueira perante a hierarquização da vida e esbateu as diferenças culturais. O diferente agora é sinónimo de inferior, desprezível.
Antes da massificação da alfabetização, os poucos que sabiam ler e escrever, estavam no patamar de uma divindade e com isso inferiorizavam os outros, tomando-os de anormais desprezíveis. Este tempo das tecnologias e a comunicação global segue a mesma lógica.
A arrogância cega que a cultura actual e o exercício do poder centrado num pensamento único, numa pessoa, num grupo e numa cor única, defende um desenvolvimento perverso que ao invés de levar ao bem estar social produz um pequeno grupo de muito ricos e uma multidão de pobres. Este modelo de desenvolvimento conduz à destruição do futuro de todos. Porque os recursos da natureza são pura e simplesmente saqueados para encher os bolsos de meia dúzia. Este assalto resulta nos desequilíbrios ecológicos sobejamente conhecidos e fatalmente já experimentados por todo lado. Nós já vimos um pouco… A teimosia em levar adiante um modelo de desenvolvimento injusto, isto é, baseado no roubo e nas dívidas, que só gera mais pobreza, hipoteca o futuro.
Ao pecado da não renúncia e da não penitência, proponho três aspectos. O primeiro é o do respeito e acolhimento da diversidade. Por aqui se deduz que, todas as expressões culturais seriam respeitadas e os povos seriam dignificados. A diversidade de opiniões seria um bem incentivado. O segundo é o do cuidado de todos sobre todos. Este caminho destronaria o «eu» para que o «nós» tomasse lugar no coração de todos e a dimensão comunitária da sociedade seria o maior dos bens. A crise do egoísmo seria mais que evidente. Terceiro aspecto, o bem-comum. Se este valor passar a regular a vida social e se tornar penitência do pecado da gula que absorve o princípio do destino universal dos bens, deixaremos de ouvir falar de pobres, esfomeados, tristes e abandonados.
Se a cor roxa da Quaresma passar a seduzir os homens e a mulheres de hoje, sejam cristãos ou não, a Páscoa será realmente acontecimento de salvação para toda a humanidade.
José Luís Rodrigues, Padre
Texto publicado na edição do Diário de Notícias do Funchal, Secção «Sinais dos Tempos», a 13 de Março de 2011.

sábado, 12 de março de 2011

Apocalipse

Uma onda símbolo da Besta do Apocalipse...
O Apocalipse: último livro do Novo Testamento, de sentido simbólico, que contém as revelações sobre o destino da humanidade, feitas a São João, o Evangelista, na ilha de Patmos. BESTA DO APOCALIPSE, monstro que figura no livro e que simboliza, na linguagem corrente, alguma coisa monstruosa, algo que infunde terror. Porém, a palavra apoclipse significa «revelação». Algumas vezes irroneamente se considera o apocalipse como o fim do mundo.

Dar largas ao ser de cada um *

Citação com votos de bom fim de semana para todos ou bom domingo como cada um preferir de acordo com a sua circunstância....
«O teu tempo é limitado, por isso não o desperdices a viver a vida de outra pessoa. Não te deixes armadilhar pelos dogmas - que é a mesma coisa que viver pelos resultados do que outras pessoas pensaram. Não deixes que o ruído das opiniões dos outros saia da tua própria voz interior. E, mais importante ainda, tem a coragem de seguir o teu coração e a tua intuição. Estes já sabem, de alguma forma, aquilo em que tu verdadeiramente te vais tornar. Tudo o resto é secundário».
Steve Jobs
* Título do autor do logue