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Convite a quem nos visita

sábado, 31 de maio de 2014

A fraternidade

Para o nosso fim de semana... Sejam felizes!
Quanto penso e sei daqueles lombos
Onde repousavam os pinheiros
Mais as sementes que no Verão estalava
Quando passavam os caçadores e os cães.

Nesse tempo da infância o jardim
Onde brincava às escondidas dos amigos
E dos irmãos que se mostravam manhosos
Com todos os sorrisos no meio dos arbustos
Num domingo quase na hora de regressar às mães.
Ai como tinha mais forte o som presente
Do mar imenso do amor de Deus
Na alegria da fraternidade.

José Luís Rodrigues

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A psicologia do povo explica mais que a inteligência colectiva

O povo forma-se numa «massa» que, como tal, pensa pouco e quando se fala de «inteligência colectiva», nunca sabemos a que se refere e não é mais do que um singelo eufemismo para justificar opções e caminhos que pouco ou nada servem o colectivo, mas antes, as mais puras megalomanias de algumas cabeças pensantes. Melhor dizendo, interesses pessoais ou grupos dominantes na economia e na sociedade em geral. Se quisermos, partidos e toda a clientela que tais organizações permitem proliferar.
O povo, o nosso povo, é simples e corre pelo bem. É um povo festeiro, alegre e aproveita o mais que pode todos os momentos onde a festa, a borla e a música são ingredientes seguros para seduzir.
O pão e o circo sempre foram um meio muito utilizado para cativar o povo ou dominá-lo pela embriaguez da alegria e do enfartamento de que tudo é fácil. Estas frivolidades sempre foram utilizadas pelos poderes que desejam perpetuar-se no tempo. Um povo alegre e farto não é sinónimo de que esteja bem. Antes pode ser que se deixa conduzir por ilusões até ao dia em que realidade lhe bate à porta.
Por aqui se explica a elevada abstenção nas várias eleições e particularmente nas europeias. Mais ainda explica como é que um povo espoliado, reduzido à fatalidade da pobreza, sugado quanto à carga fiscal até ao tutano, os poucos que votam, voltam a votar sempre nos mesmos, isto é, nos autores da sua desgraça. Essa coisa da «inteligência colectiva» parece cair por terra diante da «psicologia do povo».

quinta-feira, 29 de maio de 2014

A abstenção exige outro género de debate

Seria muito importante que ao invés de andarmos tão desviados do debate, nos concentrássemos no essencial, debater que 66% de abstenção (recorde europeu) nas eleições europeias em Portugal sem contar com nulos e brancos, significa um NÃO redondo às políticas de austeridade desumana e desigual deste governo, às ajudas-negócio chorudo do FMI e à Merkelização do nosso país e é também contra todos os políticos de cá e de lá tecnocratas que não olham às pessoas e à sua situação concreta, sem que abdiquem de nenhuma mordomia para darem o exemplo. Pois, enquanto forem infiéis de promessas e de compromissos que assumem no tempo da campanha diante do povo, não se respeitam nem muito menos serão respeitados.
Enquanto se mantiver tudo isto a abstenção não baixará e aumentará cada vez mais pondo em causa o valor mais importante da democracia, que reside nessa preciosidade de ouvir o povo quanto à prática das políticas sobre a sua vida e sobre as pessoas que desejam para governantes.
As tricas partidárias de quem ganhou ou quem perdeu, se a perda ou a vitória se foi assim e assado, não leva a nada. Empobrece o debate e desencanta ainda mais o eleitorado, já sobejamente cansado das tricas e laricas das lógicas paralelísticas dos partidos políticos. Esperemos por alguma lucidez e que se recomponham, a bem da democracia, pela lógica do serviço ao bem comum, os partidos políticos que por hora entraram em demanda por causa das suas lideranças.   

Vamos elevar a vida

Comentário à Missa deste domingo da Ascensão, 1 Junho de 2014.
O que significa a Ascensão de Jesus? Ou, então, o que significa dizer que Jesus subiu aos céus? - Com toda a certeza que Jesus subiu aos céus. Porém, dizer que Jesus subiu aos céus é o mesmo que dizer: "ressuscitou", foi glorificado, entrou na glória de Deus.
Cristo subiu ao céu, o lugar do Pai e com Ele todos nós subimos à mais alta dignidade, tornamo-nos «coisa» divina: realidade divinizada, semelhante àquilo que Deus é, eternidade e plenitude. Santo Agostinho afirma-o de forma magnífica: «Considerai, com efeito, irmãos, o amor da nossa cabeça. Já está no céu e ainda trabalha sobre a terra, enquanto sobre a terra se afadiga a Igreja: aqui Cristo tem fome, tem sede, está nu, é forasteiro, doente, preso. Ele mesmo o disse: que sofria tudo aquilo que sobre a terra o seu Corpo padece. No fim dos tempos separará o seu corpo para a direita e os outros, pelos quais agora é oprimido, para a esquerda» (S. Agostinho, Sermão 137, 1-2).
No entanto, inquieta-nos saber que o corpo de Jesus foi colocado no sepulcro. Deus não precisava de nada do Seu Corpo material para tomar o Corpo de "Ressuscitado" que São Paulo chama de "corpo espiritual" (cf. 1Cor 15, 35-50). Numa palavra o mistério da Ascensão, por um lado, é o momento da partida de Jesus para Deus Mãe e Pai, mas, por outro, é também o momento em que toda a humanidade com Ele e Nele se vê elevada ao mais alto da dignidade. Isto é, em Jesus elevado ao céu toda a humanidade é tomada por Deus para se divinizar também. E nesta perspectiva fica confirmada a palavra de Santo Ireneu quando nos diz o seguinte: "em Jesus Cristo, tornamo-nos todos deuses".
Esta expressão parece forte esta expressão, mas revela-nos a densidade do amor de Deus encarnado na história concreta do mundo. A nossa condição material, perante o mistério da Ascensão de Jesus Cristo, assume o sentido total e último, o da glória de Deus. E, dessa forma, participamos efectivamente da divindade de Jesus e tomamos parte da mesa do banquete da plenitude da graça que Deus concede a todos os que se deixam envolver pelo seu amor.
Lucas, revela-nos que toda a realidade da terra: amores e desamores, sucessos e desgraças, aventuras e desventuras, justiças e injustiças, alegrias e tristezas, esperanças e desesperanças, saúde e doença, ausência de dor e sofrimento e até os factos mais absurdos, como uma morte cruel... Nada está fora do plano de Deus. Tudo em Jesus se envolve na "multimédia" do amor. A isso chamamos de salvação, que se encontra na elevação da vida que devemos manifestar nas palavras e nos gestos concretos.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Deus é humor

Muitas vezes medito em títulos extraordinários sobre Deus: «E até Deus se ri»; «Deus é humor» e «Deus é alegre». Creio, portanto, que tudo desta vida terá sempre a protecção do infinito humor de Deus, que desatou o riso ao sisudo Abraão e a Sara amargurada (cf. Génesis 17, 17; 18, 12-15). Aliás, quando no presente o deserto é grande e não parece haver futuro, só o riso poderá ser fecundo. Esta foi a conclusão de Sara, a estéril: «Deus fez-me rir e quantos souberem do motivo do meu riso rirão também» (Génesis 21, 6-7). O Deus extravagante enche de alegria aquele que cai no desespero.
Por fim, descubro na Igreja figuras exímias na arte da extravagância e da descontracção, lembro apenas três nomes bem conhecidos de todos nós, João XXIII, João Paulo I e o Papa Francisco, que souberam quebrar um passado todo ele marcado de forma voluntária ou involuntária pela rigidez de normas inadequadas confundidas ou autorizada com a vontade de Deus.
Aliás, descubro na doutrina da Igreja mais recente uma imagem de Deus muito mais aberta e mais de acordo com a imagem dos evangelhos. Deus é festa e alegria. Por isso, partilho com todos os que se impressionam com o sofrimento e com a morte de Jesus os dez mandamentos da alegria: 1. Procura um objectivo para tua vida; 2. Tens que valorizar o que tens de bom; 3. Aceita as tuas limitações; 4. Trabalha no que mais te agrada; 5. Vai-te preparando em tarefas agradáveis para quando fores velho; 6. Mata o ódio interior; 7. Pensa nos outros; 8. Revê os cálculos das tuas avaliações; 9. Sorri, canta, assobia, faz o que sabes; 10. Descobre que Deus é alegre (cf. Félix Núñez Uribe, Deus é Humor, pag. 137).
Pode-se rir de tudo? – Penso que sim. Porque como dizia Voltaire, «o riso humano é, na sua forma primitiva, um cerimonial de salvação». Em todos os casos o riso é fecundo. E já todos sabemos que «rir é o melhor remédio».

terça-feira, 27 de maio de 2014

O maior político da actualidade

A viagem do Papa Francisco à Terra Santa foi anunciada como uma viagem estritamente religiosa, porém, tornou-se numa viagem mais relevante politicamente do que religiosamente, se é que se pode dissociar uma realidade da outra. Cada vez mais me convenço que não. A viagem do Papa Francisco demonstrou isso mesmo e revelou que este Papa é o maior político da actualidade. Um verdadeiro líder mundial. Nem Obamas, nem Merkels, nem, Putins, nenhum líder político de hoje consegue suplantar a presença e a capacidade política que o Papa Francisco apresenta com os seus inesperados gestos.
Tudo é simbólico no Papa Francisco. Recordo a sua oração diante do muro da vergonha com a testa encostada à parede, que revelou claramente uma denúncia contra todas as formas de divisão e de desordem que este mundo continua a levantar diante de si para se afastarem uns dos outros, suscitando ódios e vinganças desnecessárias. Este gesto deve ter incomodado profundamente as autoridades israelita que promovem e legitimam este muro betuminoso para fomentar a divisão entre povos.
Lembro o encontro interessante do Papa Francisco que se reuniu no domingo passado com o patriarca ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu, na Basílica do Santo Sepulcro, em Jeruslém, para um encontro ecumênico histórico pela união entre os cristãos do Ocidente e do Oriente. Aqui o Papa explicou o significado deste encontro: «Nessa basílica, para a qual todo cristão olha com profunda veneração, chega a seu ápice a peregrinação que estou fazendo junto com meu amado irmão em Cristo, Sua Santidade Bartolomeu», disse o papa.
Logo depois também afirmou  Papa que «Peregrinamos seguindo as pegadas de nossos predecessores, o Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras, que, com audácia e docilidade ao Espírito Santo, tornaram possível, há 50 anos, na Cidade Santa de Jerusalém, o encontro histórico entre o Bispo de Roma e o Patriarca de Constantinopla».
À celebração «ecumênica», marcada por cânticos e solenidade, assistiram representantes das diversas confissões cristãs, entre elas greco-ortodoxos, armênios ortodoxos e franciscanos, os quais oraram juntos e publicamente pela primeira vez nesse lugar sagrado para o Cristianismo.
Na declaração, de dez pontos, Francisco e Bartolomeu se comprometeram a respeitar «as legítimas diferenças, pelo bem de toda a Humanidade». Também concordaram em trabalhar para que «todas as partes, independentemente de suas convicções religiosas, favoreçam a reconciliação dos povos». Um momento de relevada importância para reconciliação e par ao entendimento entre os cristãos.
Mas a cereja em cima do bolo está no convite que é feito aos dois líderes dos países desavindos, Palestina e Israel. O Papa Francisco convidou em Belém, o presidente de Israel Shimon Peres, e o presidente palestineano, Mahmud Abbas, a orar pela paz no Vaticano. O convite foi feito assim: «Quero convidar o presidente Abbas e o presidente Peres para que, junto comigo, elevemos a Deus uma oração pela paz. Ofereço minha casa, o Vaticano, para esse encontro de oração», disse, de maneira inesperada, no fim da missa. Brilhante gesto. Não o faz no sentido de virem à casa do Papa para negociações, mas a rezarem pela paz. Melhor é impossível.
Mas, há mais gestos densamente políticos que saliento só para nos fazer pensar e aprendermos o quanto a nossa vida perecisa de ser vivida com gestos simbólico, mas carregados de mensagem que reconciliem e convoquem para o caminho da paz.
1.Papa Francisco beija a mão de um sobrevivente dos campos de extermínio nazistas
2. Jerusalém, Cidade de Paz: Papa Francisco e o presidente de Israel, Shimon Peres, plantam uma oliveira no jardim do palácio presidencial.
3. Papa reza pela paz junto ao Muro da Lamentações
4. O Papa Francisco abraçou-se com o seu amigo o rabino judeu Abraham Skorka e o muçulmano Ombar Abboud em frente ao Muro das Lamentações em Jerusalém, numa cena que já foi denominada como o «abraço das três religiões»: Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Para onde vamos com esta Europa?

Só para lembrar... Dado que vimos com estas eleições europeias uma Europa a caminhar para o abismo. Um Parlamento Europeu tomado pelo que há de pior dos extremismos (nazismo e extrema direita), mais ainda, o enorme alheamento dos eleitores europeus, com os países, incluso o nosso, a revelar abstenções recordes. Que nos faça pensar tudo isto que comecemos a perguntar: quo vades Europa? - Entre nós, país e Madeira, os partidos brincam entre si e ao mesmo tempo a nossa vida vai dia para dia reduzindo-se a cinzas. Acordem, enquanto é tempo...

«O sonho dos fundadores da UE não era a constituição de um império nem de uma relação de dominadores e dominados. Conseguiram, por isso, sessenta anos de paz, de desenvolvimento e de qualidade de vida, como nunca tinha acontecido na Europa. Entrar para a UE era o passaporte para um mundo de possível prosperidade, espantosamente alargado com a queda do muro de Berlim.
Que aconteceu à União Europeia para que, depois de um casamento auspicioso, cresçam as vozes anunciando um divórcio ruinoso ou a ameaça de um futuro da União a várias velocidades? A alma da Europa tem de ser a de um por todos e todos por um, implicando tanto os mais fortes como os mais débeis, cada um segundo o seu talento. A relação de dominadores e dominados só pode produzir desconfiança mútua.
Neste momento, duvida-se de tudo e está tudo posto em causa a começar pelo projecto social europeu. Seria importante corrigir o que deve ser corrigido, mas sem esquecer o que levou anos e anos a construir.
Que podem fazer os cristãos por uma Europa que seja de acolhimento dos seus membros e aberta a todos os povos? A concepção cristã da vida pode encarnar-se em qualquer povo e cultura. Em Jesus Cristo são derrubados os muros da separação. Ele não é mais de um povo do que de outro. Lembremos, no entanto, o seguinte: a hierarquia da Igreja tem insistido que sem as raízes cristãs, a Europa é incompreensível. João Paulo II multiplicou os pedidos de perdão pela infidelidade dos cristãos ao Espírito de Cristo que nos lembra: não podeis servir a Deus e ao Dinheiro».
Frei Bento Domingues

sábado, 24 de maio de 2014

Acreditar

Com votos de um fim de semana muito feliz para todos...
Vida que se concentra no líquido da sede
E senti saudades do rosto do desejo.
Na porta que se abre na revelação da fé
Quando sei que da água beberei
Na fonte de uma face alegre na hora do amor.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 23 de maio de 2014

O Defensor de todos os males

Comentário à Missa deste domingo VI Páscoa, 25 maio de 2014
A Palavra de Deus do VI Domingo da Páscoa proclama a entronização de Jesus como Messias e Salvador. A entronização não assinala o fim, mas o início do reinado: Jesus inaugura, pois, uma nova presença, plena, eficaz e salvífica, no meio dos homens e mulheres de cada tempo histórico. Porém, o mais interessante desta mensagem radica no facto de nos apontar para uma nova etapa no processo da salvação de Deus. Jesus vendo que está para breve a Sua partida, propõe um novo caminho, orientado pelo «Defensor», «o Espírito da verdade». De acordo com este caminho São Paulo afirma: «Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens» (1Cor 15, 19).
Jesus aponta uma realidade para que a nossa fé não radique só e unicamente naquilo que somos e queremos para esta vida, mas vá muito mais além. Esta ideia do Defensor «o Espírito da verdade», é muito bonita e encoraja-nos a acreditarmos na vida presente e na vida futura. Nada nos deve derrotar ou fazer temer, o nosso Defensor nos guardará de todos os males. E tomando as palavras de São Paulo, descobrimos que essa vida futura não foi só para Jesus Cristo, mas para todos os crentes. Ora vejamos: «Se com Ele morremos, com Ele viveremos; se com Ele sofremos, com Ele reinaremos» (2Tm 2, 11-12). Nesta palavra descobrimos o sentido para esta vida terrena e uma resposta para a inquietação da realidade «invisível» (palavra utilizada por São Paulo) depois da morte.
Jesus revela-nos a verdadeira palavra, a Palavra de Deus, e com ela somos convocados para o acolhimento do Espírito Santo. Este é o único Espírito que salva e que pode dar garantias de futuro. Nada nos deve demover desta causa. O Espírito de Deus é um caminho de salvação que nos garante uma possibilidade de graça salvadora. Nada nem ninguém nos pode contrariar nem desviar desta luz de amor revelada por Jesus. Em nós o Defensor quebrou as correntes da divisão, o ódio, a violência, os rancores, os amuos que provocam tristeza e inimizade, a falta de abertura para o perdão, a teimosia, a intolerância e o racismo nas religiões e nas comunidades humanas. O Espírito da verdade liberta-nos para luz da vida cheia de paz e do amor que Deus semeia no coração de todos. Cabe-nos fazer germinar em cada canto da vida a beleza dessa realidade.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Perguntar para pensar

A questão da linguagem, é sempre fundamental em todos os tempos. O nosso tempo não fica de fora. Por isso, constatamos que hoje tornou-se cada vez mais difícil falar de Cristo e do Evangelho aos jovens. As categorias mentais alteraram-se totalmente e a dificuldade para falar de determinados assuntos, sobretudo aos jovens, torna-se cada fez mais complexo.
Como falar aos jovens de hoje de vocação ou de consagração ou de Igreja ou de comunidade ou de disponibilidade ou de opção radical ou de celibato ou de sublimação ou de ideal superior ou de abnegação... Num mundo totalmente adverso a estes conceitos? Não é fácil fazer-se entender estes conceitos/valores e esta linguagem que nalgum tempo seria comum e facilmente compreendida por todos.
Como aceitam, os nossos jovens, esses valores que acompanharam toda a cultura e civilização cristã ao longo destes dois milénios, neste tempo que nós vivemos, onde juventude melhor entende a linguagem do dinheiro, da sexualidade desmedida, da diversão a todas as horas da noite, da falta de compromisso com nada, das drogas, da música exótica, da bebida exagerada, da competição individualista...? A linguagem e as linguagens actuais são outras. Muito difícil será nós fugirmos destes contextos que a sociedade criou e não será menos fácil contornar essas formas de linguagem melhor entendida pela juventude do mundo actual.
Mais o que fazer perante tamanha mudança? Como encarar estes contornos onde a linguagem do passado ligada ao mundo religioso se tornou obsoleta e sem sentido? Como redefinir os conceitos, se a predisposição da sociedade actual, sobretudo, a camada jovem está mais voltada para outros conteúdos que estão muito longe da linguagem e dos conteúdos da antiga civilização cristã? 
Questões para fazer pensar...

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Cortar o mal pela raiz

Há um pecado social que muito grave que é o da corrupção que está embrenhada na sociedade toda. Porque a vida tornou-se tão complexa e tão difícil que as coisas são mais fáceis de vencer e de conseguir mediante o compadrio e o apadrinhamento. 
A ganância do dinheiro e do protagonismo social exigem uma entrega e uma submissão doentia face aos poderes sociais, políticos e económicos. A dignidade, o respeito e o amor-próprio são enviados às urtigas. Não importam para nada a dimensão do respeito e dos compromissos eternos que implicam fidelidade e integridade. A corrupção é a todos os níveis porque ninguém está minimamente preocupado com o respeito por Deus e pela pessoa humana. O transcendente não tem nome face às sensações imediatas que determinada meta social pode provocar. Face a essa perda de valor o que mais vale é singrar a qualquer preço.
Então é preciso ensinar a honestidade, o amor ao trabalho, a compaixão pelos que sofrem e o respeito pelos outros, quem quer que sejam e ensinar a ter limites dos seus desejos, nas suas pretensões. É tal o vício “de querer tudo” de muitas crianças que torna-se difícil, a tarefa de educar. As crianças e adolescentes pedem tudo o que têm os vizinhos ou companheiros de escola.
É útil que os pais saibam que um estudo feito a crianças mimadas, a quem os pais tratam com facilitismo, fazendo-lhes todas as vontades, mostra que mais tarde em adultos vão deparar com dificuldades para enfrentar os desapontamentos da vida. E ainda distorcem os seus direitos, prejudicando o êxito no trabalho como no relacionamento com os outros.
Segundo alguns psicólogos, os pais que dão aos filhos tudo o que eles querem, tornam-nos mais vulneráveis aos problemas de ansiedade e depressão no futuro. «Fazer todas as vontades às crianças pode torná-las egocêntricas, o que é um perigo para a saúde mental». E como diz José Saramago: «A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada». É bem que sejamos capazes de cortar as cabeças a muitos dragões que se instalaram à mesa do bem comum e sugam tudo quanto podem. 

terça-feira, 20 de maio de 2014

A despedida do padre

Vamos rir e descontrair. Tristezas não pagam dívidas. Dizem que a troica se foi embora… Não dei pela diferença.

No jantar de despedida, depois de 25 anos de trabalho à frente da paróquia, o padre discursa:
- A primeira impressão que tive desta paróquia foi com a primeira confissão que ouvi. A pessoa confessou ter roubado um aparelho de TV, dinheiro dos seus pais, a empresa onde trabalhava, além de ter tido aventuras amorosas com as esposas dos amigos. Também se dedicava ao tráfico de drogas e tinha transmitido uma doença venérea à própria irmã. Fiquei assustadíssimo. Com o passar do tempo, entretanto, conheci uma paróquia cheia de gente responsável, com valores e comprometida com a sua fé.
Atrasado, chegou então o Presidente da Câmara para prestar a homenagem ao Padre. Pediu desculpas pelo atraso e começou o discurso:
- Nunca vou esquecer o dia em que o Padre chegou à nossa paróquia. Como poderia? Tive a honra de ser o primeiro a confessar-me...
Seguiu-se um silêncio assustador...

Moral da história: NUNCA SE ATRASE!
Mas quando se atrasar... FIQUE DE BOCA FECHADA!

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Os trepadores do poder pelo peder

Com a devida vénia, fazemos eco do seguinte texto publicado no Correio da Manhã de 16/05/2014. A acutilância que ele reflecte e a actualidade que o informa, mais que justificam que façamos uma aturada meditação…

“Não há vida como a de padre” é uma expressão que dá conta de uma concepção popular do pároco, sobretudo em ambiente rural: acomodado, sem as preocupações habituais das pessoas comuns, tais como o emprego, a educação dos filhos ou a subsistência da família. “Telha de igreja sempre goteja”, é um outro dito popular que traduz a dada como adquirida tranquilidade clerical, de quem terá sempre o seu “rendimento mínimo garantido”.
Não é essa a perspectiva do Papa Francisco. Ele que não quer sacerdotes instalados. De tal forma que, ainda no domingo passado, apelou aos cristãos para que “importunem” os seus pastores. “Não os deixeis em paz! Constringi-os a estarem vigilantes, a não se fecharem nas suas ocupações, porventura burocráticas, (…) a serem vossos guias doutrinais e da graça”, disse.
Não é fácil ser pastor das comunidades católicas na “Era Francisco”! Mas é seguramente muito mais gratificante sentir que se tem uma influência positiva na vida das pessoas, como seu guia espiritual, do que viver absorvido em vãs tarefas administrativas ou obcecado pelas preocupações que o Papa classifica como os principais pecados clericais: a vaidade, o apego ao dinheiro e a sede de poder.
A vaidade e a vanidade dos que se acham superiores ao seu povo, que se entendem como uma casta sacerdotal, e o “amor ao dinheiro”, são dois pecados que “o povo não perdoa ao seu pastor”, disse recentemente num encontro com seminaristas romanos.
O carreirismo clerical tem sido frequentemente criticado pelo Papa, em linha com Bento XVI, que também o condenou por diversas vezes. Numa das suas últimas homilias na Casa de Santa Marta chegou mesmo a reconhecer que “na Igreja há trepadores”! Recomendou-lhes que façam alpinismo, já que gostam tanto de escalar, mas não venham para “a Igreja trepar”! E advertiu que “Jesus repreendeu estes trepadores que procuram o poder.”
Seria bom que as montanhas ganhassem novos alpinistas e que a Igreja se libertasse desses “trepadores” que procuram o poder pelo poder. E seria bom, também, que os fiéis deixassem de olhar para os sacerdotes como meros funcionários do sagrado, a quem se recorre para determinados serviços, e encontrassem neles os guias espirituais de que necessitam.
(Texto publicado no Correio da Manhã de 16/05/2014)

sábado, 17 de maio de 2014

Os amigos

Para o fim de semana. Sejam felizes sempre!
São estrelas cintilantes no céu da vida
Umas mais brilhantes que outras
E porque de tão próximas o seu brilho aquece.
Esta é a certeza que faz sentido viver no tempo
Da esperança e na confiança de todos os amanhãs
Que mesmo no mais incerto faz sorrir as pedras
No centro da busca que faço na companhia
Dos amigos.
São eles que na crua verdade da noite
Vieram. E disseram em choro
Estamos neste presente cientes
Do milagre deste abraço que diz do tudo
Em que a pura amizade reza na mesma direcção
O olhar do sonho e do desejo da alegria
Dos amigos.
Mas quando não é visível o afecto
O vento proclama a traição e a dor
Do puro engano da solidão cruel
Como se o abandono viesse dizer
Também presente até ao fim da tristeza que não fala
Sem que a fuga se realize para sempre
Dos amigos.
Destes que não quero o que nunca foram
Senão o interesse e a vaidade quando tudo é glória
Estes foram-se e bem na feliz bondade
Que não nos deixou sós
Mas agora aconchegados pelo pão da amizade
Que na noite da escuridão
As poucas estrelas do amor verdadeiro
Brilham no braço que escuta eternamente
No encanto daqueles que não conjugam
A fétida ilusão do amiguismo interesseiro.
Mas constroem pedra a pedra
No encalço da subida íngreme degrau a degrau
O castelo da amizade.
Nisto consiste o caminho andante
Dos caminhantes que se dizem amigos
Lado a lado aquecidos pelo amor antigo dos deuses.
Misterioso e forte para sempre
Onde se abriga o melhor da vida
Na paz que comungam para sempre
Os amigos.

José Luís Rodrigues

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Jesus é o caminho, a verdade e a vida

Comentário à missa deste Domingo V da Páscoa, 18 maio de 2014
Uma definição perfeita. Pois, nos leva a perceber o que Jesus é e como se apresenta para que nós cheguemos por Ele à descoberta da plenitude da vida. Nisto consiste o Grande Amor de Deus traduzido em Jesus que se apresenta como caminho, verdade e vida. Caminho, que nos faz melhores pessoas porque nos garante segurança, paz e estrada ampla para transportarmos cargas enormes de fraternidade. Verdade, porque por Ele descobrimos todos os valores que nos desvelam o serviço e a disponibilidade para amar a criação de Deus, especialmente, aqueles e aquelas que são os nossos semelhantes. Vida, porque Jesus é vida ressuscitada em glória para eternidade. Sendo a nossa vida realidade mergulhada na vida de Jesus, atingimos a eternidade.
Depois da Segunda Guerra Mundial, teve muito êxito uma peça de teatro, que apresentava um jovem soldado que regressava a casa e encontrava a sua cidade em ruínas, a casa destruída, a sua família desaparecida.
No meio do desespero, punha-se no meio do palco e perguntava ao público da plateia: - Será que estou só? A obra prosseguia desenvolvendo-se segundo a inspiração dos espectadores. Uma noite, ao fazer essa dolorosa pergunta, levantou-se uma pessoa do público, subiu ao palco, deu-lhe uma forte abraço e disse-lhe: - Não, não estás só. Eu estou contigo; sou teu irmão. Sentir-se só neste mundo é a pior angústia de qualquer pessoa, porque a pessoa nasceu para viver em relação de amor com os outros, a quem trata por irmãos. Somos pessoas chamadas a viver a fraternidade. Nós cristãos só temos uma lei: amar a todos como irmãos. Jesus é o nosso modelo, a sua acção foi uma total entrega ao serviço do amor por todos. À nossa volta não existirão pessoas que se sentem sós? Que atitude tomar para irmos ao encontro de quem precisa da nossa palavra amiga e do nosso afecto sincero?
Os caminhos deste mundo estão esburacados com o mau carácter, a maledicência e todos os desejos de poder desmesurado para rebaixar os outros, coisa que nunca levarão à meta da vida, não são a verdade, porque apenas pensam nos outros não como irmãos, mas como objectos que se podem rebaixar e humilhar para fazer vencer os interesses pessoais e a vontade do ter em detrimento do ser.
Neste sentido reparemos no que escreveu São Francisco de Assis, que se toma como grande desafio para os discípulos de Jesus se querem ser continuadores da obra da salvação e libertação começada por Jesus: «Devem regozijar-se quando se encontram no meio de pessoas de baixa condição e desprezadas, entre os pobres e os enfermos, os doentes e os leprosos e os pedintes das ruas». Os cargos de responsabilidade de hoje não estão para isto, tomaram outros interesses, outra vontade, que se centra sempre mais no eu de cada um contra a comunidade, o bem comum... Urge uma redescoberta de que ninguém se salva sozinho e que a casa comum que nos foi emprestada para vivermos esta parcela da vida material, pode ser mais bela para todos. Urge a descoberta do sentido da responsabilidade de uns pelos outros. Bastava pensar que não seremos felizes enquanto formos semeadores de infelicidade.   
Jesus caminho, verdade e vida ensina-nos que todos os que acreditam em Jesus, em qualquer posição social do mundo e da vida da Igreja, devem assumir valores e qualidades de humildade e simplicidade à maneira do Mestre. Todos os que seguem Jesus lutam contra a pobreza, contra as injustiças, contra todo o género de sofrimento, porque desejam a libertação e tomam a sério o amor como caminho de felicidade para todos. Eis o Evangelho, «a medida do amor, é amar sem medida» (S. Bernardo). Nesta máxima devia estar o coração de todos aqueles e aquelas que se chegam à frente para tomar a responsabilidade do poder em qualquer circunstância. 

quinta-feira, 15 de maio de 2014

A família segundo o Papa Francisco

Hoje é o dia da família...
Dez reflexões sobre o conceito de família cristã, tiradas do encontro do Papa Francisco com as famílias:
No Sábado, 26 de Outubro de 2013, milhares de famílias se reuniram com o Papa Francisco. Foi uma peregrinação por ocasião do Ano da Fé, na qual o Papa Francisco mostrou o seu conceito de família cristã, fez perguntas às famílias sobre a fé e explicou como a família pode ser um fermento para toda a sociedade.
Apresentamos dez reflexões tiradas dos dois principais encontros do Papa com as famílias cristãs.
1. O que mais pesa é a falta de amor
"Aquilo que pesa mais do que tudo é a falta de amor. Pesa não receber um sorriso. Pesam certos silêncios, às vezes mesmo em família, entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre irmãos. Sem amor, a fadiga torna-se mais pesada, intolerável. Penso nos idosos sozinhos, nas famílias em dificuldade porque sem ajuda para sustentarem quem em casa precisa de especiais atenções e cuidados. 'Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos', diz Jesus.”
2. Os perigos da família
“Os esposos cristãos não são ingênuos, conhecem os problemas e os perigos da vida. Mas não têm medo de assumir a própria responsabilidade, diante de Deus e da sociedade. Sem fugir nem isolar-se, sem renunciar à missão de formar uma família e trazer ao mundo filhos.”
3. A graça do sacramento do Matrimónio
"Os sacramentos não servem para decorar a vida – mas que lindo matrimônio, que linda cerimônia, que linda festa!... Mas aquilo não é o sacramento, aquela não é a graça do sacramento. Aquela é uma decoração! E a graça não é para decorar a vida, é para nos fazer fortes na vida, para nos fazer corajosos, para podermos seguir em frente! Sem nos isolarmos, sempre juntos."
4. A necessidade familiar dos cristãos
"Os cristãos casam-se sacramentalmente, porque estão cientes de precisarem do sacramento! Precisam dele para viver unidos entre si e cumprir a missão de pais. 'Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença'. Assim dizem os esposos no sacramento."
5. A família é para a vida toda
“Uma longa viagem, que não é feita de pedaços, dura a vida inteira! E precisam da ajuda de Jesus, para caminharem juntos com confiança, acolherem-se um ao outro cada dia e perdoarem-se cada dia. E isto é importante! Nas famílias, saber-se perdoar, porque todos nós temos defeitos, todos! Por vezes fazemos coisas que não são boas e fazemos mal aos outros. Tenhamos a coragem de pedir desculpa, quando erramos em família.”
6. Com licença, obrigado, desculpa
"Para levar adiante uma família, é necessário usar três palavras. Três palavras: com licença, obrigado, desculpa. Três palavras-chave!"
7. A família que ora
"Todas as famílias, todos nós precisamos de Deus: todos, todos! Há necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua bênção, da sua misericórdia, do seu perdão. E é preciso simplicidade: para rezar em família, é necessária simplicidade! Rezar juntos o 'Pai Nosso', ao redor da mesa, não é algo extraordinário: é fácil. E rezar juntos o Terço, em família, é muito belo; dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa; a esposa pelo marido; os dois pelos filhos; os filhos pelos pais, pelos avós... Rezar um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto fortalece a família: a oração."
8. A família conserva a fé
"As famílias cristãs são famílias missionárias. Ontem escutamos, aqui na praça, o testemunho de famílias missionárias. Elas são missionárias também na vida quotidiana, fazendo as coisas de todos os dias, colocando em tudo o sal e o fermento da fé! Guardai a fé em família e colocai o sal e o fermento da fé nas coisas de todos os dias."
9. A alegria da família
“A alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração, e que nos faz sentir a beleza de estarmos juntos, de nos apoiarmos uns aos outros no caminho da vida.”
10. Deus e a harmonia em meio às diferenças
"Ter paciência entre nós. Amor paciente. Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, se apaga a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade."

domingo, 11 de maio de 2014

Maria de Nazaré é a Mãe que foi apóstola

O meu texto de opinião no Dnotícias de hoje (11 de maio de 2014)... 
Se Nossa Senhora fosse menos olhada como Mãe de Jesus e mais como a discípula ou a apostola de Jesus, dar-se-ia uma revolução na Igreja Católica e quiçá no mundo cristão. 
Explico-me. Maria de Nazaré foi sempre considerada ao longo dos séculos como a Mãe Imaculada, a mulher submissa à virgindade e endeusada no papel de Mãe, coisa que os textos bíblicos facilmente desmentem e falam-nos de uma mulher interventora, discípula, que antes de ser Mãe, ouve a Palavra de Deus e a coloca em prática de forma sublime e exemplar. Eis o papel do discípulo/a, aquele ou aquela que se coloca aos pés de Jesus para escutar a Sua Palavra e depois a leva aos outros com entusiamo e alegria.
Maria trata-se de uma mulher activa, que vai ao encontro dos outros e resiste de pé firme junto da cruz. Antes de ser apenas a Mãe, é também a discípula que escuta, mas avança na entrega total à causa de Jesus. 
Se esta visão sobre Maria de Nazaré fosse mais rezada, celebrada pelo mundo cristão, as mulheres teriam o seu verdadeiro lugar nas igrejas e estariam em plena igualdade face aos homens. Não haveria acepção de pessoas nem estaria o poder apenas reservado à masculidade, mas a todos sem execepção. Os sacramentos seriam para todos, especialmente, o Sacramento da Ordem que continua vedado às mulheres. Esta seria uma reviravolta enorme no pensamento e na mentalidade dos cristãos.
O que se diz ou prega sobre Maria de Nazaré reveste-se de uma desumanidade impressionante. A iconografia mariana é disso um exemplo. As imagens que se contemplam de Maria de Nazaré revelam uma mulher assexuada, nada próxima da condição do ser mulher. Um rosto sempre tristonho, cabisbaixo e de mãos sempre voltadas para o céu como se o inferno estivesse aí junto aos pés. Esta visão do ser mulher em nada tem que ver com a condição feminina e não espelha a dignidade que esta condição expressa de riqueza e diversidade. A feminilidade ainda continua a ser um perigo para as igrejas profundamente masculinizadas que a tradição máscula arquitectou baseada na imbecilidade de se dizer que é a vontade de Deus. A divinização de tais argumentos é um sacrilégio e uma ofensa ao Deus da universalidade bem patente no Evangelho da Cananeia e no diálogo extraordinário de Jesus com a Samaritana junto ao poço de Jacob.  
Maria de Nazaré, mesmo sendo Mãe, é a Serva de Deus, que participa do plano libertador que Deus quer levar adiante a favor da humanidade inteira. É Ela que se levanta como profeta ou discípula ou apostola para dizer «NÃO» a tudo o que se opõe a esse plano libertador de Deus. O Seu «SIM» não é uma manifestação submissa, mas compromisso activo, militante nessa obra de Deus. Ela é a Maria do povo, um povo concreto, a mulher do nosso chão, a companheira que faz caminho connosco nas veredas deste mundo e que em cada esquina nos toca com o Seu abraço de amor. O Evangelho prova-nos que esta mulher é a Maria pobre, que vem do meio do povo, da aldeia, da cidade… Ora integrada no sangue que escorre nas encruzilhadas dos caminhos ora desprezada por ser mulher e por manifestar a diferença, exactamente, como acontece ainda hoje a qualquer mulher que assuma activamente a sua condição feminina e que se preze porque quer ser diferente do status machista que a sociedade convencionou. 
No canto de Maria «O Magnificat», acolhemos Maria como a mulher pobre vergada ao carinho dos pobres desta vida, que procuram Deus e gritam por justiça. É desta mulher que se aprende o que é a fé, a escuta, a reflexão e a capacidade de decidir, mesmo que muitas vezes a compreensão das coisas não seja assim tão clara e tão óbvia como Ela desejaria.
Melhor seria para termos uma humanidade mais justa, fraterna e amiga dentro das igrejas cristãs, se Maria de Nazaré fosse olhada como a discípula ou a apostola e menos como a Mãe, que Jesus desvaloriza frequentemente em muitos momentos do Evangelho. E mais, Maria não se valeu da sua condição de Mãe para contrariar o Filho e fez-se discípula. E isso, nenhum eclesiástico pode contrariar.

sábado, 10 de maio de 2014

Nossa Senhora - a ternura de uma mãe para todos

Porque vamos entrar numa semana que se falará muito de Nossa Senhora de Fátima... Sejam felizes!
Como um véu de luz desceu ao nosso encontro
Aquela que mais que toda a força do tempo
Deus pretendeu conceber em mãe nossa
Porque de um filho nasceu tudo e todos
Para a certeza de uma casa feita em pedra de amor.
Tudo no abraço que se sente quando vertes uma lágrima.
Quando te falta o caminho da fé
Quando te falta o calor dos que te fizeram gente
Quando te cedeu o chão na hora de qualquer morte
Quando ninguém te abriu a porta da amizade
Quando te recusaram o perdão
Quando a inveja te feriu a estrada
Quando o amuo daquele que te rodeia te mancha
Quando um problema não tem solução
Quando a paz falta em todos os pontos
Quando falta a água para a sede insaciável desta vida
Quando o pão não veio dos campos do trigo
Quando falta o saboroso vinho da alegria
Quando falta a flor da felicidade
Quando a esperança não tem caminho
Quando tantos são Deus em cada filho…
- O olhar mais simples e pequenino da história
Cai suave sobre o teu vazio
E proclama a toda a gente:
- Recebe em palavra esta promessa...
Há um coração que bate em sangue a ternura de uma mãe.
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Não podemos ser uma fábrica que produz impedimentos contra Deus

A homilia do Papa Francisco de ontem 8 de maio de 2014 na casa Santa Marta foi muito importante. Ainda mais se vemos que foi uma vibrante manifestação contra uma Igreja que muitas vezes se perde em papéis e mais papéis, infernizando assim a vida de tantas pessoas que pedem a recepção dos sacramentos. Agora temos mais uns elementos importantes para continuarmos seguros na prática do acolhimento sem levantar obstáculos às pessoas que desejam acolher a «graça» de Deus pela acção dos sacramentos. As palavras do Papa são claras: «na Igreja, quem administra sacramentos deve dar espaço à graça de Deus e não criar obstáculos ‘burocráticos’». Assim mesmo sem meias palavras, este foi o teor da homilia da missa presidida na Casa Santa Marta.
«Quem faz evangelização é Deus», isso mesmo para que se ponha fim ao «inferno» da burocracia em que está mergulhada a prática dos sacramentos na Igreja. A obra é Deus, a Ele cabe realizar o principal, nós apenas somos instrumentos dessa grande obra que Deus deseja realizar no mundo e na vida de todos. Esta palavra opõe-se ao excesso de burocratização em que estamos ainda mergulhados, quer dentro da Igreja Católica quer em todos os serviços d nossa administração pública. Esta excessiva burocracia afasta de Deus e violenta a fraternidade. Quantas pessoas saem das Igrejas revoltadas e firmemente propositadas a nunca mais voltarem, porque foram humilhadas e carregadas com sardos enormes de burocracia? – Uma das razões para justificarem o anti clericalismo que existe por todo o lado está neste excesso de burocracia.
O modelo a seguir é o Apostolo Filipe, que na leitura dos Atos dos Apóstolos, evidencia as três qualidades cristalinas de um cristão, docilidade de espírito, diálogo e confiança na graça de Deus. A primeira se destaca no momento em que o Espírito manda Filipe interromper as suas actividades e ir até a carruagem na qual viajavam, de Jerusalém para Gaza, a rainha dos etíopes e o ministro. «Filipe, obedece. É dócil ao chamamento do Senhor. Certamente deixou de lado muitas coisas que tinha que fazer, porque naquela época, os apóstolos eram muito atarefados na evangelização. Ele deixa tudo e vai. Isto nos mostra que sem docilidade à voz de Deus, ninguém pode evangelizar, ninguém pode anunciar Jesus Cristo. No máximo, pode anunciar a si mesmo». 
Para Filipe, o encontro com o ministro etíope é uma ocasião de anunciar o Evangelho, mas este anúncio não é um ensinamento que vem do alto, imposto. É um diálogo que o Apóstolo tem o escrúpulo de começar respeitando a sensibilidade espiritual de seu interlocutor, que está lendo, mas sem entender, um texto do Profeta Isaías. Diz o Papa: «Não se pode evangelizar sem diálogo, porque se começa justamente de onde é preciso evangelizar. Como é importante o diálogo. “Padre, perde tanto tempo com as histórias de todos!”. Deus perdeu mais tempo na criação do mundo, e o fez bem! Perder tempo com a outra pessoa é importante porque é ela que Deus quer que se evangelize, que lhe seja dada a notícia de Jesus». 
As palavras de Filipe despertam no ministro etíope o desejo de ser baptizado, e no primeiro lugar onde estava água que encontram na estrada, o Apóstolo administra o Baptismo ao etíope. «Leva-o – observou o Papa – às mãos de Deus, à sua graça». Assim, o ministro, por sua vez, será capaz de gerar a fé e «talvez isso nos ajude a entender melhor que quem faz a evangelização é Deus».
Por fim, conclui exortando: «Pensemos nestes três momentos da evangelização: a docilidade para evangelizar, fazendo o que Deus manda; o diálogo com as pessoas, partindo de onde elas estão; e o terceiro: entregar-se à graça, pois ela é mais importante do que toda a burocracia. “O que impede que?” - às vezes, na Igreja, somos uma fábrica que produz impedimentos para as pessoas chegarem à graça. Que o Senhor nos faça entender isso», concluiu Francisco.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O bom pastor sabe o que é o bem para todos

Comentário à missa deste domingo IV da Páscoa (11 maio de 2014)
 Jesus é o Bom Pastor, que nos chama e nos convoca para a verdade da vida como dom do seu amor. E aceitar este dom maravilhoso de Deus Pai, é acolher a verdade plena na nossa existência e, sobretudo, prepara-nos desde logo o caminho da eternidade. Pois, reparemos no que dizem as palavras de Jesus: «Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão-de perecer». Esta certeza de salvação é pronunciada pela voz de Jesus, que se mostra mestre da vida e da libertação total de tudo o que ponha em causa o amor, a paz e a inquietação interior vinda das misérias deste mundo.
O Papa Francisco disse com clareza o seguinte sobre o pastor: «Um pastor vaidoso não faz bem ao povo de Deus (...) Não segue Jesus, prefere a vaidade, prefere pavonear-se (...) A vaidade é perigosa porque faz imediatamente escorregar no orgulho, na soberba (...) Esse pastor não segue a Jesus, prefere a vaidade (...) Outros seguem a Jesus interessados no poder, usam a Igreja para subir. Vai ao norte e faz alpinismo, é melhor! Jesus reprova esses alpinistas do poder» (Papa Francisco, na homilia desta segunda-feira, 05-05-2014). Tudo isto se aplica aos pastores religiosos, mas também aos políticos e os que estão em qualquer serviço onde implique o poder perante o bem público, porque no mundo antigo e na Bíblia, «pastor» não se aplica tanto aos líderes religiosos como aos reis, aos «príncipes», aos políticos que devem conduzir o povo com justiça, equilíbrio social, e a preservar todos sem deixar ninguém para trás, o que torna estas palavras do Papa ainda mais fortes.
Tudo o que seja verdade radical do amor, nunca é demais para ser vivido no dia a dia, porém, não podemos dizer que essa possibilidade salvadora seja realmente fácil de ser vivida. Não, não é fácil enquadrar o nosso viver com esses valores que a mensagem de Jesus nos mostra, porque as circunstâncias do nosso quotidiano estão sempre marcadas por tantas tentações que nos desviam do caminho certo do amor e da felicidade.
No entanto, nada de bom se consegue sem uma força de vontade interior muito grande. As coisas boas conquistam-se a pulso, com muita paciência e muita persistência. Os cristãos, são chamados a serem gente de esperança e nada os deverá demover do caminho de Deus e do seu projecto de salvação.
É fácil ser enganado por charlatães ou por pessoas sem escrúpulos que não se importam nada com a distinção entre o que é certo e o que é errado. Assim, será sempre muito mais importante, cada um de nós escutar profundamente a voz da verdade e do amor. 

quarta-feira, 7 de maio de 2014

A questão religiosa hoje

A questão religiosa levanta-se cada vez mais com muita pertinência e acuidade, afinal, conjuga-se com a razão de André Malraux, que nos esclarece ao pronunciar o seguinte: «a resposta à questão fundamental do sentido da vida só pode tomar uma forma religiosa». Daí fazer sentido, cada vez mais força e convicção, que Deus é amor para todos sem acepção de pessoas.
Para Cícero, o termo «religio» estaria ligado com «relegere» e significaria, considerar (reler) atentamente o que diz respeito aos deuses. Para Santo Agostinho «religio» estaria ligado com «relegere» porque nos «vincula» a Deus, de quem estávamos separados.
A religião, é a re-ligação do homem a tudo o que o rodeia, procurando dar resposta às questões fundamentais da existência humana: de onde vem a vi?; porque sofre a humanidade inocente?; para onde vamos?; e para que viemos?...
Por fim fica-nos sempre por resolver a questão da existência de Deus para o Homem de hoje, como dizer Deus diante da exploração dos conhecimentos científicos, das possibilidades técnicas e das mudanças sociais que eles provocam?
A religião deve ser o lugar da festa do amor e da liberdade. Não se pense nem se diga que esta realidade não deste mundo nem que por sombras se passa neste modo. A relação autêntica com Deus, é sempre de clareza no amor, nunca na violência, na opressão e no desprezo. A resposta de Deus, preenche todos os vazios da alma e do coração humanos. Perdendo-se este horizonte, Deus não se perde, mas perde-se irremediavelmente a humanidade. Os sinais desta perdição falam por si mesmos.

terça-feira, 6 de maio de 2014

A tartaruga em cima do poste

Sabedoria do professor. Escute-se o mestre...
Enquanto suturava um ferimento na mão do Prof. Adriano Moreira, golpe causado por um caco de vidro indevidamente deitado no lixo, o médico e o paciente começaram a conversar sobre o país, o governo e, fatalmente, sobre o Passos Coelho.
O Professor disse:
- Bom, o senhor sabe... o Passos Coelho é como uma tartaruga em cima do poste......
Sem saber o que o Adriano Moreira quis dizer, o médico perguntou o que significava uma tartaruga num poste.
O professor respondeu:
- É quando o senhor vai seguindo por uma estrada, vê um poste e lá em cima tem uma tartaruga a tentar equilibrar-se. Isso é uma tartaruga num poste.
Perante a cara de interrogação do médico, o velho professor acrescentou:
- Você não entende como é que ela chegou lá;
- Você não acredita que ela esteja lá;
- Você sabe que ela não subiu para lá sozinha;
- Você sabe que ela não deveria nem poderia estar lá;
- Você sabe que ela não vai fazer absolutamente nada enquanto estiver lá;
- Você não entende porque a colocaram lá;
- Então tudo o que temos a fazer é ajudá-la a descer de lá, e providenciar para que nunca mais suba, pois lá em cima, definitivamente, não é o lugar dela.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Os ventos de Deus são imparáveis e indomáveis

Interessante artigo de Frei Bento Domingues sobre o Celibato dos sacerdotes. Pelo que se augura muito cansaço, suor, lágrimas e sangue ainda vai fazer correr esta temática. Porém, o rumo da história é incontornável e Deus tantas vezes escreve direito onde a humanidade escreve torto. E mesmo que sejam muito fortes as malévolas manias do conservadorismo e da loucura pelas benesses do poder, Deus, pela acção do Espírito Santo, será mais forte e eficaz.
Está a chegar agora e ainda vai vir melhor, a admirável Igreja do Vaticano II. A Igreja que defende o homem, todo o ser humano, seja crente ou não crente. Com toda a solicitude e simpatia, mostra a sua solidariedade com toda a família humana com termos nunca antes pronunciados, repare-se na beleza das palavras: «As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo, dos pobres e de quantos sofrem, que são, por sua vez, as alegrias e as esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo. Nada há verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração» (Vaticano II, doc. Gaudium et Spes, nº 1).
É esta nova linguagem que muitos cristãos utilizam no seu ensino. Porque hoje «estamos a fazer» uma Igreja, embora pareça subterrânea, que não está anquilosada nem tem medo de nada nem de ninguém. Não está presa à lógica do mundo nem se deixa dominar por interesses só desta vida material. Não condena. Fala dos sinais dos tempos. Atreve-se a dizer que o Evangelho «sintoniza com o fundo do coração humano». Mais se atreve a dizer que o que é de Deus é humano e o que é humano é de Deus. Para compreender a Palavra de Deus não duvida em recolher as «experiências de todos». Tudo está em função de tudo. Por isso, nada está distante do pensamento e da reflexão da Igreja.
 


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