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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Mensagem de Natal 2019

No Livro de Albert Camus, A Peste, fica bem claro no final do romance que a peste só começa a ceder terreno quando os habitantes da cidade de Orão começam a ter esperança. É tão bonito descobrir este detalhe como «remédio» essencial para reverter uma maleita tão terrível que consumia os habitantes da cidade, a peste bubónica. O livro A Peste é uma alegoria sobre a ocupação nazista na qual cada personagem simboliza um ator  ou uma instituição social (a Igreja Católica também está lá na figura do padre Paneloux). No entanto, esta alegoria sobre o nazismo também é uma metonímia sobre a condição humana.

Muito mais que seguro é que a peste, após dizimar uma porção de pessoas e de semear a doença por todo o lado, a vida destes cidadãos mudou radicalmente. A peste tinha vindo fazer uma boa ação, os casais passaram a apaixonar-se e sentirem saudade, as pessoas passaram a dar valor à vida, a cada dia das suas vidas. O mote em nós podia ser o Natal. Este momento cheio de magia e alegria poderia marcar a nossas vidas, como chegada e como partida.

Nós também temos as nossas pestes que começam a semear doenças e sofrimento por todo o lado. Por isso, gostava que o Natal não fosse um intervalo das pestes quotidianas que nos assolam. Assim como um, intervalo das pestes e passado este tempo tudo volta outra vez às «doenças» que alimentamos, porque não fazemos nada para combatê-las.

Gostava que servisse o Natal para nos redimir da concorrência desleal, da inveja desregrada e desmedida, do egoísmo cego que não olha ao sucesso e à felicidade dos outros, da intolerância que se manifesta em xenofobia e repulsa pela diversidade e pelo diferente, da insensibilidade ecológico que nos tem revelado tanta incivilidade quanto às péssimas práticas no tratamento do lixo, da ganância que leva à humilhação dos outros no trabalho, na família, nas escolas, no trânsito e em muitos lugares onde a vida acontece.

Gostava que servisse o Natal para a assunção dos erros de cada, para que depois a prática do pedir de desculpas andasse na vida o ano inteiro. Poderia fazer bem a tanta gente, praticar os elogios ou viver agradecidos às maravilhas da existência e aos outros.

A título de exemplo, lembro a peste da violência doméstica que continua a humilhar, a deixar doentes psicologicamente e fisicamente pessoas para o resto das suas vidas. O escândalo desta peste que tem deixado para trás mulheres violadas, humilhadas, feridas e mortas, tem sido das maiores pestes dos nossos dias.

A assim sendo gostava que o Natal não fosse esse momento de chegada, tipo um intervalo apenas para trocar prendas, divertir-se, beber, comer, conviver cantar e bailar, para depois voltar tudo à anormalidade da peste. Tudo tão bem intencionado e incentivado para manter a massa (povo) adormecida, bêbeda para não reparar nas patifarias, nas violações das leis e na exploração que se vai fazendo por aí. É preciso não fazer deste tempo um ópio alucinante que nos distrai ou nos mata. 

O Natal essencialmente deve ser partida para as vivências do ano inteiro., onde não faltará a sabedoria para a solidariedade sincera, a justiça corajosa e a prática de todos os valores que nos fazem humanidade e, no nosso caso, cristãos, que andam a rezar e a ouvir palavras de perdão, de amor e de reconciliação dentro das igrejas.

Repito o Natal deve ser chegada e partida. Uma, para remediar, purificar e arrepiar caminhos tortuosos, outra, ponto de partida para a prática da conversão dessa magia que se incentivou e saboreou com todos os elementos próprios desta quadra natalícia. Não sendo assim, tudo continuará a ser mais do mesmo, melhor, sofreremos ano fora as mesmas doenças e pestes, porque tudo não passou de fina e crua hipocrisia.