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sábado, 30 de março de 2013

Alegria

Semana Santa - reacender esperança 
Nisto de definir ao meu modo o que é a alegria, digo também, o que sei e penso sobre a ressurreição... Boa Páscoa para todos os leitores deste espaço.
Uma festa impagável que brilha nos céus
Quando um rosto se toma de um sol brilhante.

José Luís Rodrigues

Calvários e Paixões de antes e de hoje

Semana Santa - reacender a esperança

«A Paixão não terminou no Calvário» D. António Carrilho, bispo do Funchal.
Eis então o Calvário do mundo de hoje onde soa tão alto a Paixão. Então, por falta de coragem por cá um bispo de lá, concretizou, dizendo a voz de Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga. Porque embora a Madeira tenha os seus Calvários com Paixões terríveis, escasseia, infelizmente, militância apaixonada pelo nosso povo, para colocar-se radicalmente ao seu lado e dizer com coragem o que deve ser dito.
Bom tendo em conta que o Calvário Continental não deve divergir muito do nosso, embora seja só lá que há gente agarrada ao poder, só lá é que é preciso mudança e só lá é que há forças obscuras que fazem sofrer o povo com o crivo desumano da austeridade… O bispo de Braga não teve medo de colocar o dedo na ferida, fazendo jus à trama terrível que resulta na morte de um inocente, concretizando, hoje como antes as mesmas tramas em nome da cegueira do poder que fazem vítimas sem culpa nenhuma.
Então não poupou o arcebispo de Braga que a «corrupção judicial» e as «mentiras dos astrólogos» são uma praga que conduzem à desgraça uma porção enorme do nosso povo. Estes continentais com o que se entretêm… Reparem na seguinte questão: «Por que é que nós consentimos que tantos seres humanos continuem a ser vítimas da miséria social, da violência doméstica, da escravatura laboral, do abandono familiar, do legalismo da morte, da corrupção judicial, das mortes inocentes na estrada, das mentiras dos astrólogos, do desemprego, de uma classe política incompetente e do monopólio dos bancos?» Pois, pois… sr. arcebispo Jorge Ortiga.
O prelado Jorge Ortiga manifestou-se preocupado com o número de suicídios «que aumentam diariamente» em Espanha, por causa da penhora de casas, e advertiu que, «em breve, este drama poderá chegar» também a Portugal: Mas, à Madeira estou mais que convencido que nada disto acontecerá… Lol. Estamos com quase com pleno emprego, com os idosos todos muito bem servidos com o melhor sistema de saúde do país, reformas com os devidos suplementos para que a ninguém falte nada para ter uma vida condigna, temos a melhor educação, os melhores quadros em todos os serviços da administração pública… O eldorado madeirense não tem Calvários nem muito menos Paixões, Srs. bispos.
Uma preocupação extensiva às depressões dos jovens portugueses, «que se fecham nos seus quartos por causa do desemprego», e às famílias «cujo frigorífico se vai esvaziando». Também por cá deste Calvário e Paixão não nos queixamos.
A seguir denunciou as más ações daqueles que têm a responsabilidade de salvar o país e o seu povo. Afirma o prelado: «Os políticos, por seu turno, refugiam-se em questões sem sentido do verdadeiro bem comum e o sistema bancário, depois de ter imposto a tirania de consumos desnecessários para atingir metas lucrativas, hoje condiciona o crédito justo às jovens famílias portuguesas, com taxas abusivas que dificultam o acesso a uma qualidade de vida com dignidade» criticou veementemente o arcebispo de Braga.
Eis então o quadro da Paixão dos Calvários deste nosso país. É pena que entre nós não tenhamos uma autoridade religiosa que dissesse alto e bom som que esta é também a nossa crua e dura realidade. De qualquer forma, Deus continua a nos revelar, mesmo que distantes de nós, vozes vibrantes que vêm, ouvem, leem e gritam profeticamente contra as injustiças deste nosso país que há muito se esqueceu que a razão de ser mais importante da sua existência como nação é o seu povo. São poucos os que pensam nisso e se pensam é para fazem do povo matéria-prima para os seus intentos puramente materialistas.
Mas, em todo o caso, que o Calvário e a Paixão de antes nos ilumine com a luz da Páscoa que celebramos com esperança e que o novo céu e a nova terra aconteça no coração de todos como sentido para a vida e que não faltem oportunidades para que as pessoas se tomem e sejam tomadas como gente para sermos todos melhores pessoas uns com os outros. 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Ser padre nos tempos de hoje

Semana Santa - reacender a esperança
Algumas passagens da homilia do Papa Francisco na Missa Crismal de Quinta-feira Santa:
«As pessoas agradecem-nos porque sentem que rezamos a partir das realidades da sua vida de todos os dias, as suas penas e alegrias, as suas angústias e esperanças. E, quando sentem que, através de nós, lhes chega o perfume do Ungido, de Cristo, animam-se a confiar-nos tudo o que elas querem que chegue ao Senhor: "Reze por mim, padre, porque tenho este problema", "abençoe-me, padre", "reze para mim"... Estas confidências são o sinal de que a unção chegou à orla do manto, porque é transformada em súplica - súplica do Povo de Deus. Quando estamos nesta relação com Deus e com o seu Povo e a graça passa através de nós, então somos sacerdotes, mediadores entre Deus e os homens» (...).
«É preciso chegar a experimentar assim a nossa unção, com o seu poder e a sua eficácia redentora: nas "periferias" onde não falta sofrimento, há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus. Não é, concretamente, nas auto-experiências ou nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor: os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver a nossa vida sacerdotal passando de um curso ao outro, de método em método leva a tornar-se pelagianos, faz-nos minimizar o poder da graça, que se ativa e cresce na medida em que, com fé, saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca unção que temos àqueles que não têm nada de nada» (...).
«O sacerdote, que sai pouco de si mesmo, que unge pouco - não digo "nada", porque, graças a Deus, o povo nos rouba a unção -, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. A diferença é bem conhecida de todos: o intermediário e o gestor "já receberam a sua recompensa". É que, não colocando em jogo a pele e o próprio coração, não recebem aquele agradecimento carinhoso que nasce do coração; e daqui deriva precisamente a insatisfação de alguns, que acabam por viver tristes, padres tristes, e transformados numa espécie de colecionadores de antiguidades ou então de novidades, em vez de serem pastores com o "cheiro das ovelhas" - isto vo-lo peço: sede pastores com o "cheiro das ovelhas", que se sinta este -, serem pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens. É verdade que a chamada crise de identidade sacerdotal nos ameaça a todos e vem juntar-se a uma crise de civilização; mas, se soubermos quebrar a sua onda, poderemos fazer-nos ao largo no nome do Senhor e lançar as redes. É um bem que a própria realidade nos faça ir para onde, aquilo que somos por graça, apareça claramente como pura graça, ou seja, para este mar que é o mundo atual onde vale só a unção - não a função - e se revelam fecundas unicamente as redes lançadas no nome d'Aquele em quem pusemos a nossa confiança: Jesus) (...). 
Mais palavras para quê?

quinta-feira, 28 de março de 2013

O perigo do ramo e a floresta

Semana Santa - reacender a esperança
Sempre defendo e por isso me bato afincadamente pelo seguinte ensinamento «o ramo não faz a floresta». Porém, às vezes fico com a sensação que afinal o ramo algumas vezes pode fazer a floresta. Repare-se quando uma figura representativa, simbólica pode fazer com que facilmente os olhares e o entendimento sejam convergentes no que se vê, ouve e no que se entende de que naquele gesto, naquela palavra está representada uma realidade muito mais vasta, uma instituição, um conjunto de pessoas, um grupo, uma nação, uma comunidade…
Com a eleição do Papa Francisco, nos nossos corações as luzes da esperança reacenderam-se e brilham de forma cintilante como nunca. Porque vimos um homem como nós, que precisa de oração e reza como todos nós. Não é alguém idolatrado, mas limitado, pobre, simples e humilde como a grande porção de gente que faz este mundo.
Esta imagem pode fazer uma instituição e pode ser exemplo para milhares de pessoas que sonham e lutam por uma Igreja Católica mais despojada para servir toda a humanidade, especialmente, os pobres a todos níveis como defendeu de forma emblemática o Padre Tolentino Mendonça no Público do domingo 24 de Março de 2013: «Antes de tudo, no seu discurso [do Papa Francisco] os pobres são literalmente os pobres e depois são todas as pobrezas. Porque todos somos seres feridos, temos pobrezas, carências – a procura de Deus é também uma inquietação, uma sede, uma fome, a fome de sentido, de razões de viver. Tudo isso mostra a pobreza da condição humana com a qual a Igreja tem de dialogar». Neste âmbito, um homem só pode ajudar a fazer uma floresta ou ainda, ele que é uma gota pode fazer um oceano em alguns aspectos…
Porém, passados vários dias desta eleição e neste ambiente forte da Semana da Santa e da Páscoa, vamos vendo e ouvindo que alguns ainda não despertaram para a viragem que se está a dar neste tempo que nós vivemos, porque deslumbram-se com o passado, com outros exemplos e com outros ensinamento que não dizem do essencial nem muito menos ensinam para tomarmos com lucidez as coisas que acompanham a humanidade de hoje não como forças diabólicas, mas como desafios que bem utilizados podem realizar maravilhas. Não ver isto e não saber ler isto, revela uma grave miopia que nos pode conduzir à tragédia.
Face a esta conjuntura receio que uma voz ou algumas vozes deslumbradas com o vazio manchem a toda a realidade e arrastem um conjunto de pessoas para a fossa da péssima imagem ou para um quadro negro onde reina o desamparo, a solidão e o abandono.
Então, receio que não se aprenda nada com a atitude despojada, pobre e humilde do Papa Francisco.
Receio que a teimosia em manter o discurso da ilusão que se pode viver do e no espiritismo ignorante, alienante vai resolver alguma coisa dos nossos problemas das sociedades de hoje.
Receio que a linguagem não se altere, até parece piorar, quando a grande mudança que se espera hoje da nossa Igreja Católica é essa da linguagem. Reparemos no que diz o Padre Tolentino: «A primeira é uma mudança de comunicação. A Igreja Católica precisa de um projecto de comunicação, que não é da ordem do marketing, mas uma capacidade de tornar legível e percetível o que ela é e de apostar muito mais numa comunicação direta. Mesmo o cristão médio, com formação, tem dificuldade em ler uma encíclica do Papa. Há́ um défice de autocompreensão no interior da Igreja. Às vezes parece que a Igreja não precisa de se fazer entender, mas precisa. Este esforço é muito um esforço de tradução». Não perceber isto, resulta um ambiente péssimo na Igreja e não irá longe com as sua mensagem e actividades que não passarão de areia, abundância de areia que enche os olhos e consolar a alma.
Receio que a nova linguagem centrada na pobreza radique apenas e exclusivamente na pedincha para alimentar fundos pomposamente chamados de solidários, mas depois ninguém sabe para quem se destinam.
Receio que o miserabilismo tome conta da pregação sem se descer dos pedestais dialogando com todos, ricos e pobres, instruídos ou menos, velhos e novos, pequenos e graúdos, todos os homens e mulheres que procuram o amparo da Igreja como sinal, como caminho, como mãos que abraçam, como boca que denuncia a injustiça e defende os injustiçados, como ouvidos que ouve e partilha das inquietações dos homens e mulheres deste tempo concreto que é o nosso.
Receio que nós neste canto continuemos a desviar as atenções para o pecado do anacronismo, temas do passado, em reflexões, retiros, debates, conferências para não se mexer no que mexe o pulsar da sociedade hoje.
Receio que nos enganem com um disfarçado activismo para mostrar vigor e pujança, mas que no fim espremendo não deita nada, está oco.
Receio que tudo fique na mesma e com isto se confunda o ramo com a floresta, porque os olhos que nos vêm vão todos no mesmo sentido e concluam tristemente que afinal isto é tudo igual, todos pensam e agem pelo mesmo funil.
Livre-nos Deus destes receios e que a sabedoria impere para que não se confunda o ramo com a floresta para bem da nossa Igreja Católica e para bem do nosso mundo. 

quarta-feira, 27 de março de 2013

A insustentável leveza do ser – a violência doméstica

Semana Santa - reacender a esperança
Esta insustentável leveza de tantos seres que no silêncio das suas habitações ora por medo ora por um statos quo familiar ou social, vergam-se pacientemente ao sofrimento e à dor das ofensas obscenas, dos gritos altíssimos, dos pontapés imprevisíveis, dos murros certeiros e de todo o género de violência. A vergonha para tantos.
Deste modo, definimos violência doméstica assim: é uma conduta que afecta todos os membros do núcleo familiar. É uma conduta ilegal e ocorre em todas as classes sociais. Os diversos testemunhos que nos chegam sobre esta realidade triste comprovam claramente que o quotidiano de muita gente está totalmente preenchido com violência a todos os níveis.
A violência doméstica envolve o mau trato psicológico, emocional, físico e o abuso sexual de um indivíduo a outro, os quais partilham da mesma casa e opção de vida.
Eis esse tenebroso ambiente de violência onde grita o silêncio e o anonimato, que escondem os insultos, os empurrões, as pancadas, os beliscões, as humilhações, as queimaduras, as patadas, as feridas, os ossos deslocados, os ossos partidos, as ameaças, o uso de armas, a morte... - Quem vai combater este cancro? Quem o denuncia? E quem pode fazer a justiça pelas vítimas desta tenebrosa realidade e contra os criminosos que impunemente a cometem?
A violência como se tem visto está a agudizar-se cada vez mais, de uma forma escalonada e muitas vezes termina com a morte das vítimas. A maior parte das vezes a violência conduz ao espancamento e aos insultos porque a falta de amor é outro elemento fundamental para qualificar esta realidade que afecta tantas famílias.
Assim, que se criem mecanismos cada vez mais aturados e eficazes de denúncia de todas as formas de violência, que os criminosos sejam levados às instâncias de justiça e que aí sejam reprimidos exemplarmente. Todos devemos ser intolerantes perante este malefício que tanta tristeza vai semeando e que a sociedade seja capaz de criar formas também eficazes que acolham e ajudem as vítimas a se levantarem do chão dessa humilhação. Precisamos disso e o futuro de todos nós assim o exige.
Os números divulgados ano após ano sobre a violência doméstica são já de bradar aos céus e revelam apenas a ponta de um iceberg ilimitado. O que fazer perante estas situações? - Pouco podemos fazer de concreto. Mas podemos todos investir na educação dos mais novos para que a descoberta do amor seja uma constante no coração de todos. A educação para o amor é fundamental, porque o amor não maltrata, o amor tudo pode e cuida sempre da «coisa» amada.

terça-feira, 26 de março de 2013

A mudança para melhor descobrir Deus

Semana Santa - para reacender a esperança
Permitam que partilhe convosco as seguintes «pérolas», tiradas do Jornal Público de Domingo que nesta edição dominical, vinha recheado de reflexão religiosa. O que considerei essencial na leitura apurada que fiz da entrevista belíssima ao padre Tolentino Mendonça, nosso conterrâneo e na Crónica habitual de Frei Bento Domingues. Aqui vai:

Padre Tolentino Mendonça, in Publico de 24 Março de 2013
«Porque a diversidade dos caminhos é uma riqueza para dizer quem é Deus. O divino é uma cantata não é uma melodia».

«Antes de tudo, no seu discurso os pobres são literalmente os pobres e depois são todas as pobrezas. Porque todos somos seres feridos, temos pobrezas, carências – a procura de Deus é também uma inquietação, uma sede, uma fome, a fome de sentido, de razões de viver. Tudo isso mostra a pobreza da condição humana com a qual Igreja tem de dialogar».

«Até que ponto ele vai ter coragem para reformar a Cúria e enfrentar estes escândalos que a Igreja enfrenta, como a pedofilia ou a corrupção? Como é que se reforma uma realidade tão complexa e tão vasta como a Igreja? Não é por decreto, certamente. Mas a grande reforma acontece pela emergência de um novo modelo, de uma nova gramática, de um novo paradigma. E penso que é aí, na criação de um novo exemplo, que ele vai investir tudo».

«Que mudanças julga serem prioritárias neste momento?
Eu diria cinco mudanças. A primeira é uma mudança de comunicação. A Igreja Católica precisa de um projecto de comunicação, que não é da ordem do marketing, mas uma capacidade de tornar legível e perceptível o que ela é e de apostar muito mais numa comunicação directa. Mesmo o cristão médio, com formação, tem dificuldade em ler uma encíclica do Papa. Há um défice de autocompreensão no interior da Igreja. Às vezes parece que a Igreja não precisa de se fazer entender, mas precisa. Este esforço é muito um esforço de tradução.
Não é só um esforço de mediação, é um problema que vem de dentro.
Sim, é algo que tem a ver com a cultura interna e também um problema de fora. Depois há um problema de estruturação, que nos leva ao segundo desafio, que é o da comunhão, encontrar um modelo de cooperação mais comunional entre Roma e as dioceses, valorizar mais o papel das conferências episcopais. O terceiro desafio parece-me ser o da relação da Igreja com o mundo, a Igreja ser capaz novamente de fazer aquele exercício que a Gaudium et Spes fazia no Concílio Vaticano II [documento do Concílio sobre as relações entre a Igreja e o mundo]: perguntar ao mundo o que espera da Igreja e colocar-se numa posição de diálogo de proximidade com o mundo, procurando compreender. O que tem sido o projecto do Átrio dos Gentios tem de contaminar a evangelização e o modo como a Igreja se situa no mundo, que tem de ser muito mais uma escuta mútua. A Igreja tem de entrar num tempo de audição do mundo para poder dimensionar a proposta que faz. O quarto grande desafio é a igreja ser capaz de dialogar com as culturas juvenis emergentes. Os jovens são talvez aqueles que protagonizam mais radicalmente a emergência de uma nova época. São nativos digitais. Têm outra cultura e outra maneira de pensar o humano e a Igreja para se renovar precisa de acompanhar as novas culturas juvenis. O outro grande desafio é o da esperança. O respaldo destas palavras do Papa, quando diz não tenham medo da bondade, é extraordinário. A grande missão da Igreja é devolver ao oceano gelado do nosso coração uma palavra de esperança e ser capaz de ser serva da esperança. Estes desafios ligam-se a tudo o resto, porque há um tempo para acorrer às dificuldades concretas, mas a Igreja não precisa só de correcção, precisa também de inspiração».

Frei Bento Domingues, Público, 24 Março de 2013:

«Deus é absoluto, mas nenhuma religião pode pretender ser absoluta. Todas têm fronteiras».
Equívoco:
«É importante desfazer um equívoco grave, para não se cair numa interpretação que nega o próprio sentido das narrativas e das cristologias do Novo Testamento. Supõe-se que esses textos foram escritos para afirmar privilégios e fundar um povo, uma Igreja de privilegiados: Cristo é único e é só nosso; se o quiserem encontrar têm de passar por nós!
O que é particular à pessoa de Jesus, a sua absoluta característica, não tem nada a ver com esse equívoco: Jesus, na sua prática histórica, remete para um Deus que não é propriedade privada nem Dele nem de ninguém. É o Deus do livre amor por todos os seres humanos, sem restrição. O Deus de Jesus também não pode ser privatizado nem sequer pelos cristãos. Por outro lado, Jesus, na sua prática histórica, surge polarizado por todos os seres humanos, sejam ou não povo de Israel. É a partir da periferia que caminha para o centro. Tudo e em tudo, dentro e fora das religiões, só tem sentido se for para o bem de toda a humanidade.
O itinerário de Jesus, testemunhado pelas narrativas evangélicas, é o de alguém que está, continuamente, voltado para o Deus de todos. Em Jesus não há rivalidade entre a dedicação a Deus e a entrega à libertação humana. É um Deus humanado».
Ainda mais uma palavra de Frei Bento no mesmo texto sobre a Paixão e Morte de Jesus que vamos celebrar nesta semana:
«No século XX não foi possível superar, inteiramente, um cristianismo dolorista. A alternativa seria um cristianismo burguês ou hedonista. Perante judeus e gregos, S. Paulo não se cansou de repetir: Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado (1Cor 2, 2). Não haverá perguntas a fazer a esta declaração? Creio que sim. Jesus não morreu nem de acidente, nem de doença nem de velho. Foi condenado à pena capital, à morte na cruz, que não desejava. A celebração da Semana Santa, as narrativas da Paixão tentam explicar por que é que o crime aconteceu. Se Jesus não amava o sofrimento, se detestava a cruz, por que é que Ele não fugiu, não renegou? A sua fidelidade à emancipação humana era maior que a sua dor.
O mais importante está, todavia, no que aconteceu na própria cruz. No momento em que é excluído da vida, Ele oferece futuro aos que lhe dão a morte. Ele morre com o mundo vivo no seu coração. A aliança de Jesus é com todos os que são contra a morte».

segunda-feira, 25 de março de 2013

DEUS NUNCA ERRA!

Semana Santa - para reacender a esperança...

Um rei que não acreditava na bondade de DEUS. Tinha um servo que em todas as situações lhe dizia: - Meu rei, não desanime porque tudo que Deus faz é perfeito, Ele não erra!
 Um dia eles saíram para caçar e uma fera atacou o rei. O seu servo conseguiu matar o animal, mas não pôde evitar que sua majestade perdesse um dedo da mão.   Furioso e sem mostrar gratidão por ter sido salvo, o nobre disse:  - Deus é bom? Se Ele fosse bom eu não teria sido atacado e perdido o meu dedo. 
O servo apenas respondeu: - Meu Rei, apesar de todas essas coisas, só posso dizer-lhe que Deus é bom; e ele sabe o porquê de todas as coisas. 
O que Deus faz é perfeito. Ele nunca erra! Indignado com a resposta, o rei mandou prender o seu servo. Tempos depois, saiu para uma outra caçada e foi capturado por selvagens que faziam sacrifícios humanos.
Já no altar, prontos para sacrificar o nobre, os selvagens perceberam que a vítima não tinha um dos dedos e soltaram-no. Ele não era perfeito para ser oferecido aos deuses.  
Ao voltar para o palácio, mandou soltar o seu servo e recebeu-o muito afectuosamente.  - Meu caro, Deus foi realmente bom comigo! Escapei de ser sacrificado pelos selvagens, justamente por não ter um dedo! Mas tenho uma dúvida: Se Deus é tão bom, por que permitiu que você, que tanto o defende, fosse preso? 
Meu rei, se eu tivesse ido com o senhor nesta caçada, teria sido sacrificado em seu lugar, pois não me falta dedo algum. Por isso, lembre-se: tudo o que Deus faz é perfeito. 
Recebido por mail, não trazia o autor 

domingo, 24 de março de 2013

"O coração não envelhece"

Semana Santa
O Papa Francisco na Missa deste Domingo de Ramos, que assinala o início da Semana Santa, destacou a importância de se ter a alegria cristã no coração, sendo esta realidade interior fonte de inspiração e de fé para toda a vida. Parece que estamos perante uma nova linguagem. Um discurso mais de acordo com o pulsar do mundo e da vida dos nossos dias. É isso que importa verdadeiramente destacar. A Igreja faz-se à vida concreta dos nossos tempos e o Papa Francisco tomou-lhe a dianteira e o exemplo.
O apelo à sobriedade, à humildade e ao que é importante para sermos felizes continua insistentemente a ser lembrado pelo Papa. Eis então, onde deve situar-se o coração de todos, particularmente, o coração cristão: «A alegria cristã não nasce de possuir um monte de coisas, mas de ter conhecido Jesus. De sete a 70 anos, o coração não envelhece", afirmou o Papa.
O pontífice, que se reuniu ontem com o seu antecessor Bento XVI, condenou também a guerra, a corrupção e os conflitos, sublinhando que são crimes contra a Humanidade que Deus criou para o amor e a paz. Nesta feliz viragem vamos percebendo como a voz do Papa Francisco assume uma dimensão profética e vem dar razão a quem pensa que a crise sem precedentes dos nossos dias, que conduz populações inteiras à pobreza e à fome, resulta da corrupção, da ganância e do profundo egoísmo que assolam a humanidade deste tempo que é o nosso.
Neste sentido afirmou o Papa: «Olhem ao nosso redor. Quantas feridas são infligidas pelo mal da Humanidade! Guerra, violências, conflitos económicos que se abatem sobre os mais fracos, a sede de dinheiro e poder, a corrupção, as divisões, os crimes contra a vida humana e contra a criação», declarou.
Mais uma vez nos alegramos por esta luz, que emerge do fundo da crise e do meio da sombria depressão dos tempos actuais. Que esta dimensão profética que o Papa Francisco pretende retomar seja exemplo para todos os responsáveis da nossa Igreja Católica. Contra todas as amarras a Igreja emerge na figura do Papa como voz profética ao lado das pessoas, especialmente os mais fracos, os pobres. Que ninguém se esqueça de tomar como exemplo a coragem do Papa Francisco e não permita que o seu coração «envelheça» com o desânimo, a falta de coragem e a verdadeira assunção da sua responsabilidade.

sábado, 23 de março de 2013

O céu e a água

Com desejos de bom fim de semana para todos...
Neste serpentear de curva em contra curva
Subo aos píncaros de Deus onde dormem as nuvens
E na miragem divina os olhos vêm o baixo alagado
Que testemunha o alto em terra firme
Na forma espectacular de montanha.
Entre o sopé mergulhado em águas de sal
Choradas em lágrimas ornadas de cascata
Ergue-se a monumentalidade verde
Que se abriga debaixo do manto azul do céu.
Por momentos atinjo um silêncio sereno
Ora quebrado pelo cantar das águas que dizem presente
Ou também o ruído necessário dos barcos
Que se escondem nestes vales regados
Pela solidão antiga dos glaciares.
As pequenas e solitárias manchas brancas
Na encosta densamente verde dizem neste Verão
Quanta desta água se chora entre pedras
E árvores desta vida que flutua
Na fragilidade inquieta da inconstância do amor.
Neste caminho faço a busca ansiosa do centro
Que hoje vi em montanha entre o céu e a água. 
José Luís Rodrigues

sexta-feira, 22 de março de 2013

Outra vez a Páscoa com toda a esperança

Mesa da palavra
Comentário à Missa deste domingo
Domingo de Ramos, 24 de Março 2013
Este dia de Ramos, convida-nos a refletir profundamente na pessoa de Jesus, não como um Rei qualquer que à maneira humana assume o poder e o domínio de uma nação, mas como um Rei obediente, servo sofredor e que se humilha diante de uma missão que depende totalmente de Deus Pai. 
Neste dia somos convidados à reflexão sobre os nossos projectos. Isto é, procuramos ver se as nossas acções estão em consonância com o bem estar e felicidade de todos. Por vezes, é um desconcerto muito grande viver nesta sociedade competitiva, que privilegia a posse, o prazer e o poder sobre os outros como se fossem os bens principais da vida das pessoas. Por isso, não nos surpreende que nesta mesma sociedade se gere tanta violência e tanta alienação que conduzem as pessoas para horizontes de desespero e de perdição total. Como satisfazer os anseios de libertação e de vida plena? Como realizar o projecto de Deus na nossa vida concreta? O que significa ser cristão hoje? - Estas são questões que podem fazer parte do nosso pensamento diante do mistério que celebramos hoje e durante esta Semana Santa. 
A Semana Santa, merece ser vivida em oração pessoal com Deus, esforço de conversão e maior dedicação aos irmãos. Do Domingo de Ramos à Quinta-feira santa, completamos os últimos dias do grande retiro quaresmal que nos apelou à conversão ou à mudança de vida, para acolher de verdade todo o mistério central da nossa fé. Com a Missa da Ceia do Senhor na Quinta-feira santa à tarde, iniciamos o Tríduo Pascal da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. O culminar de todas as celebrações é a Vigília Pascal na noite de Sábado, madrugada de Domingo. "Esta é a noite..." da glória e da vida em plenitude, como muito bem alude o canto, do Precónio Pascal. Durante esta noite, os diversos gestos simbólicos nos convocam para a grandiosidade do acontecimento que celebramos: eles são a Luz, a Palavra, a Água e a Eucaristia...
Esta Vigília desdobra-se na alegria do Domingo da Ressurreição e nos cinquenta dias do Tempo Pascal até ao Pentecostes, que são considerados como que um único e grande Domingo. A vida que se esgota na perdição dos caminhos reencontra uma luz verdadeira na cruz do amor salvador e nos guia para a vida plena do amor ressuscitado.
A Palavra Páscoa significa passagem. Passa o sofrimento e a morte. Hoje brilha a libertação da dor e canta a vitória da vida contra a injustiça deste mundo. Nesta Páscoa digamos todos: Cristo precisa de mim! 

Escândalo dos escândalos: «Férias à fome»


Logo que vi esta manchete hoje (22 de Março de 2013) no Diário de Notícias, pensei logo, as férias dos madeirenses este ano vão ser de fome, isto é, vão ser uns passeiozitos fora cá dentro e vai ser tudo pelo mais baratinho possível. Nada disso, afinal, dá-nos conta que há crianças que nas férias desta Páscoa estão a passar fome (ouviram bem, há crianças na nossa terra «A PASSAR FOME»). Isto acontece porque temos uma taxa de desemprego elevadíssima e os rendimentos familiares são escassos. Por conseguinte, quem tem responsabilidade não se importa nada com isso. Aliás tem «nojo» dos pobres, foge deles, nem quer ouvir falar que eles existem.  
Depois, pensei como se enganam e como nos enganam estas notícias, comecei a pensar nas várias famílias a quem nós matamos a fome, mas não só nas férias, mas já há muito tempo, haja férias ou não.
Mas, que tragédia é esta! As várias OG’s (Organizações Governamentais) que temos por aí, por exemplo, Segurança Social, Cáritas, Banco Alimentar e toda essa panóplia de organismos que foram nascendo por aí à conta da teta dos subsídios do Governo Regional, o que andam a fazer? Não se dão conta que temos gente na Madeira a passar fome? Que vergonha? Que escândalo? Que violência contra as famílias? Que violação dos direitos humanos? Que atentado criminoso contra a Constituição da Nossa República? Que atentado contra o espírito do Cristianismo? Que derrota para estes governantes humanistas e praticantes mais ou menos regulares da vida cristã? Que derrota para a nossa Igreja Católica que na história de 500 anos na Madeira, com imensos pecados, com certeza, mas eram pessoas ligadas a esta instituição que sabiam das populações, que estavam lá nos recantos da ilha a dignificar as famílias, educando-as e tantas vezes matando-lhes a fome? Que tragédia social que nos vai trazer graves consequências para o futuro? Tantas perguntas que me fazem ficar perplexo perante tanto desleixo, tanta irresponsabilidade e tanto crime que vai contribuindo para hipotecarmos cada vez mais o futuro da nossa terra.
Quem se cala diante desta tragédia social na nossa terra peca gravemente contra a terra e contra os céus.
Última nota. Estas organizações que fazem mergulhar as pessoas necessitadas num poço de burocracias e que se vangloriam publicitando em altas parangonas nos jornais porque distribuem meia dúzia de papos-secos ou uns quilitos de arroz e massa não me merecem confiança nenhuma e enquanto forem mais um braço dos tentáculos do poder político e armadilhas para acentuar a burocracia, não servem para nada. As instituições de ajuda aos pobres têm que ser o mais discreto possível e devem ajudar sem condições nenhumas, pede é porque precisa. É essa única condição. 

quinta-feira, 21 de março de 2013

As árvores

Primeiro dia da Primavera. Dia mundial de tanta coisa. Para mim especialmente da água, da árvore e da poesia. Aqui deixo o meu contributo para assinalar este dia com o seguinte texto. Que seja este dia como todos os dias, que no profundo respeito pelos elementos da criação, sempre nos renovemos para a grandeza do amor e da existência na partilha com os outros sem qualquer sombra de ganância e egoísmo. 
As nobres árvores ali estão plantadas
Pacientemente no lugar da vida
Onde foram semeadas nessa terra.
Nelas e por elas passou o vento
Em todas as direções do tempo.
Não se detiveram no medo
Não cruzaram os braços à vida
E em copas pujantes destemidas
Deixaram sorrir o verde e os frutos
Como sinais imensos e convictos
Que apesar das teimosas tempestades
A vida sempre continua
E no olhar desta caminhada se renova.
As árvores são o bravo testemunho
Que a vida se fez tesouro em cada semente
Que foi lançada na terra até ao céu.
José Luís Rodrigues 

quarta-feira, 20 de março de 2013

O Papa Francisco na Argentina antes de ser Papa

Interessante. Acho que responde um pouco àqueles que não se cansam em fazer campanha negativa contra o Papa Francisco... O que não seria se o escolhido para ser Papa fosse um homem que não gostasse nada dos pobres, arrogante, com ar severo, sisudo, sem nenhuma aparência de humildade, sobriedade e bondade...


Peste Grisalha

Ainda bem que alguém respondeu a este grisalho do juízo...

Eis como este deputado do PSD trata os reformados:  - PESTE GRISALHA
Só lhe desejo que NUNCA seja atingido por esta PESTE!
Deputado do PSD Carlos Peixoto
Carta de Mª Virginia Machado (da Assocº de Aposentados, Pensionistas e Reformados).
Vamos então À «Peste Grisalha»
A propósito do Deputado do PSD que diz que a nossa Pátria sofre de Peste Grisalha, não consegui conter a raiva e a seguir transcrevo o mail que lhe enviei que é para alguém me defender se criarem uma nova prisão de alta segurança ou me mandarem internar num hospício.
Segundo o seu comentário que transcrevo a seguir gostaria de lhe fazer algumas perguntas:
A propósito de demografia escreveu: "A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha."

Ora bem:
1º - Deduzo que o Sr. Deputado que nasceu a 13 de Fevereiro de 1968 foi por obra e graça do Espírito Santo e como tal deve achar-se um filho de Deus que desceu à Terra.
2º - Portanto cresceu sem pai, sem mãe, sem avós e sem berço.
3º - Apesar de tudo isso nasceu feliz porque hoje não tem ninguém na sua família a quem possa dizer que faz parte da peste grisalha.
4º - Também não tem que agradecer a ninguém os estudos que tem. Chegou a advogado também por obra do Espírito Santo!

E agora vamos a conclusões. Pois fique sabendo que eu tenho na minha família e eu própria pertenço à peste grisalha. E fique sabendo também que quando o Sr. Deputado nasceu já eu trabalhava. E assim foi durante 44 anos, não devo nada a ninguém, tenho educação, princípios e moral coisa que lhe falta a si e muito!
A si falta-lhe tudo o que eu tenho, amor, amizade, convicções, solidariedade, determinação. Tive pai, mãe, avós, berço, mesmo que tudo tenha sido modesto.
Sabe que se não morrer cedo e espero que não, terá que engolir as palavras que disse ou então pintar o seu cabelo porque a peste também lhe chegará e alguém poderá lembrar-se do que disse. Alguém obviamente mais novo porque o Sr. Deputado poderia ser meu filho hipoteticamente falando. Felizmente não é porque para seu mal seria diferente ou então não se livrava de um bom par de estalos. Fique bem no meio dos seus e não se esqueça de todas as noites agradecer ao Espírito Santo!
Maria Virgínia Machado

Nota: Só para lembrar, esta figurinha é a mesma que já tinha dito o seguinte lá para os idos dias de Janeiro deste ano para passa: “O deputado do PSD Carlos Peixoto disse, esta sexta-feira, em declarações à Rádio Altitude, que quem admite um casamento homossexual pode também vir a aceitar o casamento entre irmãos, primos directos ou pais e filhos.” 

terça-feira, 19 de março de 2013

São José

Ao meu pai deste mundo, ao Papa Francisco e a todos os homens que são pais com a bênção de São José...
São José de quem muito foi pensado e dito sobre o que virá
Por Ele calou em silêncio de monge
Pois ficou sem dizer nada no tudo que foi dito
No Evangelho feito da Palavra.
Na perturbação do incompreensível andou em volta
E ditava a indecisão sobre um futuro que não era seu.
Mas quis o anjo da Palavra divina chamar a luz
A paternidade emprestada pela fé incondicional no filho
Que traria gozo não apenas para um só
Mas para todos os filhos da redenção do mundo.
Face a tão ilustre missão... José no segredo do corte certeiro
Da madeira talhada no móvel do silêncio sobre o impacto humano
Faz sobressair o divino pedido e sem repúdio
Nos braços suados e enegrecidos pelo pó do trabalho
Numa só decisão acolhe uma esposa, um filho e uma mãe.
Pois aqui estamos em contemplação do inacreditável do mundo
Para ver, pensar e sentir a santidade mais bem-aventurada de Deus
Que na intimidade do mistério vive a dedicação do sabor do trabalho.
No pensamento sólido um compromisso de fidelidade esponsal
E na dedicação paternal o sabor alegre da nobreza de um pai.
São José, trabalhador, esposo e pai... Em cada um de nós
Uma esperança e uma devotada consolação.
Vale sempre a pena fazer a aposta no amor de Deus
Mesmo que nem sempre a compensação do agora seja doce.
Mas logo será quando toda a vida se torna sentido
Para todos os filhos no sorriso do Filho.
Um obrigado a São José pela entrega e pela graça da generosidade
Que o seu coração verteu na hora do sim...
José Luís Rodrigues

Insultuosas alegrias

A Madeira, refere o Ministério das Finanças em comunicado, «realizou um esforço notável no sentido de alcançar as metas definidas, estando o Ministério das Finanças em condições de revelar que foram cumpridos os limites do Programa para 2012».
Por sua vez, por parte dos governantes da Madeira, o melhor que lhes apraz dizerem também nesta hora, é que a Madeira cumpriu o Governo da República não.
Estas declarações são magníficas e revelam uma insensibilidade impressionante em relação ao nosso povo espremido. Para estas entidades excelentíssimas há um desplante impressionante para dizerem semelhante coisa e por elas nós percebermos como estão felizes. Será que não há tempo e lugar para pensar um pouco à custa de quem, do quê e do como chegamos a estes resultados?
Então eu lembro algumas coisas. Não vou entrar com números de deficits, dívidas e outros números de caris económico e financeiro. Isso pouco me interessa e nessa área devo reconhecer que sou um completo ignorante e quando assim é devemos deixar tudo isso para quem estudou e sabe dessas matérias, por isso, tem autoridade para falar nesses dados.
Apresento o que sinto e vejo por todo o lado. Eis então. Este «esforço notável» e a alegria porque se cumpriu resultam, porque tínhamos alguém que entrou nos cuidados intensivos de qualquer hospital. Este doente foi um maroto, andou a viver acima das suas possibilidades e não cumpriu com todas as obrigações que a lei prevê. Adoece gravemente, mas os responsáveis do hospital confrontados com a obrigação da contenção, tirarem a ficha da tomada elétrica que o mantinha vivo, obviamente, que o doente coitado morreu, resulta que todas as partes interessadas no doente vieram a público e disseram todos, conseguimos, os valores da poupança estão todos abaixo do previsto. Porém, esqueceram-se que deviam ter salvo uma pessoa, mas pouco importa que essa poupança tenha resultado também no afogamento de alguém que acaba na morte.  
Outra comparação. Alguém mais que farto com o mau cheiro e com o barulho dos galos no galinheiro do seu vizinho, um dia perde a cabeça vai ao galinheiro e torce o pescoço às inocentes aves. O dono das galinhas fica feliz porque deixou de gastar dinheiro com as malditas das galinhas que estavam habituadas a comer muito. Ainda agradece ao vizinho assassino pela feliz iniciativa.
Bom, fora a brincadeira, se tivéssemos governantes a sério amigos do povo, diziam logo e sem pestanejar este «esforço notável» resulta do estrangulamento das pessoas, mais e mais desemprego, uma baixa horrível de salários, cortes terríveis na educação e na saúde. E todos os cortes que sabemos ao nível das ajudas da Segurança Social às famílias. Neste sentido, podemos dizer que tudo isto resulta de mais pobreza, mais fome e da vergonha de vermos filhos a pedirem ajuda porque os pais estão desempregados e não têm dinheiro para dar de comer aos filhos. Mais ainda resulta de imensas famílias a entregarem as suas casas ao banco e vergonha das vergonhas, um brutal rol de reformas penhoradas.
Ao lado disto continuam as despesas habituais, algumas obras desnecessárias, as festas de Natal, Carnaval e outras por essa Madeira dentro, apoios incríveis para alimentar e manter o que todos sabem, os salários e pensões para alguns e todas as mordomias que a maioria dos governantes não abdica descaradamente só porque a lei prevê, mesmo que a ética seja violentada severamente. Uma série de coisas que nos escandalizam e uma insensibilidade geral que põe em causa a justiça e acentua o fosso entre ricos e pobres entre nós. 
Estes são alguns aspetos de caris humano e social. E os custos psicológicos e da qualidade de vida? – Disso quase ninguém fala. Numa palavra «o esforço notável» e alegria porque «a Madeira cumpriu e a República não» resultam de uma tragédia horrível que deixa a população da região à beira de um ataque de nervos que ameaça consequência imprevisíveis.
Se tivéssemos governantes responsáveis nunca fariam pronunciamentos deste calibre e ao menos teriam uma palavra de simpatia e de consolo em relação ao povo que eles espremem com a mais fria insensibilidade com pesados sacrifícios.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Quando a Igreja se torna um circo

Pouco mais de um mês antes da histórica resignação do Papa Bento XVI, constou que vinha aí um documento do Vaticano com normas precisas sobre como celebrar a missa... Realmente, o que o mundo hoje mais precisava era disso mesmo, normas, muitas normas sobre como devem estar vestidos os padres quando presidem à celebração das Eucaristias. Mas, o melhor e que o Vaticano muitas vezes parece esquecer, é que Deus habita o coração de todos independentemente da indumentária que cada um ostenta. O Papa Francisco começa a dar sinais interessantes sobre esta sobriedade, simplicidade ao jeito de Jesus Cristo. A ver vamos em que se traduz para toda a Igreja Católica.
Acerca de um mês e meio quando soube da notícia sobre a publicação do documento do Vaticano, que essencialmente falaria das vestimentas clericais escrevi o seguinte.
O pior de tudo é que a 50 anos da celebração do maior acontecimento do século passado, o Concílio Vaticano II, que marcou uma grande viragem na Igreja Católica e que a colocou no caminho do desprendimento e da opção preferencial pelos mais pobres e que no contexto deste ano marcou a celebração destes 50 anos do Concílio com um ano sobre a fé. Agora lembrou-se que pode ser importante dar consistência ao circo que marca alguma Igreja nos tempos que correm.
Alguma Igreja Católica actualmente está a ser marcada pelo circo, atraiçoando a frescura e a grande viragem que o Concílio Vaticano II assinalou. Hoje, o Concílio vai sendo remetido à moda da aposentação antecipada e o mofo de muita coisa vai voltando em força. Por exemplo, as reflexões alarmantes estão a surgir por todo o lado. E nós vamos constatando que o gosto pela indumentária eclesiástica ganha contornos de autênticos ditames da moda e das regras mercantilistas da sociedade de consumo onde estamos inseridos.  
Assim sendo, as propostas cristãs foram-se transformando em mercadorias, que podem ser compradas ou rejeitadas de acordo com os caprichos ou gostos consumistas de cada um. A religião das imagens fortes foram tomando conta de alguma Igreja com os imensos grupos de cariz carismáticos que nasceram por todo o lado como cogumelos, tomando conta de alguns padres, que sucumbiram à tirania do jogo das emoções para seduzir as pessoas, especialmente as mais vulneráveis.
Desta forma, foram sendo enviadas às urtigas as ideias que faziam da Igreja «o povo de Deus», a participação de todos os batizados na vida da Igreja com direitos e deveres, surgiram as estrelas da religião espetáculo, há profissionais para venderem espetáculos religiosos, os «kits da salvação», as bênçãos para dar vazão da todos os caprichos, livros marianos carregados de imagens emotivos, vestimentas caríssimas de todas as cores e com todos os modelos, imagens que são autêntica bijuteria religiosa que são compradas a preço altíssimos, uma série de coisas que servem apenas para encher os bolsos de quem se aproveita da vulnerabilidade e da fragilidade das pessoas para fazer negócio. Perante isto, pergunte, e o povo? - O povo permanece mudo e inerte... O regresso do clericalismo em força.
Nada disto aponta para o céu. Antes serve o vazio intelectual e espiritual que persegue muita da expressão religiosa de hoje. Então temos muitos preocupados com o acessório, o culto das imagens, as indumentárias e o regresso de muitas delas que tinham sido arrumadas nos armários, agora regressam bafientas com o mofo anacrónico de um passado arrumado com o Concílio Vaticano II, mas que a incultura atual não pretende estudar nem muito menos saber que existiu. Antes procura o poder pelo poder, a vaidade e a distância porque «carne sagrada» em detrimento dos outros que estão fora e que devem se remeter à indiferença ou a meros espetadores que os iluminados, os escolhidos vão fazendo passar. As estrelas espirituais que pululam por aí são os «pop star» que não remetem as pessoas para o céu, mas para um paraíso ilusório revestido de fantasia.
Face a este panorama não nos surpreende que tenha voltado nalguns meios, ditos profundamente religiosos, o índex (lista de livros proibidos), modelos, catálogos, preçários e marcas de vestimentas eclesiásticas como acontece com tudo o que compõe a sociedade mercantilista e consumista de hoje.
Agora, neste contexto não podiam ser mais animadores os sinais de Papa que se chama Francisco, um irmão entre irmãos, que saúda como o comum do mortais (Bom dia, Boa tarde e boa noite) ou então que deseja um «bom almoço» à multidão que o escuta. É um como nós. Isso muda imensa coisa para já e outras se seguirão, porque em tudo isto, está a vitória do Espírito Santo e mais se reforça a ideia que contra este «Mistério» ninguém neste mundo pode fazer nada que trave esse «vulcão» que vem de Deus.