Não fosse a
doença que consome um corpo e o respeito que devemos ter diante de quem passa
por esse limite que é a doença que tanto sofrimento provoca, dava vontade de
rir esta novela pejada de contradições e episódios rocambolescos sobre a
vontade de poder de um homem que se toma como messias e enviado divino para
governar uma nação, um povo. Um Moisés dos tempos modernos ao contrário do
Moisés bíblico, porque não se achava capaz de assumir a missão porque
consciente dos seus limites. Este Moisés venezuelano mesmo morto acha-se o mais
capaz de todos os homens e ainda espera ser o novo libertador, qual Simón
Bolívar reciclado para salvar a Venezuela e quiçá toda a América Latina.
As notícias
sobre o estado de saúde de Hugo Chaves cansam sobremaneira e até provocam as
piores imagens sobre um homem doente fisicamente, mas mais doente ainda
psicologicamente e espiritualmente. Não sabe de si nem do seu estado de saúde,
ou porque não se sente ou porque não lhe dizem…
É demais
para ser tolerada a baboseira de tantos que por lá nesse mundo estranho que é o
da lógica do poder, que nele se arrastam apodrecendo, porque já há muito que
passaram o crivo da morte. Os próprios não se deram conta e os que estão à sua
volta teimam em não aceitar nem sequer cheirar esse odor fétido que paira no
ar. Por isso, já não é da doença que falam as notícias, mas de um morto que se
achava imortal, sobre-humano, porque lá no imaginário do sepulcro escuro ainda acredita
que viverá para governar um país.
Uma novela.
Uma tragédia que nos enoja, porque a não-aceitação dos limites está muito para
além da inteligência e do bom senso que todo o poder devia tomar como alimento
essencial. Mas nada disso. A ideia da imortalidade está lá, a força militar,
por sinal dirigida por um luso descendente da escola chavista e todo o
aparato logístico possível neste mundo ainda vai dando a ilusão do poder e a
ideia que há homens que são só deste mundo. Melhor, que neste mundo são eternos.
Ai quantos imortais já se foram tomados com esta ilusão…
Assim, anda
o povo venezuelano. Uns entretidos com esta novela, outros desesperados porque
perderam o seu líder querido, outros desejando que a notícia oficial da morte
seja proclamada. E por todo o lado vamos tomando conta desta tragédia que nos
cansa e outras Venezuelas se levantam em tantos lugares do mundo, porque a
consciência dos limites e a certeza de que os cemitérios estão cheios de
pessoas insubstituíveis ensina poucos. Desejamos que o exemplo do Papa Bento
XVI faça escola, mas lá que está difícil, está...
1 comentário:
Bom dia!
Sr. Pe. José Luis!
Gostei de ler esta sua reflexão.
"...Não fosse a doença que consome um corpo e o respeito que devemos ter diante de quem passa por esse limite que é a doença que tanto sofrimento provoca,..."
E, não fosse por isso e só por isso e seria apenas uma novela "mexicana"
Obrigada!
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