Sim, acabo de regressar ao tempo da vida. Porque, férias, devem ser um não tempo, um tempo sem tempo para horários ou qualquer sombra de programas. Aqui estou de novo, graças a Deus, retemperado e com vontade de retomar com alegria e entusiasmo as minhas funções.
Do outro tempo, o das férias, destaco e partilho convosco um momento crucial e deveras interessante. Porém, fica só e apenas isto porque das férias não pode haver muito para partilhar, nelas não se faz muito e muito lugar deve ter a preguiça, o gozo e o prazer de não fazer nada. Sem dispensar a leitura, a muita leitura.
No dia 6 de Setembro, participei numa celebração eucarística numa enorme catedral dos cristãos luteranos numa capital que visitava nesse dia. Cinco aspectos me surpreenderam e me encheram de alegria. Antes de enumerar os cinco aspectos, vou sublinhar, que este foi o meu preceito dominical, visto que o dia 6 era domingo, dia de preceito religioso, para quem tem prática religiosa. Alguns dirão, este desalinhado não foi à missa católica e foi a uma missa dos luteranos - esses desavindos que se separam da Igreja Católica na Alemanha do Séc. XVI, pela mão de Martinho Lutero. Digo-vos, senti uma alegria enorme e mais senti que estava perante uma experiência de profunda fé que me elevou para Deus. As diferenças são poucas entre nós e os nossos irmãos ortodoxos. Estamos afinal no mesmo caminho, o caminho de Jesus Cristo, e isso nos deve bastar. Se continuarem a ler este meu texto logo verão que tenho razão neste meu sublinhado.
Primeiro aspecto, a razoável assembleia era presidida por uma jovem pastora, por sinal muito bonita, à sua volta estavam quatro concelebrantes, um dos quatro também era pastora, que me pareceu ser a responsável principal da catedral, todos eram mais idosos que a jovem presidente da Eucaristia. Muito bonito este sinal para nós católicos, marcadamente machistas quanto à hierarquia que compõe a nossa Igreja Católica.
Segundo aspecto, a comunhão Eucarística foi distribuída da seguinte forma. Todos comungam das duas espécies do pão e do vinho, quem distribui a Sagrada Comunhão molha o pão no cálice e entrega-o ao fiel que o recebe na sua mão na ponta dos dedos e coloca-o em seguida na sua própria boca. Interessante esta forma de comungar. Falta na nossa Igreja menos palavreado e mais sinais que levem as pessoas a serem adultos responsáveis. É repugante o infantilismo dos nossos cristãos, que passam a vida toda à espera que lhe metam Deus pela boca dentro. O mais fácil sempre, nada de sinais e de atitudes que façam cada um ser mais pessoa com vontade própria e com responsabilidade. É pena que ainda sejamos tão pré-históricos quanto a este aspecto.
Terceiro aspecto, os jovens. Metade desta catedral estava preenchida por jovens, que faziam um certo ruído, próprio do ser jovem, ninguém lhes disse nada, nem mesmo os mais idosos que estavam sentados por entre os jovens. Ninguém foi beliscado.
Quarto aspecto, o côro. Belíssimo. Animavam a celebração com elevação e convidavam à oração. Toda a assembleia entrava facilmente no canto, com os livros dos cânticos na mão, todos, surpreendentemente, cantavam em sintonia com o côro. Este aspecto nada se compara com a animação das nossas celebrações. Nem com o reducionismo a que muitos ainda fazem da sua eucaristia, uma mera assistência.
Quinto e último aspecto, à saída uma organização ligada à catedral servia uma sopa quente acompanhada de pão variado, muitos se dirigiam para aquele local, especialmente, os jovens e todos os que desejaram, serviram-se do comensal eucarístico que se prolonoua extra muros da Igreja. A Igreja viva está aí na partilha material e no convívio fraterno, não dentro das Igrejas, mas fora dessa penumbra. À nossa Igreja falta-lhe mais sinais, menos conversa, menos formalismo abstrato e patético.
As duas pastoras, presidente e concelebrante (a que me pareceu ser a responsável da catedral), ficaram junto da porta saudando e cumprimentando todas as pessoas que participaram na festa do Pão de Deus, a Eucaristia.
No fim, sinto pena que a nossa Igreja não nos permita mais liberdade litúrgica para que cada um pudesse inovar e ousar em mais sinais que tornassem as nossas celebrações mais cheias de alegria e verdadeiros encontros de irmãos que se amam.
O muito paleio da nossa Igreja está a ofuscar-nos a inteligência e a cegar a ousadia.