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sexta-feira, 13 de setembro de 2019

As bruxarias não são o mal do mundo

Ando perplexo e até preocupado. São cada vez mais as pessoas que nos procuram com dramas interiores incríveis. Problemas e mais problemas de ordem familiar, depressões, falta de vontade, medos variados, azares e alguns em sobressaltados, mas crentes em bruxas, bruxos, macombas e todo o género de porcarias que alguns sabidos fazem com fumos, bebidas e comidas que dizem fazer todo o género de males.

Uma desordem geral. É verdade que tudo isto sempre existiu. Ainda eu era criança e bem me lembro das bruxas que se reuniam em determinados sítios, das luzes que elas acendiam em lugares sinistros dos sítios, nos vales e montes. Também me afiançavam dos diálogos e conversas que elas faziam e dos «remédios» caseiros que existia para fazer mal e alguns para curar os corpos e as almas. Nada disto me foi estranho. Ao longo do meu crescimento, educação e com o estudo fui percebendo que tudo isto fazia parte do imaginário dos povos, que servia para apaziguar os ânimos pelo medo e que alguns sabidos beneficiavam dessa ignorância dos pobres e simples.

Hoje não há desculpa para que pessoas às vezes com formação se deixem crer por estes disparates, que justifiquem os azares e problemas que as atormenta com estas magias doidas.

Hoje vivemos iluminados pelos avanços da ciência que também precisa que se acredite. Deve ser mais fácil acreditar em bruxas e bruxaria, mas não deve ser caminho para resolver os problemas. A razão e o pensamento são dons belíssimos que nos foram dados por Deus, que devem ser sempre utilizados para procurar as soluções para os problemas sejam eles de que ordem for.

É tão grave quando as pessoas chegam atormentadas e dizem «foram coisas que me fizeram» (estão a aludir à bruxaria), estive com este e aquele padre, eles confirmaram que «foram coisas que me fizeram» ou que resulta da «inveja que têm de mim». Não se percebe isto. Tenho presente o filósofo Sócrates (o da antiguidade), que dizia que a inveja, os rancores, os ódios e quiçá o desejo que as bruxarias peguem, «que são como beber um frasco de cicuta e esperar que o outro morra». Não é aceitável que se alimente esta desgraça. O essencial a meu ver é fazer despertar as pessoas para o bom senso, falar-lhes positivamente, convidá-las a usarem a cabeça, serenarem e buscarem vontade e forças para serem elas em paz a procurem por todas formas e caminhos a a solução para os seu problemas. Nada de magias e nada de patetices de bruxas e bruxos que não passam de mercenários que se aproveitam da fragilidade das pessoas para lhes extorquirem dinheiro. A religião se não liberta, não serve para nada.

Aos padres, deve ser requerido bom senso e capacidade racional para desmitificarem todas as magias e na medida do possível alertar para a única realidade que merece fé, que é Deus, o Evangelho e Jesus Cristo libertador.

Está visto, afinal, que o mal do mundo não são os bruxos e as suas bruxarias - isso sempre existiu - mas falta de bom senso de quem tem a tarefa principal que é pôr as pessoas a pensarem no bem e não em tolices, que encegueiram e conduzem à alienação, ao sofrimento e à morte.

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Fala-se muito de Deus

1. Nunca se falou tanto de Deus como hoje. Porém, muito menos se fala da fé e, sobretudo, da fé na sua dimensão social. Por isso, este falatório geral sobre Deus pouco ou nada tem que ver com a prática da vida. Porque Deus converte-se cada vez numa espécie de psicologismo de «autoajuda» para resolver problemas pessoais e dramas existenciais. Tudo isto interessa aos donos disto tudo e a todos os que pretendem fazer valer políticas integristas e fascistas. Basta reparar como anda uma série de governantes por esse mundo fora a receber bençãos e alguns em transes espiritualistas às mãos de pastores que se fartam de falar de Deus para ganharem dinheiro, manipularem consciências, extorquirem os bens e a dignidade dos pobres.

2. Não interessa o cristianismo a sério, que assente a fé na dimensão social, que recorrendo às fontes bíblicas, reclama pela prática da justiça, o amor ao próximo e a honestidade. Cristãos deste calibre são odiados. Não interessa nada uma fé militante que reclame pelo fim do mundo imperialista, pela abolição das organizações sociais baseadas nos privilégios, nas desigualdades sociais, na meritocracia e nas hierarquizações que endeusam uns sobre as cabeças dos outros. Os sistemas que assentam sobre estes pilares fascizantes gostam de Deus como realidade intimista, que aplica o curativo momentaneamente, mas que não impulsiona para a luta pelo bem comum, pelo fim das desigualdades e por uma justiça justa, verdadeira. Todas as igrejas que alimentam isto desconhecem Deus e não estão mesmo nada dentro dos verdadeiros parâmetros bíblicos.

3. Perante esta onda de Deus para cima e de Deus para baixo, não faltam mecanismos de manipulação religiosa para quietar as pessoas nos seus lugares íntimos sem abertura nenhuma ao próximo, à natureza e a terem nenhuma consciência sobre a ecologia do bem comum. Para esta desgraça não faltam meios e venenos nos novos movimentos carismáticos dentro e fora da Igreja Católica e nas seitas religiosas, onde abundam festanças, bençãos de cura, conversas intimistas, livros de uma plêiade enorme de autores enfeudados no privatismo religioso. Porém, a pregação sobre a dimensão social da fé profética que leva à luta da vida inteira e para todos,  isso pouco ou nada existe e não importa que exista aos senhores deste mundo. Um Deus de dentro e para dentro é o que se quer.

4. Neste domínio não admira que o estudo sobre a Bíblia e a leitura atenta sobre a mensagem da libertação dos pobres que a Palavra de Deus preanuncia exista nada e se procure fazer tudo para que nunca exista. Levar as pessoas a pensar, particularmente, os pobres não interessa aos dominadores. Daí que se perceba que estejam a ser eleitos por esse mundo fora líderes fascistas, integralistas devotos do «soberanismo» (como diz o Papa Francisco). Esta avalanche preocupante devia nos pôr em sentido e levar-nos a perguntar pelo que andamos a fazer com o Cristianismo e o quanto temos sido coniventes com ideias desumanizantes que não fazem bem a ninguém. Deviam soar as campainhas quando há tanta violação contra as liberdades e as garantias da justiça. A libertação dos sistemas injustos que o nosso mundo ainda faz perdurar, é a prioridade de Deus e da fé. Há uma grave responsabilidade em todos nós que devemos fazer valer com uma fé em Deus libertador de todas formas de manipulação e opressão.