Publicidade

Convite a quem nos visita

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Acho tão natural que não se pense

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...
Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas. . .
E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .
Que pensará isto de aquilo?
Nada pensa nada.
Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?
Se eu pensasse nessas coisas,
Deixaria de ver as árvores e as plantas
E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.
E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.
Alberto Caeiro
Imagem em: umateladearco-iriscampestre.blogspot.com

HIV e SIDA e outras DST

Nota: Este pequeno texto faz parte de um relatório que o Pe. Luís Dinis Macuinja, que conheci pela graça de internet, e de quem me tornei irmão e amigo, me enviou para que neste Natal façamos pelos meus lados uma campanha de solidariedade para ajudarmos estes povos, na medida das nossa possíbilidades. Quem desejar o relato na íntegra disponha. Aguardo também fotografias deste povo para que o texto ganhe ainda mais expressividade. Publico apenas esta passagem do texto porque está na ordem do dia e ouvir-se quem está no terreno concreto das situações torna-se mais consistente a palavra. As imagens que acompanham este texo foram recolhidas da internet e pelo que informavam em cada uma pertencem a Gurué: rua principal da vila e estrada de entrada na vila.
A Vila do Alto-Molócuè, situa-se ao Norte da província da Zambézia, ao longo do corredor da Estrada Nacional no.1 que liga o Norte com o Suldo país.
Devido a esta sua localização estratégica, às potencialidades agrícolas, florestais e mineiras e associado às dificuldades de emprego e acesso à educação, a Vila tornou-se em um lugar deconcentração de pessoas de diversas faixas etárias e proveniências, e de gente sem ocupação dada ao ócio, fonte de todos os vícios, expondo-se desta forma ao maior risco de propagação do HIV e SIDA e outros males sociais: o alcoolismo, a pilhagem, a droga, a criminalidade, a prostituição infantil, etc.
Nossos sonhos e desafios no combate e prevenção destes males
Perante esta deplorável situação e para salvar a juventude, futuro e esperança da sociedade e da igreja, urgem acções concretas que motivem e promovam esta camada social em vias de extinção. Criar um Centro Social de Promoção a que com o andar do tempo chamaríamos de “CENTRO MADRE TERESA DE CALCUTÁ” que acolha, durante o dia, crianças órfãs e vulneráveis, idosos e outros necessitados para lhes oferecer um ambiente de família, carinho, amparo, assistência sócio-humanitária e a possibilidade de estudar. O mesmo Centro se dedicaria ao apoio directo aos doentes da SIDA, aos infectados e afectados por esta pandemia para a mitigação dos seus efeitos. Igualmente promoveria acções tendentes à prevenção e combate ao HIV e SIDA através decampanhas de sensibilização e consciencialização sobre o perigo que esta pandemia representa para o futuro da sociedade, por meio depalestras, slides e vídeos, teatro, canto e dança, poesia, desporto e outras formas de comunicação para fazer passar a mensagem sobre HIV eSIDA.
Por: Pe. Luís Dinis Macuinja, pároco de Nossa Senhora de Fátima deAlto-Molócuè, Zambézia-Moçambique (África).

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Com o fogo não se brinca

Com o fogo não se brinca
porque o fogo queima
com o fogo que arde sem se ver
ainda se deve brincar menos
do que com o fogo com fumo
porque o fogo que arde sem se ver
é um fogo que queima muito
e como queima
muito
custa mais
a apagar
do que o fogo com fumo
Adília Lopes,
De Um Jogo Bastante Perigoso (1985)
Imagem em: anarka.blogspot.sapo.pt

Os Lusíadas - Extracto de Versão actualizada...

I
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo aquilo que lhes dá na gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se de quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!
II
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas…
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!
III
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano…
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.
IV
E vós, ninfas do Coura onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!
Recebido por mail de um amigo. O que faz nobre o nosso povo é isto mesmo. Brinca de forma criativa com as coisas sérias que nos atravessam. Este humor é refinado, merece bem a pena divulgação...

domingo, 28 de novembro de 2010

Palavras certas

«Os meios de comunicação preferem o grande espectáculo a esses exercícios de pensamento. O que encheu jornais e telejornais foi a resposta de Bento XVI à seguinte pergunta: Quer isso dizer que, em princípio, a Igreja Católica não é contra a utilização de preservativos? “É evidente que ela não a considera uma solução verdadeira e moral. Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana”.
Já vários Bispos e Cardeais tinham dito isso e muito mais como, por exemplo, o Cardeal Martini: “devo confessar que a encíclica Humanae Vitae engendrou, infelizmente, uma evolução negativa. Muitas pessoas afastaram-se da Igreja e a Igreja afastou-se delas. Causou muitos estragos. Um período de 40 anos, como aquele que acabamos de viver – tão longo como a travessia do deserto por Israel – poderia permitir-nos um olhar novo sobre estas questões”. Não se referia só ao preservativo. Perguntar-se-á: porquê, agora e só agora – tendo Ratzinger responsabilidades nesse deserto –, Bento XVI decidiu falar?
Têm sido dadas várias explicações. A última é cronológica. A declaração sobre o preservativo, na sua viagem a África, provocou muita indignação. A pedofilia dos eclesiásticos deixou o pontificado deste Papa numa aflição martelada, durante anos, pelos grandes meios de comunicação. O Vaticano estava prisioneiro dos seus próprios erros. Esta declaração, para já, fez de Bento XVI o Papa da coragem.
Seja como for, este acontecimento revelou-se uma grande operação de markting e talvez dê, por algum tempo, sossego a um homem muito cansado. Dará, também, que pensar? Como foi possível, durante tanto tempo, eclipsar a investigação teológica sobre a Humanae Vitae, de Paulo VI (1968)? Como se deixou considerar definitiva uma decisão provisória? Qual foi a liberdade de debate deste tema, nos espaços eclesiais? Deverá ser excluído da ética sexual o diálogo activo entre fé e razão?»
(Bento Domingues, Público)
......................................................................................................................
«Não foi por acaso que a revelação sobre o uso do preservativo apareceu no mesmo dia em que o Papa impôs o barrete a mais 24 cardeais. No dia seguinte, lembrou-lhes que devem estar sempre junto de Cristo na cruz. Mas cá está! No meio de todo aquele aparato do Vaticano, há aqui uma contradição entre a pompa e a cruz. Há aquele texto do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, que diz mais ou menos assim: vai Sua Excelência Reverendíssima o Bispo de Copenhaga, revestido de paramentos com filamentos de ouro e um báculo e uma mitra debruados de pedras preciosas, com todo o seu séquito em esplendor, senta-se num cadeirão de prata e dá início à sua homilia sobre a pobreza. E ninguém se ri !...
A alguém que se sentisse irritado com estas perguntas lembro um texto de Joseph Ratzinger, no qual escreveu que, se hoje se critica menos a Igreja do que na Idade Média, não é porque se tem mais amor à Igreja, mas a si e à carreira».
(Anselmo Borges, DN)

REALMENTE SOMOS RICOS LOS CUARENTONES, CINCUENTONES Y SESENTONES Y ............

Plata en los cabellos.
Oro en los dientes.
Piedras en los riñones.
Azúcar en la sangre
Depósitos de Aceite y grasa en cadera
Plomo en los pies.
Hierro en las articulaciones.
Y una fuente inagotable de Gas Natural.
¡¡¡¡Nunca se pensó que a partir de los 40 se pudiera llegar a tener tanta riqueza!!!!
un saludo a todos mis amigos los ricos.

Não espere que lhe façam... Avance!

Não espere um sorriso para ser gentil.
Não espere ser amado para amar.
Não espere ficar sozinho para reconhecer o valor de um amigo.
Não espere o melhor emprego para começar a trabalhar.
Não espere ter muito para compartilhar um pouco.
Não espere a queda para se lembrar do conselho.
Não espere a morte para dizer o quanto ama alguém.
Não espere a chuva para valorizar o dia de sol.
Não espere ser abraçado para dar um abraço.
Não espere a dor para acreditar na oração.
Não espere ter tempo para poder servir.
Não espere a mágoa do outro para pedir perdão.
Nem espere a separação para se reconciliar.
Não espere... Pois você não sabe o tempo que ainda tem.
Pois ninguém precisa esperar para amar, e buscar a felicidade.
A vida é uma oportunidade ímpar.
Estar neste planeta é uma imensa chance que temos de aprender, de levar daqui valores verdadeiros, levar amores maduros e duradouros, e deixar as memórias e vivências tristes do passado que tivemos.
Estar neste planeta é poder ajudá-lo a crescer, a deixar para as próximas gerações uma casa em ordem, reformada e melhor.
É deixar para nós mesmos, quem sabe, mais esperança.
Para isso, não podemos nos deixar acomodar, desanimar, deixar que a vida nos leve, ao invés de nós conduzirmos a vida.
Cada dia é único.
Cada manhã é diferente.
Cada noite tem sua beleza especial.
Por isso, despertemos para a vida realmente, deixando em cada instante a nossa contribuição, a marca de nossos corações por onde passarmos.
Ao final desta etapa - mais uma das muitas que ainda teremos - poderemos reconhecer satisfeitos, que cumprimos nossa missão, que nosso viver não foi em branco, e que agora somos mais felizes do que éramos antes.
Por isto tudo, não espere.
Não espere ser amado para amar.
Nem a chuva para valorizar o sol.
Não espere a dor para acreditar na oração.
Nem o afastamento para dar valor à presença.
Não espere ser chamado para se oferecer à tarefa.
Nem ter mais tempo para doar-se.
Não espere ouvir "eu te amo" para dizer "eu te amo".
Nem receber para então doar.
Imagem em: alicceinwoldeland.blogspot.com

sábado, 27 de novembro de 2010

Oração e Vigilância

.
Disse-nos Jesus: “Orai e vigiai.”
Sim, oremos e vigiemos.
.
Orai amando.
Vigiai servindo.
.
Orai compreendendo.
Vigiai auxiliando.
.
Orai confiando.
Vigiai esclarecendo.
.
Orai reflectindo.
Vigiai realizando.
.
Orai abençoando.
Vigiai construindo.
.
Orai esperando.
Vigiai aprendendo.
.
Orai ouvindo.
Vigiai semeando.
.
Orai, pacíficos.
Vigiai, operativos.
.
Orai, tranquilos.
Vigiai, seguros.
.
Abraçando a oração e a vigilância, dignifiquemos a nossa edificação espírito-cristã, ofertando-lhe o melhor das nossas vidas. E integrados nessas duas forças da alma, sem as quais se nos fará impraticável o aprimoramento íntimo, para atender aos desígnios do Eterno, permaneçamos, cada dia e cada hora, no refúgio da fé renovadora que nos enobrece a esperança, com a felicidade de trabalhar e com o privilégio de servir.
Por Francisco Cândido Xavier, da obra Mais Luz
imagem em:funchsiabrava.wordpress.com

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amigo

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O’ Neill

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Declarações feitas no novo livro-entrevista do Papa

Nota: texto muito oportuno, a não perder...
Comentário: o que ainda falta fazer depois das palavras do Papa sobre o preservativo
24.11.2010 - 10:47 Por António Marujo
Podemos desde já anotar algumas observações a propósito do novo livro do Papa e das suas declarações acerca do preservativo.
1. Obviamente, Bento XVI quis dizer o que diz no livro: mantendo a oposição oficial ao uso do preservativo, admitiu a sua utilização "em certos casos". Soam, por isso, a afirmações de mau perdedor as daqueles que vêm agora relativizar o que disse o Papa, afirmando que se trata apenas de repetir a doutrina.
Sim, Bento XVI não disse nada de novo em relação ao que muitos dizem na Igreja. Mas sim: o que ele disse é novo na boca de um Papa e isso dá-lhe uma grande carga simbólica que não pode ser ignorada. Habituados que estávamos aos pronunciamentos de João Paulo II e do próprio Bento XVI sobre a matéria, esta declaração muda a forma como a doutrina oficial católica é apresentada.
2. Isto dito, continuam a ser certeiras as palavras do teólogo espanhol Juan Masiá, que dirigiu cátedras de bioética católica em Madrid e no Japão: "No caso - meio cómico, meio anacrónico - à volta do preservativo: não se sabe se havemos de rir ou chorar. Nem sequer tinha que ser problema. Não só como prevenção de contágio, mas como anticonceptivo corrente (...). A teologia moral há muito superou esse falso problema.
" A história, de facto, podia ser outra e o preservativo já deveria ter deixado de ser um problema para a doutrina oficial católica há 40 anos - o Papa Paulo VI nomeou uma comissão para redigir aquela que viria a ser a encíclica Humanae Vitae, sobre o planeamento familiar. As posições da maioria da comissão, aberta ao planeamento familiar "artificial", não agradaram a alguns cardeais da Cúria Romana, que não deixaram Paulo VI em paz enquanto este não refez a comissão, de modo a manter a doutrina tradicional.
A tragédia destas quatro décadas, com tanta gente que abandonou a Igreja por causa das muitas decepções, nomeadamente no campo da moral, evidencia a forma como aquela foi uma oportunidade perdida.
Por isso, os crentes podem continuar a pressionar para que a doutrina oficial mude nesta matéria, acompanhando o que a teologia moral já fez: o problema não está nos métodos de planeamento familiar, mas sim na atitude radical das pessoas em favor da vida - também da vida no seu decurso e perante os problemas graves que as pessoas enfrentam.
3. Não será nunca uma afirmação como esta que o Papa fez que irá mudar a trágica realidade da sida. Todos sabemos que os católicos gerem a sua consciência nestas matérias indo muitas vezes contra o que diz o discurso oficial.
Mais ainda em África, onde o catolicismo tem pouca influência, mas onde a Igreja Católica e outras confissões religiosas têm um trabalho que o mundo mediático teima em ignorar: 800 projectos (dos cerca de 1200 no total) ligados apenas a congregações religiosas católicas, que apoiam 4,5 milhões de doentes e envolvem 3000 padres e freiras - sem contar, portanto, com projectos de outras instituições católicas.
4. Não se pode ignorar tão pouco a verdadeira ocultação mediática no que à religião, ao catolicismo e ao actual Papa em particular se verifica. Pode o Papa dizer que "libertar" a humanidade da fome é uma das tarefas "mais urgentes" no mundo (fê-lo há um mês, em mensagem à FAO); pode ele gritar pela reforma necessária do sistema financeiro (na última encíclica, Caritas in Veritate, e em várias outras ocasiões, a última das quais há dez dias).
Pode ainda dizer, como fez João Paulo II, a propósito da invasão do Iraque, que a guerra "é uma derrota da humanidade". Pode até pedir o fim do arsenal de armamento nuclear e do comércio de armas ou uma urgente reforma agrária - já o fizeram João XXIII; Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.
Nenhum destes temas provocará a mesma excitação que o preservativo (ou a enésima condenação do aborto), num império mediático fundamentalmente acrítico em relação aos verdadeiros e obscuros poderes: esses que radicam no sistema financeiro e nos grandes grupos económicos, que os governos deixaram de querer controlar.

O ADVENTO - VIGIAI

A partir deste Domingo, até ao dia 24 deste do mês de Dezembro, vamos celebrar um tempo muito especial, o Advento. Esta palavra significa vinda ou chegada. A Igreja manda, que durante este tempo, nós cristãos façamos uma preparação especial para receber Aquele que vem no Natal, Jesus Cristo, o salvador da humanidade.
Por ser um tempo de preparação a palavra que mais palpita agora é a esperança, como a mulher que está grávida e algumas vezes dizemos que está de esperanças. Por isso, o Advento é esse tempo de gravidez interior, quando o nosso coração se reveste com essa palavra tão forte e tão necessária para a vida, a ESPERANÇA.
A vida sem esperança não tem sentido nenhum, por isso, vamos fazer deste tempo do Advento o melhor tempo para procurar forças e todos os caminhos que nos levem ao encontro da esperança. A esperança é a luz de toda a vida, luz para o desespero perante os problemas, luz para deixar o coração ser mais generoso e aberto à partilha solidária, luz para quando os outros nos querem destruir e nos fazem muito mal, luz para a injustiça no trabalho, luz para a desobediência dos filhos perante a palavra amiga dos pais, luz nas trevas da doença e da morte, luz para a tristeza que é ver alguém mutilar-se com a droga, o álcool, luz para o domínio da soberba e do egoísmo, luz para toda a forma de injustiça e contrariedade que esta vida contém.
Vamos então procurar a esperança, porque ela é o melhor remédio para todas as doenças e de modo especial a febre da crise, que de tanto se falar nela, vai consumindo cada um de nós pelo medo e pela incerteza em relação ao futuro. Neste ambiente falta dizer bem alto as razões da nossa esperança. Deixemos Cristo acender essa a luz dentro de nós. O Advento serve para isso. A esperança conjuga-se em Jesus com a vigilância. Que o nosso coração se aqueça com a chama da esperança em relação ao futuro cheio de amor que Deus nos oferece. Nisto consiste o vigiar de Jesus, assumir a vida toda como dádiva do amor e fazer dessa dádiva uma oferta de felicidade para si e para outros. Quem assim proceder não se surpreenderá com a chegada de Deus, porque se preparou devidamente. Bom Advento para todos.
JLR
Imagem em: manancialdeluz.blogspot.com

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Bodas de Ouro da Paróquia de São José

PARÓQUIA DE SÃO JOSÉ - FUNCHAL
24 de Novembro de 2010 - Bodas de Ouro - 50º Aniversário de Vida Paroquial
A 24 de Novembro de 1960, foi publicado o Decreto que criava novas Paróquias na Diocese do Funchal. A Paróquia de São José foi criada pelo "Decreto sobre a Actualização das Paróquias" de D. David de Sousa, em 24-11-1960 e que entrou em vigor a 01-01-1961. Neste sentido, cabe-nos celebrar com a devida dignidade estes 50 anos de existência.
A Sede provisória da Paróquia, funcionou na Igreja de Santa Clara para os Actos de Culto e a Capela da Conceição para os Baptismos e Casamentos.
A Paróquia de São José já teve os seguintes párocos: o Primeiro pároco foi o Padre Rafael Maria Andrade, de 31-12-1960 até Setembro de 1969. Depois, entrou na paróquia o Cónego António Rosa Câmara (Setembro de1969 a 1982), tendo como coadjutor o Padre Agostinho Rafael Carvalho apenas durante um ano, de 1969 a 1970 (actual Pároco de Santa Cruz). A 16 de Fevereiro de 1982, começou a paroquiar em São José o Cónego João Duarte Rodrigues Pita de Andrade. No dia 23 de Setembro de 1990, entrou na Paróquia o Cónego Ernesto Fernandes de Freitas. Foi Pároco até Setembro do ano 2000. O Cónego Ernesto, foi o Pároco que deu início à construção da Actual Igreja, construída sob a direcção e orientação do Arquitecto Paredes. A 6 de Outubro de 2000 tomou a responsabilidade como pároco desta comunidade o P.e José Luís Rodrigues, o pároco actual.
A 19 de Março 1992, dia da Solenidade de São José, padroeiro desta Paróquia, procedeu-se à bênção da área da futura igreja e colocação da Primeira Pedra, que tinha sido benzida no ano anterior, 12 de Maio de 1991, pelo Papa João Paulo II, por ocasião da sua visita à Diocese do Funchal (Madeira).
Após este acontecimento marcante na vida da Paróquia, edificou-se a igreja actual durante os 2 anos seguintes. A Sagração e Dedicação do novo edifício, realizou-se a 17 de Julho de 1994. A construção e orientação estiveram sempre sob a responsabi-lidade do Pároco de então, Cónego Ernesto Fernandes de Freitas.
Aí está a concretização do sonho, do desejo e do trabalho das imensas pessoas que se envolveram na edificação desta obra. Podemos agora contemplar neste espaço toda a vida possível e o fim a que foi idealizado. Nele decorre a celebração do Mistério. Toda a vida litúrgica encontra abrigo entre as suas paredes. São sinais dessa dimensão o acolhimento, a oração, a pregação, a solidariedade, a catequese e o sentido de comunidade. São estes os pilares e a razão de ser desta paróquia e, afinal, de todas as paróquias. Todos os espaços circundantes à Igreja paroquial são espaços vivos onde se congregam, para as diversas actividades, todas as classes sociais e todas as etapas da vida humana.
Os 50 anos de existência da Paróquia de São José, como comunidade paroquial, enformam o sentido dos vários caminhos listados no parágrafo precedente. Vamos procurar explanar um pouco sobre cada um deles, para que a Paróquia ganhe cada vez mais sentido de Paróquia (COMUNIDADE) e todos os que participam nela encontrem resposta/alimento espiritual para as sua inquietações, desafios e ou problemas humanos que a vida sempre nos oferece.
Santo Agostinho, num dos seus sermões, a propósito de uma Dedicação de uma igreja dizia que a igreja é a casa das nossas orações, mas que nós próprios somos a casa de Deus.
Celebrar os 50 anos de uma paróquia significa, para mim, parar para olhar para trás, perceber os desafios do presente para lançar o futuro.
Vejamos cada um dos pilares que compõem esta igreja.
O acolhimento. Acolher quantos nos procuram. E quantos passaram por esta igreja para celebrar a sua alegria ou a sua tristeza à luz da fé. Quantos aqui vieram rezar, entregando a Deus as suas preocupações e angústias. Quantos vieram aqui celebrar a sua fé através dos sacramentos que dão sentido à nossa existência cristã. Quantos vieram aqui pedir um conselho, orações, orientação espiritual para as suas vidas…
A oração. Desde o início a comunidade paroquial de São José procurou o espaço, o lugar mais recôndito para o silêncio, onde é possível a oração. Nessa procura aparecem vários lugares e várias pessoas (crianças, casais, jovens, idosos…), que buscavam alimento para a sua relação com Deus. Nesses encontros e desencontros buscam o sentido da vida e a resposta para as inquietações que a fé sempre suscita.
A Paróquia também assenta no pilar da pregação, todas as igrejas, são "casas de pregação". Um dos motivos que traz as pessoas à Eucaristia dominical é para ouvir uma palavra que toque as suas vidas, que as ilumine e acompanhe. Uma Palavra que, antes de mais, é escutada - é a Palavra de Deus - e depois levada para a vida através da reflexão ou homilia.
Outro pilar muito importante da nossa comunidade é o da solidariedade. Se a Igreja deve ser solidária por natureza, as igrejas locais, espaços onde nos reunimos, devem ser focos de solidariedade. Também neste aspecto somos sensíveis: a nossa ajuda espiritual e material ajuda-nos a perceber o mundo e as suas dificuldades, abrir as nossas vidas à partilha, a perceber que o outro é nosso irmão. Neste aspecto gostaria de salientar não só a partilha solidária em géneros alimentares que todos os meses realizamos nas Eucaristias, mas também, saliento a forte sensibilidade para a ajuda monetária das muitas pessoas que abrem os cordões à bolsa para ajudar a manter e conservar a todos os níveis os espaços físicos da Paróquia. Isso demonstra o quanto existe de consciência aberta à comum união das pessoas que compõem esta comunidade. Por isso, agradeço a Deus e a todos por esta grande dádiva.
A catequese congrega em grupos à volta da disponibilidade imprescindível e voluntariosa das nossas catequistas que, na sua pequenez e simplicidade, falam de Jesus Cristo e do Seu Evangelho às crianças, aos adolescentes e jovens que compõem a dimensão do anúncio (a Boa Nova da salvação) da vida da comunidade paroquial. O movimento, a alegria e o ambiente de festa que a catequese proporciona nos espaços da Paróquia, leva-nos a afirmar sem sombra de dúvidas que, a catequese é a alma da comunidade.
Finalmente o sentido de comunidade. Se é verdade que um bom pastor faz um bom rebanho, não é menos verdade que um bom rebanho faz um bom pastor. Certamente que com este sentido de comunidade vem, de alguma maneira, o sentido de pertença. Para uns é uma identificação com a Paróquia de São José, para outros o sentido de comunidade passou por uma entrega voluntária às necessidades desta igreja. Também aqui tenho que lembrar, lembrar e agradecer a todos os que, ao longo destes anos, ajudaram na busca da qualidade da vivência comunitária que passou pelo coro, pelos leitores, pelos acólitos, pela catequese, pela ajuda aos mais pobres, pelos que colaboram de qualquer forma… É uma bela experiência sentirmo-nos ligados a uma comunidade.
Haveria certamente mais pilares onde a realidade desta igreja poderia assentar. Lembrei estes porque me parece terem sido visivelmente mais fortes.
50 anos passados, creio que todos devemos dar graças a Deus pelo tudo que faz em nós, por nós e nesta igreja.
É neste sentido que vos convido para a participação das actividades que vamos realizar durante a semana 20 a 27 de Novembro de 2010 para assinalar este aniversário. Este momento de festa consiste em três ocasiões. Dia 20 após a missa das 19 horas teremos na igreja uma conferência, no dia 24 (dia do aniversário dos 50 anos) teremos às 20.30 horas o descerrar de uma placa com a inscrição dos 50 anos da Paróquia de São José, seguido de um concerto de música clássica na igreja e no dia 27 às 17 horas teremos Eucaristia solene de Acção de Graças, seguida de convívio fraterno no Adro da nossa Igreja.
Todos, devem, sentir-se convidados para estes momentos que assinalam uma caminhada de 50 anos de uma Paróquia. Devemos com isto fazer jus aos muitos irmãos e irmãs que por aqui passaram/passam, que rezaram/rezam, trabalharam/trabalham e sonharam/sonham com a sua comunidade. Façamos festa em nome de todos e para todos.
Paróquia de São José
No ano de 2010
O Pároco
José Luís Rodrigues, p.
Nota: este texto está a ser distribuído pelas famílias que habitam no território da Paróquia de São José.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Semeador

Semeia contra o presente.
Semeia como vidente
A seara do futuro,
Sem saber se o chão é duro
E lhe recebe a semente.
"Sem saber se o chão é duro"…
"Sem saber"…
Sem saber porquê não cuida de saber,
Sem saber porquê não se interessa em saber,
Sem saber porquê não lhe compete saber…
Pois o papel do semeador,
A tarefa do semeador,
A missão do semeador
É, simplesmente, semear…
Miguel Torga
Imagem em: zizu81.blogs.sapo.pt

A greve dos médicos

Três medidas para aquietar, calar e pôr a trabalhar os médicos em prol do nosso povo doente.
Primeiro, açaimá-los com o cartão de militantes do PPD da Madeira Nova.
Segundo, conceder-lhe um subsídio semelhante ao subsídio que será concedido pelo orçamento regional ao catolicíssimo Jornal da Madeira (três milhões de euros).
Terceiro, os que não receberem estas dádivas sejam deportados à conta dos dinheiros dos contribuintes da Madeira para Bruxelas ou outro cantinho do mundo onde possam levar adiante o gozo mais que merecido do descanso.
Não havendo outra forma de pôr na ordem estes senhores médicos perturbadores da ordem pública no nosso Hospital, por exemplo, as conversações, então, aplicar estas medidas doa a quem doer. Mas, estamos seguros que estas medidas seriam eficazes, porque já temos provas mais que suficientes em outras situações semelhantes.
E porque a saúde é um bem precioso demais, que nos valha Nosso Senhor Jesus Cristo na hora da doença.
JLR
Imagem em: visãoregional.com.br

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Se cada um fosse uma casa...

Palabras de Rumi, el gran místico sufí del siglo XIII:
“El ser humano es una casa de huéspedes.
Cada mañana un nuevo recién llegado.
Una alegría, una tristeza, una maldad,
que viene como un visitante inesperado.
¡Dales la bienvenida y recibe a todos!
Aun si son un coro de penurias que vacían tu casa violentamente.
Trata a cada huésped honorablemente,
él puede estar creándote el espacio para una nueva delicia.
El pensamiento oscuro, la vergüenza, la malicia,
recíbelos en la puerta sonriendo
e invítalos a entrar.
Agradece a quien quiera que venga,
porque cada uno ha sido enviado
como un guía del más allá”.
Imagem em: cidadesaopaulo.olx.com.br

domingo, 21 de novembro de 2010

Papa Bento XVI admite uso do preservativo para travar a sida

20.11.2010 - 17:51 Por António Marujo, com agência
Pela primeira vez na história um Papa admitiu a utilização do preservativo “para reduzir “em certos casos” os riscos de contaminação” do vírus da sida, segundo um livro de entrevistas que será lançado na terça-feira. Excertos foram publicados este sábado no jornal do Vaticano.
O Papa Bento XVI mantém que não considera o preservativo “uma solução verdadeira e moral”, mas admite a sua utilização em casos concretos: “Num ou noutro caso, embora seja utilizado para diminuir o risco de contágio, o preservativo pode ser um primeiro passo na direcção de uma sexualidade vivida de outro modo, mais humana.”A afirmação do Papa surge no livro Luz do Mundo, uma entrevista ao jornalista alemão Peter Seewald, que será publicado terça-feira em Itália e vários outros países. Dia 2 de Dezembro estara à venda em Portugal (ed. Lucerna/Principia). O livro aborda temas como a pedofilia, o celibato dos padres, a ordenação das mulheres e a relação com o Islão, entre outros, o Papa Bento XVI cita o uso de preservativos por prostitutas. “Pode haver casos isolados, como quando prostitutas utilizam um preservativo.
Isso pode ser um primeiro passo para uma moralização, o início da tomada de consciência de que nem tudo é permitido e de que não podemos fazer tudo o que queremos”, afirmou o Papa. “Mas este não é o caminho para se vencer a infecção do HIV. Até agora, o Vaticano bania todas as formas de contracepção, além da abstinência, mesmo como prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
in Público

Nota da redacção: Estamos perante uma declaração revolucionário e surpreendente. E não venham com tretas. É a primeira vez que alguém com a autoridade que tem na Igreja Católica pronuncia palavras deste género em relação ao uso do preservativo como elemento para combater o Sida. Ainda esta semana num ambiente bem clerical, ousei pronunciar que entre vários cravos que a Igreja tem para arrancar - para ter uma relação mais saudável com o mundo actual - referi que o cravo dos contraceptivos a par da sexualidade seria um deles. Levei outra vez em cima com a doutrina que a Igreja sempre proclama nestas ocasiões, não aceita os contraceptivos para não incentivar à banalização da sexualidade, como se essa banalização já não estivesse bem presente na vida dos homens e mulheres da actualidade. E perante mais este dado, mais razões se encontram para que o preservativo seja uma forma de combate do Sida. Muito bem. A meu ver estamos perante uma revolução e um passo muito forte em frente. Agora que hão-de dizer aqueles e aquelas que sempre foram mais papistas que o Papa nesta questão? Estou para ver e dá-me um certo gozo estas coisas do discurso que se altera consoante a palavra do chefe. Os partidos políticos são assim, mas na Igreja Católica também não é menos. No fundo, o Papa apenas confirma o que Ele bem sabe que já acontece na vida dos povos. Em África não é novidade para ninguém que os religiosos nas comunidades não raras vezes são responsáveis pela distribuição de preservativos para evitar a propagação do contágio. Se assim não for que será do futuro dos povos. Um bem haja ao Papa, porque o seu pronunciamento sobre esta questão, mesmo que tímido, fará muito bem a muitas populações que travam um duro combate contra o Sida e que bem fará este pronunciamento para alívio de consciências a tantos irmãos e irmãs que perante o avanço cruel do Sida que mata indiscriminadamente populações inteiras, especialmente em África. Mais ainda serve ainda o pronunciamento do Papa para que várias pessoas na Igreja sejam reintegradas e não sejam mais olhadas de soslaio (alguns leigos cardeais, bispos, teólogos, padres, e outros), porque ousaram defender esta posição sobre o uso preservativo como elemento para combater o Sida pela via sexual. Em Domingo de Cristo Rei não podíamos ter melhor notícia. Dêmos graças ao Espírito Santo. Por fim, seja como for, de facto, não se pode deixar de saudar este pronunciamento histórico, que só peca por tardio.

JLR

sábado, 20 de novembro de 2010

O dia da Criação

I
.
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas como o mar
Em bondes andam em cima dos trilhos
E Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na cruz para nos salvar.
..
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar
Foi muita bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo
Mas por vias das dúvidas livrai-nos meu Deus de todo o mal.
...
Hoje é sábado, amanhã é domingo
Amanhã não gosta de ver ninguem bem
Hoje é que é o dia do presente
O dia é sábado.
....
Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.
II
Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado
Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado
Há um gardem-party na cadeia
Porque hoje é sábado
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado
Há umas difíceis outras fáceis
Porque hoje é sábado
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado
Há a perspectiva de domingo
Porque hoje é sábado
III
Por todas essas razões deverias ter sido riscado do Livro das Origens, ó Sexto Dia da Criação.
De fato, depois da Ouverture do Fiat e da divisão de luzes e trevas
E depois, da separação das águas, e depois da fecundação da terra
E depois, da gênese dos peixes e das aves e dos animais da terra
Melhor fora que o Senhor das Esferas tivesse descansado.
Na verdade o homem não era necessário
Nem tu, mulher, ser vegetal, dona do abismo, que queres com as plantas, imovelmente e nunca saciada
Tu que carregas no meio de ti o vórtice supremo da paixão.
Mal procedeu o Senhor em não descansar durante os dois últimos dias
Trinta séculos lutou a humanidade pela semana inglesa
Descansasse o Senhor e simplesmente não existiríamos
Seríamos talvez pólos infinitamente pequenos de partículas cósmicas em queda invisível na terra.
Não viveríamos da degola dos animais e da esfixia dos peixes
Não seríamos paridos em dor nem suaríamos o pão nosso de cada dia
Não sofreríamos mares de amor nem desejaríamos a mulher do próximo
Não teríamos escola, nem serviço militar, casamento civil, imposto sobre a renda e missa de sétimo dia.
Seria a indizível beleza e harmonia do plano verde das terras e das águas em núpcias
A paz e o poder maior das plantas e dos astros em colóquio
A pureza maior dos instintos dos peixes, das aves e dos animais em cópula.
Ao revés, precisamos ser lógicos, frequentemente dogmáticos
Precisamos encarar o problema das colocações morais e estéticasSer sociais, cultivar hábitos, rir sem vontade e até praticar amor sem vontade
Tudo isso porque o Senhor cismou em não descansar no Sexto dia e sim no Sétimo
E para não ficar com as vastas mãos abanando
Resolveu fazer o homem à sua imagem e semelhança
Possivelmente, isto é, muito provavelmente
Porque era sábado.
Vinícius de Moraes

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Fé e economia social

Por uma espiritualidade do dinheiro
Sei que a muita gente este título parecerá uma blasfémia. O nosso Ocidente cristão estabeleceu uma barreira tão impermeável entre o espiritual e o material que tornou obtuso, à partida, qualquer diálogo entre a espiritualidade e a produção e circulação de riqueza. Para não falar já do funcionamento da economia ou das formas diversas do capitalismo. São campos completamente separados. Quanto muito julgaremos legível a formulação do filósofo Jacques Ellul avançada como repto: «é necessário profanar o dinheiro», isto é, restitui-lo à sua função de instrumento material de troca, desinvestindo-o da sacralidade simbólica com que é tratado.
Mas defender “uma espiritualidade do dinheiro” é, certamente, caminhar nesse sentido. A leitura da Bíblia também aqui pode ser instrutiva. O Antigo Testamento, por exemplo, faz uma apreciação fundamentalmente positiva acerca dos bens e da prosperidade. Mas a diferença entre ricos e pobres é sempre vista como um escândalo intolerável. Toda a legislação social que enche o Livro do Deuteronómio não visa promover o remendo da esmola, mas pretende sim (e ousadamente) assegurar os direitos dos pobres. Institucionaliza-se na chamada «Lei da Aliança» um verdadeiro pacto social, que passa por medidas espantosamente concretas como o perdão das dívidas ou uma redistribuição periódica dos bens como meio de travar os cíclicos fenómenos de empobrecimento dos grupos sociais mais frágeis.
Por vezes ouve-se repetir apressadamente a sentença «Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22,21) como certificação de que Jesus virou as costas ao dinheiro. O Evangelho não conta isso. O episódio em casa de Zaqueu, o rico cobrador de impostos, mostra antes como o que acontece é uma mudança de papéis. O dinheiro deixa de ser amontoado e usado em função do próprio para passar a ser reparador de injustiças e antídoto contra a pobreza. Como explica o teólogo Daniel Marguerat, a interpelação de Jesus leva-nos mais longe, pois ele não pergunta apenas, «que fazes tu do teu dinheiro?”, mas coloca-nos perante esta incontornável questão: «o que é que o teu dinheiro fez de ti?».
José Tolentino Mendonça, in SNPC
Imagem: Andrew Brookes/Corbis

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo XXXIV Tempo Comum, Cristo Rei
21 de Novembro 2010
Jesus também é rei
A realeza de Cristo, é totalmente diferente daquela que é assumida e exercida pelos reis deste mundo. Como podemos reparar Cristo não é em nenhum momento um rei todo-poderoso, rodeado de exércitos ávidos de combate e de poder. Pelo contrário, dirá com veemência: «o Meu Reino não é deste mundo». Antes, é o rei dos famintos, dos que têm sede de justiça, dos peregrinos, dos sem roupa, dos doentes e dos presos.
Ele é rei. Mas um rei que não se coaduna com as injustiças sociais, pessoais e institucionais. O Seu trono é uma cruz. A sua morte na Cruz é o resultado da sua acção contra tudo o que não promove a dignidade da vida e do amor entre os homens. É o preço a pagar pela sua radical preferência pelos desafortunados deste mundo.
Jesus é rei de um reino outro, onde o entendimento entre todos emerge como o resultado da fraternidade e da partilha. O reino de Jesus não está de acordo com a mentalidade da cultura onde predomina o mais forte sobre o mais fraco. Neste reino, não podem existir pacificamente os lugares da morte e do sofrimento nem podem ser tolerados os caminhos da pobreza e da miséria. Se ainda existem, então, será necessário fazer surgir outros valores e outros caminhos que proporcionem o bem-estar igual para todas as pessoas. Eis o reino do bem comum.
Somos todos chamados não a zombar de Jesus, como fizeram os descrentes do seu tempo, mas a acolher com verdade e sinceridade que é possível mudar as coisas do mundo. Cada um é chamado a procurar no lugar da sua existência formas e modos de encarar as relações com os seus semelhantes de forma mais humana e mais cristã.
Neste sentido, é urgente deixarmos que o nosso coração não seja tão ávido de poder e domínio. E melhor será para a felicidade se facilmente aprendermos que o rei que parece morrer à mão dos algozes da sociedade judaica, está vivo e reina no coração de muitos homens e mulheres que sabem conduzir as suas acções pela disponibilidade, a simplicidade e a humildade. Cristo é o rei da vida para todos.
JLR
A imagem é de: realezadecristo.blogspot.com

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

JOÃO BÉNARD DA COSTA

Alguns permaneceram – e permanecem – católicos. Quase todos deixaram de o ser. Alguns tiveram ainda posições de relevo, como leigos, na Igreja Católica. Quase todos ficaram nas margens d'Ela. “Na expectativa” (en úpomoné, palavra grega donde o termo vem) como um dia disse estar Simone Weil, cujo luminoso ascetismo também tanto nos marcou? Não posso falar por outros. Falo apenas por mim. Agora que tanto narrei, revejo aquele de nós que mais cedo caiu – Cristovam Pavia, que se atirou para debaixo de um comboio em 1968, aos 33 anos – e releio um poema dele. Acabo como comecei com versos. E são estes:
Voltarei à penumbra fresca da igreja
Ancestral, silenciosíssima e vazia,
Aonde está pousado o teu altar:
Doce mãe Maria...
E ajoelhar-me-ei,
E fecharei os olhos sem pensar...
- Que a minha oração nada mais seja:
Basta descansar.
(final de Nós, os vencidos do catolicismo, edições Tenacitas, 2003 / o poema de é do livro 35 Poemas e tem por título A Nossa Senhora)
Foto de Cristovam Pavia

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Adília Lopes

A poesia de cada dia
nos dai hoje
***
Reza escreve cisma sonha
tagarela sempre
Dois poemas de Adília Lopes (do livro "Apanhar ar", ed. Assírio & Alvim)

Algumas perguntinhas

Os bispos andam preocupados com o povo. Ainda bem. Acordaram como alguém parece ter insinuado.
Mas, façamos algumas perguntinhas sobre estes senhores bispos que estão à frente das dioceses do nosso país:
1. Não são estes mesmos senhores bispos que levam ao colo os governantes quando se trata de conseguir subsídios para as suas dioceses?
2. Não são estes mesmos senhores bispos que num rodopio andam atrás dos párocos para que eles lhes entreguem estipêndios de missas, ofertas das pluri-intencionais, ofertórios das missas paróquiais e outras ofertas que deviam ser canalizadas para os serviços e património das paróquias?
3. Não são estes mesmos senhores bispos, que nunca prestam contas a ninguém das suas dioceses, dos santuários e outros organismos das Igrejas? - Para isto o povo não é chamado.
4. Não são estes mesmos senhores bispos, que não sabem o que é transparência, porque nunca entendem que gerem bens do mesmo povo que eles agora se arvoram em defensores contra os políticos ou os governantes?
5. Não são estes mesmos senhores bispos, que engavetam os padres idosos em lares de terceira idade e com isso acham que fizeram o melhor do mundo? - (exemplos concretos não faltam). Sacerdotes que trabalharam uma vida inteira a favor da Igreja e agora são votados quase ao abandono em lares de idosos – lares, pelos quais nutro todo o respeito e que ainda são um mal menor para tanta gente que ficaria em muito pior situação se eles não existissem. Porém, não parece ser o ambiente adequado para um padre. Por isso, podemos vê-los na maior das tristezas e completamente derrotados.
6. Não são estes mesmos senhores bispos, que acham que os padres não precisam de uma casa sacerdotal, com um ambiente propício e adequado à condição do sacerdote, para terminar os seus dias neste mundo com toda a dignidade?
7. Não são estes mesmos senhores bispos, que pedem renúncia dos seus cargos aos 75 anos, vão para palacetes que eles constroem com dinheiro do povo e vivem o resto das suas vidas com pensões douradas da Segurança Social e dos fundos das dioceses?
8. Não são estes mesmos senhores bispos, que organizam visitas da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima e visitas do Papa às suas dioceses e não prestam contas a ninguém sobre essas e outras actividades?
9. Não são estes mesmos senhores bispos, que sob o seu aval gastaram fortunas com a visita do Papa a Portugal (lembram-se dos altares construídos para apenas uma missa, Lisboa e Porto, que custaram mais de meio milhão de euros?)? E quais os frutos dessa visita para a Igreja e para o nosso país? (A estes senhores bispos será que não lhes faz impressão nenhuma que a visita do Papa a Espanha tenha custado 6 milhões de euros?)?
10. Não são estes mesmos senhores bispos, que intentam gastar fortunas para elevar aos altares alguns santos, que entre o povo, a expressão e devoção é quase nula (Lembram-se do Imperador do Monte, o Nuno ÁlvaresPereira - o Santo Condestável - entre outros, que a fabriqueira comissão vaticana para os santos vai produzindo todos os anos e que engole rios de dinheiro do povo para fazer um santo)?
11. Não são estes senhores bispos…? - Se quiserem, podem continuar a fazer perguntas, estas são apenas algumas que me saltou ao pensamento por hora.
Afinal, a sonolência dos bispos, não foi só de agora é antiga e está presente nas suas acções consoante as conveniências e os apetites.
JLR

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Poemas de Fiama Hasse Pais Brandão

Anjo enlouquecido pelo tempo

.

Esmaga-Te um grande círculo que eram

as ruas. Vi-Te ao longe tactear

e correr. Despedi-me a olhar o Teu pânico.

Da varanda vi as ruas que eram sórdidas.

..

Naquela luz de verão Tu estavas nítido.

Os despojos das flores roxas emaranhados

nos Teus pés no alcatrão escuro

esvoaçavam. Automóveis esbatiam-Te

...
a figura. Qualquer eco ao partires
havia de morrer. Pedras tornavam
as ruas uma paisagem onde cabeceavas.
Tu partias arrastado pelo Tempo.
....
Assim como eu ficava a ver-Te ao longe
entre as folhas. Grandes copas verdes
todas de flores minúsculas escondem
o rosto dos Teus movimentos. Dócil ante
.....
o destino eu imagino-Te. Tu eras frágil
como as minhas sílabas vagarosas.
..............................................................................
Natureza morta com louvadeus

Foi o último hóspede a sentar-se
no topo da mesa, já depois do martírio.
As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas
por algum vento. Perdera o rumo
sobre a película cintilante de água
no riacho parado. Tal como poisou
junto de nós, como o belo corpo magro
arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,
um santo mártir. Enquanto meditávamos,
a morte sobreveio, e a pequena criatura,
que viera partilhar a nossa mesa,
depois de ter sido banida das águas
foi banida da terra. Alguém pegou
no volúvel alado corpo morto
abandonado sem nexo na brancura da toalha
- que maculava –
e o atirou para qualquer arbusto raro
que o poeta ainda pôde fotografar.

Imgem Google

sábado, 13 de novembro de 2010

As dicas e tricas da nossa saúde

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS): «Saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não, simplesmente, a ausência de doenças ou enfermidades». Será que é isto que vemos no nosso sistema de saúde regional? Será isto que paira na cabeça de todo o nosso pessoal ligado à saúde de todos?
Ora bem, eis o que deve implicar ter saúde. Mas, como podemos estar bem de saúde, se aquele sector que deve tratá-la está diariamente em constante rebuliço? – É grave o ambiente de frequente instabilidade em que médicos, enfermeiros e outros agentes da saúde manifestam. Há uma guerra constante entre alguns agentes da saúde. Nós, povo simples, olhamos intrigados para aqueles a quem confiamos cegamente o que de mais valor prezamos, a saúde. A nossa impotência perante esse valor, faz-nos recear cair às mãos desta gente que se guerreia entre si por coisas tão corriqueiras e tão ignóbeis que nos deixam perplexos. Eles são o poder, o dinheiro, a partidarismo cego e, possivelmente, as dicas e tricas entre grupos de amigalhaços.
Assim, não admira que reine a incúria e o desleixo face aos doentes. Não admira que para conseguir uma operação é necessário um padrinho ou uma madrinha influente. Não admira que algumas mortes se revelem esquisitas e levantem suspeitas. Não admira que os doentes com melhores posses económicas fujam para os privados e se metam no avião em direcção a Lisboa fazer exames, análises, operações e todo o género de tratamentos. Porque acontece isto? – Simplesmente, porque deixaram de confiar no pessoal que trata da saúde entre nós. Por fim, não admira que se oiça cada vez mais este desabafo, «o melhor remédio para a doença, é morrer».
Retratado este clima de dicas e tricas, penso, que é chegada a hora de começar a pensar nas pessoas. Pede-se às autoridades da saúde que pacifiquem este sector, porque dele depende o bem-estar social e psicológico de um povo. É urgente tomar medidas. É urgente serenar os ânimos e deixar de pensar-se em interesses pessoais e de grupos para pensar-se mais no Bem Comum. E como é elementar e crucial este Bem Comum!
JLR

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Comentário à Missa do Próximo Domingo

Domingo, XXXIII Tempo Comum
14 de Novembro de 2010
O fim do mundo
O Evangelho deste Domingo - tirado de Lucas - é muito intrigante e coloca-nos diante das coisas do mundo envolvidos em muita perplexidade. Será que as guerras, a insegurança geral e o medo que nos atacou serão os sinais dessa realidade do fim que Jesus nos fala? Como ler os acontecimentos do mundo sem cair num sobressalto? Como não viver assustado perante tanta desgraça que o mundo apresenta? O que pensar ao lermos este texto onde Jesus parece prever destruição e sofrimento para toda a humanidade? Já chegou esse tempo de desgraçadas anunciado pelo Evangelho? Em que ficamos ...(?) São muito legítimas todas estas questões e inquietações, porém, descobrimos por detrás das palavras de Jesus um tema essencial da sua mensagem, a esperança. Assim, escutemos esta frase: " ... Não os sigais. Quando ouvirdes falar de guerras e de revoltas, não vos alarmeis ... ".
O apelo à esperança está claramente nestas palavras de Jesus. Quando pronuncia o seguinte: "Assim tereis ocasião de dar testemunho". Nestas frases a descoberta da esperança toma-se elementar. E mais devemos saber que ninguém pode 'dar testemunho se não tem esperança. Os cristãos, são hoje confrontados pela a palavra do Mestre, para reacenderem de novo a espe-rança e perceberem que a desgraça da cruz é apenas uma passagem para a ressurreição e para a plenitude da vida. Nada deve ser motivo de desânimo, porque já sabemos que a acção de Deus continua de forma silenciosa na história concreta de toda a humanidade.
Nada deve ser causa de derrota, porque, embora, a consternação das nossas almas perante o sofrimento e a morte de tantos irmãos, motivados pela fome, pelas epidemias e pela guerra. Nós devemos lutar por um mundo mais justo e mais fraterno. Deixar-se derrotar será a pior das atitudes, porque isso nada resolve a situação das misérias e dos problemas que a humanidade toda enfrenta. A partilha e a solidariedade são nomes que nunca tiveram tanta actualidade.
Dar testemunho, é o grande desafio do Evangelho. Como dar esse testemunho que Jesus nos pede? - Na realidade concreta da nossa vida devemos antes de mais mostrar que nada nos vence. A vida só tem sabor e gosto para a própria pessoa e para os outros se soubermos com verdade e sinceridade acolher o futuro com a luz da esperança. A descoberta da esperança é sempre o caminho mais seguro para descobrir o sentido da vida. As opções, o trabalho e as tarefas só têm valor e sentido pleno se o nosso coração se deixou encher com a certeza da esperança. É disso que cada um deve dar testemunho.
O que nos parece o fim do mundo não o será, tudo são sinais de Deus, que nos sobressaltam alguma vez, mas devem ser tomados como desafios à esperança e ao desejo que a vida será sempre cheia de luz quando olhada com os olhos do Deus da vida.
JLR
Imagem de: despertandonaluz.blogspot.com

Emmanuel Levinas e a noção de "Rosto"

Filosofia
Nota: Quanto nos pode revelar um rosto...
Emmanuel Levinas nasceu em 1906 na Lituânia, no seio de uma família judaica, tendo-se naturalizado francês. É pois conhecido como um filósofo francês, cuja cultura adotou e representou, tendo falecido em Paris, em 1995.
Foi muito influenciado pela cultura russa, tendo assistido à revolução de outubro de 1917, pelo pensamento de Edmund Husserl, sobre quem escreveu a sua tese de doutoramento, e pela religiosidade judaica, herdada do berço materno e mantida durante toda a vida. Foi feito prisioneiro pelos alemães na II Guerra Mundial, e após a sua libertação viria a lecionar na Escola Normal Israelita Oriental de Paris, e em várias universidades francesas, entre as quais a Sorbonne. Durante esse período terá escrito a maior parte das suas obras, entre as quais, provavelmente, a mais significativa, Totalidade e Infinito (1961).
Apesar da marcada influência da cultura e religiosidade judaica o pensamento de Lévinas tem inúmeras articulações com o cristianismo. E talvez a mais saliente se condense na noção de rosto, por ele inaugurada, qual eixo e matriz do seu pensamento.
Aqui Rosto humano não é entendido no seu sentido plástico, estético ou psicológico, mas é rosto enquanto marcado pelos traços do sofrimento e da indigência: “Rosto do estrangeiro, da viúva e do órfão, rosto que não posso reconhecer senão pelo dom e pela negativa; sou livre para dar e negar. (…) As coisas não são como pensa Heidegger, o fundamento do lugar, a quinta-essência de todas as relações que constituem a nossa presença no mundo (…) O facto decisivo é a relação do eu com o outro; aqui as coisas não se manifestam como aquilo que é construído, mas aquilo que e dado”, escreve ele em Totalidade e Infinito.
O rosto introduz-nos ao sofrimento do outro: a fome, a pobreza, o frio, a humilhação e a violência sofrida constituem a retórica do rosto, a introdução do rosto no universo dos valores. Neste caso não os valores triunfantes, auto-justificativos ou narcísicos, mas os valores que se revelam no lado oprimido da vida. Estamos pois perante um pensamento que encontra no outro o seu centro de gravidade, e de uma forma bem próxima da que encontramos nas Bem-Aventuranças. Ou mais genericamente na Boa Nova anunciada por Jesus Cristo.
Mais um pensador que não sendo confessionalmente católico, não deixa de nos inspirar através das suas profundas intuições, e do seu pensamento que atravessou grande parte do século vinte.
José Acácio Castro
Universidade Católica Portuguesa
In Voz Portucalense, 10.11.2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Embolismo

livra-nos, Senhor
das armadilhas da mentira e da sedução
livra-nos do tempo sem redenção e sem justiça
livra-nos das situações em que a verdade
se torna produto de troca e se prostitui
livra-nos de ser louvadores do tempo presente
lubrificadores da máquina social que faz os pobres
livra-nos da ideia de justiça que recompensa e pune
e dá-nos o acesso à parcela de justiça que a todos é devida
dá-nos o dom inegociável da Vida que se dá
e a todos se promete
dá-nos a esperança para pensar os perigos da hora
e o amor que nos remeta para a fonte de onde os rios correm
Poema inédito
José Augusto Mourão, o.p.In Observatório da Cultura, n.º 14 (Novembro 2010)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PARASITAS

.
No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.
..
Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.
...
E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,
....
Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.
Guerra Junqueiro
Nota: Tirado de A Velhice do Padre Eterno, que é um poderoso libelo contra o obscurantismo da Igreja Católica em Portugal e contra o clero do século XIX. Fica este soneto como sinal dessa leitura possível, quando os factos, às vezes, não negam a crueza da metáfora...
Imagem de: www.portaldecanoinhas.com.br

Violência na Madeira

O mundo está perigoso. A Madeira está perigosa. Já parece a Venezuela dizem alguns. Ainda não tanto, mas para lá caminhamos.
A agressão do Presidente do Marítimo Carlos Pereira a um jornalista do Diário de Notícias, Marco Freitas, é deplorável e manifesta uma perda de cabeça incompreensível de alguém que devia sempre manter cabeça fria e saber que o cargo que exerce implica uma dose de exemplo essencial, porque tem em mãos uma instituição que faz convergir milhares de atenções e está especialmente vocacionada para os jovens.
Será que o Presidente do Marítimo se prepara com estas manifestações exteriores de violência para a Missa do Parto que o Marítimo celebra com pompa e circunstância numa das paróquias da cidade do Funchal em Dezembro? – Deixemo-nos de rodeios e vamos ao que interessa.
O Presidente do Marítimo tem todo o direito a manifestar o seu desagrado por alguma coisa que um jornalista tenha escrito a seu respeito ou sobre a instituição que dirige. Porém, com a responsabilidade que lhe é conferida e pelo exemplo que deve dar dentro da instituição que dirige, dar largas aos seus instintos de violência gratuita não convence ninguém da sua razão. O recurso à violência deita por terra todas as razões do mundo.
Não é o Marítimo um clube desportivo que pretende ocupar jovens, tirando-os dos maus caminhos e preparando-os para a vida em sociedade? Será a violência gratuita um dos métodos defendidos e praticados naquele clube de futebol e, pelo que se vê, especialmente pelo seu presidente? - Com estas atitudes estamos falados quanto ao exemplo que os responsáveis das instituições da nossa terra demonstram…
Um gesto a todos os níveis condenável. Embora não seja nada que nos admire face à forma como os políticos e outros responsáveis pela vida pública da Madeira se tratam entre si e como encaram os seus adversários. A linguagem violenta e de calhau que todos os dias nos brinda aquele Parlamento Regional e o Presidente do Governo estão a dar os seu frutos. As crianças nas escolas, na catequese e em casa respondem com frequência aos pais, aos professores e aos catequistas, se o Alberto João fala assim porque não hei-de falar também. Não tarda nada invocarão aqueles que recorrem à violência para a praticarem como pão-nosso de cada dia.
Aos mais responsáveis, pede-se mais responsabilidade e o recurso à linguagem obscena/violenta e a vias de facto para impor os seus pontos de vista não levam a razão nenhuma nem constroem o mundo e a nossa Madeira cheia da beleza humana que se deseja.
JLR
Foto Diário de Notícias