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Convite a quem nos visita

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

31 Maio 2009
Domingo de Pentecostes – Ano B
O Espírito é o mesmo
1 Cor 12, 3b-7.12-13
O Pentecostes, o que é? - A origem do Pentecostes está intimamente ligada à Páscoa, celebrando-se sete semanas depois da Páscoa, quer dizer, no 50º dia após a Páscoa e, por isso, a tradução grega chamou-lhe Festa do Pentecostes ou festa do Quinquagésimo Dia.
No Antigo Testamento hebraico era designada festa das (sete) Semanas. Era a festa da colheita do trigo, enquanto a da Páscoa era a das primícias da cevada. "Depois, contarás sete semanas, a partir do momento em que começares a meter a foice nas searas. Celebrarás então, a Festa das Semanas, em honra do Senhor." (Dt 16,10-12).
Inicialmente, tal como a Páscoa, o Pentecostes ligava-se à fertilidade dos campos. Com a história de Israel passou a ligar-se ao dom da Lei no monte Sinai, daí os rabinos lhe chamarem a Festa do Dom da Lei (mattan Torá).
No tempo da primeira comunidade cristã, Jesus enviou o Seu Espírito (o Espírito Santo) precisamente na semana em que se celebrava a festa do Pentecostes. A descida do Espírito sobre os Apóstolos aconteceu no meio de fenómenos semelhantes à "descida" da Lei no monte Sinai, com o ruído de trovões, o fogo dos relâmpagos, fumo, sismo (Act. 2,1-4 e Ex 19,16-19). O Espírito de Jesus, que desce sobre o novo povo, é a nova Lei dos cristãos, mas este Espírito só desce depois do conhecimento da Palavra de Jesus. Concluindo, o Pentecostes é a festa do Espírito de Jesus, que nos vem da Sua Palavra conhecida, vivida, anunciada."
Para nós cristãos, a vida não teria sabor se não fosse a dinâmica do Espírito Santo. A Igreja seria uma simples organização de homens e mulheres com interesses mundanos. As celebrações litúrgicas seriam manifestações de diversão ou para entreter os tempos livres. Os diversos grupos que formam a Igreja seriam estruturas sem alma que promoviam a rivalidade e a concorrência. Os membros da Igreja, seriam penas funcionários que buscavam o poder pelo poder. A sede de protagonismo ou a fama do mundo seriam as únicas motivações pelas quais todos corriam de forma desmedida e sem escrúpulos. As palavras da Igreja seriam iguais a todas as palavras pronunciadas pelas outras organizações do mundo. A caridade seria solidariedade sem alma e sem abnegação desinteressada que só o Espírito Santo enforma. O diálogo Igreja mundo seria pura diplomacia interesseira com vista a ser pura propaganda.
Uma infinidade de coisas que a Igreja é e faz que sem o dinamismo do Espírito Santo seriam puro activismo concorrencial mais interessado na promoção de alguns e pouco aberto ao bem comum, isto é, sem interesse nenhum pela salvação de toda a humanidade.
Assim sendo, no dia de Pentecostes, descobre-se a universalidade do projecto de Deus – o milagre das línguas nos Actos dos Apóstolos e a proclamação de São Paulo sobre a diversidade, são provas dessa pretensão de Deus.
A mensagem da Igreja, com a força do Espírito Santo, é o eco profético atento à realidade da vida da humanidade, que denuncia e apela para a paz e para a libertação de tudo o que violenta a dignidade da vida. E a vivência cristã de cada baptizado, com a força do Espírito Santo, torna-se sinal e luz para o mundo, empenhada na construção de uma realidade cada vez mais justa e fraterna para todos. Tudo o que não seja isto dentro da Igreja e em cada crente, peca gravemente contra o dinamismo do Espírito Santo.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma Ideia sobre a Europa

Pequena, por sinal. Andrea Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio dizia: «A meditação de alguns europeus (como deixar de recordar aqui Alcide De Gasperi, Schumam, Adenauer) sobre as destruições da guerra, sobre milhões de vidas humanas sacrificadas sem sentido, nos campos de extermínio, alimentou um sonho, que era também uma profunda exigência da história e do espírito: a unidade. Não era possível manter a diversidade e a liberdade se não houvesse unidade»...
Apesar de todas as contrariedades e de muitas feridas ainda não sanadas, o desejo do Papa João Paulo II, que nos anos 80 falava numa «grande Europa», parece eclodir. Esta esperança deve fazer parte de todos nós, deve ser o nosso desejo e deve ser motivo para a nossa oração. Os cristãos têm aqui um campo vasto para a sua acção evangelizadora. Porque somos os pioneiros no anúncio da tolerância e da paz. Neste sentido, o Presidente do Movimento carismático evangélico na Alemanha apresentou a experiência das «Aktion Versohnungswege» (acções de reconciliação). Daí que tenha falado muito da necessidade da reconciliação em vista da fraternidade.
Romano Prodi, antigo Presidente da Comissão da União Europeia afirmou: «Segundo uma grande personalidade religiosa do século passado, o tratado do carvão e do aço em 1951 também foi um ‘gesto espiritual’, cujo significado era: a guerra, nunca mais. É uma interpretação muito corajosa, mas muito convincente, porque foi o que aconteceu»...
Que pena a campanha para as eleições europeias não se centrar sobre os valores e os ideais que deram razão à União da Europa! - Todos os partidos manifestam uma pobreza e uma incultura sobre a Europa que dá vontade de chorar. A ver vamos. Não deixemos morrer a esperança.

Vaticano em silêncio sobre vergonha irlandesa

Com a devida vénia ao Movimento Nós Somos Igreja, no qual me integro com alma, e a autora desta excelente denúncia e reflexão.
por PATRÍCIA VIEGAS
Ao longo de sete décadas, milhares de crianças foram vítimas de abusos sexuais e corporais em reformatórios geridos pela Igreja Católica. Agora, as vítimas querem ver os nomes dos abusadores publicitados e que a imunidade que lhes foi garantida pelo Estado irlandês lhes seja retirada. A Igreja irlandesa pediu desculpa. Mas a Santa Sé absteve-se de comentar.
O Vaticano manteve ontem o silêncio sobre os milhares de casos de abusos cometidos contra crianças em instituições geridas por congregações religiosas irlandesas, depois de o líder da Igreja Católica do país, cardeal Sean Brady, ter dito, na véspera, que estava "profundamente desolado e coberto de vergonha por ver que crianças sofreram de uma maneira tão atroz nestas instituições".
Isto numa altura em que as vítimas estão revoltadas pelo facto de a comissão de inquérito, ao mesmo tempo que divulgou as conclusões de nove anos de investigação, não revelar os nomes daqueles que cometeram violência corporal e abusos sexuais sobre milhares de crianças entregues a estas instituições geridas por religiosos.
E em que os partidos da oposição irlandesa estão indignados com o acordo feito entre o Estado e a Igreja Católica, em 2002, para garantir a imunidade a suspeitos de abusos a troco de alguns milhões de euros e propriedades. A Igreja entrou com 128 milhões dos mil milhões que já foram pagos a 12 500 das 14 500 vítimas que já se manifestaram até hoje (o resto saiu dos contribuintes).
O relatório de mais de duas mil páginas da comissão, divulgado na quarta- -feira à tarde, denuncia que ao longo de quase sete décadas mais de duas mil crianças foram vítimas de abusos sexuais ou corporais, num total de 35 mil que foram colocadas em reformatórios geridos por congregações como os Irmãos Cristãos.
Ao longo de todo esse tempo muitos sabiam o que se passava, padres, freiras, até pessoas do Ministério da Educação, mas preferiram manter o silêncio e ignorar até alertas feitos por inspectores que falavam em crianças com ossos partidos ou com sinais de passar fome. O Governo da Irlanda, país fortemente católico, lamentou ontem um dos períodos "mais sombrios da sua história".
As conclusões da comissão não são novidade para o Vaticano, referiu ontem o jornal católico francês La Croix, dizendo que nestas situações a norma é deixar a Igreja nacional manifestar-se. Isso e o facto de o Osservatore Romano não ter dado a notícia não significa que o Papa não está atento. A sua posição tem sido, até agora, a de estabelecer a verdade "sobre crimes monstruosos".

sábado, 23 de maio de 2009

A Igreja e os novos meios de comunicação

A Igreja está em todas... Ainda bem. Ficamos todos muito felizes com isso. Eles são os diversos sítios web ou páginas na internet, eles são as mensagens vídeo «internetizadas» nos diversos servidores, eles são os twitters, eles são os facebooks, eles são todos os caminhos modernos de comunicação que a Igreja usa de forma exemplar. Muito mau seria se fosse ao contrário.
Mas, quando mudarão os conteúdos? - Falta fazer-se uma mudança neste ponto essencial e tornar mais moderna a doutrina. Estar nos meios é fácil. Mas parece ser mais difícil para a Igreja converter-se à mentalidade dos tempos modernos. E quanta coisa precisa urgentemente a Igreja, para que a humanidade de hoje não se sinta tão órfã. Falta mudar a linguagem que muitas vezes nada diz aos homens e às mulheres de hoje, falta desburocratizar e mandar às urtigas 90% das papeladas que são necessárias para celebrar os sacramentos, falta conceder o Sacramento da Ordem (o Sacerdócio) à outra parte importante da humanidade, as mulheres. É incompreensível que este sacramento esteja unicamente reservado só para os homens, é preciso pôr termo a este machismo retrógrada e injusto, falta tornar o Celibato dos padres não uma imposição, mas uma opção, para que termine o escândalo da pedofilia no interior da Igreja e outras anomalias, cuja causa radica nesta imposição anacrónica, falta acabar com a visão negativa da pessoa humana e valorizar tudo o que faz parte da condição humana, acabando com a visão infernal sobre a sexualidade... Numa palavra, falta à Igreja tornar-se mais humana e, quem sabe, existir mais para este mundo e só depois anunciar o mundo que há-de vir.
Se não mudam os consteúdos e a doutrina não se renova, toda esta aposta nos meios novos de comunicação, não leva a nada e algumas mensagens cairão no ridículo na imensidão da novidade e da ousadia que é a internet. Mas, espero que me engane redondamente.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Casa Encantada

Morreu João Bénard da Costa. Um homem extraordinário. O melhor e o maior no que diz respeito à 7º Arte, o Cinema. O maior cinéfilo que já existiu entre nós.
Nos tempos mais recentes, acompanhei-o nas crónicas magníficas, no Jornal Público, com um português perfeito e a forma de escrita mais inverosível de todas, não há na praça actual da comunicação social mais ninguém que escreva como ele escrevia. A rubrica chamava-se «A Casa Encantada». Dali se desencantavam coisas extraordinária de toda a sua vida e, de modo especial, dos seus passeios pela Arrábida, pela história do cinema, pela pintura ou pelos quadros que apreciava, pelos museus que revisitava, pelas figuras mais proeminentes do cinema, que conhecia como ninguém. As crónicas onde ele por diversas vezes explicou cenas bíblicas e episódios de alguns santos retratados nas pinturas, foram inesquecíveis e revelam a sabedoria fabulosa de uma cabeça enciclopédica. No nosso país não existe mais ninguém que soubesse tanto de cinema como este homem. Devemos a ele a melhor cinemateca da Europa e quem sabe das melhores do mundo. É o «Senhor Cinema» como lhe chamam alguns jornais destes dias.
Foi também um católico fervoroso, de modo especial nos tempos de «O Tempo e o Modo» (1963), a revista que ajudou a fundar com António Alçada Baptista entre outros católicos, que se juntaram na Primavera do Concílio Vaticano II. Neste âmbito, aprendi a olhar a pintura e o cinema com um certo sentido religioso. A arte está toda ela marcada pela inquietação religiosa, Bénard da Costa, fazia a leitura dessa dimensão como ninguém.
Deste homem, guardo a saudade da sua voz enrouquecida, mas bela, cheia de sabedoria sobre o cinema e sobre tudo o que a esta arte diz respeito. As suas crónicas radiofónicas sobre cinema são inesquecíveis, a «Casa Encantada» no Jornal Público também é inesquecível. Quando anseio por ler bom português, recorro às crónicas da «Casa Encantada». Também retenho um livro dele extraordinário, que devia ser lido e estudado pela Igreja Católica Portuguesa: «Nós os Vencidos do Catolicismo». Por ele, se entende quanto o mundo se sente órfão da Igreja Católica e quanto é grande o desamparo, que crava fundo no coração da humanidade de hoje.
Bom, vai o homem, fica a obra. E que obra! - Basta visitar um pouco a Cinemateca Portuguesa e a magnífica Sala de cinema que está em Lisboa no mesmo lugar da Cinemateca.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

24 Maio 2009
Domingo da Ascensão – Ano B
Aquele que preenche tudo - a Ascensão
Ef 1, 17-23
O que é a Ascensão de Jesus? - Tem a ver com a ideia difundida em todo o Evangelho, «Jesus subiu aos céus». Quer isto dizer o seguinte: «Jesus ressuscitou, foi glorificado e entrou na glória de Deus». Por outras palavras diríamos que Jesus voltou de onde tinha vindo. O mistério da Ascensão, é o momento em que Jesus volta à casa do Pai, mas é também o momento em que toda a humanidade com ELe e Nele se vê elevada ao mais alto da dignidade. Isto é, em Jesus elevado ao céu toda a humanidade é tomada por Deus para se divinizar. E com esta ideia fica confirmada a palavra de Santo Ireneu quando diz o seguinte: «Em Jesus, tornamo-nos todos deuses». Parece forte esta expressão, mas revela-nos a densidade do amor de Deus encarnado na história concreta do mundo. Por isso, mais claro se torna para nós a visão de São Paulo: «Aquele que preenche tudo em todos». O todo de Jesus torna-se oferta para tudo e todos. Desta forma, participamos efectivamente da divindade de Jesus e tomamos parte da mesa do banquete da plenitude da graça que Deus concede a todos os que se deixam envolver pelo Seu amor. O mistério da Ascensão revela-nos que toda a realidade da terra, amor e desamor, sucesso e insucesso, graça e desgraça, aventura e desventura, justiça e injustiça, alegria e tristeza, esperança e desesperança, saúde e doença, ausência de dor e sofrimento e até os factos mais absurdos, como uma morte cruelmente realizada, não está fora do plano de Deus. Tudo se eleva para Deus seja bom ou mau, negativo ou positivo. Em tudo podemos sentir que a mão de Deus está presente, para que o nosso ser se eleve para a realidade que tudo pode e tudo deseja redimir verdadeiramente. A Ascensão de Jesus, é outra manifestação solidária do amor Deus, que confirma plenamente o desejo de Deus Pai através do Seu Filho Jesus Cristo. Ele é o Messias que veio ao mundo manifestar o Plano de Salvação de Deus em relação a toda a humanidade. Embora seja também este o Messias que «havia de sofrer» o tormento da Paixão e da Morte, mas sempre com total abnegação ao serviço de uma causa de vida sempre ressuscitada. Esta oferta é para todos os que desejam acolher a vida não apenas com a limitação deste mundo, mas com a plenitude que Deus oferece como sentido maior para a existência de todos nós.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

O DIOGO FOI PARA A CASA DO PAI-NOSSO

O Diogo, é para este mundo um rapaz cheio de vida, muito amigo de todos, muito voluntarista, muito generoso, muito fraterno com todos, muito bonito por fora e mais ainda por dentro e muito alegre, porque louco pelo diálogo, pelo teatro e pela música. Permitam-me que diga, a loucura pela grande comunicação.
No Domingo, dia 17 de Maio de 2009 - o dia em que nas missas o Evangelho de Jesus proclamou: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei» - o Diogo morreu para este mundo e apresentou-se diante do «Pai-Nosso», o Pai da verdade suprema, que nos ama e chama para si aqueles que nós amamos muito. Este Deus, como se de uma crueldade aparente se tratasse, tira-nos o melhor que o mundo tem, mas não é assim, dado que Ele é grande e cheio de amor, colhe para si os melhores, porque precisa deles para outros rumos e outras tarefas. De modo nenhum podemos ser egoístas e não permitir o andamento da vida de acordo com o Seu Criador.
Mas, a morte na hora dos 22 anos (idade do Diogo), apresenta-se nesta fase ainda mais incompreensível, injusta e sobejamente dolorosa. Mas, não fiquemos aí, não nos tornemos ainda mais pequenos. Temos que saber que a vida deste mundo é curta como o instante que passa, frágil como o barro antes da cozedura e mais ainda, que a vida não nos pertence, é-nos dada por empréstimo. Por isso, a importância da morte ficará gravada no pensamento de Victor Hugo, autor de os Miseráveis, quando nos diz: «morrer não é acabar, é a suprema manhã». Esta sim, a maior de todas as manhãs da nossa vida.
Mas, no silêncio da morte e da não relação com quem morreu parece para nós o fim. Tudo acabou, podemos balbuciar mecanicamente com os nossos lábios, mas o que diremos depois se tomarmos a sério estas palavras: «a morte é de facto o fim, no entanto não é a finalidade da vida» diz outro autor, Michel de Montaigne. Neste sentido, a Liturgia Cristã, também proclamará diante do Filho de Deus, morto sobre a Cruz em idade também prematura e injustamente condenado à morte: «Ó morte! Onde está a tua vitória!»
Meu Deus, mas, antes de tudo, somos humanos e amamos os nossos, não queremos a morte para eles e para nós, recusamo-la, e ai de nós se não o fizermos, porque se assim não fosse seríamos todos uns imbecis suicidas. Porém, essa realidade faz parte da vida deste mundo e deve ser para todos nós o momento da nossa glória, não uma glória deste mundo, mas outra, de outra vida ou de outra manhã que nasceu num determinado lugar que desconhecemos ainda. Esta esperança é muito importante, porque nela encontro algum sentido, para um momento que detesto e repudio com todas as minhas forças, porque sou antes de tudo um ser humano, seguro deste mundo e não de outro que desconheço.
Do Diogo aprendemos e guardamos a memória sublime de alguém que nunca morreu nem nunca morrerá, porque onde estiver e de que modo estiver, sempre será um homem cheio de entusiasmo, porque as pessoas cheias de entusiasmo, como o Diogo nunca morrem. Por isso, nós como ele não queremos nem podemos morrer nem queremos que nesta hora se confirme o pensamento de Honoré de Balzac, autor de La comédie humaine (A Comédia Humana), quando diz: «O homem morre a primeira vez quando perde o entusiasmo». Quem somos nós para perder o entusiasmo, a força e a coragem para manter viva a memória do Diogo entre nós? - Pois digo então, somos gente que é capaz disso mesmo, porque se assim não fosse Deus não nos permitiria esta provação. Neste querer, encontramos forças para ajudar os outros, como sempre faz o Diogo e continuará a fazer agora do lugar da plenitude do amor.
Termino a minha reflexão com um pequeno texto de Oscar Wilde sobre este incontornável nome, o AMOR, que tudo vence, tudo pode e tudo alcança (como proclamam os grandes santos): «A fonte do amor existe no fundo de nós e podemos ajudar os outros a realizarem muita felicidade. Uma palavra, um gesto, um pensamento, podem minimizar o sofrimento de outra pessoa e trazer muita paz e alegria». É esta palavra que deixo a toda a família, especialmente, a Mãe, o Pai, o irmão e a todos os amigos do DIOGO.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Comentário à Missa do próximo Domingo

17 Maio 2009
Domingo VI da Páscoa – Ano B
Todo aquele que ama vem de Deus
I Jo. 4, 7-10
A Palavra de Deus é viva e eficaz. Todos os momentos da vida podem ser iluminados por esta Palavra que Deus proclama. Não são estas ou aquelas formas de viver que dão consistência à Palavra de Deus. Isto é, não é este esquema, esta forma de vida ou aquela opção pessoal, que predefine a Palavra que Jesus nos envia. A Palavra de Deus está para a vida toda e para todos os modos de existir assumidos com amor e para o amor. Nada nem ninguém se pode considerar plenamente iluminado ou totalmente consagrado pela Palavra de Deus, porque Deus não permite aprisionamentos ou domínios desta ou daquela opção de vida. Somos chamados a guardar a Palavra com amor e não a possuí-la com arrogância. O Espírito – o outro nome que também diz o amor – tem a função de nos convocar para o desafio do acreditar, não para a condenação ou para o abismo da morte sem retorno possível. Por isso, o caminho da fé iluminado pelo Espírito Santo, encontrará sempre o sentido pleno, porque, mediante essa luz far-se-á a descoberta do amor a Jesus e a Deus Pai que o Filho nos revela com o Seu ensinamento e com a Sua acção. «Não fostes vós que me escolhestes; foi eu que vos escolhi e destinei…». Esta frase é muito interessante, porque a nossa vida muitas vezes está inquieta e perturbada com as artimanhas do quotidiano e com a procura de um Deus ao nosso modo. O Deus de Cristo está aí no mais simples da vida a chamar e a convocar para o amor. Dessa forma nos escolhe e nos destina. Porém, continuam a ser tantos os momentos em que nos sentimos fora do amor, porque julgados pelos olhares desconfiados dos outros, com ar de desprezo e de repúdio, por qualquer razão banal; as palavras sem espírito e ocas que nos dirigem, que nos condenam e nos fazem ficar tristes; as falsidades de palavras animadoras e elogiosas, mas que por detrás nos afundam numa traição sem escrúpulos e sem qualquer sombra de respeito; o Espírito de vingança que tantas vezes nos ataca como se fosse alimento para viver com o prazer de ver os outros na mais pura miséria; a mesquinhez das aparências, como se isso fosse o mais importante da vida e da fé; a mediocridade do vazio de tantas situações que nos provocam um sorriso de compaixão; as invejas, são outra tendência desumana e anti cristã que poderão perturbar a nossa mente e o nosso coração… Mas, infelizmente, embora, sendo tantas as coisas da vida que nada têm a ver com o amor e que poderão inquietar e intimidar o nosso coração, a esperança é nesses momentos a melhor das virtudes, porque o amor tudo vence. Não há outro caminho para o sentido da vida e não há outro modo de construir o mundo senão fazer a descoberta do amor apaixonado.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Vamos a um balanço

Está a fazer dois anos que entrou um novo Bispo na Diocese do Funchal. Uma lufada de ar fresco que bem precisava esta nossa Igreja do Funchal. Como sempre acontece, quando chegam pessoas novas a lugares novos, a esperança reacende-se, o entusiásmo acontece e renovam-se uma série de sentimentos. Muito bem, foi o que aconteceu com a chegada de D. António Carrilho.
Juntamente com este Pastor veio o sorriso e a bondade que se expressam incontidamente no seu rosto. Algumas ovelhas do rebanho pularam de alegria e de esperança.
Algumas coisas se alteraram, nomeadamente, a relação humana e afectuosa entre os sacerdotes e o seu bispo. A proximidade também tornou-se mais evidente. Novos secretariados e comissões para todas as causas. Uma dinâmica que mostra uma certa vontade para dinamizar toda a Igreja para a pastoral. Uma atenção especial às camadas mais jovens, à cultura, aos idosos, à família e à pobreza. Muitas actividades têm sido realizadas nestes domínios, que importa salientar. As poucas visitas pastorais às paróquias também foram uma novidade entre nós, quanto ao método e quanto à duração de cada uma delas. No global podemos considerar muito positivos estes dois anos da acção de D. António Carrilho.
Porém, importa salientar alguns aspectos que já deviam ter tido uma atenção especial. Nestes dois anos já deviam ter mostrado mais trabalho os diversos organismos que continuaram do anterior bispo e os que foram criados agora. Vamos, então, apontar os aspectos que consideramos que não deviam estar na mesma passados estes dois anos.
À cabeça, o Jornal da Madeira, que é o símbolo-escândalo maior do «casamento» entre a igreja madeirense e o poder político. Logo depois a resolução da ostracizada comunidade paroquial da Ribeira Seca, que merecia uma palavra especial do seu Pastor ou, porque não, até uma visita pastoral. A seguir, já diviam ter mudado algumas pessoas, que vieram do antigamente, que sem sombra de dúvida, prestaram um serviço muito importante para a igreja madeirense, mas chegou a hora da mudança. Neste domínio falo a título de exemplo do Secretário do Bispo e do Vigário Geral. Passados dois anos era importante que novas dinâmicas também recebessem novos rostos, para que a aceitação fosse outra e o entusiásmo não ficasse agora tão gorado.
Também outro aspecto a salientar prende-se com a quantidade de pessoas nomeadas para cargos, secretariados e comissões que não percebem nada sobre as coisas a que diz respeito cada uma dessas estruturas. A maior parte são padres novos sem nenhuma experiência de vida pastoral e com formação conservadora, oferecida pelos nossos seminários actuais, onde parece ser proibido falar da vida do mundo de hoje. Outras pessoas (leigos) foram reconfirmados, porque já vinham do antigamente, habituados a não fazer nada, apenas a fazerem parte de coisas que serviam para mostrar que existiam. Todas estas nomeações foram feitas com o maior dos brilharetes, mas passado este tempo o que resta, nada de nada. Se me pedirem dou uma série de exemplos.
Quanto à pobreza. Muita conversa e pouca acção. Não sabemos o que faz a cáritas diocesana, temos cada vez mais pobres, nada se faz de concreto e consistente, muito apelo à esmola e à caridadizinha. Nestes dias estive confrontado com uma situação muito difícil de uma família que ficou sem nada, porque a casa ardeu, pensei pedir auxílio à diocese (à cáritas), mas logo depois rezei para que estes pensamentos («maus») se afastassem de mim.
As contas e o património da diocese é uma questão velha, mas sempre actual. Continua bem guardado o segredo quanto a receitas e despesas da Igreja do Funchal. Aos Párocos são pedidas responsabilidades quanto às contas, mas nada se diz sobre o que entra e sai dos cofres da diocese. O património de todos os fiéis, fica no segredo de alguns, que não se sabendo em que lei se baseia só diz respeito a esses iluminados, as restantes ovelhas só servem para dar e de resto que fechem a boca, porque não lhes diz respeito esses assuntos do alto. Que grande tristeza continuarmos a falar deste assunto!
Porém, compreendo que este meio não seja fácil de trabalhar, porque a massa não ajuda. O ambiente geral é de um sectarismo atroz, são exemplo disso as congregações religiosas, que em agonia na subida do Calvário com falta de sangue novo, tornam-se cada vez mais fechadas e sectárias, desprezam a novidade e tudo o que seja diferente.
Bom, lá estamos no tempo do sorriso e da bondade, valha-nos isso. Mas, esperavámos mais, muito mais de um novo bispo, numa Igreja sedenta de novidade e de acção pastoral consertada para que a Evangelização fosse um abrir de portas para o mundo do nosso tempo, sem medo de nada nem de ninguém, mas de coração aberto a tudo o que seja vida a escorrer nos caminhos da humanidade deste tempo que é o nosso.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Comentário à Missa do Próximo Domingo

10 Maio 2009
Domingo V da Páscoa – Ano B
Amar por obras e em verdade
I Jo. 3, 18-24
O desafio é esse mesmo, que sejamos capazes de fazer frutificar a vida no amor perante as pessoas mais difíceis, os lugares piores do mundo e as situações mais complexas da vida. Nesta ordem de ideias podemos deduzir, que devemos então, nós cristãos, ser uns ingénuos coitados que aceitam tudo e todos com uma subserviência inocente? – Esta visão dos cristãos está completamente errada. O que nos manda Jesus é que sejamos capazes de dar frutos de salvação para todos, mesmo que isso nos custe a vida. Cada pessoa é como é e não se lhe pede que seja de outra forma para que existam os frutos do bem. A glória do amor que agrada a Deus passa pela sua total entrega e não pela vivência normal do amor, isto é, amar os que nos são próximos é muito fácil, os pais, a esposa, o esposo, os irmãos de sangue, os amigos e todos os que nos interessam por qualquer razão. A glória do amor está muito para além das facilidades. Os contextos mais difíceis do mundo são os melhores lugares para fazer frutificar o amor. No entanto, primeiro que tudo, devem estar no nosso coração todos os que a vida nos ofereceu como membros de família, do trabalho e todos os que o nosso olhar cruzar nas veredas da vida. Mas, depois devemos dar frutos de amor, com obras concretas, em todos os momentos onde a reconciliação seja premente e em todos os lugares onde os caminhos do ódio se tornaram mais evidentes. A esta forma de vida não se chama ingenuidade doentia, mas disponibilidade para a vivência da felicidade pessoal e dos outros. Não devemos aceitar todas as patetices e asneiradas da humanidade, mas somos chamados a acolher, compreender e perdoar. O fruto do amor que Jesus nos manda viver como elemento essencial do Seu Reino passa pela entrega ao serviço dos outros e pelo acolher a todos como irmãos. É este o maior desafio da religião cristã.Ninguém deve sentir-se inibido perante o dom maravilhoso da vida e deve cada pessoa procurar conduzir os passos e as opções para o sentido do amor que salva e liberta da escravidão do desespero. E para que esta realidade aconteça, é muito importante que não se reduza o amor a palavras ou frases muito bonitas, mas prática concreta, obras sinceras que promovam a justiça e a paz para todos à nossa volta.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Pensar nunca fez mal a ninguém

Segundo o autor Massimo Bontempellier «a verdadeira liberdade é um acto puramente interior, como a verdadeira solidão: devemos aprender a sentir-nos livres até num cárcere, e a estar sozinhos até no meio da multidão». Assim sendo, podemos concluir que para a verdadeira liberdade não importam muito as circunstância porque, afinal, quando se fala de liberdade falamos de um valor que está no interior e não muito no exterior. Porém, ser livre e fazer-se livre é o acto mais nobre que o ser humano pode realizar. Porque se digo liverdade, digo felicidade e digo autonomia pessoal em relação a todas as coisas ou mesmo até pessoas.
Tudo o que prende o coração e o pensamento, torna a pessoa escrava. A liberdade não se conjuga com escravidão, mas com o pensamento livre de todos os parâmetros de qualquer ordem. Daí que já desde a antiguidade se descubra a palavra crucial para a liberdade: «Nenhum homem é livre, se não sabe dominar-se», dizia Pitágoras. Nesse domínio de si, o homem escolhe livremente o que lhe faz bem para si e para os outros. Aqui está o caminho para a felicidade e ninguém é livre se não é feliz. O autor A. Scheweitzer, confirmou: «O mundo tornou-se perigoso porque os homens aprenderam a dominar a natureza, antes de se dominarem a si mesmos». Na mesma senda o incontronável e sábio Platão também o dirá magistralmente: «Vencer a si próprio é a maior das vitórias». Porque o domínio de si passa pelo não ter medo, o não estar fixo em nada nem em ninguém, mas autonomo diante das coisas do mundo e da vida.
Por conseguinte, a liberdade está no dar e não no receber. Mas, a maior parte das vezes todos pensam só e unicamente mais em receber do que em dar. Mas, devia restar a razão de André Gide, que não se dá a meias palavras para definir de onde pode vir a escravidão: «Tudo o que somos incapazes de dar nos possui». O próprio Cristo mostrou que sim, ao dar-se todo por todos. A liberdade de dar e dar-se, afirma o carácter de uma pessoa e torna grande o mundo e a vida. Mas, a ganância sempre deseja receber mais. O pouco, é inimigo do coração humano, mas «quem não souber viver com pouco será sempre um escravo», escreveu Horácio, autor da poética Grega clássica.
O interior de cada pessoa revela as razões para a liberdade e fará sentir que este caminho é fundamental para a felicidade. Por isso, «se tiveres a sensação de que não és livre, procura a razão dentro de ti mesmo», ensinava Tolstoi, autor russo. Porque, Baudelaire, proclamou assim, «Homem livre, tu sempre gostarás do mar», e sabemos, por experiência, que quem não gosta do mar, não sabe o que é a liberdade nem sentirá nunca o quanto se pode fazer com a sua imensidão. Vamos todos olhar o mar.
Outros há, presos a pessoas e a coisas porque lhes dão segurança ou algum prazer momentâneo. Que pobreza espiritual esta. O Cientista e estadista americano, Benjamin Franklin, chegou a dizer deste modo tão interessante: «aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança». Quantas pessoas feitas escravas, agarradas a pessoas e coisas desta vida, por alguns momentos de segurança e de gozo esporádico? - Por isso, «Os anjos e os homens, criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu último destino por livre escolha» (Catecismo da Igreja Católica, 311). Mais ainda, se entende de Santo Agostinho, que «a primeira liberdade é não ter pecados graves» (Santo Agostinho, In Io. Ev. tr. 41, 9). E pecados graves, são estes: não amar incondicionamente; prender-se às coisas e às pessoas sem que o único propósito não seja o amor e, outro ainda, deixar de pensar autonomamente ou abdicar de viver a vida que não seja para a felicidade. Ora, pois, pensar nunca fez mal a ninguém.